O futuro a Deus pertence
Luiz e Maria pulam pela janela, dando de frente com Dona Amália. A mulher procurava um gatinho no meio do capim. Ela também fica espantada.
Maria — Por favor, dona Amélia. Não conte a ninguém o que a senhora viu. Bom, a senhora não viu nada!
Amália olha Luiz dos pés a cabeça, e a mala, nas mãos dele — Vocês dois estão fugindo?
O casal entreolham tensos.
Maria — Dona Amália, a senhora me promete que não vai mesmo dizer a ninguém que viu o Luiz saindo do meu quarto. Faz de conta que ele me esperava aqui fora, na rua.
Amália ri — Se ele saiu de dentro do seu quarto deve ser acostumado fazer isso. Eu estava certa, quando falei a sua mãe, na feira, domingo. Que existe mãe tão cega que a filha apronta debaixo do nariz dela que nada enxerga.
Maria — Dona Amália eu não…
Amália — Não precisa explicar com detalhes, menina. Eu só estava mesmo pegando o gatinho da minha gata que fugiu do ninho. Não sei como o danado veio parar aqui. Vai ver, saiu atrás da mãe e não soube voltar, como não parava de miar acabei vindo buscar, e acabei encontrando vocês dois pulando a janela. Não vai ser eu que vou esparramar esse boato por ai não. Os dois devem ter bons motivos para fugir, e devem estar fazendo certo. Isso é sinal que o Luiz tem juízo. Tem rapaz que não assume depois, e a coitada da moça acaba indo morar na rua, porque o pai põe fora de casa, em vez de aceitar o neto bastardo. O Luiz é tão menino ainda, já assumindo uma família. Eu vi os dois conversando escondido, na feira, e jogando beijinhos um para o outro, sem timidez.
Maria se irrita — Olha aqui dona Amélia a senhora pode pensar o que quiser, estou pouco me lixando.
Luiz puxa Maria pela mão — Vamos embora? Deixe ela falar o que quiser.
Amália — Boa sorte pombinhos. Vão precisar e muito! Ainda mais quando o seu Moreira e o seu Geraldo souberem. Eles vão se matar!
Luiz — A senhora faz o enterro deles. Tiau! — Volta — Há, a Maria está gravida esperando um filho meu. Pode falar isso a todos aqui no bairro.
Maria fica brava — Luiz?
Luiz — Amanhã o bairro inteiro vai saber que fugimos, vamos dar a eles um motivo de enfrentarmos o seu pai. — E lasca um beijo na boca dela. A mulher arregala os olhos.
Maria, feliz, confirma — Verdade! Dona Linda estou mesmo esperando um filho do Luiz. — e alegres correm de mãos dadas.
Dona Amália fica no lugar, alisando o felino. Decidida vai na porta e bate, com os olhinhos brilhando no prazer de fazer a fofoca.
Dora quem atende — Boa noite, dona Amália. Que surpresa aparecer aqui.
Amália olha Moreira sentada ao lado da mesa, desfolhando o jornal. — Vim falar com a Maria, ver se ela quer um gatinho. Minha gata deu cria, uma ninhada.
Moreira responde — Maria tem alergia de pelos de gato.
Amália — Que pena! Mas chama ela para conhecer o gatinho.
Dora — A Maria já foi dormir.
Amália — Certo! — Ameaça sair — Tem certeza que ela está dormindo?
Moreira dobra a folha do jornal. — Dora, vai chamar a Maria, pelo jeito essa mulher não vai desistir.
Dora saindo — Eu já volto.
Amália estica os lábios, com prazer. Moreira volta ao jornal.
Minutos depois, Dora volta — Moreira, a Maria não está no quarto.
Moreira — Como assim, não está no quarto?
Amália — Eu vi quando os dois fugiram pela janela. Confesso que ainda estou admirada pela coragem do rapaz. Tão moço e tão corajoso.
Moreira — Que conversa é essa, dona Amália?
Amália — Já pensaram se a cidade inteira fica sabendo que os dois se encontravam no quarto dela ás escondidas? E olha que os dois faziam isso tão bem escondido que ninguém nunca suspeitou da boa moça que Maria sempre foi. Tanto, que não foi curiosidade minha ver os dois juntos, se não fosse o meu gatinho, que fugiu do ninho, e eu sair atrás dele, que não parava de miar, não teria visto os dois fugirem
Dora — Bem que suspeitei que a senhora não veio aqui por causa do gatinho.
Amália — Eu vi mesmo, por acaso. E a filha de vocês é uma moça de sorte. O Luiz tão novinho ainda e já assumindo o filho dos dois.
Moreira — Filho?
Amália — Os dois me disseram que estavam fugindo porque a Maria está esperando um filho dele.
Moreira senta na ponta da cama — Grávida! — olha a mulher — A senhora tem certeza que era o Luiz que estava fugindo com a minha filha?
Amália — Se ela tem outro namorado não estou sabendo. A sua menina sempre foi uma moça tão correta. Apesar de que…
Dora — Dona Amália, se for caluniar a Maria, peço que vá embora. Eu tenho certeza que ela não está grávida, sangrou até ontem, talvez, ainda esteja sangrando. Eu mesma lavei o lençol da cama dela ontem, manchado de sangue. Então, ela e o Luiz não fugiram por causa de gravides. Isso, eu tenho certeza absoluta!
