A delegada Yeda desce da viatura, põe os seus óculos escuros e caminha confiante em direção ao que sobrou da antiga estação de rádio. Os peritos estão espalhados pelo perímetro tirando fotos e recolhendo evidências.
Yeda se aproxima de um policial que observa tudo atentamente.
— O corpo já foi recolhido? — ela pergunta.
— Sim, sim. Estava totalmente carbonizado — ele informa.
— Encontraram algum objeto pessoal?
— Nada.
— Então a identificação vai ser através de material genético. Isso pode demorar muito — Yeda avalia.
— Se a perícia conseguir identificar. No estado que o corpo estava, é bem difícil…
A delegada agradece as informações dadas pelo policial, põe luvas cirúrgicas e inicia sua investigação. Até que, o delegado Humberto chega no local do crime. Ele observa a delegada trabalhando e vai na direção dela.
— Você chega bem rápido hein — ironiza Humberto.
— Eu tava aqui perto quando ouvi sobre o incêndio e o corpo carbonizado. Só tô dando uma olhada.
— O que você tá fazendo aqui, doutora?
—Só tô dando uma olhada, já disse.
Yeda está segurando um saco de evidência.
— Me dá isso — Humberto pede que ela devolva.
— Humberto…
— Yeda…
Ela entrega o saco de mal gosto e retira as luvas de má vontade.
— Você sabe que não pode estar aqui. A sua licença é somente para investigar o caso do Babemco. Eu não posso fazer milagres. Temos que trabalhar dentro da lei, lembra? — avisa o delegado
Yeda concorda, frustrada. — Isso é um saco. Mas, e se esse incêndio tiver algo com o Babemco, ou com a Prime?
Humberto sorri — Se… podemos pensar no assunto.
— Tudo bem — concorda a delegada.
— Agora dá o fora daqui.
Yeda se afasta, vai em direção à sua viatura, e, encostada ao capô, observa os homens trabalhando. Eles encerram as investigações, sem encontrar nenhuma evidência que identifique o corpo carbonizado.
Yeda aproveita para entrar na estação novamente e mexer em alguns entulhos que ainda fumegam com os resquícios do fogo. Encontra algo escondido embaixo de uma viga caída e retirando um pano do seu bolso segura um tipo de cartão que parece intacto.
— Olha o que eu achei, delegado! — grita Yeda para Humberto, que está prestes a sair do local.
— O que você ainda faz aqui, Yeda?! Será que vou ter que suspender sua licença novamente?
— Não depois do que eu acabei de achar. Olha! — ela fala, mostrando um cartão de crédito sujo.
Humberto analisa mais de perto e se surpreende — Tem o nome de alguém, e está bem legível.
Yeda tenta ler o nome do titular do cartão — Helena Melo — a delegada também fica surpresa.
—É a candidata? Não pode ser!
— Parece que sim. O jeito é tentar entrar em contato com a candidata e já cruzar os dados dela no sistema. Temos um norte agora — avisa Yeda.
Humberto revira os olhos — Você é bastante teimosa!
— E você deveria me agradecer.
Depois de entregar o cartão à perícia, a delegada continua caminhando em meio aos escombros. Até que, de cócoras, ela pega um pedaço de metal e analisa mais de perto. O delegado Humberto se aproxima.
— O que é isso? — ele questiona.
— É uma placa encontrada em câmeras de segurança.
— Tem certeza?
— Absoluta — ela responde. — E, pelo visto, é uma das câmeras da Prime. Só eles têm esse ângulo nas placas. Eu já conheço.
— Isso não é possível — Humberto diz, surpreso.
— Se essa câmera estiver ativa, nós vamos saber o que aconteceu aqui, delegado — ela diz, entregando a placa.
Humberto entrega o objeto a um perito e torna a encarar Yeda.
— E, agora? Eu posso continuar investigando o caso? — ela pergunta.
Humberto suspira, vencido.
— Eu quero as imagens na minha mesa. Consegue isso e eu garanto sua vaga no caso — ele diz, dando as costas.
Yeda sorri enquanto observa o homem se afastar.
EPISÓDIO: TESTEMUNHA DE UM CRIME
Três dias depois. Assembleia Legislativa do Estado de Pernambuco.
O corpo de Helena Melo atravessa a cidade em um carro de bombeiro. Por onde o caixão passa, a candidata é ovacionada, alguns choram e lamentam a morte, outros estão inconformados.
Às dez da manhã, Helena chega na Assembleia Legislativa para ser velada por amigos e familiares. O local está lotado.
Na tv e nas rodas de conversa, o tema é o mesmo: o assassinato da candidata. A maioria acredita que as motivações foram políticas, já que ela estava ganhando nas pesquisas de intenção de voto. A cidade de Recife está em luto.
O caixão é colocado no centro da Assembleia, onde a família se aproxima e busca consolo após tanta dor.
Jade está acompanhada de Bruno e Victória. Depois do ocorrido, ela mal conseguiu dar uma palavra e a todo momento estava sob efeito de medicação. A mente nublada constantemente.
Naquela ocasião, o assessor de Helena Melo, pediu que Jade falasse algo sobre a candidata e puxando-a para um púlpito, entregou um microfone em suas mãos.
