Centro da cidade de São Paulo – Ano 1.929. Crise do café. O correio da manhã anunciava falências e concordatas. Depois de andar pelas ruas, em meio a multidão, entrando e saindo nas lojas, Raquel entra em um bar e pede água. Senhora(60anos), depois de servi-la, percebe a moça pálida.

Marta — Parece não estar bem?

Raquel — Cansada. Com fome. Desde manhã procuro emprego, nada consegui. A senhora, por acaso, sabe de um? Preciso trabalhar. Meu pai está doente.

Marta sai de trás do balcão e mede ela dos pés à cabeça. — Tudo se ajeita na vida. – dá riso malicioso. – Veio ao lugar certo. Posso lhe arrumar algo, com o corpo bonito que tem, vai agradar muitos homens.

Raquel — Tenho saúde o suficiente para lavar, passar e cozinhar. Faço qualquer tipo de serviço, menos o que me oferece. — Vai saindo, volta com a mulher falando.

Marta — Pobre e honesta. Essas são as perigosas.

Raquel — Não é crime ser pobre, muito menos honesta.

Marta — Ainda topetuda. Vai longe, garota. Mudando de ideia tem emprego garantido. O corpo elegante é típico, que homens gostam e pagam fortunas, principalmente na primeira noite quando a moça é virgem. Tem leilão e tudo. Grana dividida. Comida e água fresca, sem precisar bater pernas debaixo do sol quente. Como vê, ganho de vida fácil. Ás vezes, tem sorte de encontrar um milionário, bem reservado, que não poupa gastar, deixando-a exclusiva, como amante, nos prazeres completo, o que não se encontra com a esposa. Você entende o que é isso, não entende? E sabe qual o único esforço que terá?

Raquel — Posso imaginar o esforço. Até nunca mais. Obrigada pela água.

Na rua, Raquel passa por Beto, que entra no bar.

Beto — E aí, vovó, tem novidades para mim?

Marta — A crise está feia. Você aparecendo aqui, está hora do dia.

Beto tira um pacote de dinheiro do bolso. — Pagamento adiantado. Quero uma candidata para sexta-feira que vem. Tem que ser coisa boa. Meu irmão merece. Sábado que vem o doutor se casa. Quero dar a ele uma festa de despedida de solteiro. A grana é para dividir com a moça.

Marta — Para o doutor Custódio? Que eu saiba, ele não vai na sua casa. Não ser aquele dia, para ver que tipo de negócio você faz e ficou indignado. Ninguém me contou não, eu estava lá. Lembra?

Marta se lembra de Custódio, indignado, falando com Beto. Numa casa bem enfeitada.

Custódio — Você pegou o meu dinheiro para abrir esse tipo de negócio?

Beto ri — Falei que seria surpresa. Quanto ao seu dinheiro, é um empréstimo. Logo devolvo.

Custódio olha Eduardo também ali. — Você sabia disso, e não contou?

Eduardo — Estou tão surpreso, quanto você.

Beto se serve de uma bebida, enquanto se defende: — Nada falei antes, porque já sabia que não aprovariam. E a inauguração será hoje à noite. Faço questão da presença dos dois.

Custódio — Tenho plantão. Não conte comigo. – e se dirige a porta de saída.

Beto — Custódio, você disse que estaria de folga hoje. Lembra que lhe perguntei à respeito desse dia, na semana passada?

Custódio — Imprevistos acontece. Esqueceu que sou médico. Não tenho hora marcada para o trabalho, então, não conte com a minha presença. Até mais ver. – Volta — Há, e já que pegou meu dinheiro para montar uma casa de perdição, quero em dobro, os juros, mesmo que demore vinte anos para me pagar. — e sai.

Marta para Roberto (no bar). — Como vai levar o doutor Custódio na sua casa, caso, eu encontre a moça perfeita para a despedida de solteiro dele?

Beto — Não se preocupe com isso. Arrume a moça, e se não conseguir quero meu dinheiro de volta.

Marta — Deveria ter chegado minutos antes, acredito que encontraria a moça que procura. Quem sabe ela volta.

Na periferia. Raquel chega no barraco, onde morava com os pais. Ela senti alivio ao encontrar um pedaço de pão em cima da mesa.

Raquel — Que bom que tem este pão. Estou morrendo de fome.

Pai — Deixa um pedaço pra sua mãe, ela não comeu ainda.

A moça olha o minúsculo pedaço, tinha mordido a metade, e o devolve no lugar. A mãe acendia o fogo, no fogão de barro, dentro do mesmo cômodo.