Em um quarto, Adalberto dormindo, se vê parado de frente uma casa. (Era ano 1740) Ele vê Maria segurando um vaso de flores no jardim. Depois se vê numa sala, conversando com Luiz — O que aconteceu com o seu pé?
Luiz — Devo ter quebrado. Pulei a janela do meu quarto ontem à noite, e se eu voltar para casa, não vou poder continuar procurando a Margaret.
Adalberto — O seu pai, ele está…
Luiz interfere — Não estou nem aí com o meu pai! Não é por causa dele que estou aqui! Eu vim pedir a sua ajuda, será que pode procurá-la no meu lugar? E caso a encontre traga-a para sua casa e me avisa, dou um jeito de levá-la para a casa da minha avó.
Adalberto, indignado — Eu não acredito que você vai jogar fora oseu futuro por causa daquela garota?
Luiz se curva — Adalberto, não quero falar nesse assunto com você. Estou com muita dor, eu só quero saber se pode me ajudar ou não?
Adalberto — Pare e pense no que está fazendo! Está jogando sua vida aos ventos, por causa de uma garota e um filho que pode não ser seu.
Luiz — Não venha falar mal dela você também. E se estou aqui lhe pedindo ajuda é porque achei que estava arrependido, me disse que tinha se arrependido, e vejo agora que falou da boca para fora. — Ameaça sair, mas para gemendo de dor.
Adalberto o segura — Deixe-me ver o seu pé?
Luiz chora — Não estou aqui por causa do pé, e você não médico, o que vai resolver olhar o meu pé? — coloca a mão no peito — A dor maior estou sentindo dentro do meu coração.
Adalberto se mexe na cama. E vê Estela chegar quase correndo. Eles estão em um barracão.
A moça, com muita raiva grita, dando socos no peito de Custódio — Seu cachorro ordinário. O que você fez com a minha amiga?
Custódio agarra-a, pelos pulsos. — Pare com isso? O que pensa que está fazendo?
Estela — Se você não me ajudar encontrar a minha amiga, eu acabo com você.
Custódio — Tire essa maluca daqui!
Adalberto puxa a moça por traz.
Estela grita descontrolada, apontando Custódio — Se acontecer alguma coisa de errado com a minha amiga e com o filho dela, você será o culpado.
Custódio grita — Você colocou ela para fora de casa, e a culpa é minha?
Adalberto se mexe na cama novamente e se vê dentro de um armazém, sentado ao lado de uma mesa com Geraldo. Ele vê Moreira e Custódio chegando. Moreira rusticamente lhe pergunta: — É verdade o que esse homem acabou de me dizer, que você ficou interessado na irmã dele?
Adalberto — Sim! Mas eu não…
Com o punhal penetrando em seu corpo, Adalberto pula na cama, acordando assustado. Ele leva a mão no estômago. Olha ao redor e sente alivio, percebendo ser sonho. Levanta, e, no banheiro se olha no espelho. Depois lava o rosto.
Na sala, Luiz e Maria entram, e sem ver ninguém chama. — Oh, de casa?
Dona Linda (50), chega pela porta do fundo, e se alegra: — Luiz?
Luiz — Como vai, dona Linda?
Dona Linda — Bem, obrigada! Mas quem é essa moça bonita?
Luiz sorri — Minha esposa, acabei de roubar ela da casa dos pais.
Miguel chega ouvindo a conversa — Luiz, não acredito que era sério aquela conversa no Domingo? Eu não falei nada para dona Linda, achei que você estava brincando! — olha para a mulher — Luiz me pediu para dizer a senhora deixar um quarto de casal reservado, que qualquer hora roubava a garota dele, caso o pai dele e o pai dela, não aceitassem, numa boa, o namoro deles.
Dona Linda para Luiz — Aconteceu isso?
Luiz — Eu e ela estamos aqui!
Dona Linda — Puxa a orelha do seu amigo. Eu tinha um quarto de casal desocupado até ontem. Agora tem uma cama de solteiro, e no quarto tem um senhor que está passando uns dias em São Paulo, atrás de alguns documentos.
Adalberto chega na sala, empalidece vendo o casal, com a cena do sonho lhe voltar a mente, quando viu Maria e depois Luiz.
Dona Linda vendo-o parado, um pouco distante, fala com Luiz. — Foi a ele que arrumei o último quarto de casal. — orgulhosa — Doutor Adalberto. Ele acabou de se formar médico e está trabalhando na santa Casa. Você já me ouviu falar dele, nas vezes que veio aqui estudar com o Miguel. Ele é meu sobrinho. Filho do meu irmão.
Luiz — Sim! Lembro-me ouvir falar dele. — estende a mão para Adalberto — Prazer em conhecê-lo, doutor!
Dona Linda — Luiz é amigo do Miguel, eles estudaram juntos, até o ano passado.
Adalberto, ainda tenso, pega a mão oferecida — Prazer é todo meu. — olha Maria e pergunta — Quem é ela?
Miguel — Luiz acabou de roubar a Maria da casa do pai. — e ri.
Adalberto também — Isso é verdade?
Dona Linda — Vocês dois querem parar de rir, isso é um assunto sério!
Adalberto para Luiz, que estava sério — Desculpa! — fica sério — Ela é uma moça muito bonita! Você tem bom gosto. Parabéns! — estende a mão a Maria, olhando-a fixamente — Prazer?
Dona Linda, Miguel e Luiz percebem o olhar dele, ainda em direção a moça. Maria, acanhada se apresenta.
