Uma bola de fogo se formou engolindo todo o Hangar. Os destroços são lançados a vários metros de distância. O som de lataria e ferro se contorcendo ao serem consumidos pelas chamas ecoou ao longe. O chão tremeu e uma nuvem de poeira e fuligem encobriu o céu. O caos estava instaurado. 

O teto desabou destruindo todo o maquinário. Computadores e impressoras jaziam queimados ao longo de todo o Hangar. Vários jovens se arrastavam com o corpo cheio de chamas. Gritos ensurdecedores preenchiam o ambiente transformando o lugar em um verdadeiro inferno. O calor derretia as mesas e armários. Tudo estava destruído. 

Ao longe, é possível ouvir o som de sirenes. Elas vão se aproximando, até que um carro  de bombeiro aparece estacionando próximo. Os homens saltam rapidamente e começam a trabalhar. Logo, uma mangueira é acionada e as chamas vão se apagando ao receberem uma enxurrada de água.  

Os pneus de uma ambulância freiam bruscamente e os socorristas correm para ajudar. No meio das chamas, Jade se levanta, intacta. Ela parece procurar por algo ou por alguém.  

Logan e Brutus também estão bem. Salomé, sem nenhum ferimento, corre para os braços do marido.  

Dois socorristas se aproximam de Bruno, que está desacordado e com uma queimadura no braço esquerdo. Jade corre ao encontro do amigo e entra em desespero ao ver a situação. 

— Ai meu Deus, ele tá bem? — Jade entra em desespero. 

— Calma, senhora, ele vai ficar bem — disse um dos socorristas. 

Os homens entram com Bruno na ambulância e saem em disparada. Jade fica olhando o carro se afastar. Lágrimas caem dos seus olhos. Suas mãos tremem sem controle algum. “Que merda tá acontecendo?”, questiona Jade. 

 

 

EPISÓDIO: TUDO QUE VAI, VOLTA

 

 

Do interior do seu veículo, Capeto observa o Hangar destruído e os bombeiros apagando as chamas. Ele faz uma ligação para Babemco informando que o plano foi executado e o local destruído. A liga da justiça teve o seu QG incinerado e a invasão da Prime não era mais uma ameaça. 

Porém, Capeto não esperava que a delegada Yeda fosse aparecer apontando uma arma de verdade. Ao lado dela, Licurgo sustentava um taco de beisebol. O homem estava rendido. 

— Sai do carro com as mãos pro alto — ordenou Yeda. 

O velhote levantou sem reação. A delegada o algemou rapidamente.  

— Você acha que sab…— Capeto tentou falar. 

— Cala a boca filho da puta! — disse Yeda, dando um chute no joelho do velho — Você me deu uma bela de uma coronhada. Agora, só fica em silêncio! 

A delegada ligou para o décimo terceiro distrito. Ela tinha o autor do crime. Capeto estava com o detonador em mãos. Agora, ela só precisava do apoio da polícia. 

Hospital Geral de Recife – 20:17 hs 

Jade entrou no hall e foi direto ao balcão. — Preciso saber a situação de um paciente. Bruno Gouveia Frota. Ele deu entrada há pouco tempo.  

A atendente, uma loira jovem e atenciosa, disse: — Preciso que a senhora aguarde. Ele está passando por um procedimento médico e logo mais o boletim será atualizado. 

Jade estava em desespero. Passava as mãos sobre a cabeça e não conseguia disfarçar os tremores. O mundo parecia que girava com mais velocidade e aquilo estava deixando-a tonta. Precisava sentar-se, ou então iria vomitar ali mesmo. 

Victória se aproximou e puxou a mulher para perto — Vem comigo — disse a psicóloga. 

As duas se sentaram em um sofá, próximo à enfermaria. Victória muito preocupada tentava extrair de Jade alguma informação. 

— O que houve? Onde vocês estavam?  

— Nós estávamos em um Hangar, na Caucaia — respondeu Jade. 

— Como isso foi acontecer? Estão dizendo que foi criminoso! 