— O que devo falar? — Jade questionou baixinho para o assessor.
— Fala o que estiver em seu coração.
Jade encarou a multidão que aguardava o seu discurso. O seu coração estava à mil, as mãos começaram a suar e a visão tornou-se turva. O ar parecia querer faltar, e ela estava ficando tonta. Os lábios ressecaram.
— Eu sinto que recebi do céu um grande privilégio em conhecer Helena — os ouvintes concordam e se emocionam — Helena era incrível. Sempre disposta a ajudar e acessível para isso. Com certeza, seria uma excelente prefeita.
Jade para, tentando pensar nas próximas palavras, porém, ao olhar para o lado esquerdo, ela vê uma figura macabra vestida com terno branco. Babemco caminha silenciosa e assustadoramente em direção a ela.
As mãos tremem mais do que o normal. O coração parece que vai sair pela boca. Jade olha para o outro lado e mais dois Babemcos surgem do meio da multidão. À sua frente, a mulher também identifica mais três homens idênticos ao Babemco. “O que é isso? Por que ele não me deixa em paz?”
Jade começa a gaguejar e suar frio. O assessor se aproxima e pergunta se está bem?
— Ele está aqui! Está vindo! Foi ele! Foi ele quem matou Helena! — ela grita assustando todos ao redor.
— Quem está vindo? Quem matou Helena? — o assessor pergunta, surpreso.
Jade continua eufórica e totalmente fora de si. Victória se aproxima e explica para o assessor — ela tá tendo um surto. Vamos tirá-la daqui!
— Ele está vindo! Foi ele quem matou Helena! — ela continua gritando mesmo após seus amigos lhe retirarem do local.
Departamento de Homicídio. Perícia Criminal.
Yeda percorre os corredores do prédio com uma pasta em mãos. Entra em uma sala e vai em direção a um perito que está sentado diante de um computador. O homem recebe a pasta das mãos da delegada e agradece.
— E aí como estamos? — ela questiona, pondo a mão sobre o ombro do perito.
— Falta pouco para acessarmos as filmagens!
— Então de fato tinha uma câmera da Prime na antiga estação?
— Tinha e ela estava ligada filmando tudo. Quando acessarmos, as imagens vão dizer tudo o que aconteceu naquele lugar — ele comemora.
O delegado Humberto se aproxima de Yeda. Ele está com aspecto de cansado e muito preocupado.
— Algum resultado das câmeras?
— Estamos quase lá. Depois do mandado pedindo o acesso na Prime… as coisas estão mais rápidas — responde Yeda.
Humberto suspira, passando a mão na cabeça.
— O delegado geral está me deixando louco!
— O que ele quer?
— Quer um suspeito! — responde o homem.
— Nós não podemos indiciar ninguém sem o mínimo de provas. Essas imagens vão nos apontar algum suspeito. Até lá, tudo o que temos são cinzas e um cartão de crédito da vítima. Não temos nenhuma evidência que aponte para alguém.
— Explica isso para o seu pai, Yeda! Ele vai fazer uma coletiva daqui a pouco. Disse que se não tiver nenhum suspeito, vai colocar a culpa em nós. Ou seja: vai nos chamar de incompetentes em rede nacional — murmura Humberto.
— Droga! — lamenta a delegada.
— Estamos quase lá! — avisa o perito.
Humberto e Yeda se aproximam para ver o que as imagens vão mostrar. Até que a tela do computador fica toda preta.
— O que tá acontecendo? — Yeda pergunta.
O perito continua teclando sem parar, tentando identificar o erro.
— As imagens foram apagadas.
— Tá me dizendo que a Prime apagou as filmagens? — Humberto questiona.
— Na verdade, é como se o domínio dessa câmera estivesse em outro servidor. Como se a Prime estivesse sido hackeada — o perito diz, assustado.
— Temos ou não temos as imagens?
— Elas estão aqui, mas não consigo acessar. Se alguém hackeou a Prime, as imagens estão com o hacker. E, essa é minha maior suspeita.
Yeda se afasta e no mesmo instante lembra de Licurgo lhe falando que Jade estava invadindo a Prime. Será que foi isso? Será que a Jade poderia ajudar a acessar essas imagens?
Ao sair da sala da perícia, Yeda imediatamente liga para Licurgo. O fazendeiro é rápido em atender a ligação.
— Preciso da sua ajuda — fala a delegada.
— O que houve? — ele pergunta, preocupado.
— Lembra que você me disse que a Jade estava tentando invadir ou hackear a Prime Security?
Licurgo permanece em silêncio do outro lado da linha.
— Lembra, Licurgo?
— Eu estou com problemas? Vou precisar de advogado?
— Não, não! Está tudo bem, pode confiar em mim. Me diz: a Jade conseguiu invadir a empresa?
— Sim! Ela conseguiu entrar no sistema, mas desistiu de ir adiante com esse plano. Acho que o link já foi encerrado. Não sei se ela ainda tem acesso.
— Droga! Vamos torcer que ela ainda tenha!
— Como isso pode ajudar?
