Capítulo escrito por: Charlotte Marx
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Lucas e Ezequiel saem do mausoléu e desatam a correr pelo cemitério, até alcançarem o mulo e pular. Depois de caminharem uns dois quarteirões em meio à escuridão, chegam a um ponto de taxí iluminado, onde um motorista escuta música para se manter acordado.
– Vão fazer viagem?
Ezequiel troca olhares com Lucas.
– Vamos sim. Faz Espírito santo?
O homem se surpreendeu.
– Geralmente só fazemos viagem interestaduais sobre agendamento, mas vocês deram sorte, faz duas horas que não pego ninguém, eu levo vocês! Para onde querem ir?
E pegou sua planilha com as cidades.
Lucas revelou.
– Doce Recanto!
***
Sam chega à sala de estar e percebe que o namorado e os amigos da escola já começaram a assistir ao filme.
– Eu falei para vocês me esperarem! Mas que bando de apressados vocês são. Ansiedade mata bebês!
Robson faz sinal para o amado que guardara lugar para ele, o vilão senta com seu notebook e o beija.
– Pelo menos alguém pensou em mim!
Fátima contestou.
– Mas você demorou também. Queria o quê?
Sam revela.
– Eu só fiquei impressionado com uma notícia que saiu. Amor, você se lembra daquele jovem que atropelou no colégio indígena?
Robson estranha.
– Colégio indígena?
Sam explica.
– Sim, naquele fim de mundo lá com aquela sua freira de consolo, a Joaninha!
Robson se irrita, corrigindo-o.
– Joaquina! Ela é minha mãe, me criou quando eu era criança. Eu não sei da onde vem essa sua generalização escrota de que a zona norte do país é só mato e índio? É uma visão muito preconceituosa, não gostei, Sam.
Sam se desculpa.
– Perdoa, foi maneira de dizer. Mas dê uma olhada nisso aqui.
Robson pega o notebook e se choca ao descobrir que o garoto que atropelou, faleceu de bradicardia e era filho de um dos maiores empresários no setor de laticínios do país.
NA MANHÃ SEGUINTE…
Paçoca chega ao Colégio dos sonhos com dinheiro emprestado de Rato e é recebido por Irmã Cassandra, ela o leva até a sala da diretoria para falar com Joaquina.
– Queira sentar, meu rapaz.
Bruno se acomoda. Ela sorri.
– Em que posso ajudá-lo?
O ex-traficante é direto.
– Desde que saí da prisão, não penso em outra coisa, a senhora precisa me ajudar, chamam-me de Paçoca.
Joaquina paralisou por um momento. Recordou-se do relato de Débora ainda pequena sobre o desejo de reencontrar um dia o seu grande amor: Bruno Paçoca.
A anciã voltou-se para ele que continuou.
– Fui namoradinho de infância de uma menina Débora Carvalho, eu…
A freira o interrompeu.
– Eu sei quem é você! Ela não parava um minuto sequer de declarar seu nome.
Ele se felicitou irradiante.
– Então a senhora sabe onde ela está? Sabe?
A beata pegou em sua mão.
– Sei sim, meu querido. Ela foi adotada junto com o irmão e tenho endereço. Importa-se em tirar uma foto?
Ele não entendeu. Ela relatou.
– Adquiri nesses últimos dias a rede social dela, Lucas veio me visitar. Vou mandar uma foto sua, ela há de ficar feliz e te reconhecer. Por mais que seja uma pessoa confiável e transparecer ser de boa índole, não posso ir entregando dados dos meus antigos internos assim, entende?
Ele concebeu brincalhão.
– Então o que está esperando? Pode bater a foto! Sou muito fotogênico, saca?
A mulher riu.
***
Cristiano chega ao hospital para buscar sua mãe, hospitalizada desde a briga que tivera com o filho e ela o recebe de braços abertos, fazendo sentir um pouco de remorso. Alzira, a vizinha que a socorreu não o poupa de culpa.