Miguel — Desculpa aí, Luiz, não avisar dona Linda. Não pensei mesmo que falava sério. Mas e aí, como vai ser na hora que o seu pai e o dela souberem?
Adalberto sente calafrios, com as palavras de Luiz repetir em ecos, aos seus ouvidos — Não estou nem aí com o meu pai! — Ele coloca a mão no estômago, sentindo dor.
A tia percebe: — O que foi meu sobrinho? Você está pálido.
Adalberto — Acordei com dor no estomago e está piorando.
Tia — Deve ser fome, você chegou e não comeu nada. Vou pedir para a Conceição preparar algo rapidinho.
Dona Linda sai, Miguel fala com Luiz. — E agora, aonde você vai com a Maria?
Adalberto volta olhar Maria, depois Miguel: — Como assim? O que aconteceu?
Geraldo, naquele instante, pega das mãos de Mirtes a carta.
Mirtes — Acabei de encontrar em cima da cama do Luiz.
Geraldo percorre os olhos nas entrelinhas — Mirtes, o Luiz perdeu o juízo!
Na pensão, Luiz segura a mão de Maria entre as suas. — Vamos procurar outra pensão. Vim direto aqui, pensando que você tinha avisado dona Linda. Mas, tudo bem, não vamos perder nossa amizade por causa disso.
Todos se olham tensos, o casal saindo.
Adalberto — Espere! — vira-se para a tia — Se eles querem um quarto de casal eu fico na cama de solteiro com o outro hospede. Para mim não tem problemas.
Dona Linda para Luiz — Quanto tempo vocês querem o quarto?
Luiz — Até eu me formar bacharel.
Miguel — Luiz, você nem começou a faculdade ainda.
Adalberto — Eles vão precisar do quarto mais tempo que eu. Vou passar minhas coisas para o outro quarto.
Dona Linda — Vou ajudá-lo.
Adalberto — Não precisa, tia, como a senhora sabe, é pouca coisa. Acaba de atender os dois enquanto passo para o outro quarto. — e se afasta. Para na soleira e olha para trás, olhando o casal. Miguel, único a perceber.
Luiz fala com dona Linda. — Vou pagar dois meses adiantado, eu já trouxe o dinheiro. Miguel me falou o preço.
Miguel vê Adalberto se afastar de vez, e estranha, fazendo um movimento no rosto, e se refere a dona Linda. — A senhora vai dar um bom desconto a ele, não vai?
No quarto. Adalberto pega alguns vidros de medicamentos na gaveta do criado, deixa cair um vidro de mercúrio. Tenso, ele olha o liquido escorrer como se fosse sangue.
Na casa de Moreira, ele anda de um lado a outro. — Moleque topetudo! É isso que o Luiz é! Foi por isso que ele me enfrentou hoje. Ele e a Maria combinaram de fugir, por isso que conversavam sozinhos no barracão.
Dora — Moreira você sabia disso?
Moreira — Claro que não! Eu pedi a ele para ficar longe da Maria. Mandei o Geraldo falar isso para o Luiz.
Dora — Se você tivesse aceitado o que o pai dele propôs, quando a Maria nasceu, invés de criar atritos com ele, nada disso estaria acontecendo. Nada, do que aconteceu hoje, teria acontecido.
Na pensão. Luiz e Maria entram no quarto, olhando tudo ao redor.
Ele pergunta — O que achou?
Adalberto, no outro quarto, ao pegar a maleta de primeiros socorros, lembra do vidro quebrado. Rapidamente vai na sala. — Tia, esqueci de falar. Derrubei sem querer um vidro com mercúrio e os cacos estão no chão, ao lado da janela. Um dos dois podem se cortar se não ver os cacos
Maria olha o quarto, sente o vento frio entrar pela janela. — Um pouco frio, mas acho que é porque a janela está aberta. — e vai fechá-la.
Luiz vai atender a porta, ouvindo batidas.
Maria vê o mercúrio escorrido no chão, e se vira rápido para ver quem entra e se vê, na cama, deitada de barriga para baixo como se estivesse morta, com o braço estirado fora da cama e o sangue escorrendo no chão. Ela sente tonturas e cai para traz, na cama.
A arrumadeira e dona Linda também correm até ela.
Luiz — O que aconteceu, Maria?
Dona Linda — Você se cortou nos cacos? Eu vim avisar que tinha cacos no chão.
Maria — Minha cabeça está zonza. Senti tonturas quando olhei rápido para trás. Mas já estou melhorando.
Dona Linda — Vou chamar o meu sobrinho, ele deve estar aqui ainda.
Maria — Não, dona Linda, não precisa…
A mulher já saia apressada.
Na sala, Adalberto termina de fechar a maleta. — Seu amigo é mesmo corajoso. Tem bom gosto. Escolheu uma moça muito bonita.
Miguel — O Luiz sempre foi apaixonado pela Maria. Ele fala que já nasceu amando. Que o amor deles vieram de outras vidas.
Adalberto, em silêncio encara Miguel.
Dona Linda chega — Ainda bem que ainda está aqui meu sobrinho. A moça está passando mal.
Miguel — O que aconteceu com a Maria?
Dona Linda — Ela sentiu tonturas e quase desmaiou. — os três saem.
Moreira, em pensamentos volta o dia em que Maria nasceu. Ele chacoalha a filha, fortemente. Sem a criança se manifestar, ele murmura em pânico: — Respira, chora, faça alguma coisa, pelo amor de Deus, não morre! Ela está morta! Meu Deus eu matei minha filha. — E chacoalha-a, com força novamente.