Raquel — Desculpa, mãe. O pão era tão pequeno, quase coloquei tudo na boca.

Mãe — Teu pai ganhou do português que está abrindo uma padaria aqui perto, quando passou lá e pediu emprego.

Pai — Ele me deu o pão em troca de fazer propaganda. É novo no país. Veio de Portugal e está abrindo o próprio negócio.

Raquel se anima: — Dá o endereço, pai. Vou lá ver se arrumo emprego.

Pai — Precisa não, fia. Ele vai trabalhar só com a família. Tem uma porção deles lá preparando tudo para a inauguração, depois de amanhã. Ele disse, quem sabe, mais pra frente tem emprego para estranho. Ele tem esperança do negócio dá certo.

Raquel — Quem é que não vive de esperança, pai?

A mãe senta ao lado dos dois, e fala com a filha. — Pelo jeito você não arrumou nada. Parece que caiu uma maldição nesta casa. Das cinco patroas que a gente lavava roupa, agora resta duas. Perdi outra casa hoje. Espero que a única patroa não dispensa o nosso serviço, depois de amanhã quando eu for lá buscar as roupa pra lavar. Se a crise aumentar, estou contando com isso. — pega o pão, tira uma pontinha e coloca e o resto na mão da filha. — Comi a minha parte, come o resto você. Graças a Deus hoje temos esse pão, amanhã não sei o que vamos come. Nem vou pedi dinheiro adiantado para a patroa, com medo do que pode acontece.

Raquel olha o minúsculo pedaço de pão, lembra a proposta de Marta. — De fome não vamos morrer. Recebi uma oferta e vou aceitar.

A mãe se alegra — Que emprego é esse que ainda não aceitou, fia?

Raquel se coloca de pé. A fome era tanto que comeu o pão primeiro. — A mulher que ofereceu, disse que sou bonita. Que tenho corpo elegante, e posso arrumar amantes que me pagam bem. Vou aceitar a proposta pra gente não continuar passando fome. Não aguento mais dormir de barriga vazia, ou dividir miséria que outros dão.

O pai, envergonhado, abaixa os olhos. Abatido, cansado, magro, com idade avançada e doente, não contem as lágrimas.

Raquel fala com ele: — Olha a idade que o senhor tem, pai? E como está, não vai conseguir emprego. Fizemos errado mudar pra cá. A gente devia ter ficado em Goiás. Viemos fazer o que nesta cidade? Morrer de fome? Mas, eu vou conseguir dinheiro e vamos voltar para trás. Vamos voltar para fazenda onde a gente trabalhava. Lá, o trabalho era pesado, debaixo do sol quente, mas a gente tinha o que comer.

Mae — Não vai dizer nada, véio, pelo que está dizendo a tua fia?

Pai — Nunca tive nada de bom para oferecer a ela, que está certa, nem esperança me resta, de voltar de onde viemos.

Mae — Precisa é se casar, Raquel. Ter um bom marido que a sustente.

Raquel — Não quero me casar com um pé rapado, que não tem o suficiente nem mesmo para tratar de mim. E depois, como fica a senhora e o pai? Não, mãe, eu não vou me casar com qualquer um, ser esposa honesta e continuar passando fome. Prefiro morrer solteira. Não quero ver filho meu, passando o que já passei. Está decidido, vou aceitar a proposta que me ofereceram e volto com dinheiro. Fome não vamos passar. Nunca mais, eu garanto.

Mãe — Eu não vou aceitar esse tipo de vida que você está escolhendo. Sempre fui mulher honesta, ralei muito, como você sabe. Vou morrer trabalhando honestamente, sem precisar desse tipo de dinheiro sujo.

Raquel — Quando eu voltar a senhora decide se aceita ou não, porque eu vou aceitar. Vou aceitar o que for preciso para ter uma vida melhor. E que Deus me perdoe, eu escolher o errado, mas eu prometo que será pouco tempo. O suficiente de arrumar o dinheiro da mudança. — e se afasta.

A mãe corre até a porta, ameaça chamar a filha, mas se recua e chora.

Homem — Não chora não, mulher. Nossa fia vai voltar. Acredito nas palavras dela que teve coragem de falar a verdade. Pior seria se ela não tivesse voltado aqui, para falar onde estava, aceitando a vida boa, sem querer continuar com essa miséria de vida. Nossa filha não nasceu para ser mulher fácil. Outra, no lugar dela, teria aceitado sem pensar. Raquel vai voltar quando tiver o dinheiro e vamos embora com ela, que falou a verdade. Em Goiás, a gente trabalhava debaixo do sol quente, mas não passava fome.