– Você poderia tê-la matado, seu crápula! A pressão dela foi a mil! Dá próxima vez que você empurrar sua mãe! Eu vou é chamar a polícia! Agressão contra idoso é crime, deveria saber já que é um advogado! Gumercinda qualquer coisa que ele te fizer, você grita, entrego ele na hora! Onde já se viu isso? Filho bater em mãe! É o fim dos tempos, mesmo! O apocalipse!
O advogado fica envergonhado. A velhaca agradece.
– Pode deixar Zira. Muito obrigada! Agora pode ir para a sua casa, seus filhos devem estar precisando de você para cuidar dos netos!
A dona-de-casa encara com cólera pela última vez o advogado e bate perna para a rua. Sozinho, ele ajuda a mãe a se locomover.
***
Roberto (Lucas) chega ao apartamento que Ezequiel o arrumou na entrada da cidade e se encanta.
– Não liga não! Luquinhas! É simples, mas é confortável!
– Que isso, Ezeque! Está perfeito! Esqueceu que minhas origens são simples! Acha que a família Magro subiu minha cabeça? Nunca deixei aquela fortuna mudar meu caráter! Está ótimo para meu novo personagem! E ai pronto para me ajuda a aparar a juba?
Ezequiel riu. Quando deram conta, o bandido já havia terminado de cortar e raspar com máquina três os cabelos longos do menino. Puseram a lente verde (obviamente com grau) nos olhos castanhos- claros do mocinho e um aplique de barba muito bem feito. Roberto (Lucas) levantou-se.
– Virei outra pessoa?
O bandido balançou a cabeça meio indeciso.
– Quase! Ainda falta duas coisinhas!
Ele passou um spray que o tornava mais moreno e escolheu novos estilos de roupa: algo mais xadrez, universitário de humanas.
Passado mais uma hora, finalmente o jovem saiu pronto do banheiro. Ezequiel sorriu.
– Agora sim! Um novo homem!
O protagonista correu para o espelho e se impressionou com a radicalidade da mudança.
– Você é um gênio, Ezeque! Simplesmente um gênio!
***
Débora termina de assistir um filme na televisão de teto em frente a sua cama, já de volta ao seu quarto de hospital, quando resolve mexer no celular para verificar se Lucas mandou alguma notícia quando percebe que Mãe Joaquina enviou-lhe uma imagem, ela abre e se emociona com a foto.
– Ele tá vivo! Ela está livre!
Ela se recorda das meninagens de rua, quando conhecera Bruno e descobrira engraçadamente que seu apelido era Paçoca, ele todo envergonhado dizendo que não era um frangote, depois lhes trazendo assados daquela forma desajeitada, porém, única. Quando a beijou. Agora ele estava de volta. Confirmou com um recado de volta e Mãe Joaquina passou-lhe o telefone para o homem. Ela limpou as lágrimas, emocionada do outro lado da linha, declamou.
– Bruno Paçoca?
A voz do rapagão, hoje quase um quarentão, tornou-se leve como uma pena. As mãos meneavam. Sua respiração tornou-se mais descompassada, transpirava por aquele momento.
– Eu te amo Débora Melindra Carvalho!
Ela disparou meio sem jeito.
– Eu também te amo Bruno Paçoca!
Antes que eles pudessem começar a conversar, lágrimas de sangue começaram a jorrar pelo rosto da menina que se assustou ao ver o lençol se manchando.
– Por favor! De novo não!
Ela alcançou a campainha e pressionou para chamar os enfermeiros, quando percebeu seu nariz começava a escorrer sangue e mais sangue.
– Socorro! Alguém me ajuda!
Paçoca que ouvira os berros da menina, tentou se comunicar, gritando seu nome, contudo ela não respondia. Mãe Joaquina tomou o celular e chamou pela jovem, mas não obteve resposta, ficando nervosa. O celular caiu no chão no meio da tentativa de conter o sangue, os enfermeiros não tardaram a chegar acompanhados de Jesus que se desesperou quando viu a face da menina tomada por sangue. Pegou o celular no chão e avistou no visor.