— Eu não sei. Nós estávamos indo bem. Estávamos quase tomando o controle da Prime, quando eu vi um clarão no teto e depois o portão lateral caiu por cima da gente e quando eu levantei tudo estava em chamas. 

— Espera…tomando o controle da Prime? Como assim, tomando o controle da Prime? O que vocês estavam fazendo? 

Jade fica confusa, ela não sabe como continuar a conversa sem entregar mais informações confidenciais. 

— Olha, Jade. Eu sei que você quer muito resolver essa questão com o Babemco e ter seu filho de volta, mas eu acho que as coisas estão saindo do controle. Você poderia estar morta, agora. O Bruno está ferido e tudo isso pra quê? Como dá pra resgatar o Cícero com tudo isso que vocês estão fazendo? 

Jade se levanta. Suas mãos tremem freneticamente. 

— Mas o que você quer que eu faça?! O que eu posso fazer?! Você quer que eu morra logo, é isso? Você quer que eu me mate e acabe com tudo? Por que só isso pra me fazer desistir! Eu não posso ficar de braços cruzados. Não posso ficar sem fazer nada… 

— O Babemco vai nos matar, um a um. Se continuarmos agindo assim, não vai ter volta. Ele vai nos perseguir e acabar com a gente — alerta Victória.

— Eu quero que aquele desgraçado venha com tudo. Porque quando eu pegar ele, não vou ter misericórdia. 

Enquanto isso, Logan e Brutus seguem caminhando em meio aos destroços. Eles tentam recuperar algo que possa ser útil. 

— Logan, Logan, para com isso. Não dá pra ficar procurando alguma coisa no meio das cinzas. Acabou, cara. Desiste! — pede Brutus. 

— Eu não vou parar! Aquele desgraçado acha que pode chegar no meu escritório e botar fogo em tudo e isso não vai ter resposta? É isso mesmo que você acha? Que eu não vou fazer nada? Você tá enganado! Se não quiser ajudar é só partir. Eu vou continuar procurando. 

De repente, Marcelo se aproxima com um HD que tem manchas de queimado. 

— Encontrei isso! Acha que serve? — Marcelo questiona, entregando o material à Logan. 

O hacker toma o HD em suas mãos e sorri. — É disso que eu tô falando! — ele mostra para Brutus. 

— O jogo só termina quando acaba! Eu vou tomar o que é meu e ninguém vai impedir — declara Logan. 

Longe dali, na Beira Mar de Recife, Morgana trabalha incansavelmente na cozinha do restaurante Cerejas. Ela tenta preparar o mise en place, mas acaba cortando as cenouras em dimensões diferentes, derruba a faca no chão e deixa que sua dolma pegue fogo. Ela é um total desastre na cozinha. 

— Mas, que bela merda você tá fazendo aqui? — questiona o Chef Dilard com as mãos na cintura. 

— Me perdoa chefe, eu vou prestar mais atenção. 

— Já é o segundo prato que você quebra e a segunda sopa que você arruína! Para com isso — ele diz, chamando a atenção dela para si — Chega! Para agora mesmo! Mas, que merda de experiência você tem hein? 

Morgana tenta se explicar, mas a situação fica ainda pior. 

— Olha, eu sou grato pela ajuda que você deu com os caras da vigilância. Mas, sinceramente, se continuar desse jeito vou ter que te desligar. Assim não dá! Nós somos um restaurante de alto padrão, não podemos perder tempo com amadores. Ou você entra nos prumos ou pode dar adeus a esta cozinha — disse o chefe, deixando Morgana reflexiva. 

A garota arremessa um pano sobre a pia. Ela está revoltada. 

 13º Distrito de Polícia. Yeda conversava com alguns policiais na recepção. Eles estavam admirados por ela ter capturado Capeto. 

A delegada estava orgulhosa por ter prendido o suspeito, mas, preocupada por saber que Bruno tinha se ferido com a explosão.  

Licurgo acompanhou a delegada. Ele estava assustado com tudo o que havia ocorrido. 

— Notícias do Bruno? — perguntou Yeda, para Licurgo. 