Mulher — O que fizemos de errado, homem, para merecer essa vida?

O homem a abraça, com ternura. — Deus conhece os motivos.

Marta sorri, vendo Raquel entrar no bar. — Não sei porque, mas eu tinha quase certeza que você voltaria. Tem certeza moça, que tomou a decisão certa? Muitas vezes, não existe volta.

Raquel — Vou arriscar minha sorte.

Marta — Com certeza você tem e muito. — Ela pega o dinheiro que havia escondido debaixo do balcão, pega metade, e estende a outra parte para Raquel. Mas, puxa de volta: — Confirma uma coisa, você é virgem?

Raquel — Nenhum homem ainda tocou em mim.

Marta lhe dá a grana: — Toda sua.

Raquel, muito surpresa — Como assim, porque…?! Não estou entendo nada. Nunca vi tanto dinheiro assim antes.

Marta — Sorria menina, a sorte bateu na sua porta. No caminho eu explico direitinho. Tem alguém que vai adorar conhecê-la.

Marta, na porta do boteco, grita para um garoto, brincando na rua. – João, vem aqui. Preciso sair agora.

Raquel, sem piscar, mirava o pacote de dinheiro: — Essa grana é toda minha?

Marta — Sim! Pode fazer com ela o que quiser. Você começa daqui uma semana.

O menino chega, ela pede para cuidar do estabelecimento.

Raquel, ainda intacta com o dinheiro na mão. — Antes da senhora me levar onde quer, pode ir comigo em outro lugar? Não é longe. Podemos ir de charrete. — sorri — Pago a corrida com o meu dinheiro.

Marta — Tudo bem, não temos pressa.

Chegando no barraco, Raquel estende o dinheiro para a mãe.

Raquel — A senhora fica com tudo. Compra comida, roupa e remédio para o pai. Guarda o que puder, para gente fazer o que falei.

A mãe olha Marta esperando na charrete. — Ela quem vai levar você para a perdição?

Raquel — Marta disse que a sorte bateu na minha porta.

Mãe — Você chama isso de sorte?!

Raquel — Não sei o que dizer, mãe. Não sei nem mesmo como será a minha vida de agora para frente. Confesso que não estou com medo. — mexe os ombros. — Vai ver nasci para isso. Agora pega o dinheiro e não pensa que é sujo, não fiz nada de errado para ganhar. Caso acontecer alguma coisa comigo, pelo menos a senhora e o pai vão ter dinheiro para comprar o que comer, um bom tempo.

O pai, sentado ao lado da mesa, observa as duas, entre a soleira da porta: — Pega logo o dinheiro mulher, e deixa nossa fia seguir o destino dela, já que tem que ser esse o caminho que ela deve seguir, que seja.

A mãe se afasta. Raquel coloca o dinheiro na frente do pai. — Faz o senhor o que deve, já que a mãe não concorda com o que estou fazendo.

Pai se emociona — Eu queria te dar o melhor, fia. Queria te dar um bom casamento. Que se cassasse com um homem de bem, e que ele fizesse você feliz de verdade, mas já que a vida me nega fazer isso, segue o seu rumo em paz.

Raquel, em lágrimas, abraça-o. — Eu sei, pai. E chega um dia, que um filho tem que seguir um rumo na vida, mesmo que seja errado, com as próprias pernas. Estou consciente pela minha escolha. O senhor não me obriga a nada, nem a mãe. Tenho idade o bastante para saber o que é certo ou errado. — Beija-o na fonte. — Eu te amo muito, pai. Nunca esqueça disso! — e para na frente da mãe. — A senhora fique com Deus.

Mãe — Você pode fazer diferente, fia.

Raquel — Nesse momento, estou fazendo como a vida está me oferece. Não vejo outra solução. E assim que eu puder, volto para ver a senhora e o pai. Nada e ninguém vai me impedir eu ter vocês perto de mim, principalmente caso eu precisar de colo, ou será que não posso mais contar com o seu colo de mãe?

A mulher também chora, abraça-a pelo pescoço: — Eu amo muito você, fia. Tudo que ainda posso te dar é o meu amor.

Raquel — Eu também lhe tenho muito amor. E me deseja boa sorte. Reza pra mim. Acho que vou precisar e muito. — vê Marta esperando. — Preciso ir.