– Dona Joaquina, seu nome não é? Débora vai ter que ser levada pela UTI, não vai poder responder agora, qualquer novidade, mando te ligarem.
E desligou. Do outro lado da linha, a freira contorcia em pânico.
– Essa maldita doença que fica tentando levar a minha menina! Deus, pai, todo poderoso impeça, com sua graça e interseção que isso não se complete que ela se cure, eu te imploro!
Paçoca a abraçou totalmente transtornado com a ferocidade da leucemia que há minutos atrás descobrira que sua amada possuía.
***
Roberto (Lucas) chega acompanhado de Ezequiel a câmara municipal e o prefeito e articulador Michel da Costa e Silva os recebe com um banquete dentro de sua sala. Naquela pequena reunião, nota-se também a presença de alguns vereadores, descaradamente corruptos.
– Achei que não vinham mais! Reservei a cadeira para Roberto há semanas! Seja bem vindo! Aqui todo mundo se esforça para pensar no povo!
Os outros riram irônicos. Roberto segurou a repulsa que sentiu daquela oligarquia ordinária. Michel completou entrando no circo.
– Claro que com austeridade, perdoar dívida de nossos banqueiros vem sempre em primeiro lugar! Venha, senta-se, temos lagosta como prato principal!
Ele enganchou no ombro do rapaz e o levou para conhecer seus colegas. Ezequiel sorriu ao vê-los, mas também não gostava da sujeira. O protagonista tinha que respirar fundo para não partir para cima daqueles marginais, botá-los no lugar onde eles nunca deveriam ter saído: o quinto dos infernos.
Sentou-se e trocou olhares fúnebres com Ezequiel que segurou para não rir da expressão do mocinho. Michel peidou virando o traseiro e todos gargalharam loucamente. Roberto (Lucas) segurou para não vomitar.
– É assim que uma velha pobre fica quando não tem lugar no ônibus, não consegue segurar a vontade de sentar, coitada e faz tudo na calça, ali mesmo.
Um vereador imitou com a voz anciã em uma cena patética.
– Meus direitos! Tenho 65 anos! Não agüento mais!
Michel completou.
– Tudo frescura! Tudo chantagem emocional! Essa gentalha foi muito mal acostumada, aquele prefeito anterior adotou o passe livre para esse público e agora eles montam! Não adianta! Miserável a gente tem que tratar, ali, no cabresto!
Todos concordaram. Roberto (Lucas) virou o rosto para controlar sua ira. Michel sentou-se no seu sofá e abriu os braços e as pernas, sentindo o suor das axilas.
– Veja! Isso é cheiro de homem! É isso que precisamos na sociedade: de mais homens! Esses direitos para mulher, para viado o governo federal só segura até neutralizar o movimento, depois quando tudo estiver resolvido a gente flexibiliza! Agora a prisão contra aquilo que eles chamam de homofobia a gente não pode deixar mesmo, os nossos únicos defensores da moral da família não podem morrer na praia.
Ele olha para Roberto (Lucas) que finge reconhecimento proferindo a contragosto.
– É isso mesmo! Está certíssimo!
Ezequiel vira o rosto e ri baixinho. O prefeito revela.
– Estou muito feliz por ter aqui comigo hoje, nosso grande parceiro Ezequiel! Se não fosse você, meu ilustre rapaz, todos estaríamos ainda sofrendo com a cachorrada que o narcotráfico pregou na gente! Uma salva de palmas para nosso herói que trouxe de volta a cocaína para nossa câmara.
Os outros riem, abrindo uma caixa inteira da droga e oferecendo uns aos outros para usarem. Roberto (Lucas) recusou, aquilo era o cúmulo do cúmulo, o fim da picada. Mas se era o único jeito de Ezeque conseguir infiltrá-lo, valia à pena. Nesse instante de celebração, Denise Sampaio, uma vereadora de um partido da nova Esquerda chegou com manifestantes à porta do local, todos indignados com a situação da cidade. Michel desesperou.