Dora acorda sonolenta — O que foi, Moreira?
Ele olha a filha que chora, sente alivio. — Nada! Ela só está chorando. Eu juro que nunca mais vou reclamar do choro dela. Que vai ser a nossa única filha. Todo o nosso amor será só dedicado a ela.
Dora — Ela deve estar com fome, dê-me aqui. E não fala besteira, mesmo se tivermos meia dúzia de filhas, ela vai ser muito amada.
A menina se nega pegar o peito.
Dora — Não precisa chorar tanto. — Veja Moreira de olhar arregalado — Estranho ela chorar assim, ela já pegou o peito antes. Será que está sentindo dor? Será que dormimos em cima dela?
Moreira — Claro que não mulher! Ela é tão pequena que teria morrido se tivesse acontecido isso! Olha o meu tamanho perto dela? — voltando olhar a menina, quer pega-la. — Deixa eu acalmar ela. — Eu nunca esqueci! Aquele dia foi o pior da minha vida.
Dora — O pior dia da sua vida deveria ser hoje, que quase matou uma pessoa inocente por causa do Luiz e da Maria, e o que adiantou?
Moreira — Naquele dia eu sai de casa, preocupado com a nossa menina que ficou aqui chorando sem você saber o que tinha acontecido. Trabalhei o dia inteiro com o choro dela na minha cabeça, e tive que ouvir besteira do Geraldo.
Dora — Em vez de brigar com ele, porque não explicou o que tinha acontecido.
Moreira — Geraldo sabia que eu torcia para nascer um menino, e quis se engrandecer, só porque é pai daquele moleque, e sabe de uma coisa? Não vou deixar filha minha morar debaixo do mesmo teto que ele.
Dora entra na frente. — Nada disso! Não vou deixar você sair daqui e cometer outra besteira. Se a Maria saiu daqui com o Luiz, foi porque quis, e o Luiz vai saber cuidar dela.
Moreira — O Luiz não tem outro lugar pra levar a Maria, não ser na casa do pai, e eu não vou mesmo deixar a Maria ficar debaixo do mesmo teto que o Geraldo.
Dora — Meu Deus, Moreira, para e pensa. Amanhã quando você estiver mais calmo você procura o Luiz, conversa com ele e não com o Geraldo, porque como sempre vocês dois vão acabar brigando. Eu peço pela felicidade da nossa filha, não vai complicar mais ainda o que já aconteceu.
Na pensão, Adalberto termina de medir a pressão arterial da Maria, olha as pálpebras dela. — Já sentiu isso antes?
Maria — Sim! Mas não tão forte como agora.
Adalberto — Está sentindo enjoos?
Maria olha Luiz, depois Adalberto, e sorrindo pergunta — O doutor está achando que estou grávida?
Adalberto nada responde, olha Luiz, que ri — Não precisa me olhar assim, doutor, se a Maria estiver esperando um filho, com certeza não é meu.
Maria fica brava — Eu não estou grávida. Me senti mal vendo o mercúrio no chão, pensei que fosse sangue. Sei lá, me deu uma coisa ruim, não sei explicar! Foi como se eu visse uma pessoa morta, deitada de barriga para baixo, e o mercúrio representou sangue, escorrendo pelo chão.
Adalberto — Talvez, esteja muito nervosa, e a culpa foi minha deixar cair o vidro de mercúrio. Como fiquei indo e voltando, para o outro quarto, esqueci de avisar minha tia. — olha Maria — Perdoe-me pelo mal que lhe causei. Vou tomar mais cuidado da próxima vez. — olha a tia ao lado de Miguel — Devia tê-la deixado me ajudar tia. Assim, nada teria acontecido. Foi um descuido meu. Bom, preciso ir. — sorri desapontado — Caso precisar vou estar no hospital ou podem me chamar. — refere-se a Luiz — Bom, com certeza vamos nos ver muito por aqui.
Dona Linda — Eu acompanho você.
Luiz chama — Espere, doutor, quanto é a consulta?
Adalberto — Está de gozação comigo? Sua mulher quase desmaia por minha causa, e não fiz nada por ela e você ainda quer pagar? Bom camarada. Ficamos amigos, assim, você também me perdoa pelo incidente. Até mais ver. — e sai com dona Linda.
Miguel bate no ombro do amigo e também sai.
Adalberto para na sala.
Dona Linda fala com ele. — Tive impressão que você ficou preocupado com a moça.
Miguel chega ouvindo a conversa — Achei ela muito pálida. Bom, pode ser que esteja mesmo muito nervosa — olha Miguel — Ela sempre foi magra assim?
Miguel — Eu a conheci através do Luiz, e não faz muito tempo. Bom, parece que ela está bem mais magra desde a última vez que a vi. Mas porque o doutor está perguntando?
Adalberto — Pode ser bobeira de médico, mas pede para o seu amigo ficar atento na alimentação dela.
Maria, no lavabo se olha no espelho. Ela lembra o casamento de Custódio, quando Luiz sai da mesa, onde está sentado ao lado de Mirtes e Geraldo, e faz sinal. Ela espera ele sair do salão e também sai. Do lado de fora ele lhe estende a rosa. (Ele 13 e ela 12 anos)
Luiz alegre — Você está linda.
Maria sorri emocionada, cheirando a rosa.
Luiz — Quando a gente se casar, vamos fazer uma festa igual a esta.
Maria — Com muitas rosas?
