Luiz, na sala onde trabalha, entrega uma mostra de tecido para outro funcionário. – Assim que os dois chegarem eu vejo com o senhor Afonso a cor da tinta que vai ser usado nessa nova remessa. Vai deixando tudo preparado enquanto isso!

Funcionário – Ok! – vai saindo, volta – Luiz, depois que você foi embora ontem o seu pai ficou te procurando. Parecia preocupado, acho que foi por causa das ameaças do seu Moreira.

Luiz rindo – Meu pai vai ter a maior surpresa da vida dele.

Naquele instante, Eduardo e Afonso entram. Ficam surpreso vendo Luiz alegre.

Eduardo – Pensei que chegaria aqui e o iria encontraria aborrecido pelo que aconteceu ontem, mas vejo que está alegre até demais.

Luiz – Lembra de quando me disse que queria ser o meu primeiro padrinho a ser convidado para o meu casamento com a Maria?

Eduardo – Claro que lembro!

Funcionário – Padrinho de casamento, Luiz? Depois do que aconteceu ontem, você ainda pensa em se casar com a filha do Moreira? Você só pode estar maluco.

Afonso – Eu e o Eduardo conversamos a respeito do que aconteceu, não posso esquecer que ele poderia estar morto, então, já que o Moreira ameaçou você, melhor ficar longe um do outro. Prefiro ver ele solto lá fora e você vivo aqui dentro. Você me vale muito mais que o seu pai e o Moreira juntos. Vamos cortar o mal pela raiz?

Luiz – Obrigado, senhor Afonso, pelo bem que me toca. E não precisam se preocupar o mal já foi cortado!

Eduardo – Como assim?

Luiz – Eu também te falei que se o seu Moreira brigasse comigo por causa da Maria eu roubava ela?

Eduardo rindo – Você não fez isso?

Luiz – Fiz, e acabei devolvendo ela depois. – aponta Eduardo e Afonso – Os dois estão convidados a serem meus padrinhos, e como presente, dos dois, caso posso escolher desde já, quero aumento de salário.

Afonso o aponta – Vou concordar com o Moreira. Você é muito atrevido, pior do que seu pai. – e ri.

Eduardo também ri – O senhor tirou as palavras da minha boca.

Afonso – De aumento a ele. – olha Luiz – Já é o meu presente, está bom assim? O Eduardo depois vê o que lhe dá, o meu está resolvido. Aceito ser seu padrinho, com muito orgulho! Porque já me segurei tantas vezes de mandar o seu pai e o Moreira embora que até perdi as contas, e … – ele para de falar vendo alguém chegar.

Geraldo – Me dão licença, não dá pra esperar até a hora do almoço pra falar com o desmiolado do meu filho. – aponta Luiz – Onde você estava com a cabeça de ir roubar a filha do Moreira depois do que aconteceu? E pra onde você levou a moça?

Eduardo – Seu pai não está sabendo da segunda parte?

Luiz – Não!

Geraldo – Que segunda parte?

Luiz – Pai, falamos nisso depois, com calma.

Afonso – Já fala para o seu pai e pronto! Se você foi capaz de amansar a fera do Moreira não vai querer enfrentar o seu pai!

Luiz – Está certo! Eu e a Maria não fugimos.

Geraldo – Como não fugiram? Você deixou uma carta escrita pra mim, e o Moreira esteve lá em casa atrás de você e da filha dele.

Luiz – Eu sei! Conversei com ele ontem á noite quando voltei lá com a Maria, e conversamos numa boa. Tanto que o Moreira marcou a data do casamento. Eu e Maria vamos nos casar daqui oito meses.

Geraldo olha Eduardo, Afonso e depois o filho. – Certo! Você me pediu na carta para não interferir na sua vida e não vou interferir. Você fez como achou certo o que devia fazer, e com certeza, não significo nada como seu pai.

Luiz – Pai, vamos continuar essa nossa conversa depois, com calma? Agora não é hora e nem lugar! Temos que trabalhar. A noite conversamos na casa do senhor.

Geraldo – Minha casa! Quer dizer que não é sua casa também?

Luiz olha Eduardo – Edu, você continuou morando na casa do seu pai depois que se casou?

Eduardo – Não!

Luiz – Com certeza, o seu Afonso também fez a mesma coisa e o senhor também pai, porque sei disso!

Geraldo – Você não acabou de falar que devolveu a moça para o pai, e que vão se casar daqui oito meses.

Luiz – Como vou morar com a Maria na pensão depois do nosso casamento, até quando eu puder alugar ou comprar uma casa, não vejo porque tenho que voltar morar na casa do senhor de novo.

Geraldo, muito desapontado – Fiz errado vir aqui falar com você que já pensou em tudo que vai fazer na sua vida. Não vou mesmo interferir em nada. Pode viver. Fazer da sua vida como bem quiser. Eu devo merecer isso. Com Certeza! – e pede para Eduardo e Afonso – Com licença? Estou voltando ao trabalho. Pelo menos vou trabalhar mais tranquilo agora, sabendo que o meu filho ergueu bandeira branca com o inimigo. – e sai de vez.

Afonso com Luiz – Você pegou pesado com o seu pai!