– Mas o que essa marmota pensa que está fazendo?
Por entre as persianas do acortinado, Roberto esboça um sorriso quando percebe o movimento. Tomara que apedrejassem aquela quadrilha!
***
Mãe Joaquina está melhor em seu quarto, Paçoca pede para ela levantar para ele por o travesseiro sobre as suas costas.
– Você é muito bondoso, meu filho! Débora acertou em cheio quando te escolheu como homem da vida dela!
O ex-traficante sorriu agradecido, mas o momento de paz não iria durar por muito tempo, Irmã Cassandra invadiu desesperada o quarto da mulher, entregando-lhe o notebook.
– Veja, Irmã Joaquina, com seus próprios olhos, o que aconteceu com Lucas Carvalho.
Paçoca estranhou.
– O irmão caçula de Débora?
Ele precipitou-se para olhar e chocou ao ler a notícia junto com a freira que perdeu os sentidos logo em seguida pelo baque da morte do rapaz.
Mais tarde…
Roberto (Lucas) está em sua sala quando recebe uma proposta de abaixo-assinado. Como ele queria levar aquilo adiante, o pedido de lei de zoneamento para riscos climáticos era excelente para a cidade, a qual sequer tinha noção da extração inconseqüente que muitas mineradoras e colheitadeiras agrícolas faziam com a natureza. Mas se fosse adiante, corria o risco de perder o cargo que conseguira e a grande chance de fazer justiça pelo seu pai. Respirou fundo, tremia, mas tinha que rasg… O que era aquela assinatura?
– Sofia de Eustáquio?
Um minuto. Ele conhecia aquele nome. Lembrou-se vagamente de um jantar servido pelos seus pais quando tinha por volta dos oito anos, se não falhava a memória ela era bibliotecária da universidade onde seu pai lecionava. Arquivou aquele documento e puxou seu casaco da cadeira. Precisa tirar aquela história a limpo!
***
Sam termina de ensaiar seu encontro com Luana na frente do espelho.
– E ai guria, borá entrar no cinema comigo? Tenho certeza que você não vai se arrepender!
Fátima e Hector se entreolham.
– Dá para ficar melhor, mas está bom!
Sam se irrita, jogando o boné longe.
– Que saco! Eu vou explodir vocês dois! Eu aqui correndo risco de ficar careca com esse troço na minha cabeça, perdendo minutos preciosos de minha vida que jamais voltaram, para vocês avaliarem medíocramente. Tenha santa paciência! Quer saber de uma coisa, seja o que tiver que ser! Estou atrasado, melhor ir para a porta do cinema, a jamanta já deve estar me esperando!
E saiu correndo, os amigos foram atrás para assistirem tudinho.
***
Os raios do pôr-do-sol, alaranjavam o assoalho daquele cômodo. Em seu quarto, Robson termina de fazer um trabalho da faculdade, sentado na cama, quando vê pela porta, sua prima arrumada passando no corredor.
– Vai sair Luana?
Ela volta e sorri.
– Pois é! Você nunca me quis, tenho que tocar minha vida!
E saiu sem deixar chance para ele responder. Robson ignorou a indireta e lembrou-se daquele menino que atropelara e sentira-se mal por ele ter morrido, mas não era um simples susto, algo dentro de si doía, talvez por que o determinado olhar do jovem não lhe fosse estranho. De onde o conhecia? E por que Joaquina o tratara de maneira tão familiar, o ajudando a caminhar? Tudo bem que ela era uma alma caridosa, mas havia algo a mais ali, que ele não sabia discernir muito bem. Seria um antigo filho adotado? Mas por que ela não o esclarecia? Digitou a notícia na internet e procurou saber mais informações a respeito.
– Ele era filho de Pedro Magro, dono do laticínio! Será que não tem uma foto mais antiga que eu possa…
Ele paralisou. Acabara de encontrar uma imagem antiga de quando o garoto e não somente ele, mas a irmã também haviam sido adotados. Reconheceu na hora: Lucas e Débora! O rapaz, então, era ninguém menos que o seu amor de infância. Não conseguiu conter as lágrimas.
