A delegada Yeda percebe que Jade está muito apreensiva. Ela decide então levar a mulher até à delegacia, pois esse é o seu destino.
— Eu preciso falar com o Bruno. Ele foi atrás do meu filho na mansão do Babemco — confessa Jade.
Yeda acha aquilo muito estranho.
— O que vocês descobriram? A polícia já varreu aquele lugar diversas vezes e não encontrou o seu filho lá.
— Mas, nós encurralamos o Babemco e ele confessou que o Cícero está na casa dele.
Ao chegar na delegacia, Yeda oferece água à Jade, que recusa sem conseguir manter-se quieta.
— Você precisa se acalmar! Eu vou tentar falar com o Bruno e caso não consiga, eu mesma vou até a mansão do Babemco. Agora toma essa água e senta — ordena a delegada para Jade.
A mulher fica quieta encostada à parede. Ela não consegue parar de pensar em seu filho. Como será que ele está? Será que passou fome? Será que teve febre, sentiu frio ou dor? Ela não para de pensar em todas as circunstâncias que o menino possa ter vivido, e tudo isso aflige ainda mais seu espírito.
Até que Bruno aparece acompanhado da delegada. Ele parece preocupado.
— Onde está o meu filho, Bruno? — questiona Jade.
Bruno não responde e baixa o olhar.
— O que aconteceu?
— Cheguei tarde demais. O Capeto disse que uma garota saiu com o nenê — diz Bruno.
Jade senta e as lágrimas escorrem pelo seu rosto. Ela não consegue mais aguentar toda aquela pressão e decide sair da delegacia.
Bruno tenta detê-la, mas ela o empurra e corre até o pátio.
— Espera, Jade. Pra onde você vai?!
Jade corre até a pista, e os carros, buzinando, começam a desviar dela.
— Para com isso, Jade! — Bruno grita, desesperado.
A mulher não olha para os lados e continua parada na pista, até que Bruno a arranca de lá.
Já na calçada, ele a encosta à grade que cerca a delegacia.
— O que você tá pensando?
Jade está distante, chorando muito e com o olhar vazio.
— Eu vou destruir aquele homem. Eu juro que vou — ela fala, com ódio.
EPISÓDIO 9: CATARSE
Já é noite quando Jade chega em casa acompanhada de Bruno. Ela está desnorteada sem saber o que fazer. Ela tem provas para incriminar o Babemco, mas, seu filho não está mais no poder do criminoso.
— Eu falei com o Brutus e ele tá tentando achar as filmagens pra identificar quem é a garota que pegou o Cícero. O problema é que nós perdemos o sinal quando o fato estava acontecendo — avisa Bruno.
Jade está concentrada pensando em algo.
— Como eu posso atingir o Babemco? — ela questiona, encarando o advogado.
— Eu sei como.
Ela se surpreende. — Então me fala como?
Bruno se aproxima, como se fosse compartilhar um grande segredo.
— Nós temos o Babemco na palma das mãos. Ele sequestrou seu filho, agora, você vai tirar o bem mais precioso dele: a Prime Security.
— Como assim?
— Vamos ordenar que ele renuncie a presidência e você vai assumir no lugar dele.
Jade sorri, nervosa.
— Isso é impossível!
— Não é não! Vamos tomar a empresa dele. Essa é a forma mais eficaz de atingi-lo — Bruno afirma, confiante.
Jade parece receosa. — Isso nunca passou pela minha cabeça. Parece algo inimaginável. Eu? Presidente da Prime? Não…
O advogado se aproxima e mais confiante tenta abrir a mente de Jade.
— Essa é a oportunidade. É o momento de tirar tudo de mais valioso do Babemco. Se você não fizer isso agora, talvez nunca mais tenha essa chance.
Jade fica reflexiva.
O dia amanheceu chuvoso na capital pernambucana. Os carros preenchiam as avenidas causando um engarrafamento sem fim. Dentro do veículo, Jade observava a cidade acordar em meio às gotas que caiam do céu. Ela e Bruno estavam prestes a chegar na Prime e agendaram uma reunião com Babemco. A hora era agora. O confronto estava prestes a começar. Depois dessa investida as coisas com certeza iriam tomar um novo rumo. Nada mais seria como antes.