— Ainda não 

A delegada percebeu a apreensão nos olhos do fazendeiro. 

— Tá tudo bem, Licurgo. Nós estamos bem. 

— Como você pode garantir isso? Você viu o que o Babemco fez? Pra ele é muito fácil. Ele tem dinheiro, influência…,mas, e eu? Como eu posso me envolver em tudo isso e sair ileso? 

— Olha, não posso pedir que você fique. Você tem uma vida e responsabilidades. Mas, se quiser mesmo ajudar a prender o Babemco, vou precisar que você seja forte. Tem que ter o sangue frio, tem que ser inteligente e agir no momento certo. O Babemco não está acima da lei. 

— Será que não? Pra mim ele parece estar acima de tudo. 

— Nós prendemos o capanga dele. Agora é só achar provas que liguem o Capeto ao Babemco. 

— Eu não sei. Minha cabeça tá doendo muito. Você tem algum analgésico? 

Yeda vai ao balcão de atendimento. Porém, é barrada por alguns policiais que se aglomeram próximo à saída da delegacia. 

— O que tá acontecendo? — questiona Yeda para um dos policiais. 

— É melhor você ver com seus próprios olhos. 

O delegado Humberto acompanhado de Capeto e de um advogado, se aproximam do balcão de atendimento. Ele assina um papel e abre as algemas que prendem o detento. 

— O que é isso? O que tá acontecendo? — questiona Yeda abrindo caminho entre os policiais. 

— Se afastem e deixem o homem sair. Ele está livre. Não há provas contra ele e o juiz permitiu o habeas corpus — informa o delegado Humberto. 

— Isso não pode ser verdade! — grita Yeda. 

— Se você quiser questionar a veracidade disso é só falar com o Delegado Geral, delegada. Talvez ele possa esclarecer tudo isso — disse Humberto. 

O advogado guia Capeto, que, passa pela delegada e dá um sorriso sarcástico. Os policiais abrem caminho. Alguns estão indignados. 

Licurgo se aproxima. 

— Eu disse que o Babemco está acima da lei… 

— Isso não vai ficar assim — responde Yeda. 

A delegada entrou em seu utilitário e acompanhada de Licurgo dirigiu até o bairro de Boa Viagem. Estacionou diante de um condomínio de luxo e informou que queria falar com o doutor Diógenes. Já eram vinte e uma horas e ele não quis atendê-la. Yeda ainda tentou argumentar, mas não conseguiu entrar. 

— Ele disse que pode receber a senhora amanhã pela manhã, no gabinete — informou o porteiro. 

— Tá ok! 

Licurgo observou a mulher. Ela estava transtornada de ódio. Uma lágrima escorreu pela sua face. 

— Eu custo a acreditar que meu pai tem algo com o Babemco. 

— E se ele tiver? 

— Eu vou fazer questão que os dois apodreçam juntos, de preferência na mesma cela.  

— Eu ainda tenho um analgésico. Você quer? 

Yeda esboçou um sorriso, mas o ódio lhe tomou. Apagando qualquer resquício de harmonia. 

— Minha mãe ficaria decepcionada — declara a delegada. 

— Ela… 

— É melhor não tocarmos nesse assunto agora. Preciso resolver outros problemas. Vamos! — disse a delegada, dando partida e arrancando com o veículo. 

Logan estava acelerado enquanto digitava em um notebook velho. Salomé se aproximou e ofereceu um café. O homem nem sequer olhou para ela, negando qualquer interferência. 

Desde às sete da manhã, Marcelo, Brutus e Logan trabalhavam em uma mesa nos fundos do Café Status, um estabelecimento agradável e próximo ao centro da cidade. 

Marcelo tentava resgatar o link de acesso ao sistema Prime, enquanto Logan lutava para conseguir acesso à internet mais rápida. 

— Isso é uma merda! Com essa internet nós vamos levar anos para entrar na Prime! — reclamou Logan. 

— Não dá pra trabalhar aqui. Precisamos de outro lugar. Precisamos de internet de verdade e um ambiente propício — afirmou Brutus. 