***
Cristiano está mexendo em seu criado, já em seu apartamento, quando encontra as roupas de Lucas, ele a leva ao peito e as abraça emocionado. Depois a acaricia com a face.
– Ainda tem o cheirinho dele!
Ele retira a aliança de noivado e a beija, guardando-a junto com as peças, quando se recorda de uma vez quando estavam em um natal na praia junto com alguns amigos e Lucas relatou que se algum dia morresse antes deles e quisessem vê-lo bastaria viajar para Doce Recanto, por que sua alma com certeza estaria por lá. A saudade era tanta, a solidão um veneno, não pensou duas vezes, precisava reencontrar sua paz de espírito, senti-lo de alguma maneira, pegou a estrada.
***
Roberto (Lucas) desce do ônibus e encara pela primeira vez depois de quinze anos a fachada da universidade onde seu pai trabalhava e fora morto naquela noite. Pareceu voltar no tempo, pois tudo continuava igual, encarnou a revolta daquele menino de dez anos e empurrou a grade, passando pela segurança e chegando a secretaria.
– Boa tarde! Eu sei que estão fechando, mas gostaria de me matricular para o curso de sociologia, sei que há vagas a serem preenchidas!
A mulher pareceu não ter muita paciência.
– Trouxe comprovante de residência, documento original com foto?
Ele confirmou e a entregou tudo. Depois de alguns minutos, ela finalmente terminou.
– Tá certo, meu filho. Pode começar amanhã mesmo!
Ele agradece.
– Posso usar a biblioteca? Sei que já está tarde, mas queria adiantar alguns conteúdos!
Ela mostrou-lhe o recado afixado na grade.
– Não sabe ler não? A biblioteca fica até as nove da noite aberta!
Ele sorriu meio sem jeito e dirigiu-se para lá, perguntando a segurança. Como aquela mulher era grossa! Bastava ter um pouco de respeito com ele! Não a deu motivos para aquele tipo de tratamento! Abriu a porta e só viu uma estudante de costas lendo um livro a um canto. Mirou o balcão e sorriu. Ela estava lá. Reconheceu-a no ato. Estava mais velha, mas era a mesma pessoa. Foi ao seu encontro.
– Senhora, senhora! Será que poderia me ajudar?
A mulher voltou sorridente, a simpatia era um de seus valores.
– Mas claro! Em que posso ajudá-lo? Deseja achar algum livro nas prateleiras?
Ele negou.
– Quero uma informação. A senhora sabe quem pode ter matado o professor George Carvalho?
A mulher estacou.
***
Débora acorda meio zonza e percebe que voltou para UTI, uma enfermeira passa por ela e a cumprimenta.
– Que bom que acordou, vou avisar para Doutor Jesus vim vê-la.
– Obrigada. Você viu meu celular?
A mulher a entrega.
– Está aqui, guardei para você!
A menina sorri. O que Paçoca haveria de pensar depois daquela cena? Precisava ligar para…
Ela percebeu o recado que Irmã Cassandra a deixara sobre a hospitalização de Mãe Joaquina quando soube da morte do Lucas e sentiu-se culpada.
– Não era para isso ter acontecido! Preciso avisar o Lucas para ele desfazer isso, pelo menos para ela!
A enfermeira não entende.
– Aconteceu alguma coisa?
– Não, não é nada. Vou ao banheiro! Preciso dar um telefonema!
A profissional oferece ajuda.
– Quer que eu te acompanhe até a porta?
Débora agradece.
– Não há necessidade!
Ela entra no sanitário e encosta a porta, ligando para o irmão.
***
O celular de Roberto(Lucas) vibra, mas ele não atende. Estava focado em Sofia.
– Eu te fiz uma pergunta, vai demorar para me responder?
A mulher tirou os óculos, aproximou-se dele.
– De onde você o conhecia? Era o quêdele?