Dentro do elevador, Bruno tentava fixar a camisa social dentro da calça. Enquanto Jade, respirava com certa dificuldade, sentindo a pressão do momento. Eles estavam tensos.
Ao saírem do elevador, foram em direção à sala do CEO da Prime e encontraram o lugar de portas abertas. Babemco estava sentado, observando a cidade lá fora. Ao notar que a dupla havia chegado, ele rapidamente levantou-se e pôs de frente para os convidados.
— Quem bom recebê-los aqui — disse o magnata. — Hoje o dia está diferente. Temos chuva, um clima lúgubre e algo inspirando mudanças. O que será que teremos a seguir?
Bruno e Jade se posicionaram lado a lado. Eles queriam ir direto ao ponto.
— Temos uma demanda a solicitar — disse Bruno.
— Uma demanda? Humm… interessante.
Jade dá um passo à frente com a expressão de nojo. — Você não leva nada à sério, não é? Isso não é um jogo! Onde está o meu filho, Babemco?
Ele sorri, ainda mais debochado. — Ele estava na minha casa, mas, parece que alguém está muito interessado em por as mãos no seu rebento. Isso é curioso! Quantos inimigos você anda fazendo, hein Jade?
Bruno segura o braço de Jade e parece levá-la para o centro, lembrando do propósito deles.
— Vamos lá, o que vieram fazer aqui? — questiona Babemco.
— Acho que viemos fazer um pouco de justiça — declarou Bruno.
— Fiquei curioso.
— O que você fez à Jade é incalculável. Tortura, sequestro, violência física e psicológica, sem falar do sequestro do Cícero. Tudo isso tem um preço, e hoje nós viemos cobrar.
— Interessante! Não achei que essa história fosse acabar em uma questão financeira. Jade permanece incomodada e afasta-se deixando Bruno tomar a frente.
— Nós queremos a presidência da Prime! — exige o advogado.
Babemco é pego de surpresa.
— Vocês estão de brincadeira, né?
— Jade vai ser a nova CEO da Prime Security, e queremos isso para ontem.
Babemco gargalha sem controle. — Isso não pode ser verdade?! Vocês acham que é fácil assim? Que novela do Mundo Virtual vocês estão lendo pra pensar que tudo se resolve com essa ameaça furada?
— E ainda tem mais: caso algo aconteça comigo e com a Jade, nós temos um advogado preparado para divulgar o vídeo em todas as emissoras e redes sociais. Eu garanto que essa não é uma ameaça furada! — Bruno afrontoso.
Babemco se aproxima do aparador encostado à parede, pega uma garrafa de whisqui e prepara um drink.
— Então isso é sério?
Bruno confirma.
— Vocês fazem ideia do que é necessário para se tornar CEO de uma empresa como a Prime?
— Não importa! Você vai nos dar a cadeira e o “como” não é problema nosso.
— Eu não posso simplesmente renunciar e colocar alguém no meu lugar. O Conselho da Prime precisa aprovar a nova proposta e votar a favor. Que fique claro que não é uma decisão minha. Vocês entendem?
Bruno se aproxima de Jade e cochicha algo.
— Isso é verdade? — Jade pergunta.
— Sim! Ele precisa renunciar, nos indicar e o Conselho vota.
— Droga! E qual a chance do Conselho me escolher como presidente da empresa?
— Chance zero!
— Isso é loucura!
— Nós precisamos conversar com o Conselho. Eles precisam saber que o Babemco está nas nossas mãos.
— Mas, Bruno, isso não vai dar em nada…
— Precisamos tentar, Jade! Precisamos.
Bruno se volta para Babemco e altivo declara: — Queremos uma reunião com o Conselho. Você vai renunciar e indicar a Jade como presidente e eu como vice-presidente da Prime.
Babemco sorri enquanto fuma um charuto.
— Vocês não vão conseguir, você sabe né? Isso é só mais uma chance de passarem vergonha.