— Eu sei, eu sei. Mas é o que temos pra trabalhar. Se não agirmos o mais rápido possível, não vai ter chance alguma de recuperar o link. 

Enquanto Logan permanece absorto em sua atividade, Brutus e Marcelo se aproximam do balcão e pedem café com torradas. 

— Ele é sempre assim, tenso? — pergunta Marcelo. 

Brutus sorriu e deu uma olhada para o chefe trabalhando. — Ele é bem determinado. Isso aí é estresse. Depois de tudo que aconteceu, ele tem muito a perder. 

— Você concorda com a forma que ele trata a esposa? 

— Não, mas como eu te disse, acho que ele não é assim sempre. Eu sinceramente espero que a gente consiga o link novamente. Não sei como ele vai reagir se perdermos essa oportunidade. 

Do outro lado do salão, Salomé faz uma ligação. Ela avisa para Jade que precisa de ajuda. 

Secretaria de Segurança Pública. Gabinete do Delegado Geral. 

Yeda entrou na sala e foi recebida por seu pai, que preparava um drink. 

— Sei que ainda é cedo, mas acredito que o dia hoje não vai ser fácil, e nada melhor do que um bom uísque para amenizar a pressão. Aceita? — ele oferece. 

— Não, obrigada. 

— Como posso ajudá-la? — questiona Diógenes, sentando. 

Yeda suspira, tentando encontrar as palavras. 

— Você soube da soltura de um suspeito no décimo terceiro distrito? 

Ele afirmou que sim com a cabeça. 

— Como isso é possível? — perguntou Yeda. 

— Como isso é possível? Eu preciso mesmo responder? 

— Ok, me disseram que você saberia me informar os motivos da soltura — disse Yeda. 

— Quem disse isso? 

— Eu não posso te dar essa informação. 

— Se vamos trabalhar assim, então, minha resposta é a mesma que a sua: sem informações. 

— Estão te acusando de trabalhar para o Babemco. Ele é criminoso. Estão dizendo que você tem aliança com o crime! Isso é sério! — esbraveja Yeda. 

— Boatos. Não acredito em boatos. Tem alguma denúncia na Corregedoria? Até onde eu sei, não. Então, não posso responder por boatos. Quando existir uma denúncia formal, com provas e uma investigação, aí sim, eu posso me manifestar e apresentar minha defesa. Mais alguma coisa? 

Yeda olha o seu pai com indignação. Ela já tem a resposta que precisa. 

— A mamãe não estaria feliz com essa situação. 

— Não envolva a sua mãe nisso.  

—… 

Yeda se retira deixando o seu pai reflexivo. Ele toma mais um gole da bebida. 

Durante sua jornada no restaurante Cerejas, Morgana observou a van branca partir em direção à mansão do Babemco. Geralmente, um homem branco dirigia o veículo e dois homens levavam os alimentos. Um deles fazia parte da cozinha, e era este homem que Morgana precisava se aproximar. 

Ele era moreno, cabelos lisos e negros e aparentava ter origem indígena. Seu nome era Paolo. Todos os dias, Paolo ia até à copa e preparava um bolo de carne que ele comia com café. Não falava muito, mas era um auxiliar competente. Tinha agilidade no corte e era especialista em molhos e massas.  

Naquela manhã, Morgana aproveitou o pouco movimento da cozinha e se aproximou de Paolo que comia seu bolo de carne, em silêncio. 

— Não sei se vai gostar, mas disseram que era chocolate belga — ela disse, oferecendo um tablete de chocolate para o homem. Ele pegou e rapidamente guardou em seu bolso. 

— Muito obrigado — ele respondeu com um sorriso tímido. 

— Eu sou novata, acho que já percebeu. E, tô tendo muita dificuldade. Mas, eu preciso muito do serviço. Não sei se tô te incomodando, mas queria muito pedir a sua ajuda. 

Paolo olhou desconfiado. Deu uma última mordida em seu bolo. — No que você tá errando? 