Eduardo – Quer a minha opinião? E não estou desconcordando com o meu pai, mas acho que você fez a coisa certa. Pelo menos é o meu ponto de vista. Eu faria o mesmo.

Afonso – Não entendi!

Eduardo – O Luiz está no meio de uma faca que corta dos dois lados. O pai e o Moreira.

Luiz – Foi exatamente nisso que pensei! E prefiro morar com a Maria em uma pensão, onde vai ser mais barato pra mim, do que montar uma casa agora, do que ter que escolher entre a casa do meu pai ou do seu Moreira.

Eduardo – Assim, não dá o braço a torcer para nenhum dos dois.

Luiz – Exatamente!

Eduardo olha o pai – O senhor entendeu agora!

Afonso – Concordo, e espero que a briga entre os dois não comece lá do outro lado.

Luiz – Se começar, eu mesmo faço a demissão deles.

Geraldo passa perto de Moreira que conserta uma máquina. Moreira vendo-o, brinca com os companheiros próximos – Já estou convidando meus amigos para o casamento da Maria com o Luiz. Faço questão da presença de todos na igreja, daqui oito meses. – e provoca Geraldo, que para numa máquina – Geraldo e aí, quer que eu deixe alguém pra você convidar?

Geraldo atento no trabalho. – Para quem quase foi parar na cadeia por assassinato, aceitou essa união fácil demais.

Moreira nada responde, depois de fixar Geraldo por alguns segundos, rapidamente sai, e bate na porta do escritório. – Posso entrar? – e se refere a Eduardo e Afonso – Quero falar com o dois. – Se aproxima – Pedir desculpas, pelo que aconteceu ontem é pouco. Na verdade, eu tento me lembrar o que aconteceu e não consigo. Foi como se uma escuridão me impedisse de ver o que estava fazendo. Tanto que estou aqui para pedir a minha demissão. É mínimo que faço depois do que causei.

Afonso – Você disse que uma escuridão o impediu de ver o que estava fazendo?

Moreira – Quando me dei por si, o senhor Eduardo estava na minha frente. – vira-se para Luiz – Naquela hora, a única pessoa que vi na minha frente foi você.

Dudu – Então agora entendo o que aconteceu, foi uma disputa de vida e morte. Uma luta do bem e do mal. Moreira o mal já foi cortado, e o importante que tudo acabou bem, então, vamos esquecer o que aconteceu?

Moreira faz um gesto positivo com a cabeça, tira o cinturão que prende a bainha e o punhal, coloca encima da mesa de Luiz. – Consome com isso daqui pra mim, eu nunca mais vou andar armado. – Pede licença e sai.

Naquele momento, no hospital, Estela entra na enfermaria e fala com Adalberto que procura algo entre os vidros de remédio. – Bom dia, doutor Adalberto!

Adalberto – Bom dia, Estela.

Estela – Pensei que o doutor já tinha ido embora.

Adalberto – O doutor Pedro foi atender uma emergência fora da cidade, e fiquei no lugar dele até o doutor Custódio chegar.

Estela vendo-o não parar de mexer nos medicamentos. – O senhor quer ajuda? Só me dizer o que procura quem sabe posso ajudá-lo.

Adalberto nervoso – Uma droga pra aliviar dor de estômago.

Estela, enquanto verifica os frascos em cima da mesa. – Deve ser alguma coisa que o doutor comeu que fez mal. – mostra um frasquinho – Esse aqui não serve? Lembro que o doutor Custódio receitou esse para um paciente outro dia.

Adalberto pega e examina o nome – Exatamente o que eu estava procurando.

Estela rindo, pega outro vidro – O doutor deve estar muito mal mesmo, tem outro vidro aqui.

Adalberto – Estou mesmo ruim, que devo estar lendo o nome de traz pra frente, só pode ser isso!

Estela – Eu pego água para o doutor. Só um minuto. – e vai ao lado, enquanto Adalberto conta as gotas. Ela volta com a água e mistura com o remédio falando gentilmente, no momento em que Custódio chega na porta. – Pronto! Agora pode tomar que vai melhorar logo.

Adalberto também não vê Custódio – Obrigado, pela ajuda! – toma um gole do remédio ainda atentos um ao outro, acrescenta – Eu sonhei com você ontem.

Custódio – Essa é uma boa maneira de se conquistar uma mulher, doutor Adalberto. Bom dia, aos dois.

Adalberto – Bom dia.

Estela alegre – Bom dia, doutor Custódio.

Adalberto toma o resto do medicamento e depois fala – A sua auxiliar estava me socorrendo.

Custódio brinca – Quer que eu volte mais tarde, assim conta o sonho a ela?

Adalberto – O sonho não foi só com ela – aponta os dois – Sonhei que os dois estavam brigando e separei a briga. – se referi a Estela – Na verdade, você estava brigando com o doutor Custódio. Não me lembro em detalhes a briga, mas você queria que ele o ajudasse procurar uma amiga. E ele se negava. Lembro das palavras dele lhe dizendo: Você quem colocou a sua amiga pra fora de casa, e eu que tenho que procura-la agora?

Custódio seriamente fixa Estela, atenta em Adalberto. Ela também o olha. Adalberto percebe a tensão entre eles, e pergunta em meio a um sorriso: – Isso já aconteceu?