— Não importa! Você vai fazer acontecer, ou então, nós vamos arruinar de vez a sua vida — Bruno ameaça.
A sala de reunião da Prime Security estava borbulhante. Cada conselheiro debatia fervorosamente sobre a pauta lançada: a renúncia de Babemco e o anúncio de um novo CEO. Quem será que Babemco iria indicar? Como os conselheiros iriam votar? Será que era alguém de fora do conselho?
Junto de seus assessores, Cornélio permanecia inquieto com essa nova bomba lançada por Babemco. O que será que o CEO estava aprontando? Nada disso fazia sentido.
O burburinho somente cessou quando Babemco entrou na sala acompanhado de Jade e Bruno. Todos os olhares estavam fixos nos três.
—Agradeço a presença de todos e sou grato por esses anos de trabalho na Prime. Porém, hoje, quero anunciar que renuncio ao cargo de CEO da Prime Security e coloco à venda a minha cota de ações — diz Babemco.
Um grande suspiro de espanto ecoa pela sala. Inicialmente, ninguém se pronuncia. O choque inicial pega todos de surpresa. Então é verdade. Babemco vai deixar a empresa.
— Qual o motivo disso? — questiona Cornélio.
— Preciso cuidar da minha saúde mental — Babemco responde, seco.
— E quem você indica para substituí-lo como presidente do grupo?
Babemco dá um passo para trás, encara Bruno e Jade, para em seguida se dirigir ao conselho novamente: — Jade Souza! — ele diz, apontando para a mulher.
O grupo fica em choque mais uma vez. Alguns se levantam revoltados. As expressões variam entre confusão e incredulidade. “Só pode ser brincadeira?”, cochicham alguns.
— Ninguém conhece esta mulher! — revela Cornélio, mais paciente do que o comum.
Babemco encara Jade como quem diz: “agora é a sua vez de se apresentar”. A mulher fica em pânico. Ela simplesmente não sabe o que falar. Bruno ainda tenta empurrá-la adiante, na esperança de incentivá-la, mas, ela permanece inerte, sem reação.
— Ela vai pegar o jeito — fala Babemco.
Cornélio sorri, aguardando o CEO anunciar que tudo não passa de uma pegadinha. Mas, não, Babemco parece convicto com seu posicionamento.
— Isso está fora de cogitação! — diz Cornélio, tomando o centro da sala — Eu não preciso reunir o conselho para afirmar que não iremos aceitar a sua renúncia, e, muito menos esta mulher como a nova presidente da empresa! Isso vai além de loucura! — ele fala, encarando Babemco.
O CEO fixa o olhar novamente na dupla Jade e Bruno, como quem diz: “eu avisei”.
Jade sai da sala em disparada e Bruno vai atrás dela. Os homens sorriem com a situação.
No corredor, Bruno consegue alcançá-la e segurando em seus braços diz: — Ei! Calma! Ficar sem reação é normal!
— Isso foi mais do que ficar sem reação, Bruno — ela fala, com as mãos trêmulas — Eu não consigo nem falar direito. Não consigo defender meu filho! Que ideia maluca essa de querer tomar a Prime, a sua.
— Não tem nada de maluco nisso! Você esqueceu que nós temos o Babemco? Nós só vamos descansar quando assumirmos a Prime!
Jade o encara, desconfiada.
— Que fixação é essa com a Prime, Bruno?
— Você vai deixar que o Babemco tenha tudo, quando ele tirou exatamente TUDO de você? Essa é a guerra que nós vamos travar, Jade! Você precisa colocar isso na cabeça! Essa sempre foi sua intenção: tomar a Prime, não era?
Jade baixa a cabeça, lembrando desse propósito.
— Eu sei o que fazer pra convencer o conselho — Bruno fala, confiante.
Jade olha para ele incrédula.
— Eu não imagino nada que possa convencer esses homens.
— Pois eu sei muito bem como fazer eles mudarem de ideia. Vem comigo!
Bruno sai. Jade o observa se afastar. O que será que ele está planejando?
O auditório está lotado. Homens e mulheres estão sentados olhando fixamente para o telão que exibe um vídeo. Ao final da exibição, Bruno se dirige ao centro do palco e toma o microfone.