Luiz — Como você quiser.
Maria — Vamos precisar de muito dinheiro. E depois, meu pai e seu vivem brigando.
Luiz — Se eles não concordarem com o nosso casamento, você foge comigo?
Maria rindo — Onde vamos morar?
Luiz — Daqui até lá penso nisso!
Maria volta a si, e lembra a promessa que fez a mãe, quando Dora descobre o namoro dela com Luiz. — Eu nunca vou envergonhar a senhora e o meu pai. Eu juro que não!
Luiz bate na porta. — Maria, você está bem?
Ela abre a porta, e o encara — Fiquei preocupado. Você estava demorando. — Ela abraça-o fortemente pelo pescoço e chora — O que foi, meu amor? Porque está chorando? Venha, vamos conversar. — Sentam na cama.
Maria seca as lágrimas — Você sabe que eu o amo muito. Sempre amei!
Luiz — Claro que sei! E nunca vou duvidar do seu amor por mim.
Maria — Lembra de quando conversamos no casamento do doutor Custódio?
Luiz sorri — Enquanto eu estava aqui a sua espera, também me lembrei disso!
Maria — Eu ainda guardo aquele rosa. — Abre a baliza, pega uma caixinha de madeira, abre e mostra a rosa seca.
Luiz — Por que guardou? — olha-a nos olhos — Prometo que um dia vamos ter uma casa, com jardim bem grande, e vamos fazer um roseiral.
Maria toca no rosto dele com carinho — Não vamos destruir nossos sonhos.
Luiz — Claro que não! Porque diz isso?
Maria — Será que não precipitando?
Luiz — Você está com medo?
Maria — Pensei bem, e não quero fazer nada contra a vontade do meu pai. Ele me disse que não é contra o nosso casamento. — se alegra — Lembra que você falou que o nosso casamento podia ser igual, ou, quase igual do doutor Custódio. Não precisamos tanto. Basta nossos pais concordarem.
Luiz — Ma eu não quero…
Maria — Faça isso por mim! Vamos tentar pelo menos mais uma vez. Não vamos destruir nossos sonhos por causa deles. Tenho certeza, que vamos encontrar muitas mais pessoas do nosso lado. Os dois são pouco para começarmos assim a nossa vida. Não é uma brincadeira que estamos fazendo, Luiz. É coisa séria, e sabemos disso! Então, vamos voltar na casa do meu pai e falar com ele primeiro… Sei que você não quer ajuda dele e do seu pai para nada, eu também não quero. Mas também não podemos negar eles fazerem parte de algo que vai mudar a nossa vida para sempre.
Luiz — E se o teu pai achar que devemos nos casar só quando eu terminar os meus estudos?
Maria — Nada e ninguém me impedem de ficar com você, não ser a morte, e se o meu pai achar que ainda devemos esperar, vamos disser a ele que nós nos amamos e que vamos ficar juntos, desde já, e voltamos para cá depois! Certo e confiante que não estamos fazendo nada de errado com, ou, sem os consentimentos deles, que não vão poder nos cobrar nada depois. Tanto o meu pai quanto o seu, querem o melhor a nós. Eu também quero o melhor a nós. O melhor para os nossos filhos. Porque eu quero ter filhos. Quero ser mãe e você vai ser um pai maravilhoso, e vamos querer o melhor para os nossos filhos. Quero ser uma mãe amora e responsável. Quero ensinar aos nossos filhos que a vida pode ser bela, quando fazemos tudo correto e com muito amor. Que a felicidade e o amor sempre devem estar á cima de tudo, só assim, vamos conseguir enfrentar as dificuldade que vão surgir no nosso caminhar, e acreditar que no fim tudo será recompensado. É isso que quero. É isso que desejo ao homem que amo. É isso que eu também espero para os nossos filhos. Um dia olhar para trás e dizer valeu a pena tudo o que plantamos.
Luiz sorri, coloca a palma da mão no rosto dela — Confesso que estou me sentindo um garotinho diante de uma mulher tão bela, tão certa de suas palavras. Certa daquilo que também deseja da vida. Tão segura e tão confiante no futuro.
Maria — O futuro a Deus pertence, mas temos que fazer a nossa parte, se desejamos um futuro melhor a cada dia. Então, vamos fazer por merecer esse futuro. Sem deixar mágoas ou rancor no coração das pessoas que também nos amam e querem o nosso bem.
Luiz — Ok! Você me convenceu. Vamos falar com o seu pai, e decidir com ele o melhor a nós dois. Mas antes, quero uma coisa de você, e tem que ser agora não vou esperar.
Maria — O quê?
Luiz encosta os lábios aos dela — Isso! Quero um beijo. Quero sentir o gosto da sua boca. — lentamente se beijam e se beijam. Luiz com emoção — Melhor a gente ir embora, antes que eu mudo de ideia e não vamos falar com o seu pai coisa nenhuma. Maria se afasta rapidamente ele puxa-a novamente — Só mais um beijo, depois vamos.
Maria foge — Nada disso! Você vai ter que esperar se quiser mais. Eu também vou ter que esperar. Deu para perceber que é bom. — abre a porta e corre.
Luiz deita para traz, na cama, suspira fundo e depois também sai.
Dona Linda, Miguel e outros que estão na sala, ficam surpresos vendo Maria chegar na sala, rindo.
Dona Linda — Tudo bem, Maria?