Estela rindo, aponta Custódio – Eu e o doutor Custódio brigarem por causa disso não!

Adalberto – Por um instante achei que esse sonho também fosse real. Antes de sonhar com vocês dois, sonhei com outra moça. Eu a vi de frente a uma casa segurando um vaso com flores. E depois sonhei com um rapaz. Ele me pedia ajuda, e essa ajuda estava relacionada a moça. E depois que sonhei separando a briga de vocês dois, por causa desta mesma moça, eu me vi dentro de um estabelecimento. Tinha muitos homens ali, eles bebiam e jogavam baralhos. Eu estava perto do balcão e um homem veio em minha direção rapidamente e me perguntou – Onde está minha filha? E eu respondi: – Não sei! E ele então me acertou com um punhal que atravessou o meu estomago de um lado para o outro. O sonho me pareceu tão real que acordei com dor. A mesma dor que senti novamente alguns minutos atrás, e ontem quando eu estava saindo pra vir para o hospital, apareceu na pensão da minha tia o rapaz e a moça que acabou passando mal, e eu acabei por socorrê-la.

Custódio – Escolheu a profissão errada doutor Adalberto. Deveria escrever histórias, mas ainda quando se têm uma boa parte do enredo, narrado por outros. Com licença.

Estela fica cabisbaixa, pensativa.

Adalberto nada entende – Por que o doutor disse isso?

Estela – Por nada! Com licença. – e sai.

Custódio, em outra sala, pega um avental.

Estela bate na porta – Podemos conversar, doutor?

Custódio – Melhor não, Estela!

Estela entra e fecha a porta – O doutor não está pensando que eu…

Custódio – Não estou pensando nada, Estela! Procuro não pensar em nada! Então, não me force a pensar o que não quero. E agora, por favor, saia! Não me faça brigar com você. Assim o sonho do doutor Adalberto será real.

Ele devolve o avental no armário, falando novamente com ela que ameaçava abrir a porta – Melhor eu sair! Vou andar um pouco para refrescar a cabeça. A raiva que estou sentindo de mim mesmo, neste momento, sou capaz de cometer loucuras com qualquer um, até mesmo com você se ficar no meu caminho. – e rápido passa por Estela, que para no corredor, seguindo-o com o olhar.

Custódio passa por Tereza que ameaça falar com ele. – Doutor, o paciente do…

Custódio faz um gesto com as mãos, falando bravamente – Agora eu não vou ver nada! – e segue o caminho.

Tereza olha Estela boquiaberta e desapontada, olhando Custódio desaparecer no corredor. – Meu Deus, Estela! O que aconteceu que o doutor saiu tão bravo assim?

Estela nada responde. Adalberto que também chega no momento em que Custódio fala com Tereza. – Não vai dizer que o doutor Custódio ficou bravo por causa da nossa conversa?

Tereza percebe os dois se olharem seriamente.

Estela – Sim!

Tereza – Eu não tinha visto o doutor Custódio tão bravo assim antes. Acho que ninguém nunca viu! Ainda mais se tratando de você Estela. Não vai dizer que ele viu você conversando com o doutor Adalberto e ficou com ciúmes?

Estela – Acho que foi exatamente isso que aconteceu! Com licença. – e sai passando por Adalberto que olha para trás, seguindo-a com o olhar.

Tereza – O doutor Custódio e a Estela já deviam ter se casado há tanto tempo. Os dois nunca saem da moita.

Adalberto volta pra ela – O que disse?

Tereza disfarça – Nada. É que! Bom, o paciente do doutor Custódio no quarto 16 está querendo ir embora. Disse que vai fugir do hospital se o doutor Custódio não der alta pra ele agora.

Adalberto – Vou lá falar com ele.

Custódio abre a porta da cozinha, entrando rapidamente. Ba, na sala-copa, ouvindo o barulho vai em direção a cozinha e se assusta com ele chegando na entrada da porta, juntos.

Ba sente alivio – Que susto! Desde quando o doutor entra pela porta do fundo?

Custódio – O que está fazendo aqui?

Ba, rindo – Posso fazer a mesma pergunta ao doutor?

Custódio pega na adega uma garrafa com vinho, ainda estava irritado – Ainda lembro essa casa ser minha?

Ba – E não aparece aqui faz tanto tempo que deve ter esquecido que venho todos os dias de manhã tirar o pó. E ainda não respondeu por que entrou pela porta da cozinha, ouvindo barulho pensei que fosse um ladrão.

Custódio toma um gole da bebida e acaba sendo grosseiro – Será que não posso entrar na minha casa por onde eu quiser?

Ba – Desculpa? Não estou mais aqui. Já terminei o meu trabalho, ia fechar a casa e ir embora. O doutor parece que quer ficar sozinho.

Custódio – Nasci pra viver sozinho, essa é a pura realidade da minha vida!

Ba procura ser gentil – Eu já ouvi essa frase tantas vezes quando você perdeu o seu pai, que as vezes sinto falta. Eu ainda me lembro daquele menininho aborrecido abraçando a foto do pai e…

Custódio fecha os olhos apertadamente e interfere, calmamente aborrecido – Ba, estou mesmo precisando ficar sozinho, então vá embora.