— O que vocês acabaram de ver foi o futuro do partido. Uma mulher decidida, segura, confiante e cheia de vontade de lutar pelo povo — diz o advogado.
Alguns na plateia cochicham e parecem discordar.
— Ela não me parece tão confiante assim — grita alguém lá do fundo do lugar.
— A imagem dela está associada com Helena Melo. Todos reconhecem o rosto dessa mulher. Ela simboliza alguém que mesmo sofrendo a opressão do sistema, conseguiu se levantar e lutar pelos seus — defende o advogado.
O presidente do partido vai em direção ao palco e toma o microfone das mãos de Bruno.
— Precisamos decidir isso ainda hoje. Queremos Jade Souza como candidata do partido, ou não? Ela representa os ideais que defendemos? — questiona, Gerard, o presidente da sigla.
Depois de uma reunião acalorada com os membros, Gerard chama Bruno em uma sala particular.
— Eu preciso falar com ela — pede o presidente.
— Ela pode estar receosa…
— É uma grande responsabilidade. Preciso saber se posso contar com o comprometimento total dela.
Bruno sai da sala e retorna acompanhado de Jade. Ela está um pouco pálida e assustada com a ideia.
— Eu sei que tudo isso é muito novo e repentino. Mas, se encaixarmos as peças nesse tabuleiro político, nós conseguimos visualizar que essa é sim uma boa jogada de marketing — Gerard pausa, tentando ler as expressões de Jade. — Você é conhecida pelos apoiadores de Helena. Era candidata a vereadora e tem um apelo popular muito grande por conta da história com seu filho. Somando tudo isso, conseguimos montar um cenário positivo e bastante promissor. Mas, o compromisso é total. Você aceita ser a nossa candidata à prefeitura da cidade, Jade? Você tá preparada para esse desafio?
Jade encara o homem com uma palidez extrema. O ar lhe falta mais uma vez. As palavras ficam travadas e as ideias turvas. Parece que ela vai ter um avc.
— Eu não consigo — ela levanta e sai da sala em disparada.
Bruno ainda tenta acompanhá-la, mas, é detido por Gerard.
— Bruno, espera, eu preciso te dizer algo.
O advogado toma um susto.
— Depois de muita relutância, eu consegui convencer os membros do partido em aceitar a candidatura dela. Mas, nós não temos muito tempo. Eu gostei da ideia dela estar na prefeitura, e acredito nas chances de vitória, afinal de contas, Helena já pavimentou o caminho. Mas, a Jade precisa estar pronta, e isso tem que ser feito urgentemente. Nós só temos até o fim do dia para inscrevê-la como candidata. Legalmente falando o prazo acaba hoje. Se até as dezoito horas, ela não estiver aqui assinando o documento de representatividade, nós iremos colocar outra pessoa no lugar dela. Você me entendeu, Bruno? — Gerard fala, segurando o braço do advogado.
— Eu entendi sim, Gerard. Pode deixar que ela vai voltar e ser a candidata do partido.
Bruno corre até o encontro de Jade e falando de forma incisiva alerta a mulher: — Essa é a única forma de tomarmos o controle da Prime. Você tá entendendo, Jade?
Ela está transtornada.
— Eu não vou conseguir, Bruno. Eu preciso me tratar. Você não tá percebendo que eu não tô normal? Minhas mãos tremem a todo o momento. Não consigo me expressar quando estou pressionada. E, sinceramente, como vou encarar o público do jeito que Helena fazia? Eu não consigo.
Bruno segura os braços dela.
— Você já foi candidata, esqueceu? Você queria essa vida! Tá aí dentro de você, só precisa deixar fluir.
— Eu tenho medo!
— Você vai ter que fazer apesar do medo. O conselho da Prime quer um prefeito pra chamar de seu. Se você for candidata e mostrar que vai vencer essas eleições, aqueles bodes velhos vão se dobrar diante de você e implorar que se torne CEO deles, você entende agora?