— O ponto da sopa. O sabor da sopa. Quer dizer, tudo da sopa. 

— Posso te dar umas dicas. 

— Você não sabe o quanto eu fico aliviada. 

Paolo segue cortando legumes e filetando cebolas. Ele junta tudo, põe água na panela e começa a mexer o caldo. Morgana segue observando.  

O chefe Dilard se aproxima e parabeniza os dois trabalhando juntos. Morgana sente que agora as coisas irão funcionar. 

Depois de alguns minutos e vários processos, Morgana serve a sopa com muito carinho. O garçom segura a sopa em uma mão e algumas torradas na outra, e sai em direção ao salão. 

Morgana observa tudo, apreensiva, mas contente pelo trabalho. 

Alguns minutos depois, o chefe Dilard invade a cozinha feito um furacão sem controle. Ele está transtornado com o prato de sopa na mão. 

— Mas, que merda é essa?! — grita o chefe em direção à Morgana. 

— O que houve? 

— Você salgou a sopa! 

— Mas… 

Morgana tenta provar, mas só em encostar os lábios ela sente o sal predominante. 

— Eu, não entendo, estava tudo certo… 

— Por hoje chega! É melhor ir para casa descansar! Não aguento olhar para você! Isso vai destruir minha reputação! Volta amanhã! Sai da minha frente! 

Morgana tira a dolma e segue para a copa. Ela encontra Paolo que fuma um cigarro. 

— E aí, gostaram da sopa? — ele dá um sorriso macabro. 

— Foi você… 

— Acorda, garota — ele sai da copa e vai em direção ao salão. 

Morgana parece transtornada. — Como eu posso ser tão idiota? Como eu fui cair nessa? 

A delegada Yeda foi até à Corregedoria da Polícia. Ela entrou no prédio imponente, porém, arcaico ao mesmo tempo. Afinal, era um prédio da Polícia Civil; havia admiração e alguns retrocessos ao mesmo tempo. 

Ela foi informada de que poderia fazer tudo online, sem se identificar, ou falar com um dos agentes para fazer qualquer denúncia. Escolheu falar com um agente, pessoalmente. 

Uma mulher negra, na casa dos quarenta, guiou a delegada até uma sala nos fundos do lugar. As duas se acomodaram e Yeda tomou um formulário onde descrevia sua denúncia. 

A agente leu tudo, carimbou e encarou Yeda. 

— Você é muito corajosa. 

— Então é verdade? — perguntou a delegada. 

— Sim, mas como enfrentar o seu pai? É um trabalho difícil. Não sabemos como ele vai reagir quando souber da denúncia. 

— Espero que tudo seja feito de forma anônima e obedecendo os trâmites legais. 

A agente solta uma gargalhada. — Anonimato?! Na polícia pernambucana? Não, isso não acontece aqui. Isso é coisa de filme americano. Aqui ninguém tem segredos. 

— Eu devo retroceder? 

— Você quem sabe. Só estou esclarecendo as coisas pra você. 

Yeda sai da Corregedoria em absoluto silêncio. “Será que vale a pena tudo isso? Será que essa denúncia vai dar em alguma coisa?”, ela se questiona. 

Ela dirige calmamente até um cruzamento na avenida João Pessoa, onde dois carros encostam ao seu lado, um à direita e o outro a esquerda.  

Vários homens descem do carro. Todos usam bataclava e estão fortemente armados. O trânsito para. Alguns motoristas ao redor saem em disparada, acreditando se tratar de um assalto. A cena é aterrorizante. 

O sol testemunha toda a ação. 

A delegada põe a mão na cintura e percebe que está desarmada. Seu carro não é blindado, ela pensa que o veículo vai ser o alvo.  

Os homens cercam o carro e um deles se aproxima da janela do motorista. Ele dá dois toques, pedindo para baixar o vidro. 

— Precisamos conversar — avisa o homem. 

Antes que Yeda pense em arrancar, ela sente os quatro pneus sendo furados e o carro baixando.  