Ba faz sinal positivo com a cabeça, ameaça sair da sala, para olhando o vaso de rosas em cima da mesa, depois observa Custódio pegar outra dose de vinho. Volta a se aproximar. – Deixe-me falar só mais uma coisa antes de ir embora. Algo que eu nunca contei a você antes. No dia em que o seu pai saiu de viagem para o Rio de Janeiro. Eu acho que ele sabia que não voltaria vivo. Porque ele já tinha feito tantas viagens antes, deixado você comigo, mas naquele dia, algumas horas antes dele sair, ele me disse: Ba, caso um dia eu não volte de viagem você promete que nunca vai deixar o meu menino sozinho. Que vai cuidar dele sempre. Até quando você não puder mais. E se você me fizer essa promessa e não cumprir, eu vou saber, porque não vou sair de perto dele também. Mesmo que ninguém me veja, vou estar ao lado dele. Nunca vou deixá-lo sozinho.

Custódio – Não fale bobagem, Ba! Mortos não ficam andando de um lado para o outro.

Ba – Eu falei ao seu pai exatamente essas mesmas palavras. Mortos não ficam andando por aí. E ele, então, me respondeu. Pode ser que não. Mas se um dia você perceber alguma coisa de anormal dentro desta casa, acredite, fui eu que fiz acontecer, e não precisa ter medo, estarei mesmo aqui, sempre que o meu filho precisar do meu colo de pai. Eu tenho certeza que o seu pai esteve aqui, minutos antes de você chegar, talvez, ainda esteja aqui.

Custódio – Como pode ter certeza disso? Por acaso você viu o meu pai?

BA – Não! Por alguma razão que eu desconheço ele talvez não possa aparecer assim, do nada! Mas eu já estava saindo para ir embora quando ouvi um barulho aqui dentro.

Custódio – Você se assustou com o barulho que fiz quando entrei.

Ba – Não foi! Eu estava trancando a porta quando ouvi um barulho aqui dentro da sala, então voltei para ver se tinha caído alguma coisa. Andei de um lado a outro e nesse intervalo você chegou. Se não fosse o barulho, o doutor nem teria me encontrado aqui.

Custódio – Eu vou apresentá-la ao doutor Adalberto qualquer dia. Vocês dois são ótimos para inventar histórias. Mas a sua história não tem como me provar um efeito verdade, a dele tem! – olha de um lado para outro – Essa casa se tornou tão vazia. Tão fria. Não existe nada aqui dentro não ser a solidão. Tristeza é tudo que sinto quando entro dentro desta casa. Eu só consigo entrar aqui quando estou pior que ela. – olha Ba – Quer saber porque não entrei pela porta da frente? Eu não consigo olhar a foto do meu pai.

Ba – Acredito que seu pai não se importaria se trocasse de lugar o retrato dele, que não estava lá antes, na entrada da sala. Você mandou ampliar a foto e colocou no lugar de outro quadro que estava antes.

Custódio – O problema não está na foto do meu pai, Ba. Está aqui dentro de mim, e eu não sei como arrancar do meu peito. Do meu coração. Da minha mente. Da minha alma, toda a solidão e dor que sinto.

Ba – A morte da sua mulher. O que aconteceu naquele dia eu também não consigo esquecer. Ouvi barulho por toda a casa, como se estivesse um batalhão de pessoas aqui dentro.

Custódio – Eu procuro não pensar no que aconteceu naquele dia, porque não é só a morte da minha mulher que me incomoda. Outras coisas que eu também procuro não ficar pensando, mas cada dia que passa, fica pior. Dizem que o tempo faz esquecer. Que o tempo cura feridas. Mas tem coisas que o tempo não apaga da memória. Porque sempre alguém vai te lembrar em palavras, em gestos, em presenças e não tem como evitar.

Ba – Vou pedir aos anjos para trazerem paz para o teu coração.

Custódio ri – Eu não acredito em anjos, Ba. Eu não acredito em nada que não se pode ver com os próprios olhos. Quer saber? Eu não acredito se realmente existe um Deus.

BA – Seu pai Afonso acredita em anjos. Seu irmão Eduardo também. Sem dizer que são duas pessoas devotas a Deus, e você aprendeu esses valores com eles.

Custódio – Falando neles, faz tanto tempo que eu não os vejo, que nem me lembrei da festa de ontem na fábrica.

BA – Eu também acabei não indo este ano. Mas ainda me lembro da primeira vez que o seu Afonso fez questão que eu também participasse da festa de natal, na fábrica.

Custódio – Meu pai sempre fez questão de dar essa festa pra unir os empregados onde podem confraternizar um com o outro e se conhecerem melhor, e ele deve estar chateado comigo. Prometi uma vez que nunca faltaria. Que ia lá nem se fosse dez minutos, e eu nem se quer me lembrei que a festa seria ontem.

BA – Seu Afonso é um anjo de pessoa. Um homem bom, honesto e sempre procura ser amigo de todos, e vai perdoar a sua falha. Ele nem vai perguntar porque não foi na festa, na hora que se encontrarem.