— Tinha uma câmera na estação de rádio. Mas, como a Prime foi hackeda não conseguimos acessar as imagens. Se a Jade é a responsável, com certeza vamos conseguir saber o que houve no local — explica a delegada.
Yeda desliga e já corre para tomar as providências cabíveis.
Depois de dormir por horas seguidas, Jade acorda e observa seus amigos ao redor. Licurgo, Bruno e Victória estão sentados conversando.
— Eu dei chilique de novo, não foi? — Jade pergunta.
Bruno e Licurgo sorriem — Um pouco!
Victória se aproxima — Você quer conversar sobre a morte da Helena? Eu sei que isso te afetou, mas você simplesmente não disse nada a respeito. Acho que vai ser bom você desabafar.
Jade parece triste.
— Eu só queria ter conversado com ela novamente. Ter me desculpado — lamenta Jade.
— Se você quiser, me diz o que gostaria de ter dito a ela e não pode.
— Não Victória, você não entende. Só Helena poderia escutar o que tenho a dizer.
Bruno também se aproxima de Jade.
— Onde você foi naquela noite, Jade? Na noite em que Helena foi morta? — pergunta o advogado.
Jade desvia o olhar e fita a janela ao lado. — Eu só precisava de um tempo, Bruno. Só um tempo…
Licurgo também levantou e veio ao encontro dela.
— A delegada Yeda vai te procurar, Jade. Parece que tinha uma câmera no local do crime e a polícia não consegue acesso — informa Licurgo.
— Mas, o que eu tenho a ver com isso?
— Parece que as imagens estão com o hacker da Prime. Yeda acha que você ainda tem acesso.
— Eu não tenho mais. Marcelo e Brutus já deletaram o link — ela responde.
— Eu avisei, mas… mesmo assim ela quer falar contigo.
— Quer dizer que lá tinha uma câmera… — Jade reflete.
Jade tinha medo de falar que viu Babemco matar Helena, porém, saber que existia a possibilidade do crime ter sido filmado, dava a Jade a esperança de que o criminoso não saísse impune.
Décimo Terceiro Distrito de Polícia.
A delegada Yeda aguarda Jade e Bruno entrarem na sala de interrogatório. Ela segura uma prancheta com as possíveis perguntas que tem a fazer.
— Como você conheceu Helena? — Yeda pergunta para Jade.
— Foi através do Bruno. Ele disse que ela poderia nos ajudar a denunciar o Babemco no programa do Dial. Você conhece a história — Jade fala, se ajeitando na cadeira.
Bruno, sentado ao lado, observa tudo em silêncio.
— Então não havia nenhum parentesco, vocês só eram amigas?
— Sim, nos tornamos boas amigas nos últimos dias.
— Mas parece que vocês brigaram um dia antes da morte dela. Normal acontecer entre amigos. Isso aconteceu mesmo?
Jade parece incomodada com a pergunta. Bruno lança um olhar curioso, aguardando a resposta.
— Nós tivemos um desentendimento sim — Jade sentiu que aquilo saiu estranho. Era como se ela fosse uma suspeita.
— Qual o motivo do desentendimento?
Jade encara Bruno, e pelo olhar ela questiona se precisa mesmo responder? Bruno assente, pedindo que ela continue.
— Ela confessou que já havia abortado duas vezes. Eu fiquei revoltada. Por isso brigamos — declara Jade.
Yeda continua fazendo rabiscos.
— E, na noite do dia 06, onde você estava exatamente?
Jade cruza os dedos e morde os lábios. Parece extremamente desconfortável.
— Eu estava no edifício Plaza com meus amigos e toda a equipe do escritório — ela diz, seca.
Yeda encara Jade, tentando ler as expressões da mulher.
— Você saiu para outro lugar, naquela noite?
— Não. Só fui pra casa.
Bruno baixa a cabeça. Ele sabe que Jade está mentindo.
— Tem certeza que você não saiu para nenhum outro lugar? — a delegada insiste.
— Tenho certeza, sim — Jade confirma.
Yeda encerra a oitiva e quando Jade está prestes a sair da sala, ela puxa o braço da mulher e pergunta: — Você ainda está hackeando a Prime?
Jade nega.
— Eu consigo as imagens da câmera que tinha no local do crime, e com isso, descobrir o que aconteceu com Helena, mas, é necessário estar com o link hacker. Se você ainda tiver acesso, é bom me falar logo.
— Eu não tenho mais acesso, delegada — Jade responde, impaciente.
Yeda solta o braço de Jade, e deixa a mulher ir. A delegada permanece parada, observando-a se afastar. “Ela tá me escondendo algo. Isso eu tenho certeza”, pensa.
Naquela mesma ocasião, Yeda voltou para a sala da perícia e pediu que o técnico rastreasse um número de celular.
— Você sabe que eu não posso fazer isso sem uma autorização judicial — avisou o técnico.
— Rastreia esse número e eu consigo sua autorização — disse a delegada, entregando o número do celular de Jade. — Eu quero saber onde ela estava na noite da morte da candidata?