Luiz quem responde no lugar dela, abraçando-a por trás, pela cintura — Está tudo bem sim, dona Linda! É que decidimos fazer o certo!
Miguel que lia um livro, pergunta — Como assim, fazer o certo?
Luiz — Você vai ser o primeiro a saber. Espere eu voltar, ou, nós dois voltarmos.
Maria pega a mão dele — Vamos? — e saem.
Mirtes abre a porta.
Moreira observa Geraldo, sentado ao lado da mesa, aborrecido, ainda tinha em mãos a carta de Luiz.
Moreira fala com Mirtes – A senhora pode chamar o seu filho, e a minha filha também. Quero ter com os dois uma boa conversa de pai para filhos.
Geraldo – Não acredito que a tua filha aceitou fugir com o Luiz. Qual dos dois tem menos juízo? Meu filho ou a sua filha?
Moreira fala com Mirtes apontando Geraldo – Pelas palavras do seu marido, parece que os dois não estão aqui. Eu só vim confirmar! Amanhã quando o Luiz aparecer na fábrica eu converso com ele. Numa boa. A senhora pode ficar tranquila! Boa noite!
Geraldo – Moreira? – como ele não retorna, Geraldo sai atrás – Moreira, espere aí? Será que nunca vamos conversar numa boa também?
Moreira que chegava ao portão. – Você está com medo de quê? Que eu mando o seu filho pro espaço? Posso fazer isso ainda se ele não cuidar bem da minha filha.
Geraldo – Se eu soubesse a tempo que ele ia fazer a besteira de roubar a tua filha, teria impedido. Eles são duas crianças que ainda tem muito que aprender.
Moreira – Até que enfim concordamos em alguma coisa! E já que a minha filha fez a besteira de fugir com ele, a única coisa que não vai acontecer, é eu deixar ela morar debaixo no mesmo teto que você. Se o Luiz tivesse trazido ela pra cá, eu ia levar ela embora a força, e ele ia ter que ir junto se quisesse. Mas, vejo agora que ele tem um pouquinho de juízo.
Geraldo – O Luiz me deixou uma carta, foi até mal educado comigo. Quer saber o que ele escreveu na carta? Que não está nem aí pra mim e muito menos a você. Que não vamos separar os dois, caso sua filha aceitasse ir morar com ele, bem longe dessa pouca vergonha que existe entre eu e você, que não parecemos homens civilizados.
Moreira – Teu filho escreveu isso?
Geraldo – Quer ler a carta? Tem outras escritas a respeito de nós dois. Muito mais de mim que sou pai. Estou sendo honesto com você. Tanto que estou querendo lhe mostrar à carta. Depois que li, parei para pensar e o menino tem razão.
Moreira – Menino? Mas uma vez você usou a palavra correta. Será que esse seu menino vai saber cuidar bem da minha menina. Por que se ele não fizer isso…
Geraldo – Para, Moreira! Chega! Será que você não consegue ver, mesmo depois do que aconteceu hoje com o senhor Eduardo, e sua ameaça não amedrontou o Luiz, que foi na sua casa roubar a sua filha, debaixo do seu nariz, para provar que nós dois estamos errados? E se ameaçar o meu filho de novo, aí sim, a nossa briga vai ser feia. Por nada deste mundo quero perder o meu filho, perder o amor dele. E se você veio na minha casa, isso significa que ama a sua filha tanto quanto eu amo o meu, e já está na hora da gente se unir pela felicidade de todos. Se quiser botar uma trégua em tudo que aconteceu até agora, a porta da minha casa está aberta. – e sai.
Moreira segue-o, com o olhar, vê Geraldo deixar a porta aberta. Ele pensa, e volta.
Mirtes e Geraldo o vê entrar.
Moreira – Deixe eu ler a carta que seu filho escreveu. Por ela, vou tirar minhas conclusões se devo por confiança nele ou não. A palavra de um homem pode ser julgada pelo que ele escreve. É a prova certa do que ele diz.
Geraldo pega a carta encima da mesa, e lhe estende. Moreira percorre os olhos nas entrelinhas e rindo fala com Moreira. – Faltou você pegar o teu filho de cinta quando era criança, assim ele não teria escrito esta carta. A minha filha, eu tenho certeza que jamais escreveria uma carta desse tipo pra mim.
Geraldo – Quem sabe, ainda pego o Luiz de cinta, amanhã, quando eu chegar lá na fábrica.
Moreira ainda ria – Deixe eu acabar de ler a carta, e se ele escreveu alguma coisa a mais falando de mim, amanhã eu seguro e você bate.
E lê em voz alta…
“Pai, felizmente não dependo do seu dinheiro para viver, faz algum tempo e o senhor sabe disso. A partir de agora, faço da minha vida o que bem entender”.
Moreira encara Geraldo e volta ler a carta…
“Se um dia eu precisar da sua ajuda eu lhe peço. Se o senhor puder me ajudar, vou agradecer. Se não puder, meu amor pelo senhor não vai mudar”.
Geraldo puxa a cadeira e senta…
Moreira continua…
“Estou indo na casa do Moreira, esperar a Maria, no quarto dela, assim vou convencê-la fugir comigo, sem a interferência de outra pessoa”.
Moreira para Geraldo – Seu filho invadiu a minha casa!
Geraldo – Continue lendo…
“Se a Maria aceitar, vamos morar em uma pensão. Não vou permitir que o senhor Moreira também interfira em nossas vidas. Se vocês dois insistirem, vou convencê-la ir embora, quem sabe para outro país, assim, vamos viver o nosso amor bem longe da briga dos dois.