Custódio – Agora você falou certo! Nesse tipo de anjo eu acredito. Eu posso ver. Posso tocar. Sentir a força desse anjo, e estou indo lá agora me desculpar com ele. Vou aproveitar e tirar o dia para visitar o meu anjo. Estou precisando de uma folga pra mim. Ultimamente estou tão preso naquele hospital que até mesmo o meu anjo humano andou me abandonando por lá. Faz tempo que ele e o Eduardo não aparecem mais lá. – e sai.

Ba – Manda lembranças minha ao seu Afonso e ao seu irmão.

Cristovam, ali todo o tempo agradece. – Obrigado, Ba, por ajudar o meu menino, na difícil batalha que ele ainda deve enfrentar pela frente. Obrigado, por estar aqui, sempre ao lado dele, como me prometeu que estaria. – e estende as mãos sobre ela. – Que a luz dos anjos sempre a ilumine.

Estela entra na enfermaria. – Tereza, estou indo para o meu quartinho, amanhã cedo eu volto. Ou mais tarde se eu melhorar.

Tereza – Você não está bem?

Estela – Estou sentindo um nó na minha garganta. Como se ela fosse fechar a qualquer hora.

Tereza – Pede para o doutor Adalberto dar um remédio. Dar uma olhada.

Estela – Não! Melhor não! Se eu não melhorar eu volto. Até mais. – e sai.

Custódio para na entrada da porta, olhando Luiz separar alguns documentos.

Luiz – Como vai, doutor Custódio?

Custódio – Bem, obrigado! E você?

Luiz – Aqui, perdido no meio das papeladas.

Custódio olha ao redor – Meu pai? O Eduardo?

Luiz – Seu Afonso foi dar uma volta no barracão. O Edu saiu, já deve estar chegando. Disse que não ia demorar. Foi visitar um cliente.

Custódio, saindo – Vou atrás do meu pai.

Luiz – Doutor, só um minuto? – Custódio o olha – Conheci o doutor Adalberto ontem na pensão da tia dele, que foi muito gentil. A minha noiva passou mal e ele acabou atendendo ela.

Custódio franze o cenho, ameaça dizer algo, Dudu entra falando – Luiz, você já estava sabendo e não me falou nada.

Luiz – Sabendo o quê?

Dudu – Que desabou o telhado da Santa casa e um dos desabrigados veio se refugiar aqui. – todos riem.

Afonso que também chega brinca com Custódio – O telhado daqui está bem seguro. Tem espaço pra muita gente.

Custódio – Sei que ainda cedo, mas, vamos almoçar os três?

Dudu – Podem esperar, hoje vai cair um temporal daqueles. Quanto tempo faz que não almoçamos juntos? – vira-se para Luiz – Segura as pontas, eu não vou dispensar o convite do meu irmão. – e fala com Custódio – Tem um restaurante ótimo perto daqui. A refeição é ótima. Você vai gostar. – os três saem conversando.

Luiz pensa e volta aos papéis.

Raquel empalidece vendo Custódio, Eduardo e Afonso entrarem no restaurante. Rapidamente entra na cozinha e fala com uma das cozinheiras. – Lembrei que tenho um compromisso importantíssimo e não posso faltar, então, cuida de tudo perfeitamente bem como sempre faz quando não estou aqui. Faz tudo como lhe ensinei. Não quero falhas. Vou procurar não demorar muito. – e olha em volta procurando algo.

Custódio, Eduardo e Afonso sentam ao redor de uma mesa oferecida pelo garçom que cumprimenta Dudu – Como vai, senhor Eduardo?

Dudu – Meu pai e meu irmão! Eu trouxe os dois para almoçar comigo hoje.

Garçom – Fiquem à vontade! Sejam bem vindos! – e se afasta.

Custódio olha em volta – O lugar é mesmo ótimo. Bem aconchegante. Gostei. – e pega o folheto olhando o Cardápio. Olha uma garotinha de 3 anos colocando uma flor na mesa. A menina pega novamente a flor e estende para ele.

Uma Garçonete chega e pega a menina – Desculpem! Vem Giza. A mamãe vai levar você pra casa.

Os três acompanham a garçonete com o olhar.

Dudu – A menina é acostumada fazer isso. Ela sempre coloca uma flor na mesa de alguém. Duas vezes que já estive aqui, almoçando com clientes ela fez isso. Essa é a terceira vez! Na primeira vez que ela colocou a flor na mesa, o garçom me explicou. E ela deve ter gostado de você, é a primeira vez que a vejo entregando a flor diretamente para alguém. A maioria que vem almoçar aqui já acostumou com o jeitinho dela. Que não fica em casa, chora pra vir com a mãe que montou o restaurante. Tem um jardim atrás do prédio, que é só descuidar dela que vai até lá, pega uma flor e traz para alguém.

Afonso – Como é o nome dela?

Dudu – Giza. Ela é uma graça de menina.

Custódio pensativo repete – Giza. Me fez lembrar o nome de alguém.

Eduardo – Da sua mulher.

Custódio – Não é um nome tão comum.

Afonso – Falando na sua finada mulher, não está na hora. Aliás, está passando da hora de você pensar em refazer a sua vida de novo?

Raquel entra em casa, trazendo Giza.

Laura estranha. – O que aconteceu que está em casa nesta hora? Não tem movimento no restaurante hoje?