— Entendo, mas, não é pra mim… — Jade corre e se afasta de Bruno. O advogado respira fundo perdendo a paciência. Ele tenta avistá-la adiante, mas já é tarde. Jade sumiu de vista.
“Não temos tempo. Se formos fazer isso, o prazo é até o fim do dia, mas como convencer alguém que não confia em si e está o tempo todo morrendo de medo?”, Bruno pensa.
Já passa das 15h e o advogado não consegue encontrar Jade. Ele foi até à casa dos pais dela, procurou no escritório do edifício Plaza, mas não conseguiu localizá-la em nenhum desses lugares. Se até às 18h Jade não assinar o documento, ela perde a chance de representar o partido e concorrer à prefeitura. Sem essa carta na manga, será impossível conseguir convencer o conselho da Prime. Bruno tem que encontrá-la urgentemente.
O advogado apertou a campainha mais uma vez, até que Licurgo abriu a porta do apartamento.
— O que você tá fazendo aqui? — perguntou o fazendeiro.
— Preciso que me ajude!
Licurgo deu as costas para o advogado e voltando-se para a janela, pôs-se a regar as suas plantas.
— Eu não posso ajudar ninguém nesse lugar. Amanhã mesmo tô voltando pra minha fazenda pra cuidar das minhas crianças — avisa Licurgo.
— Mas é claro que você pode ajudar, Licurgo!
O fazendeiro para de regar as plantas e encara o advogado.
— Isso tem a ver com a Jade, não é?
— Tem sim.
Licurgo dá as costas novamente para Bruno e reinicia sua atividade.
— Sinto muito… — suspira o fazendeiro.
— Na verdade, eu que sinto, Licurgo. Eu deveria ter te defendido com todo aquele mal-entendido. A Jade estava cercada de pessoas ambiciosas, prontas para se aproveitar de tudo que ela pode oferecer. E, ela tem sim, coisas boas para oferecer.
— Eu só não quero mais me envolver em toda essa confusão. Tenho certeza que quando tudo se acalmar eu irei me entender com ela.
— A questão é que esse tempo de calmaria pode nunca chegar. Jade precisa da sua ajuda hoje.
— Me deixe fora disse, doutor.
— Impossível. Você faz parte da história. E eu conheço bem a história. Eu sei que quando você estava prestes a morrer se esvaindo em sangue, a Jade foi lá e doou sangue para que você pudesse sobreviver. Você deve a vida a ela.
— É uma dívida muito cara, não? Como que eu posso pagar? — Licurgo questiona, deixando evidente sua mão que fora arrancada.
— A Jade sumiu. Ela tá com muito medo. Preciso encontrá-la. Preciso que ela aceite ser candidata a prefeita do município. Só assim nós iremos conseguir conquistar a Prime. Você pode me ajudar a encontrá-la? Você faz ideia de onde ela está?
Licurgo encara o advogado.
É fim de tarde. Crianças correm pela grama jogando futebol. Algumas famílias se reúnem sentadas fazendo piquenique. O sol começa a se por pintando o cenário com um dourado vibrante. Uma brisa refrescante sopra pelo lugar tornando tudo ainda mais agradável.
Bruno e Licurgo se aproximam e procuram por Jade.
— Ela costumava vir até esse parque quando tudo parecia mais difícil — avisa o fazendeiro.
— Vamos continuar procurando. Não temos muito tempo.
Ao longe, debaixo de uma mangueira, Licurgo avista Jade sentada.
— Olha ela lá!
Bruno sorri, satisfeito.
— Você precisa falar com ela — diz o advogado.
— Ela não vai querer papo comigo. Com certeza ainda tá achando que eu a traí.
— Você é o único que pode convencê-la.
Licurgo caminha lentamente ao encontro de Jade. Ela o encara de forma fria.
— Posso sentar? — ele pergunta, apontando o espaço ao lado dela.
Jade não responde e volta a olhar as crianças brincando. Licurgo senta.
— A delegada tá de folga? — Jade pergunta, sarcástica.
— Eu não cuido de delegadas. Cuido de crianças — ele responde, seco.