O técnico desbloqueia alguns acessos e rapidamente entra no sistema das operadoras de celular. Em poucos segundos, aparece na tela a localização do celular rastreado. Yeda confirma que na noite da morte de Helena, Jade estava no local do crime.
— Você é a minha suspeita número um, Jade — ela fala, olhando para o horizonte.
Já é noite quando Jade chega em casa. Sua mãe percebe a tristeza e o desânimo e oferece uma sopa, que Jade recusa sem ao menos olhar.
— Vou pro quarto — Jade avisa, sem energia na voz.
Ivete está preocupada com o estado da filha.
No quarto, Jade senta em sua cama e contempla o berço vazio de Cícero. As roupas do nenê estão dobradas impecavelmente sobre a cama e tudo lembra seu filho.
Ela abre a cômoda ao lado da cama e retira o revólver que Salomé lhe entregou. Consegue lembrar das palavras da mulher avisando que ela deveria se preparar e lutar. Mas lutar como? Sua principal aliada estava morta. Babemco estava prestes a deixar o país. Sem falar que ela não conseguia mais pensar no magnata sem ter uma crise de pânico. Jade desenvolvera um medo irracional só em pensar em ver o Babemco em sua frente. Como lutar desse jeito, tão debilitada?
Mas, havia algo que poderia fazer. Se realmente o assassinato de Helena fora filmado, Jade tinha uma carta na manga e ela precisava usar. Será que deveria? Ela teria coragem de peitar o Babemco mais uma vez, sabendo do que o homem era capaz?
Decidiu ligar para Brutus.
— Você cancelou o link com a Prime? — Jade perguntou ao hacker.
— Bem… eu ainda não cancelei. Temos o acesso, ainda. Foi mal — Brutus se desculpa.
— Ahh, que alívio. Precisamos nos encontrar no escritório. Vai pra lá agora — ela determina.
De repente o ânimo voltou. Ela precisava reagir e encontrar um meio de contra-atacar, ainda que morrendo de medo.
Jade e Brutus se encontram no escritório do edifício Plaza. A noite de Recife está agitada e o céu está bastante nublado, parece que vem chuva por aí.
— O que você quer exatamente? — questiona Brutus, diante do computador.
— Tinha uma câmera na antiga estação de rádio. Se conseguirmos as imagens dá pra saber o que houve lá — avisa Jade.
— Então, vamos voltar aos trabalhos. Sabe que eu amo isso?! — ele diz empolgado, enquanto digita.
— Quer café? — ela pergunta.
— Olha que não seria uma má ideia, mas, quero tomar algo mais forte, depois tomo o café!
Jade vai até a copa preparar o café, e em seguida, retorna e entrega uma taça com champanhe para Brutus.
— Quem mais está sabendo dessa nossa missão? — ele pergunta tomando um gole da bebida.
— Ninguém. Só temos eu e você. E, vê se não abre esse bico!
Na tela, Brutus consegue identificar a câmera e aguarda enquanto os dados são transferidos. Ele se volta para Jade.
— Agora falando sério, Jade. Eu sei que você ficou muito triste com tudo o que aconteceu. Todas as suas perdas, a violência, ameaças. Eu não posso imaginar viver tudo o que você passou. Te entendo muito.
— Mas… — ela sorri, aguardando o complemento.
— Olha aonde você chegou? Tudo que você fez! Não foi pouco! Eu sei que você está cheia de traumas e tudo mais. Mas, você não está mais sozinha. Na verdade, você nunca esteve sozinha. Seus amigos te levaram na tv. Nós te levamos até a Prime. Estamos muito perto, Jade. Não podemos retroceder.
Ela baixa a cabeça, pensativa.
— Você me ajudou bastante tirando o Logan da jogada. Eu vivia uma dependência emocional enorme dele, mas você veio e denunciou o cara. Isso é incrível! Não esconda agora a força que você tem. Nós não vamos te desamparar. Você não está só! — ele diz, pegando na mão dela.
Jade sorri e agradece pelas palavras.
A tela do computador se abre. As imagens começam a rodar. Na tela, Jade e Brutus contemplam Babemco e Helena conversando, até que o magnata saca uma arma e atira na cabeça da candidata. A dupla que assiste tudo, toma um susto com o assassinato. Agora eles têm a prova para incriminar o Babemco.
— Caramba! — diz Brutus. — Não tô acreditando que nós temos isso?!
— Temos que ter cuidado. Se o Babemco souber que temos essas imagens ele vai até o inferno pra consegui-las.
— Então foi o merda do Babemco. Eu não tô acreditando! Vamos colocar esse filho da puta atrás das grades! Temos que levar isso pra polícia, agora!
Jade põe as mãos na cabeça, aturdida com a revelação.
— Eu preciso que você transfira essas imagens para um pen-drive e apague qualquer registro dela nos dados da câmera — ordena Jade.
— Mas, Jade, precisamos entregar isso pra polícia! — ele insiste.
— Brutus, confia em mim. Nós precisamos ter essa arma contra o Babemco. Você esqueceu? Ele ainda está com o meu filho. Eu não sei o que ele pode fazer quando souber que a polícia está atrás dele. Eu tenho que garantir que o Cícero esteja nas minhas mãos antes de qualquer coisa.