Raquel – Tem até demais! Estava chegando alguns clientes quando resolvi trazer a Giza pra casa. E ela já está entregue.

Laura – Faz quase dois anos que você montou aquele restaurante e a Giza sempre fica lá. Ela chora se ficar aqui que está acostumada

Raquel agitada – Ela não vai morrer se chorar. E a partir de hoje não a levo mais no restaurante. O Lugar dela é aqui. O Beto não morreu de chorar quando nasceu, e muito menos ela vai morrer agora. Ela não vai mais comigo e pronto.

Laura – Eu te conheço, Raquel. Tem alguma coisa por trás disso! O que aconteceu?

Raquel lembra Custódio entrar com Dudu e Afonso no restaurante. Suspira fundo, e nada diz.

Custódio termina a refeição. – Dizem que uma esposa segura o esposo pela boca, pena que esse restaurante é um pouco distante do hospital. Eu voltaria sempre.

Eduardo – É só lembrar que tem pai, irmão e aparecer um pouco mais, assim podemos voltar aqui outras vezes.

Custódio – Não foi somente eu que os abandonei. Faz tempo que não aparecem no hospital.

Eduardo – Hospital é lugar de doente, e você trocou a sua casa pelo hospital. Outro dia encontrei a Ba, e ela também me disse isso! Foi quando decidi não ir mais visita-lo, e o nosso pai concordou comigo. Preferimos deixar você à vontade.

Afonso rindo – E funcionou! Você saiu de lá. Tanto que está aqui.

Custódio – Então foi de caso pensado. Mas fiquem sabendo que estive na minha casa hoje também, e ela continua do mesmo jeito, como sempre foi. Triste e solitária. E querem saber mais? Eu dormi essa noite na casa da Tainá, isso quer dizer que não estou desligado totalmente da família.

Afonso – E você não respondeu minha pergunta daquela hora. Deveria pensar um pouco mais na sua vida. Recomeçar de novo, já passou da hora de arrumar outra esposa, encher a sua casa de filhos, assim ela vai ganhar vida.

Custódio – Recomeçar? Esse é o problema pai. Minha vida a dois parou antes mesmo de começar.

Eduardo – Posso ser sincero com você? Que tinha dois caminhos pra seguir e escolheu o caminho mais difícil.

Custódio – Como assim, não entendi?

Eduardo relembra parte do sonho em que vê Custódio tapar a boca de Maria, e Luiz pulando em cima de custódio gritando – Tire as mãos dela! – mas ele cai, do outro lado da cama, passando pelo corpo do casal. Eduardo pensa e pergunta – O Luiz, como você olha ele?

Custódio – O que uma conversa tem a ver com a outra?

Dudu – Apenas curiosidade. Responde a pergunta que fiz e depois eu respondo o que quer saber.

Custódio – Dizendo a verdade. Sinto uma sensação estranha quando olho aquele rapaz. Não sei explicar o que sinto. É algo que não vejo quando olho outra pessoa. Agora me explica o que isso pode significar?

Dudu – Tive um sonho muito estranho com vocês dois, e foi antes de acontecer o que aconteceu com sua mulher, e eu sempre me lembro disso! Toda vez que vejo você ou o Luiz eu me lembro do sonho. Eu me lembro também daquela outra mulher, Raquel, ela também estava no meu sonho. Ela fazia parte de você, a Estela também. Lembro que no sonho a Estela estava muito preocupada com a sua felicidade.

Afonso – Está aí uma boa moça que você deveria pensar em fazer a sua vida com ela. Ouvi boatos lá no hospital, e não ouvi uma vez só não, que vocês dois são como carne e unha. Que nunca se separam.

Custódio – Isso não é verdade! Tanto que Estela está no hospital e eu aqui. Mas não vou negar que tenho por ela um carinho especial. Estela me ajudou muito. Nos piores momentos da minha vida ela esteve do meu lado. Bom, nem todos! Quando Giza se foi, Estela estava em Santos, e mesmo recebendo o carinho de todos vocês, eu sentia um vazio muito grande, e, vamos mudar de assunto? Não quero falar a respeito disso. Resumindo: a Estela é como uma irmã minha. O mesmo carinho e respeito que tenho por ela, eu tenho pelas minhas outras irmãs. – olha em volta – Vamos embora? – e faz sinal para o garçom.

Saindo na rua ainda conversam. – E como você falou em sonhos, me responde uma coisa. Duas pessoas podem sonhar sonhos parecidos?

Eduardo – Alguns sonhos podem ter significado e outros não. E o sonho ajuda a purificar o corpo e a alma. Acredito que talvez seja assim. E de alguma maneira pode ajudar o seu próximo e a si mesmo. Bom, pelo menos eu penso assim. Eu passei a olhar as pessoas, os quais, eu tive esse sonho estranho de um jeito diferente. E completando a sua pergunta, eu acredito que sim, que duas pessoas possam ter sonhos semelhantes por viverem momentos semelhantes, uma situação junto, ou, que talvez possam viver. Eu acredito que o sonho pode ser algo marcante na alma de uma pessoa, de duas, ou mais, vivendo momento que ficaram marcados na alma.