— Sabe político? Todo mundo diz que é corrupto? Então… traição é do mesmo jeito. A gente pode até perdoar, mas sempre fica a dúvida.
— Eu nunca te traí. Mas, não espero que você acredite nisso.
— Então por que você está aqui?
— Você sempre fez tudo o que estava ao seu alcance para ajudar as pessoas. Se tornar candidata é a continuação disso.
— Eu não quero fazer isso.
— Não se trata de querer. Se trata de dever.
Jade parece refletir nas palavras do homem.
— Eu não vim pedir que você confie em mim. Eu vim pedir que você continue tentando ajudar… — Licurgo fala quase numa súplica.
— Eu já disse que não quero.
— Por qual razão?
— Você não precisa e eu não quero dizer — ela se fecha mais uma vez.
— Tudo bem, Jade. Você tem todo o direito de não querer mais se expor. Entendo tudo que você passou e como isso te afeta. Mas, o seu filho depende de todas as ações que você tomar de agora em diante. Tudo que você fizer, vai te levar para mais perto ou para mais longe dele. É dessa forma que você pretende resgatar sua família?
— Como ser prefeita vai me ajudar a achar o Cícero?
— Você precisa do mínimo de poder para bater de frente com seus opositores. Ser prefeita é só o primeiro passo. Percebe que você vai ter influência com a polícia, com todas as autoridades, e isso vai te ajudar sim a encontrar o Cícero. Você não pode perder essa oportunidade.
Jade levanta e percebe que o sol está quase se pondo.
— Eu não tenho mais tempo — ela fala, triste.
— O Bruno tá te esperando. Se correr ainda dá tempo de se inscrever.
Jade corre em direção ao advogado.
— Eu não consigo fazer isso sozinha — ela fala para Bruno.
— Não se preocupa. Eu vou ser o seu vice em tudo — ele sorri, maquiavélico.
O carro de Bruno atravessa a avenida como um raio. Eles têm alguns minutos antes das dezoito horas. A distância a percorrer é considerável, sem contar com o trânsito lento.
Jade liga para Brutus.
— Você precisa nos ajudar — ela clama.
— Eu tenho uma ideia. Vocês precisam pegar a via expressa. Eu vou tentar deixar os semáforos liberados para vocês.
Bruno corta a avenida, entrando na via expressa.
— Só temos cinco minutos — o advogado diz, esbaforido.
— Acelera! — Jade ordena.
Bruno pisa o pé no acelerador, enquanto os sinais vão ficando verdes.
Enfim, eles chegam à sede do partido. Correm até a sala do presidente e entram num rompante.
— Ela aceitou! Ela vai se candidatar! — Bruno grita para o presidente que está assustado com a entrada dos dois.
Ela encara o homem e tenta respirar sem fôlego.
— Nós ainda temos tempo? Eu ainda posso me candidatar? — pergunta Jade, encarando Gerard.
O homem observa os dois e não demonstra nenhuma reação.
Jade está em uma sala acompanhada de um preparador. O homem é magro e parece um professor de teatro. Ele grita emitindo sons guturais e animalescos.
Jade sorri sem acreditar no que está vendo.
— Vamos! Isso não é uma brincadeira! GRITA AGORA! — o preparador ordena.
Jade abre a boca o máximo que pode e um som de desespero misturado com loucura e ódio é arrancado do seu peito. As veias do seu pescoço parecem saltar, sua pele fica avermelhada enquanto aquele som gutural é expelido de dentro do peito. Lágrimas e raiva saem pelos poros da mulher. Sua alma parece que vai sair junto com o grito.
Ela cai em prantos.
— GRITA MAIS! DEIXA ESSE MEDO SAIR! VAI!
— NÃAAAAAAOOO — ela continua gritando em desespero.
— VOCÊ É MAIS FORTE DO QUE ISSO! VAMOS LÁ! GRITA AGORA!
—AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH QUE DROGAAAAAA!!!!!!!!
Tudo escurece… o silêncio impera. Catarse.
