Sala de Interrogatório. Décimo Terceiro Distrito de Polícia.
Alguns mosquitos voam ao redor da lâmpada, atraídos pela luz. Jade está sentada e com a postura ereta, mantém as mãos sobre a mesa de ferro e o seu olhar é sereno. Ela está concentrada assistindo um vídeo reproduzido na tela de um laptop. O delegado Humberto estende a mão e pausa a reprodução do vídeo.
— Por que você não testemunhou e entregou Babemco? — ele questiona.
— Eu tive medo. Cogitei entregar as imagens para a polícia, mas, havia o risco de agentes corruptos aliados do Babemco darem um fim nesse vídeo.
— Você errou!
— Eu faria tudo novamente! Não confio na polícia e vocês não fizeram nada pra resgatar meu filho — Jade levanta, decidida e corajosa.
— Eu vou te denunciar ao Ministério Público e você será presa!
— Deixe de ameaças e faça o que tem que fazer! Eu não tenho medo da lei e muito menos da cadeia. Agora, eu preciso cuidar do meu filho! Com licença — ela diz, saindo da sala.
O delegado fica paralisado, sem reconhecer a mulher. Algo mudou.
Ao chegar em casa, Jade é acolhida pela mãe que cuida do pequeno Cícero.
— Como ele está? — a mulher pergunta, tomando a criança em seu colo.
— Ele é um anjo. Não dá nenhum trabalho.
Jade senta em um sofá e aproveita para dar a mamadeira do nene. Sua mãe a encara decidida.
— Você conseguiu o seu filho. Agora precisa aquietar e procurar viver em paz.
Jade olha fixo para a mãe. Uma onda de raiva e revolta toma de conta do seu coração: — Você acha mesmo que acabou, mãe? Sim, eu tenho meu filho, mas olha a onda de destruição que esses criminosos deixaram? Eles precisam pagar por tudo que fizeram — Jade diz, fechando os punhos com raiva.
— Você quase morreu, minha querida. Não vale a pena entrar nesse jogo e arriscar tudo. O Cícero precisa de uma mãe que cuide dele.
— O Cícero precisa de um exemplo. E eu quero ser esse exemplo para ele. Não é hora de parar! O jogo ainda não terminou.
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Os dias foram se passando, lentos e melancólicos. Morgana se recuperou e voltou para casa. O seu filho nasceu saudável, pesando 3,5Kg.
Dona Léia foi a única a comparecer ao enterro de Bruno. O advogado morreu sozinho com toda a sua ganância.
Mônica enterrou o seu marido Diógenes. Toda a corporação compareceu no velório do Grande Delegado Geral. O delegado Sério foi nomeado o novo comandante da corporação. Recife não estava em boas mãos.
Com pesar, Jade e Eva enterraram Lucas e choraram a morte do amado.
Em seguida, Jade compareceu ao programa do Dial e explicou que era inocente. Mesmo com todas as acusações e ações ajuizadas, ela foi eleita prefeita de Recife com ampla margem de diferença do seu principal oponente.
Porém, a história não era e nunca foi sobre poder. A história era sobre família.
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Uma multidão estava reunida na Praça Portugal. O palco montado no centro parecia uma ilha em meio ao mar de apoiadores. Velhos, mulheres e crianças pulavam e gritavam a vitória de Jade nas urnas.
Quando ela apareceu sobre o palco, a multidão foi ao delírio. Fogos, luzes, e bandeiras tremulantes comemoravam. Era um verdadeiro acontecimento.
A nova prefeita vestia um terno branco e brincos dourados. Seu rosto forte e decidido reconhecia as dificuldades da vida, mas, sabia que conseguiria ultrapassá-los. Ela pegou o microfone confiante e sem tremer as mãos.
— Hoje eu tenho a voz! Hoje eu posso falar para milhões ouvir! Eu venci! E se você acreditar, você também pode vencer! Nada é impossível!