Custódio – Deixe ver se entendi. Melhor, vou levar os dois para conhecerem o doutor Adalberto, e ele me falou de um sonho que se tornou real logo depois, e é até engraçado, e não sei que relação pode ter, mais ele falou do Luiz e da noiva do Luiz, que sonhou com eles, e logo depois conheceu os dois. O Luiz confirmou isso quando cheguei na fábrica, e vi que o doutor Adalberto falava a verdade. Ele deve estar no hospital ainda, ficou no meu lugar. Podem ir lá agora?

Eduardo – Sim! Vamos. Quero conhecer em detalhe essa história dele sonhar também com o Luiz e a Maria.

No hospital. Custódio fala com Adalberto – Meu irmão acredita que somos imortais. Que o nosso espírito vive eternamente, e ele também acredita em sonhos, como você. Diz que os sonhos podem ter grandes significados na nossa vida.

Adalberto – Eu também acredito muito neste lado místico. E tudo que aconteceu entre ontem e hoje, me serviu de lição. Aprendi que devo manter a boca fechada com tudo que ver e ouvir de agora pra frente, para não acabar sobrando pra mim. – todos riem.

Eduardo – Gostei de conhecer você. Podemos marcar um dia com mais tempo, para falarmos sobre esse assunto.

Adalberto – Claro! Podemos sim!

Eduardo – Marca a data quando você estiver livre, pode ser a noite, na minha casa.

Custódio – Me coloca na lista, quero participar. E seria bom se Estela também participasse. E falando nela, cadê a Estela?

Tereza – Ela foi embora assim que o doutor saiu. Disse que estava com dor na garganta, mas não quis que o doutor Adalberto examinasse. Eu acho que foi desculpa dela para ir embora.

Custódio – Vou levar os dois de volta na fábrica, e me desculpar com a Estela depois. Acabei sendo grosseiro com ela que estava inocente no meio disso tudo. Mas foi bom. Como diz sempre o meu pai, nada acontece por acaso. Tudo tem uma resposta e tive que sair para ver que sonhos podem significar alguma coisa.

Adalberto para Eduardo – E já que você tem amizade com o Luiz, vamos convidá-lo também para a reunião. E não sei por que acredito que o sonho que tive com os dois está relacionado a uma vida passada.

Custódio – Esse é mais um motivo que fiz questão de você e o Dudu se conhecerem. O Eduardo acredita que o Luiz seja o nosso avô reencarnado.

Adalberto – Então, eu vivi na mesma época que o avô de vocês, e o senhor também doutor Custódio. O sonho que tive era como se fosse real. Era como se eu vivesse com cada um, aquele momento, voltando a viver novamente, como se a minha alma despertasse algo que ainda não sei o que é.

Na fábrica. Luiz preocupado se aproxima de Morteira que pergunta – Ainda não chegaram?

Luiz – Não! E do jeito que vi a Maria brava ontem, imagino que ela deve estar pensando que fiz de propósito, deixando ela me esperar de bobeira.

Moreira rindo – A tua sorte que ela confia no pai, se não estaria mesmo ferrado. Conheço aquela danada. Se prometer alguma coisa e não cumprir, ela faz greve de fome, chora, fica emburra. Então, melhor ir acostumando. E um aviso, nunca prometo nada a ela. Faz o que tiver que fazer sem promessas. Porque se você chegar lá em casa agora, vai encontrar a Maria de bicão e olhos inchados. A Dora deve estar passando apurado com ela nesse momento.

Luiz – Se eu soubesse disso não teria falada nada de marcarmos o casamento hoje.

Moreira – A culpa não é sua, imprevistos acontecem. Maria vai entender isso na hora que você falar com ela.

Luiz em meio a sorriso – O que levo de presente a ela? Um ramalhete de rosas bem grande?

Moreira – Ela vai gostar. Maria sempre foi apaixonada por rosas. Ela que cuida do jardim lá de casa.

Luiz – Eu sei, e já prometi a ela que um dia vamos ter uma casa com um quintal bem grande e fazer um roseiral. Eu amo sua filha, senhor Moreira. Amo tanto que o meu coração chega arder no meu peito de medo de perder ela um dia. Acho que se ela chegar a morrer eu morro junto.

Moreira bate na madeira da mesa da máquina – Hei, vira essa conversa pra lá. Quero minha filha viva muitos e muitos anos. – e vendo Geraldo sempre olhando de rabo de olhos, os dois conversando. Luiz de costas para o pai nada percebe. – Seu pai está se corroendo por dentro de ver você falar comigo. Ele está pra explodir.

Luiz – Vou conversar com ele que está magoado comigo. Vou tentar fazer as pazes com ele.

Geraldo assim que vê o filho se aproximar – Pra quem estava ameaçado de morte está com muita intimidade. – Luiz ameaça dizer algo, Geraldo fala primeiro – Não precisa me responder nada. Não quero ouvir nada a respeito da conversa de vocês.

Moreira percebe a frieza que Geraldo recebe o filho.

Geraldo – Sabe o que você devia ter mesmo feito? Devia ter embarrigado a filha do Moreira e dado com os pés na bunda dela, eu quereria ver qual seria a atitude dele. Se ia colocar a filha e o neto bastardo no meio da rua, ou, se ia te matar mesmo se não assumisse a besteira dos dois, ou, quem sabe implorar de joelhos, lambendo os meus pés para obrigar você a limpar a hora da família dele. Ainda dá tempo de você levar ela para o meio do mato.