— Nós só queremos bater um papo. Baixa esse vidro — ordena o homem de bataclava ao lado do veículo. 

Yeda baixa o vidro, esperando pelo pior. O homem mostra a escopeta e sorri para a delegada. — Eu tenho um recado pra você: — Ou você para com toda essa merda que tá fazendo, ou você vai morrer logo, logo. Você entendeu o que eu disse? 

Yeda balança a cabeça concordando. 

— Boa garota! Eu aconselho que volte pro seu interior e deixe de meter o bedelho onde não foi chamada. Você não faz ideia de com quem está lidando — ele diz, encarando a mulher. — Desculpa pelos pneus. — Ele se afasta e entra em seu carro. Os outros homens também se vão. A delegada consegue respirar. 

No Hospital, Jade aguarda notícias de Bruno, mas os médicos demoram a se manifestar. Helena Melo se aproxima e as duas se abraçam. 

— Eu fiquei em choque quando descobri o que aconteceu com o Bruno. Tem notícias? — pergunta Helena. 

— Nada. 

— Encontraram o autor desse crime? 

— A delegada prendeu um homem, mas parece que ele já foi solto. Disseram que ele era capanga do Babemco. 

— Filho da puta! 

— Nós perdemos tudo, Helena. Todos os equipamentos, computadores e materiais. Não sei mais o que fazer. 

— Você não pode perder a esperança. Em que posso te ajudar? Eu disse que estaria aqui pro que der e vier. 

Jade reflete e parece lembrar de algo. 

— O Logan conseguiu recuperar um HD e tá tentando acessar o link de acesso à Prime. Mas, nós não temos um lugar adequado para trabalhar e não temos os equipamentos necessários. 

Helena retira um bloco de notas e uma caneta da sua bolsa, e entrega nas mãos de Jade. 

— Põe tudo o que você precisa e me dá algumas horas que eu resolvo o seu problema — garante a candidata. 

— Isso é sério? 

— Eu sou uma mulher de palavra. Vai, anda, não temos tempo a perder. 

Jade se anima e começa a escrever tudo o que precisa. 

Três horas depois, Jade vai até o Café Status e convida os hackers a darem uma volta com ela. Logan mesmo desconfiado segue a mulher. Salomé, Marcelo e Brutus parecem mais animados e andam pelas ruas de Recife despreocupadamente. 

A algumas quadras do Café, há um edifício enorme. O grupo vai até o saguão e tomam o elevador. No último andar, eles param e dão de cara com uma sala comercial enorme. 

Jade toma a frente e abre a porta, apresentando o novo QG dos heróis. 

— Mas o que é isso? — questiona Logan. 

— Este é o nosso novo escritório — diz Jade. 

Brutus vai desembalando os monitores, as CPU’s e equipamentos. Marcelo segue alisando as mesas e cadeiras. Salomé inspeciona os banheiros e luminárias. 

Logan permanece na entrada, observando os outros deslumbrados. Ele parece incomodado. 

— É aqui que vamos trabalhar e retomar o link da Prime. Aqui teremos internet, equipamentos e tudo o que for necessário para o serviço — Jade diz, orgulhosa de sua conquista. 

Marcelo e Brutus não escondem a felicidade estampada em seus rostos. 

— Isso é incrível, Jade. Como você conseguiu isso? — questiona Marcelo. 

— Uma amiga. Uma excelente amiga. 

Logan permanece em silêncio. — O que isso vai nos custar? — ele questiona. 

— Não vai custar nada. É uma cortesia de uma amiga — garante Jade. 

— É melhor não aceitarmos isso. Eu vou procurar outro lugar para nós. Vamos! — ordena Logan. 

— Olha meu amigo, eu não vou a lugar nenhum. Nós não temos mais tempo a perder. Se não ligarmos esse equipamento o mais rápido que pudermos e não formos atrás desse link, já era! Pode esquecer a Prime — informa Brutus. 

Logan permanece chateado, olhando para tudo. Ele dá meia volta e deixa o lugar. Jade olha para os outros e se questiona se fez algo errado. 