— Isso parece arriscado!
— Por favor, faz o que eu te pedi.
Brutus transfere as imagens para um dispositivo móvel e entrega o objeto nas mãos de Jade. Em seguida, ele exclui tudo dos dados da câmera.
— Feito! — ele afirma, incomodado com a situação.
— Você disse que eu não posso desistir, lembra?! É o que eu tô tentando fazer. O Babemco tem o departamento de polícia nas mãos, isso aqui — apontando para o pen-drive — não pode cair nas mãos de qualquer policial. Tem que cair nas mãos certas.
— Eu entendo! E agora, o que vamos fazer?
— Eu preciso falar com o Bruno. Ele vai fazer a ponte com o Babemco. Aquele desgraçado vai mover mundos pra devolver o meu filho. Ele não vai ter opção — Jade declara, sabendo que tem uma enorme vantagem agora.
No dia seguinte, Jade é chamada mais uma vez a comparecer ao Décimo Terceiro Distrito de Polícia, para esclarecer alguns pontos. Ela chega antes de Bruno e vai logo se dirigindo para a sala de interrogatório, onde Yeda lhe aguarda.
— Quero só repassar sua atividade no momento em que acontecia o crime. Você disse, anteriormente que ficou no edifício Plaza às vinte e uma horas, não foi? — Yeda questiona.
— Exatamente.
— Uma testemunha disse que você havia saído do escritório.
— Eu fui tomar um ar.
— Você chegou a sair do prédio?
Jade se retrai. — Eu sou uma suspeita, delegada?
— Eu só quero eliminar qualquer um de ser suspeito, na verdade!
— Eu já te disse que estava no edifício naquela noite — Jade é enfática.
— Por que você está mentindo para mim, Jade? — ataca Yeda.
— O quê? — ela parece espantada.
— Eu sei que você não estava no edifício! Me diz a verdade!
Jade se levanta e no mesmo instante Bruno entra na sala.
— Tá tudo bem com você, Jade? — pergunta o advogado.
— Eu preciso ir pra casa! — avisa Jade, transtornada.
Yeda continua encarando a mulher. Pelo olhar ela denuncia toda sua indignação.
No apartamento de Bruno, Jade está mais calma. Ela então mostra o pen-drive para o amigo.
— O que é isso? — ele questiona.
— É a garantia de ter o Cícero de volta. Dá uma olhada — ela incita.
Bruno, rapidamente, acopla o dispositivo em seu notebook, e espantado, assiste as imagens.
— Isso não pode ser verdade?! Como você conseguiu isso?
— Eu hackeei a Prime, esqueceu?
Bruno retira o dispositivo e entrega para Jade. — Isso é uma bomba. Precisamos entregar para a polícia.
— Eu não tenho tanta certeza assim.
— Não podemos ficar com isso. Se a polícia descobrir que temos as provas do assassinato da Helena, e de que não fizemos nada, nós vamos ser acusados de ser cúmplices — ele adverte.
Jade passeia pela sala, reflexiva.
— Você vai falar com o Babemco e dizer que tem as provas do crime. Vai pedir que ele devolva o Cícero. Quando estivermos com meu filho, entregamos as imagens para a polícia — ela planeja.
— Você faz tudo parecer tão fácil.
— O que você tem em mente?
— Nada! Só quero entregar as provas para a polícia e deixar que eles façam o trabalho deles. E, por que eu tenho que falar com Babemco?
— Eu não consigo encarar ele. Ele me faz lembrar tudo de ruim que eu sofri — as mãos de Jade começam a tremer.
— Vamo deixar a polícia fazer o trabalho dela.
— Você não viu o que Babemco fez? Ele manda e desmanda na polícia. Se as imagens caem nas mãos erradas, nós não temos nada… — avisa Jade.
— Eu confio na Yeda.
— O pai dela parece que é envolvido com o Babemco. Eu tenho medo de perdermos essa carta.
— Eu não gosto do seu plano.
— Eu sei. Mas, vai ser isso. Você pode falar com o Babemco em meu lugar? — ela pergunta.
— Claro!
Jade entrega o pen-drive para Bruno.
— Você tem um cofre, não é? — ela pergunta.
— Tenho sim!
— Guarda esse pen-drive como se fosse a sua vida.
Bruno sorri enquanto guarda o dispositivo no bolso. Os dois se abraçam.
— Obrigada por estar sempre comigo. Eu não sei o que faria sem a sua ajuda — Jade fala, ainda abraçada ao amigo.
— Eu que não sei o que faria sem te proteger dos perigos — ele sorri.
Morgana percorre a mansão de Babemco e escaneia mais uma sala vazia. Usando um fone via bluetooth e olhando a tela do celular, ela é guiada por alguém que lhe dá as instruções.
— Entra no próximo cômodo à direita — auxilia a voz misteriosa em seu ouvido.
— Já desligou as câmeras? — ela pergunta.
— Câmeras congeladas. Tá tudo limpo. Você tem dois minutos antes que chegue alguém ai!
Morgana percebe que o sinal da câmera naquele cômodo ficou estático. Ela então avança. Procura por todos os lados. Atrás dos móveis, cortinas e procura dentro dos armários. Nenhum sinal de Cícero.