Jade caminha imponente sob um salto agulha. Seu vestido preto, lábios vermelhos e maquiagem sombria, anunciam que a mulher vem determinada. Atrás dela, Bruno caminha feito um lacaio obediente. Gerard, acompanhado de uma dezena de membros do partido, também marcha atrás da mulher. Eles invadem a sala de reunião da Prime. O campo de batalha está formado. A guerra vai começar.
De um lado, Cornélio se põe de pé ao lado de um Babemco orgulhoso e altivo. Atrás dos dois homens, o conselho da Prime, constituído de homens engravatados e com cara de poucos amigos. Ninguém parece satisfeito com mais uma reunião “boba”, assim eles julgam.
— Então, a senhora Jade parece não ter desistido de tomar posse da presidência da nossa empresa. É isso mesmo? — questiona Cornélio para a mulher.
Jade o observa por cima, demonstrando que não tem mais medo, ou, pelo menos fingindo que não tem.
— Eu exijo a renúncia de Babemco como CEO e aconselho que me apoiem como a nova presidente do grupo Prime Security — ela fala, um pouco mecânica como se tivesse ensaiado, mas, demonstrando o mínimo de confiança que lhe faltou da última vez.
— O que você acha que mudou da última vez que esteve aqui? — Cornélio questiona, se aproximando dela.
Jade esconde as mãos que começam a tremer involuntariamente.
— Eu tenho… eu tenho uma proposta irrecusável — ela declara.
Jade não está sozinha. Todos que estão atrás e ao lado dela fazem questão de demonstrar apoio. O conselho da Prime nota tudo isso.
— Acho pouco provável que você consiga convencer o conselho.
— Tudo nessa vida é negócio não é? — ela incita.
Cornélio parece concordar.
— Vocês me colocam na cadeira de CEO e eu lhes ofereço o melhor dos espaços na prefeitura de Recife — ela fala, entregando o certificado de candidatura à prefeita de Recife.
Babemco arregala os olhos, espantado. Cornélio observa o papel e em seguida entrega ao restante do conselho. O grupo analisa o documento.
— Mas, que jogo é esse, amiga?
— Eu sou a candidata do partido. Sou a substituta de Helena Melo. E, vou ganhar essas eleições — ela diz, confiante.
Gerard dá um passo adiante, ficando ao lado de Jade.
— Nós temos orgulho em declarar que Jade Souza, representa nosso partido e que nós a apoiamos integralmente. Trouxemos inclusive uma pesquisa, indicando que o mesmo apelo popular que Helena tinha, JADE também tem — declara o presidente.
Cornélio sorri, enquanto encara os membros do conselho, que parecem considerar a ideia.
Mas, é claro, que Babemco não poderia deixar as coisas tão fáceis, ele tinha que se meter na história.
— Eu preciso dizer que… — Babemco tentou falar, mas, foi interrompido por Bruno.
— Nós não queremos sua opinião, Babemco. É melhor ficar na sua e deixar que o conselho decida — declara o advogado, enfático.
— Nós sabemos que Helena estava negociando com vocês para aprovar os contratos da Prime com a Prefeitura. Hoje, nós estamos dispostos a honrar esse acordo, porém, você sabe o nosso preço — Jade diz.
Cornélio se aproxima dos membros do conselho e eles se reúnem para considerar a ideia.
Babemco observa tudo de longe.
Alguns minutos depois, Cornélio torna ao centro para conversar com Jade e seu grupo.
— O que você nos pede é caro demais. Ser CEO de uma grande empresa exige uma responsabilidade muito grande. Você está preparada para isso? — ele pergunta, encarando Jade.
— Eu preciso estar — ela responde.
Cornélio estende a mão cumprimentando Jade.
— Parabéns Jade Souza, você é a nova CEO da Prime Security!
Jade sorri incrédula. Os apoiadores aplaudem em êxtase. Bruno comemora satisfeito. Agora, ele deu mais um passo para chegar ao topo.
Jade olha para Babemco e o tremor nas mãos reinicia. Ela sabe que ainda não venceu todos os seus medos, mas, precisa caminhar, apesar de temer.
Agora, Jade é CEO da Prime Security e candidata a prefeita de Recife. O poder está em suas mãos. A ascensão começou.