Moreira – Geraldo, eu não vou permitir que você …

Luiz – Seu Moreira, por favor, deixa meu pai falar o que quiser. Não dou a mínima pela fala dele.

Geraldo para o filho – Eu sei que você está contra mim que é seu pai, pra ficar do lado desse daí que não sabe educar a filha que.

Moreira – Veja bem o que vai falar da minha filha!

Luiz se irrita com os dois, sem perceber que Dudu, Afonso e Custódio chegam ouvindo a briga – Por mim os dois podem se matar. Podem dá na cara um do outro – aponta os funcionários que param, vendo a briga – E ninguém separa a briga. Quando o Edu e o senhor Afonso chegarem a conta dos dois vão estar pronta em cima da mesa, e se quebrarem alguma máquina na briga, vão ficar sem o salário do mês que será descontado para o conserto. Agora voltem para o trabalho, isso daqui não é palco de circo. Na falta dos donos quem dá as ordens aqui sou eu. Deixem o meu pai e o seu Moreira se matarem. – e sai passando pelo pai, sem ainda ver os patrões.

Geraldo fica parado olhando os três, todos voltam ás máquinas. Moreira olha para trás, envergonhado faz um gesto negativo com a cabeça e volta ao trabalho. Geraldo também faz o mesmo.

Custódio rindo fala com Dudu – Acabei de descobrir porque a presença do Luiz me incomoda. Ele é mais corajoso que eu. Diz pra ele que faço questão de ser padrinho dele de casamento, e dou o mesmo presente que lhe dei. A gente se vê. Tiau pai.

Na sala, Afonso fala com Luiz. – Um filho tem que respeitar o pai e os mais velhos.

Luiz – Desculpe, seu Afonso, eu me irritei vendo os dois querendo brigar de novo, e não vi que estavam chegando.

Afonso – Luiz, não estou lhe reprimindo. Você tem mais juízo que os dois juntos, e você fez a coisa certa.

Dudu – Pior que acabei esquecendo de você. Do seu compromisso na hora do almoço. Bom, acho que ainda dá tempo de você pegar a sua noiva e ir na igreja falar com o padre. Pode pegar o resto da tarde livre. Volta só amanhã.

Luiz – Obrigado. – e vai saindo.

Eduardo chama – Luiz, vai com o meu carro. Amanhã cedo você me devolve, meu pai me deixa em casa. E tem outra coisa, o Custódio faz questão de também ser seu padrinho de casamento, e vai dar o mesmo presente que me deu. Então organiza bem a festa do seu casamento da melhor maneira que possível. Não precisa poupar, o Custódio cobre todos os gastos e ele gosta do melhor. E procura pelo padre Miguel lá na matriz. Ele quem fez o meu casamento e do Custódio.

Luiz alegre – Obrigado! Tudo que eu posso dizer. Mas quem não vai gostar disso vai ser o seu Moreira. Ele acabou de dizer a pouco, que vem guardando uma reserva, desde quando ele e meu pai se desentenderam de vez, por causa de mim e da filha dele e faz questão de dar a melhor festa. Mas prefiro aceitar isso como presente do doutor Custódio, já que ele se ofereceu. Assim, não fico devendo nada para o meu sogro e muito menos para o meu pai. Eu já estava pensado em falar com a Maria hoje mesmo, e convencer ela a mudar de ideia e morarmos juntos desde já, assim seria menos motivos para os dois se atarracarem.

Dora, abrindo a porta cumprimenta Luiz – Ainda bem que você apareceu!

Luiz – A senhora está bem?

Dora – Eu sim! Mas tem alguém que não para de chorar desde o meio dia. Ficou esperando você aparecer e almoçar com ela e como não apareceu.

Luiz – Eu sei, mas ouve um imprevisto lá na fábrica.

Dora – Imprevistos acontecem, mas a Maria colocou na cabeça que você mentiu. Bom, vamos lá no quarto, e você fala direto com ela. – e saem.

No quarto, Maria está em lágrimas. Luiz coloca um ramalhete de rosas na frente dela, em cima da cama. Ela ainda intacta olha as rosas e depois ele, sem ainda se mover do lugar.

Luiz – Pra guardar todas vai ter que comprar uma caixa bem grande. Eu pensei em trazer a caixa mais…

Maria – Por que não veio na hora que combinamos?

Luiz – Sua mãe disse que você não almoçou. Que está sem comer desde manhã, e o pior que eu também. – Olha Dora – Tem almoço pra nós dois?

Dora – Tem! Ainda está bem quentinho.

Luiz pega Maria pela mão. – Enquanto nós dois almoçamos eu conto o que aconteceu, e depois vamos falar com o padre e marcar a data do nosso casamento. Dá tempo de fazer isso ainda hoje. Estou com o resto do dia livre. E já falei com a minha mãe e vamos jantar com ela hoje. E tenho outra novidade pra você. Lembra da festa do casamento do doutor Custódio? A nossa vai ser igual.

Maria – Com muitas rosas?

Luiz – Com todas que você quiser.

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