— Droga! Esse moleque não tá em lugar nenhum! — reclama Morgana.
— Calma! Você não pode perder o foco. Eu vou acessar as outras câmeras e congelar mais algumas — a voz misteriosa avisa.
Morgana observa o mapa da sala que está desenhado no seu celular. Ela acha algo estranho.
— Na planta que você me enviou, essa sala parece ser maior — ela diz.
— Pelas câmeras eu também tive essa impressão.
Ela então começa a inspecionar o ambiente com mais cuidado, até que olha atrás do armário enorme que tem encostado na parede.
— Tem algo atrás desse móvel.
— Sai daí! Não temos mais tempo. O segurança 02 está se aproximando — a voz anuncia com preocupação.
— Eu preciso ver o que tem aqui — ela diz, afastando o móvel com muito esforço.
O segurança entra no corredor que dá naquele cômodo. Morgana está encurralada.
— Merda, Morgana, o segurança vai te achar nesse quarto! — xinga a voz.
Ela consegue afastar o armário e encontra uma porta de metal.
— Parece ser uma espécie de bunker. Acho que o moleque tá aqui!
O segurança está a poucos metros de entrar na sala, quando de repente, um alarme de incêndio soa na mansão. O homem para assustado, e, dá a volta em direção à cozinha. Morgana conseguiu escapar.
— Não me força a fazer isso novamente — aconselha a voz misteriosa.
— Beleza! Acho que sei onde o garoto está. Agora precisamos abrir aquela porta. Você consegue descobrir a senha?
— Senha? A merda da porta tem senha? — a voz toma um susto.
— Tem sim.
— Merda! Isso não é nada bom.
— Confia! É onde eu esconderia algo que não quero que ninguém encontre. O moleque tá lá. Pode confiar.
Morgana retorna para a cozinha como se nada tivesse acontecido. Desliga o celular e retira o fone do ouvido. É hora de voltar ao trabalho. É hora de voltar para o restaurante Cerejas.
Edifício Plaza.
Os jovens hacker estão todos reunidos aguardando Jade chegar. Eles receberam a mensagem para retornar ao escritório e a esperança é de que as atividades reiniciem.
Jade entra e cumprimenta a todos.
— Gostaria de primeiramente me desculpar com todos vocês. Eu tive medo, muito medo mesmo. E, decidi desistir de continuar hackeando a Prime. Mas, algumas pessoas me fizeram ver a importância de continuar com o trabalho e vencer o Babemco. Eu não nego, estou com muito medo ainda, mas se eu puder contar com cada um de vocês, sei que podemos ir além. Posso contar com a ajudar de vocês para retornar a invasão à Prime?
Os jovens concordam animados. Brutus encaminha cada um para o seu posto de trabalho e em seguida se junta à Jade na sala de reunião.
— Fico feliz que você tenha retornado — Brutus confessa.
— Não mais que eu.
De repente um barulho, e, todas as telas e lâmpadas do lugar desligam. O escritório fica no mais completo escuro. O que será que aconteceu?
Brutus corre até a sua estação e após digitar alguns códigos consegue reestabelecer o sistema.
— O que houve? — Jade questiona, assustada.
Brutus está focado em seu computador. — Espera!
— Tá me deixando nervosa.
— Isso não tá certo!
— O que, Brutus? Fala logo!
O hacker encara Jade, preocupado.
— Nós temos um desvio de sinal — ele afirma.
— Como assim?
— Tem alguém mandando dados através do nosso link. Tem alguém nos hackeando! E é alguém daqui de dentro do escritório.
Jade continua espantada. — Você tá me dizendo que tem um espião entre nós, é isso?
— Exatamente! Alguém tá usando nosso link de forma clandestina. Isso não é nada bom.
— Descobre quem tá fazendo isso, Brutus! Nós temos que parar esse ataque interno!
Jade retorna para a sala e seu celular começa a tocar, ela atende e se surpreende: — Delegada Yeda, que honra poder falar contigo!
— Para de sacanagem comigo Jade! — Yeda parece irritada.
— Não tô te entendendo?
— Eu sei que você estava na estação de rádio na noite do crime. Eu sei que você estava lá quando Helena foi carbonizada. O que você sabe? Por que não tá querendo falar?
— Delegada, saiba que nós não estamos em lados opostos. Eu só quero ajudar.
— Se você quer mesmo ajudar, me diz logo o que você sabe, Jade — Yeda tenta se acalmar.
— Eu já disse tudo o que sei. Por favor, me deixa em paz — Jade fala, encerrando a ligação.
Agora Jade tinha que lidar com a delegada lhe perseguindo e suspeitando dela. Droga! Ela não podia contar que estava na estação, e não podia entregar as imagens. Não ainda!
Brutus se aproximou novamente.
— Preciso que me ajude — pede Jade. — Preciso que você ache algo sobre a delegada Yeda. Tenho que dar alguma distração pra essa mulher.
— Vou dar uma olhada nos arquivos e vê o que encontro — avisa Brutus.
— Obrigado, amigo. Quando achar o espião me avisa.