Moreira, quem senta, dessa vez, e volta a carta.
“O senhor Moreira tem razão em dizer que nada tenho para oferecer a filha dele, mas nada que eu possuir, um dia, de bens materiais, terá valor se a Maria não estiver do meu lado, e a única coisa que tenho, no momento, são as minhas economias e um quarto, numa pensão, onde juntos, vamos começar nossa jornada”.
Moreira suspira, pede um copo de água. Mirtes vai buscar, enquanto ele volta ler a carta.
“E pode ter certeza de uma coisa, pai, eu nunca vou morar debaixo do mesmo teto que o senhor, com a Maria… Tenho emprego garantido, e não vai nos faltar o que comer e um lugar onde podemos ficar, pelos menos por alguns anos. Não pretendo morar o resto da vida em uma pensão… Uma coisa é certa, o senhor nunca vai deixar de ser meu pai, como também a Maria nunca vai deixar de ser filha do senhor Moreira… Meus filhos com a Maria não vão deixar de ser seus netos. A única coisa, no momento, lhe peço, deixe-me viver em paz com a garota que amo… Por favor, não interfira na minha decisão… Forte abraço do filho que te ama muito. E diz pra mãe, que amanhã falo pessoalmente com ela”.
Moreira, muito sério estende a carta para Geraldo, que se mantem cabisbaixo. – Amanhã conversamos com o Luiz, e já que ele e minha filha estão juntos, é aceitar o casamento dos dois?
Bebe a água, se coloca de pé. – Como a vida é surpreendente? Muitas vezes, acabei dizendo a mim mesmo: Minha filha pode se casar com qualquer um que se interessar por ela, menos com o filho do Geraldo. E agora, depois de ler essa carta, vejo que a Maria não poderia escolher uma pessoa melhor. Pelo que eu entendi nas escritas do seu filho, não sou o único ter implicância com você. Seu filho também tem um pé atrás pela sua pessoa, em relação a felicidade dele. – olha Mirtes – Boa noite, minha senhora. Até amanhã, Geraldo. – e sai. Mirtes quem fecha a porta.
Geraldo, parado no mesmo lugar, ainda segura a carta – Onde eu errei com o meu filho, Mirtes? Eu não estou falando antes dele nascer. Estou falando do depois? Estou com o pressentimento que o Luiz está querendo me punir por algo que talvez, por descuido, deixei de fazer por ele.
Naquele momento, Maria e Luiz entram pela porta da frente.
Dora – O que vocês dois aprontaram?
Maria – Não aprontamos nada, mãe. Voltamos para conversar com a senhora e o meu pai. Onde ele está?
Dora – Saiu. Tentei segurar ele um bom tempo, porque estava nervoso, fui tomar banho, quando voltei seu pai não estava mais aqui. – Fala com Luiz – Deve ter ido na casa do seu pai, atrás de vocês. Ele botou na cabeça que não vai deixar a Maria morar debaixo do mesmo teto que seu pai.
Moreira chega e olha com espantado, o casal.
Maria – Pai, eu trouxe o Luiz para falar com o senhor, então, por favor, não vai brigar com ele. Se o senhor fizer isso, eu volto com ele para pensão.
Moreira – Tudo bem, Maria, não vou brigar com ninguém – se refere a Luiz – Li a carta que você deixou, e adorei cada palavra que escreveu. No fim, fiquei com pena do Geraldo. Se um filho meu escrevesse uma carta daquela, eu iria me sentir um ninguém diante dele, quando o olhasse novamente. E é exatamente assim que o seu pai está se sentindo, tanto que fez questão de me mostrar a carta, e não precisou me dizer nada, li nos olhos dele como se me dissesse: meu filho é livre pra fazer a escolha que bem quiser, independente eu ser pai dele ou não. A filha é sua, e a vida dos dois está em suas mãos. Eu pensei nisso, no caminho de volta para casa, e no fundo da minha alma, eu estava me sentindo igual ou pior. Porque hoje, depois do que aconteceu lá dentro do barracão, falei com a minha filha que não seria contra se casarem na hora certa, e senti como se as minhas palavras não valessem nada.
Luiz e Maria se olham tensos. Luiz fala – Seu Moreira eu que convenci…
Moreira – Deixe eu falar tudo o que quero primeiro. Depois você fala… Amanhã, provavelmente eu iria acusá-lo de moleque irresponsável que tirou a minha filha de dentro da minha casa para me defrontar, e com certeza, seu pai iria tomar as suas dores, então, foi bom eu ter ido na casa do seu pai. Ter lido a carta que você escreveu, e melhor ainda, você e minha filha estarem aqui para falar comigo. – E se refere a esposa. – Dora, foi verdade o que você falou para dona Amália ou quis proteger esses dois?
Maria – Aquela fofoqueira já veio aqui falar que estou grávida esperando um filho do Luiz, por isso nós dois fugimos?
Luiz – Posso garantir que a sua filha não está grávida seu Moreira. – ri – Bom, se ela estiver o filho não é meu.
Maria desapontada – Luiz, é a segunda vez que você fala essa besteira hoje. Eu não acredito que você está pensando nisso, pelo que aconteceu lá na pensão!
Luiz – Falei brincando, Maria, desculpa, eu confio em você.
Dora preocupada – O que está acontecendo?