Monta na charrete e acena, quando o cavalo segue as ruas. Do outro lado da cidade, chegam na casa. Marta leva Raquel para um dos quartos. Em outros, moças dormem.

Beto a olha, de cima-abaixo, e se vê confuso. — Tem certeza que não a conheço de algum lugar? Posso jurar que a vi antes, mas não me lembro onde.

Marta — Ela esteve no bar hoje, minutos antes de você chegar. Pode tê-la visto saindo.

Beto ainda mirava Raquel — Não, se fosse hoje, me lembraria. Você veio de onde?

Raquel — Goiás. Lá o trabalho era na roça. Meu pai ficou doente e viemos para São Paulo, para ele se tratar e tentar mudarmos de vida, cada dia a situação fica pior.

Beto — Não está fácil para ninguém. O país está passando por uma crise do café, e está sobrando para todos. Vieram numa péssima hora. — sorri — Bom, talvez não!

Marta — Ainda não me disse se ela é perfeita para o doutor Custódio, e já repassei a metade do dinheiro. Ela levou para os pais, que estão passando necessidade. Não tem como voltar atrás.

Beto ri gostosamente: — Perfeita! Ela é tudo que imaginei. Custódio vai se apaixonar, principalmente pela história que acabou de me contar. Ele se comove com as dificuldades das pessoas, quando são pobres coitadas. — aponta Marta. — Sabe porque Custódio é tão sentimental? Ele vive dizendo que dinheiro não é tudo. Que o pai lhe deixou uma fortuna incalculável. Que não precisaria trabalhar se não quisesse. O que herdou dá para ele, os filhos viverem bem e ainda sobra para os netos. Mas, daria toda a fortuna em troca de não ter perdido o pai, quando ainda era tão menino. E sabe por que ele se tornou doutor? Para salvar vidas. Assim, filhos pequenos não ficariam sem o pai, como ele ficou. Pelo menos o que passam pelas mãos do doutor Custódio, ele faz de tudo para ajudar.

Marta – Eu não sabia disso.

Beto – Ele montou um consultório, onde, duas vezes por semana atente pessoas carentes, doa os remédios também. Isso ele faz por causa do meu velho… Quando Custódio colocou a mão na herança deixada pelo pai, não imaginava ter tanto. Quis dar uma boa parte para o pai de criação. Senhor Afonso não aceitou. Pediu que gastasse o dinheiro que doaria aos irmãos adotivos, com pessoas carentes. Seria a melhor recompensa por tê-lo ajudado sair da tristeza de perder o pai. Senhor Afonso, se descobrir que peguei dinheiro do Custódio para montar essa casa, com certeza, vai me deserdar.

Marta — Eu pensava que o doutor fosse seu irmão de verdade!

Beto — Somos irmãos de coração. Irmãos do destino, da vida. Faz mais de vinte anos que Custódio veio fazer parte da nossa família. Até hoje não conseguimos descobrir se somos parentes, temos o mesmo sobrenome. Tudo não passa de coincidências.

Depois de medir Raquel outra vez, dá um riso maroto: — Não sei porque, tem alguma coisa dentro de mim dizendo que Custódio vai se apaixonar por você, no primeiro olhar.

Raquel séria — A esposa dele onde fica? Não é apenas uma brincadeira? Uma festa de despedida de solteiro?

Beto — Sim! E você não ficou feliz em saber que sua primeira vez vai ser com um milionário?

Raquel — Que diferença teria, se ele não tivesse dinheiro? Para mim, seria apenas um homem.

Roberto e Marta se entreolham. Ele disfarça. – Por um instante, imaginei que você ficaria entusiasmada sabendo que… Bom, vamos esquecer esse assunto. Esse quarto é seu a partir de agora. Ninguém vai incomodá-la. Não quero que desça lá para baixo, por nada. – aponta um pequeno sino, numa mesinha. — Toque, caso precisar de alguma coisa. Somente quem trabalha na casa, vai saber que você está aqui.

Antes de sair, Roberto para próximo a porta, de novo olha Raquel. Constrangida ela mira o chão. Beto deixa o quanto. Marta se aproxima, e fala, em tom baixo.

Marta — Lembra que falei que a sorte bateu na sua porta?

Raquel — Por que diz isso?

Marta — Todas as garotas da casa eu que trouxe. Beto conversou com cada uma delas na minha frente, como fez com você, e não agiu da mesma maneira. Quando ele começou a falar do irmão, pensei que iria usar você para arrancar grana do doutor. — pega-a no queixo. — Amo aquele garotão. Não machuque o coração dele, caso decide ficar com você, invés de entregá-la ao irmão. — e sai desejando boa sorte.