Jade estava pensativa. Ela havia invadido a Prime, mas não conseguia falar com o Babemco e negociar com ele. Ela também tinha a prova de que ele matou Helena, mas ela não conseguiu entregar as imagens para a polícia.
O medo em estar diante de Babemco paralisava sua mente. Ela mal conseguia respirar só em pensar em estar no mesmo lugar que ele. O que estava acontecendo com ela? Precisava urgentemente conversar com Victória e buscar a solução desse problema.
Brutus se aproximou com empolgação no olhar.
— Eu peguei o rato!
— O que você encontrou? — Jade pergunta, curiosa.
— Eu ainda não sei quem está enviando o sinal, mas eu rastreei para onde está sendo enviado.
— Ah, meu Deus!
— São dois aparelhos que estão recebendo os dados. E, estão no mesmo endereço. Eu pensei em ir lá e ver quem são?
Jade toma um susto.
— Você acha seguro? — ela pergunta.
— Eu chamei o Marcelo e ele topou ir com a gente. Você chama seu advogado e completamos o time. Se quiser, eu chamo meu irmão que é segurança e ele tem permissão pra carregar arma. Topa?
As mãos de Jade começam a tremer.
— Tá! Mas só se for com essa galera que você falou! — ela sorri.
— Então vamos lá! Vamo descobrir quem tá brincando com a gente!
O irmão de Brutus era um negro alto e musculoso. Ele sorriu quando Jade entrou no carro acompanhada de Bruno.
— Eu sou fá da senhora — disse o grandalhão, sorrindo para Jade.
Ela retribuiu o sorriso.
— Onde que você tá me metendo, Jade? — Bruno questiona.
— Nós temos que saber quem tá querendo ferrar com a gente! — Jade informa.
— É isso aí! Eles acham que são espertos, mas, esqueceram que nós somos os melhores hackers da cidade! — Brutus fala sorrindo ao lado de Marcelo.
O carro cruza a cidade, enquanto bares e restaurantes pulsam na noite da capital pernambucana. O clima é amistoso, porém, há uma certa apreensão no ar. Jade quer saber quem está por trás dessa traição, mas ela ainda teme desde que testemunhou as atrocidades de Babemco.
— O que é que será que nós vamos encontrar lá? — Brutus questiona.
— Não faço ideia — Marcelo responde.
— Assim que a gente chegar eu vou na frente armado. Alguém fica no carro pronto para chamar a polícia e alguém lá em cima também fica com o celular na posição caso precisemos chamar a emergência — instruiu o irmão de Brutus.
— Parece que eu tô indo pra guerra — brinca Bruno, espremido no meio de Brutus e Marcelo.
—É mais ou menos isso — brinca Marcelo.
O carro estaciona diante de um edifício residencial de três andares. A rua está deserta e o clima fica mais tenso.
— O sinal parece que vem do último andar. Vamos lá! — Brutus lidera.
— Eu vou ficar aqui no carro aguardando vocês — Marcelo mostra o celular.
Aldo, o irmão de Brutus, vai adiante abrindo caminho. Em seguida, Brutus que guia o irmão. Bruno e Jade ficam na retaguarda.
Depois de subirem dois lances de escada, chegam diante de um apartamento.
— É aqui! O sinal vem daqui. São dois aparelhos que estão recebendo o nosso link — Brutus indica.
Aldo saca sua arma e bate na porta duas vezes. O silêncio impera. Todos se entreolham aguardando alguma resposta. Nada!
O grandalhão bate na porta com mais força, e de repente, alguém parece virar a chave no trinco. Os amigos se afastam, amedrontados. Aldo levanta a arma na altura do ombro.
A porta é aberta.
— Licurgo? — Jade toma um susto ao ver o fazendeiro segurando a porta aberta.
— Oi?! O que vocês estão fazendo aqui? — Licurgo pergunta ao abrir a porta. Ele parece assustado.
Atrás de Licurgo, Victória se aproxima. Ela também parece surpresa.
— Nós não tínhamos convidado vocês — a psicóloga fala por sobre o ombro do fazendeiro.
— Por que a arma apontada? O que nós fizemos? — Licurgo pergunta, com as mãos para cima.
Brutus toma a frente.
— Por que vocês estão recebendo o link da Prime?
— Não entendi? — o fazendeiro parece confuso.
— Eu sei que o link tá sendo enviado pra cá. O que vocês estão fazendo com o nosso link? Fala logo Licurgo? — Brutus ataca.
Licurgo se afasta e entra no apartamento.
— Vamos conversar aqui dentro, por favor. Eu não tô entendendo o que vocês estão dizendo.
Jade também está confusa.
— Tem certeza que o link está vindo para cá, Brutus? — ela questiona.
— Tenho certeza absoluta! Vocês estão usando celulares para receber o sinal. Onde está seu celular, Licurgo? — Brutus pergunta.
O fazendeiro retira o celular do bolso e entrega para o hacker. Brutus aciona um sistema online e o celular de Licurgo fica com a tela toda vermelha acusando o sinal da Prime.
— Tá aqui! Essa é a prova — diz Brutus.