Ao lado de Jade apareceu Licurgo e Victória. Brutus também veio, mas não quis subir no palco. No telão atrás deles, a imagem de Helena Melo inundou o ambiente. Ela também estava lá.
— Eu não conseguiria chegar aqui, sozinha. Ninguém faz nada só! Foram os meus amigos que acreditaram em mim, foram vocês que acreditaram em mim, e por fim, eu tive que acreditar que era possível. Eu tive que acreditar em mim também — declara Jade, segurando a mão dos amigos. — A Helena com certeza estaria aqui segurando essa faixa da vitória, eu devo muito a ela. Ninguém que esteve ao meu lado nessa jornada apareceu por acaso. Cada um contribuiu de alguma forma para que eu pudesse encerrar essa jornada de forma digna. Saibam todos que eu sou muito grata.
A multidão aplaudia empolgada. Mais um ciclo se encerra para que outros possam começar.
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A sala de reuniões da Prime Security estava abarrotada de executivos. Cornélio segurava a caneta dourada enquanto assinava o contrato e se tornava o novo CEO da Companhia.
Com as acusações contra Babemco, o presidente do Conselho foi o principal indicado para comandar os negócios.
E falando em Babemco, ninguém tinha visto o homem. Ele, Logan e Capeto estavam foragidos da polícia. Possivelmente em outro país. Mas, será que esse seria o fim destes homens?
E, Yeda? Onde estava a ex-delegada?
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O delegado Humberto entrou no gabinete da prefeita. Jade estava sentada em sua poltrona e Licurgo e Victória ao lado, quando o delegado chegou.
— Sinto informar, prefeita, mas as buscas pela Yeda estão encerradas — ele disse, em lamento.
Jade não baixou o olhar: — Eu não posso fazer com que vocês continuem, mas não posso deixar a Yeda para lá. Eu preciso saber onde ela está e se está bem?
— As buscas estão causando um alvoroço na Câmara municipal! Os vereadores estão nervosos por conta da verba destinada para o resgate. Ja faz três meses! Não podemos continuar! — ele disse, se retirando.
Jade levantou e encaro os amigos.
— O que devemos fazer agora?
Victória se aproximou e tocou no ombro da amiga: — Olha onde chegamos, Jade. Olha tudo que você conquistou. Foi mesmo apesar do medo. Não podemos sucumbir. Temos que continuar.
— Mas as questões financeiras são reais — lembrou Licurgo — O caos político está formado e não queremos que piore. Se formos continuar, as buscas não podem ser com os gastos públicos.
Jade pensativa, se aproxima da sua janela que toma toda a parede com ampla vista para a cidade que ela governa.
— Ninguém vai ficar para trás — ela declara.
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A noite está clara e vibrante quando o telefone de Jade toca. Ela identifica que é Dona Mônica, a mãe de Yeda.
— Querida, sei que você é muito ocupada, mas preciso te ver urgentemente. Tenho uma pista do paradeiro da Yeda — declara Mônica, empolgada.
— Ah meu Deus, que coisa boa, eu vou chamar meus assessores e já vou ao seu encontro. Onde a senhora está, Dona Mônica? — pergunta.
— Não, querida, eu não posso fazer isso dessa forma. Eu preciso que você venha sozinha.
— Mas, dona Mônica…
— Se não puder fazer isso sozinha, não precisa vir.
— Tudo bem. Só me diz onde a senhora está?
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A prefeita caminha pelo Hall do San Marino Hotel. Pega o elevador e vai até a cobertura na suíte Vip. Ela bate na porta e aguarda alguém abrir a porta.
Dona Mônica aparece vestindo uma camiseta branca e calça jeans. Ela está sorridente.
— Quem bom que você veio — ela abraçou Jade.
As duas entraram na suíte e logo Jade percebeu que não estavam sozinhas. Tinha alguém na outra sala. Ela podia ver pelas sombras.