— Tá tudo ok. Ele vai voltar — fala Salomé. 

Jade fica reflexiva. A última coisa que ela quer é causar discórdia com Logan. 

O dia amanheceu com o clima quente. As ruas do centro já estavam movimentadas e o trânsito uma loucura. 

Quando Paolo entrou na copa do Cerejas, ele tomou um susto ao ver Morgana varrendo o chão. 

— Chegou cedo, novata. Caiu da cama? 

Morgana continua em silêncio fazendo o seu serviço. Ela só quer sobreviver mais um dia naquele lugar e não ser demitida, por isso, fará de tudo para preservar sua sanidade. 

Paolo veste o seu fardamento e em seguida começa a preparar seu bolo de carne. Ele coloca a proteína sobre a bancada, tempera, amassa e separa em formas. Em seguida, liga o forno a 180º e põe a carne dentro. Aguarda alguns minutos e retira a forma que está fumegando.  

O homem senta-se à vontade no seu canto da mesa e degusta a comida da forma mais cadenciada possível. Cada mordida apresenta uma nuance de prazer sob a face oleosa. Ele vai ao delírio degustando o alimento. 

Enquanto isso, Morgana finaliza a lavagem da louça, mas, não deixa de espiar sobre os ombros, o cozinheiro fazendo sua refeição. Ela parece ansiosa. 

De repente, Paolo levanta em uma velocidade absurda. Ele ainda está com uma porçao de carne na boca, mas sua expressão de desconforto é visível. Põe a mão da barriga sentindo que algo está errado. Corre em direção ao banheiro. Em seguida, o som da evacuação ecoa pela cozinha. Paolo grita de dor enquanto se desmancha em merda. 

Morgana não consegue segurar e cai na risada. 

— O que você fez sua desgraçada? — grita o cozinheiro, em meio ao barulho da evacuação. 

— Acorda garoto! É melhor tomar cuidado! Tudo que vai, volta — grita Morgana, em meio às gargalhadas. 

Quando a van branca que vai descarregar os alimentos na casa de Babemco, se aproxima da cozinha, Morgana corre em direção ao Chef Dilar. 

— Chef, já que eu não tô sendo muito útil na cozinha, posso te pedir algo? 

— O que você quer? Fala logo que eu não tenho o dia todo. 

— Eu posso ajudar a carregar e descarregar a van, já que o Paolo está com problemas. Pode ser?  

— Que seja! Mas, por favor, seja discreta e obedeça ao Carlão. Se houver qualquer problema, você nunca mais volta nesse restaurante — avisa Dilard. 

Morgana vibra por dentro. Agora é a hora de conhecer a mansão do Babemco. Será que o filho da Jade está lá? 

Alguém joga uma fotografia sobre uma mesa de vidro. O homem se afasta e acende um charuto. Babemco, usando um terno cinza e mexendo um copo de uísque em sua mão, anda de um lado para o outro, despreocupado. 

— O que você me diz sobre isso? — pergunta Babemco. 

Doutor Diógenes sai das sombras, e naquela sala apertada, toma a foto em suas mãos e observa atentamente. — Elas estão causando barulho. 

— Sim. 

— Quem são as outras duas? — pergunta Diógenes, apontando para a foto.

— Temos a sua filha, a Jade e a candidata a prefeita de Recife, uma tal de Helena Melo. É um trio osso duro de roer — informa Babemco. 

Diógenes continua olhando para a foto. — Eu já dei o recado para a minha filha. Mas as outras, aí é com você. 

— Sua filha precisa parar. Se ela se aproximar demais do sol, ela vai se queimar. 

— Isso é uma ameaça, Babemco? 

— Não faço ameaça para amigos. 

— Nós não somos amigos. Mas, eu sei muito bem o que eu preciso fazer para proteger os meus interesses. Espero que você também saiba o que está fazendo. Não se preocupe com a minha filha. Ela é problema meu. 

— Espero que sim. Não gostaria de enfrentar mais um da polícia. 

Os dois se encaram e se desafiam. O clima permanece tenso. 

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