Licurgo se afasta se aproximando da janela. — Eu não tô entendendo, amigos, sério mesmo?! Isso tá me deixando confuso.
Victória observa tudo perplexa.
— Cadê seu celular? — Brutus pergunta para a psicóloga.
— Eu não sei o que você quer? — Victória responde.
Jade se aproxima da psicóloga — Por favor, Victória, mostra o celular e vamos acabar logo com isso.
De mal gosto, Victória entrega o celular para Brutus, que faz o mesmo procedimento e acusa o link da Prime.
— Por que vocês estão nos hackeando? — Brutus pergunta.
— Eu nunca fiz isso com vocês. Eu mal sei ligar meu celular — informa Victória.
Jade se afasta, visivelmente decepcionada.
— Por favor, Victória, não finge que não entendeu. Nós temos a prova de que vocês estão recebendo o sinal da Prime. Por quê? O que vocês estão fazendo aqui juntos? — Questiona Jade.
— Esse é o apartamento da delegada e o Licurgo me chamou. Ele disse que estava preocupado com você e queria conversar a respeito — Victória tenta explicar.
— Preocupada comigo? — Jade surpresa.
— É isso mesmo, Jade. A doutora Yeda me disse que você estava mentindo. Ela disse que sabia que você não estava no edifício no dia da morte de Helena. Por isso que chamei Victória pra perguntar se ela sabia de algo — Licurgo informa.
Jade fica incomodada — Por que vocês querem tanto saber onde eu estava?! Eu já falei! Eu estava na merda do edifício Plaza! Agora eu quero entender por que vocês se reuniram aqui no apartamento da delegada e recebendo sinal da Prime?! Que coincidência é essa?!
— Me parece tudo uma grande armadilha — Victória responde.
— Eu não faço ideia, mas nós temos que tomar cuidado — Licurgo diz.
— Nós?! Nós temos que tomar cuidado?! Não tem mais nós, Licurgo! Pelo jeito nunca teve nós. Como eu posso confiar em você se você rouba meu link? — Jade grita com raiva.
— Eu não fiz nada, Jade!
— Vocês me traíram! Eu não confio mais em vocês! — brada Jade.
— Você está equivocada, Jade — alerta Victória.
Jade sai do apartamento, deixando os outros para trás. Bruno a acompanha.
Dentro do carro, Jade está introspectiva, mas, visivelmente chateada. Bruno tenta animá-la.
— Isso tudo é muito estranho. Por que o Licurgo e a Victória? Será que Babemco não está por trás disso? — Bruno questiona, enquanto observa a paisagem lá fora.
— Em quem eu posso confiar, Bruno? Não dá pra confiar em todo mundo, infelizmente — ela lamenta.
Ao chegarem no edifício Plaza, um dos jovens hacker corre em direção a Brutus e lhe diz algo ao pé do ouvido. O hacker se volta para Jade e anuncia a nova: — Achamos algo envolvendo a delegada!
Jade acompanha Brutus até a estação de trabalho e observa os arquivos destacados na tela.
— O que é isso?
— É a prova de que o pai da Yeda não está andando em boas companhias.
Naquela manhã, o Café Status estava movimentado. Homens e mulheres apressados para o trabalho, tomavam sua refeição o mais rápido possível e logo saíam do ambiente. Jade permanecia sentada em uma mesa nos fundos do lugar.
A delegada Yeda não demorou a chegar e logo se pôs diante da amiga.
— Que barraco você montou lá em casa, ontem à noite — Yeda solta, ingenuamente.
— Ainda bem que eu só fiz um barraco. Contra traidores, deveria ser mais do que um barraco — revida Jade.
— Desde quando te conheci, te achei tão meiga e alheia à realidade. Agora eu tenho certeza das minhas primeiras impressões. Você não tá pensando direito, Jade.
— Acho que você não me conhece direito. Não sabe o que eu posso fazer.
Yeda se recolhe dobrando os braços.
— Acho que nós duas podemos fazer muitas coisas — devolve a delegada.
— Sim, e fazer as coisas certas, não ficar por ai acusando inocentes…
— Os verdadeiros “inocentes” não temem a verdade. É o meu trabalho prender gente “inocente”. Não existe nenhum culpado, não sabia disso? — Yeda ironiza.
— Existem culpados sim. E eles estão mais perto do que imaginamos — Jade contra-ataca e põe os arquivos sobre a mesa.
Yeda olha aquilo desconfiada.
— O que é isso?
— O rastro que os verdadeiros culpados deixam. É melhor parar de me perseguir e ir atrás dos caras maus. Não gasta mais seu tempo comigo! — Jade levanta e deixa Yeda sozinha.
A delegada abre o envelope e tem uma surpresa. Os arquivos demonstram vários depósitos do Babemco para a conta corrente de Demétrio, pai de Yeda.
A delegada olha aquilo e fica em choque. De fato, o envolvimento do criminoso Babemco com o seu pai fica mais evidente. Não dá para negar.
Mas, a Jade achar que a delegada vai se retrair por conta disso? Ela está muito enganada.
Yeda levanta mais disposta a fazer o que é certo, ainda que isso custe a cabeça do seu pai.