Raquel observa o ambiente. A cama macia chama a repousar, tanto que estica o corpo se sentindo confortável nos lenções de seda. (No barraco dormia na rede). Acaba dormindo.

Moça (20 anos) entra no quarto – Oi, novata, acorda?

Raquel salta da cama, assustada.

Moça sorri, enquanto coloca a bandeja na mesinha. — Eu trouxe o seu jantar. — Meu nome é Estela. O Roberto falou de você e me ofereci em trazer, sempre, tudo que você precisar. — Estende a mão. — Prazer em conhecê-la. Espero que podemos ser amigas. Não quer tomar banho antes de comer? Tem toalha, sabonete e… Vou pegar roupas minha pra você, pelo jeito não trouxe nada.

Raquel – A Marta disse que não precisava.

Estela, que usava um espartilho, ri. – Aqui, não usamos quase nada. Melhor você ir se acostumando.

Uma semana depois.

Na sala, da casa de Custódio. Ele e Afonso olham a foto de Cristovam, pintada a mão, pendurada na parede, ao lado do retrato de uma mulher.

Afonso — Adorei sua ideia de mandar ampliar a foto do seu pai. Ficou uma maravilha. Da sua mãe também.

Custódio — Não tenho lembranças dela. Do meu pai, eu ainda lembro dele como se fosse hoje.
Afonso — E com certeza, deve estar orgulhoso do filho, de se tornar um doutor. Ser o homem que é hoje.

Custódio pousa a mão no ombro de Afonso — Ele sabe, que eu não teria conseguido sozinho se não fosse a força que recebi desse meu outro pai, que sempre esteve do meu lado, desde quando ele se foi.

Afonso se emociona: — Fico feliz quando você me chama de pai. — aponta a foto de Cristovam. — Seu filho já lhe contou que se casa amanhã? Vamos juntos torcer para que ele nos dê muitos netos. O primeiro varão, faço questão que ele dê o seu nome. Cristovam Lacerda neto.

Cristovam, do outro lado do filho: — Não! Meu primeiro neto já tem nome certo. Ele irá se chamar Roberto Lacerda, se tudo prosseguir como aconteceu, em outra época.

Custódio se afasta indo pegar uma bebida.

Cristovam continua falando com Afonso. — Nossos filhos escreveram juntos suas histórias, e já se passaram duzentos anos. A natureza entregou a eles, a chance de reescreverem e desfazerem os erros. Custódio não se tornou médico por acaso. Eu não o deixei por acaso. Tudo faz parte do aprendizado, que ele deve resgatar, compreender e perdoar, todos que cruzarem seu caminho, em nome do amor. As feridas estão abertas, e os fantasmas do passado vão renascer a partir desse momento.

Alguém entra correndo: — Doutor, uma emergência. Mandaram chamar o senhor. Vosso irmão Roberto, disseram que ele está muito ruim.

Afonso entra em desespero: — O que aconteceu com o meu filho?

— Disseram que ele passou mal quando descia a escada e caiu, estão com medo de removê-lo. Disseram que o doutor sabe onde ele está.

Afonso — Que lugar é esse?

Custódio pega a maleta de primeiro socorros, e sai em direção a porta — Estou indo para lá.

Afonso — Vou com você.

Custódio — Não, pai. Melhor o senhor ir direto para o hospital com a mãe, esperem lá. Vai ser melhor.

Afonso — Mas, e o Roberto?

Custódio — Deixe que dele cuido eu. Faça o que estou pedindo. Não deve ser nada grave. Espero que não! – Entra no carro, ainda falando com Afonso. — Vá com calma, para não assustar a mãe. Vejo os dois, no hospital, daqui a pouco. — E sai seguindo a rua com o automóvel. Afonso sai apressado por outra direção.

A Widcyber está devidamente autorizada pelo autor(a) para publicar este conteúdo. Não copie ou distribua conteúdos originais sem obter os direitos, plágio é crime.

Pesquisa de satisfação: Nos ajude a entender como estamos nos saindo por aqui.

Publicidade

Inscreva-se no WIDCYBER+

O novo canal da Widcyber no Youtube traz conteúdos exclusivos da plataforma em vídeo!

Inscreva-se já, e garanta acesso a nossas promocionais, trailers, aberturas e contos narrados.

Leia mais Histórias

>
Rolar para o topo