O jovem mente.
– Um velho amigo!
Ela estranha.
– Mas quando ele morreu ao que parece, você seria uma criança!
O cardiologista continua a farsa.
– Ele era amigo do meu pai!
– Quem era o seu pai?
– Olha aqui não interessa. Para de me enrolar! Você pode responder a minha pergunta logo de uma vez!
A funcionária finge que não o escuta e desliga seu computador.
– Fim do expediente, continuamos depois pode ser?
Ele tenta a impedir, segurando os seus braços.
– Não! Não pode ser não!
– Você pode soltá-los, com sua licença. Se não terei que chamar a segurança!
A quarentona puxa seu braço, desatando a correr. Roberto (Lucas) corre atrás.
– Volte já aqui! Ainda não terminamos a conversa!
***
Débora liga novamente para o irmão, mas não consegue.
– Por favor, Lucas, você precisa desfazer essa farsa, a mãe Joaquina está morrendo lá no…
Jesus ouvira tudo pelo vão da porta e a escancara para susto da interna.
– Como é que é? Por que o Lucas precisa desfazer a farsa? Ele não morreu?
A menina engole seco e acaba deixando o celular cair. Jesus toma posse e liga para o contato que ela estava tentando, mas dessa vez, Roberto (Lucas) atende.
– Oi maninha, eu não posso te falar agora, está tudo bem?
Do outro lado da linha, Jesus fica incrédulo ao ouvir a voz do amigo.
– Lucas! Então é verdade! Você não morreu!
O jovem paralisa e desliga rapidamente o celular.
– Eu não acredito, Jesus descobriu tudo!
Débora toma da mão do oncologista o seu celular. O homem está em lágrimas com a canalhice dos dois. Fizeram ele, muita gente sofrer tanto com a história. A Leucêmica o acalma.
– Eu vou te contar tudo, Jesus, tim, tim, por tim tim !
ANOITECE…
No meio do telão do cinema, no escurinho, em dado momento Luana cria coragem e pega a mão de Sam, ele finge sorrir e a acaricia com as suas. Para sua felicidade ela toma a iniciativa e o beija. Estava caindo em seu plano, idiota!
***
Roberto(Lucas) segue de taxí Sofia até sua residência. Chegando lá, ele resolve pular o muro para ver se consegue encontrar algum indício, alguma pista que levasse ao assassino de seu pai, afinal se ela fosse uma mulher transparente, sem culpa no cartório, não iria negá-lo conversar sobre seu pai. Esperou-a se acomodar, quando passou a grade e quase foi mordido pelo pastor alemão que ela continha. Saltou no telhado e esgueirou-se pela janela oval entreaberta que ali se encontrava. Sofia estranhou os latidos e afastou a cortina, mas percebeu que não havia alguém.
O aposento tratava-se de um velho sótão carcomido pelo tempo. Um ótimo lugar para esconder segredos! Puxou um enferrujado armário e limpou as teias de aranha, acendendo a lanterna de seu celular, porém não havia nada de útil! Voltou para as caixas de papelão ao lado e percebeu que uma delas guardava uma caixinha de música, ele a abriu e identificou a bailarina e sua canção.
– Isso aqui era da mamãe! Ela passou anos se lamentando do sumiço. Como veio parar aqui?
Ele percebeu que em uma das gavetinhas havia uma antiga página de caderno meio embolorada. Dirigiu para o vidro da janela e esclareceu o que estava escrito ali. Petrificou-se. Era uma página de um diário de Sofia, na qual ela agradecia seu pai por aquele presente. Não era possível! Por que seu pai teria feito isso com sua mãe? Por havia roubado aquilo que ela mais gostava? O Jovem voltou para a caixinha e encontrou outro papel, dessa vez um bilhete, uma espécie de dedicatória que George deixara para a bibliotecária por ela ser seu grande amor!
Roberto (Lucas) gelou por um segundo e constatou: Os dois eram amantes.
CONTINUA…-” ”>-‘.’ ”>