— O que tá acontecendo aqui, dona Mônica? — Jade questionou, um pouco assustada.
— Você vai entender, mas por favor, precisa confiar em mim — dona Mônica vai até a porta e chama a outra pessoa que está ali, aguardando.
Jade vê pelas sombras que a pessoa anda devagar quase parando. A sombra é curvada e parece se apoiar em uma bengala. Um sentimento esquisito aparece, quase uma estranheza. Quem será?
Babemco aparece, magro, curvado, cadavérico e carregando um cilindro, o qual tem sondas que servem de respirador. O homem vem apoiado em uma bengala e seu estado é deplorável.
Jade olha com desprezo.
— Parabéns prefeita, você conseguiu… — ele tosse, sem conseguir completar a frase. Em seguida, carrega um pano até a boca que sai sujo de sangue.
— O que isso significa, Mônica? O que você faz com esse homem? — Jade pergunta.
— Ele é o pai da minha filha — ela declara.
— Ele é assassino e psicopata. É um verme perigoso — Jade diz, pegando o seu celular, pronta para chamar o delegado Humberto.
— Espera — ele pede com a voz fraca e rouca — Eu tô morrendo, mas posso ajudar a resgatar Yeda.
— Eu não quero ouvir nem mais uma palavra, você vai ser preso imediatamente.
— Se você me prender… nunca mais vai ver a Yeda. O Logan está com ela e ele quer devolvê-la — o homem diz, tossindo e quase caindo.
Jade se afasta com asco de Babemco. — Eu não acredito.
Mônica segura Babemco, apoiando-o na cadeira de rodas.
— Nós somos os pais dela. Você precisa acreditar que ele quer resgatar a Yeda — declara Mônica.
Babemco olha para Jade e seus olhos estão vermelhos — Se eu ainda sobreviver a tudo isso, prometo que me entrego pra polícia. Mas, agora, não temos tempo. A minha filha precisa de você.
— Por que eu? — Jade questiona.
— O Logan disse que você precisava ir — declarou a mãe de Yeda.
— Na verdade Jade, o Logan precisa de você para conquistar a Prime. Ele quer que você assine o contrato da prefeitura. O Cornélio não é o CEO da Prime. Quem tá comandando a empresa é o Logan — confessa Babemco.
— Eu não acredito em você — Jade diz.
Babemco abre a tela de um notebook e mostra as imagens de Licurgo e Victória no Gabinete da Prefeitura. Compartilhando a tela, estão a mãe de Jade e Cícero.
— O que é isso?
— Você sabe por que o Logan foi expulso da Prime? Não? Eu vou te contar: ele criou um dispositivo que acoplava bombas em cada câmera de segurança. Inicialmente o projeto era destinado às câmeras de bancos e instituições financeiras. Caso houvesse assaltos, nossas câmeras poderiam ser detonadas, matando assim os criminosos. O conselho de ética da Câmara Legislativa descobriu o plano e eu entreguei o projeto. Logan nunca me perdoou, mas foi assim que eu salvei a empresa. Porém, às escondidas, eu implementei o plano Campo Minado, e hoje todas as câmeras da Prime Security são verdadeiras bombas de destruição. Cornélio está sendo coagido, eu estou sendo coagido, e agora o Logan quer que você assine o contrato e dê à Prime ainda mais poder. Não podemos escapar, se não fizermos isso, ele vai detonar essas câmeras e matar todos que amamos.
— Você mente! — Jade diz.
O delegado Humberto entra acompanhado de Brutus. Ele encara a mulher.
— Infelizmente, o que esse criminoso disse é a mais pura verdade. Se não negociarmos com esse terrorista, a cidade vai explodir. Você precisa ajudar, Jade — Humberto fala, solene.
Jade não acredita no que está testemunhando.
CONTINUA…
A PARTE 3 DESTE EPISÓDIO SERÁ EXIBIDA NO SÁBADO 06/04 ÀS 20H NA WIDCYBER.