Maria senta na cadeira emburrada e em lágrimas. – Nada mãe! Não está acontecendo nada. – olha Luiz – Já está tarde, melhor você ir embora. Amanhã vou na pensão pegar minhas coisas.
Moreira – O que aconteceu lá na pensão?
Luiz – A sua filha ela…
Maria – Luiz, por favor? Meu pai tem que trabalhar amanhã e você também. Então vai embora.
Luiz encara ela, depois Dora. Olha Moreira, rapidamente puxa a cadeira e senta. – Eu vou embora daqui depois que o seu pai marcar a data do nosso casamento, como nós dois combinamos lá na pensão.
Maria – Marca a data do meu casamento com o Luiz, pai, pra daqui 10 anos. – olha Luiz – Pode ser assim?
Luiz – Pode! Vai ser do jeito que você quiser. Por mim a gente se casa hoje, amanhã, daqui um mês. Um ano. Cinco. Dez ou cem anos.
Moreira – Dora, você está entendo alguma coisa, porque eu não! Será que podem me explicar o que está acontecendo?
Maria – O Luiz está pensando que estou grávida de outro homem.
Luiz pega a mão dela em cima da mesa e fala calmamente – Maria, não precisa falar assim. Eu pedi desculpas pela brincadeira.
Maria nada responde.
Luiz – Se eu brinquei com você sua boba, isso significa que iria brigar com qualquer outro, que disputasse comigo o seu amor, e não iria abrir mão, nem se você tivesse meia dúzia de filhos de outro. Seria capaz de adotar todos, como meu, só para ter o amor da mãe deles pra mim. – Maria sorri emocionada – Esse sorriso quer dizer que estou perdoado? E que aceita se casar comigo o mais rápido possível?
Maria – Daqui um ano está ótimo! Meu filho até lá já nasceu, e vou estar pronta para ser mãe de novo.
Luiz – Nada disso! Eu completo 18 anos daqui quatro meses e casamos em seguida.
Moreira – Oito meses, e não se discute. E faço questão de ser o melhor casamento que esta cidade já viu. – aponta a filha – Espero que você não esteja mesmo grávida, já pensou se casar com um barrigão? – ri – Ter um neto até que não será má ideia. – olha Dora – Ou uma neta. Tanto faz. Já que alguém lá em cima cortou a minha cota de filhos.
Maria – Pai, a mãe me falou diferente! Melhor não cobrar nada nessa altura da vida. Já pensou se a cota resolve descer, e na minha idade ter irmãos? Deixa o seu colo para os netos. Eu e o Luiz vamos ter uma porção de filhos, e eles vão precisar de muito colo. Ainda mais quando ele estiver trabalhando ou estudando, e eu sozinha cuidando deles. Sozinha não! O senhor e minha mãe vão me ajudar cuidar dos netos. – olha Luiz – Concorda comigo?
Luiz levanta e beija-a rápido na boca, sem ela esperar – Concordo com tudo que você quiser, minha princesa. Assino em baixo sem discutição. Agora vou embora. Amanhã, na hora do meu almoço pego você e vamos marcar a data do nosso casamento na igreja, para oito meses como quer o seu pai. – acena – Tchau para todos. Até amanhã Moreira. – e sai.
Dora depois de trancar a porta, olha Moreira cabisbaixo pensativo.
Maria ainda sentada no mesmo lugar também o olha – Meu pai está pensando em quê?
Moreira – Que vou dormir! Já é tarde. Amanhã é outro dia, então, vou deixar pra pensar amanhã o que eu não quero pensar hoje.
Maria – Meu pai está aborrecido comigo?
Moreira – Amanhã o bairro inteiro vai está sabendo que você fugiu com o filho do Geraldo, e eu estaria muito aborrecido se você não tivesse voltado para casa. Devo reconhecer que o Luiz é um bom rapaz e de muito juízo, e quero apenas uma única coisa. A sua felicidade. E o Luiz mostrou que vai te fazer feliz, eu não tenho dúvidas disso.
Maria abraça o pai com carinho. – Obrigada, pai! Agora vejo que fiz certo trazer o Luiz para falar com o senhor.
Moreira – Claro que fez! Esse foi o melhor presente que você podia dá para o seu pai, e como recompensa você vai receber a melhor festa de casamento. Eu tenho uma boa reserva pra isso e não importo de gastar o que for preciso. Mas vê se engorda um pouco, você está parecendo um esqueleto humano.
Luiz para de frente a porta da casa do pai. Ameaça bater, desiste, volta em direção ao portão e segue a rua. Logo depois entra na pensão.
Miguel, na copa, servindo um hospede, vai ao encontro dele e brinca. – Cadê a sua futura esposa? Não vai dizer que a devolveu aos pais!
Luiz – Exatamente isso.
Miguel fica sério – O que aconteceu? Por que fez isso?
Luiz – Maria quem me convenceu ir falar com o pai dela. Tentar uma trégua entre as brigas dele com o meu pai. E ela estava certa, eu não queria mesmo começar a minha vida com ela no meio de brigas. – sorri – Amanhã, sem falta, marcarmos o nosso casamento para daqui oito meses.
Miguel – Para quem fugiram marcaram a data longe até demais.
Luiz – Seu Moreira quem marcou, eu sugeri quatro meses, até lá já seria maior de idade, mas aceitei a data dele.
Miguel rindo – Melhor não discutir com o sogro! Você fez o certo! Mas e o seu pai o que falou?
Luiz – Não sei! Amanhã falo com ele. Bom, vou continuar com o quarto. – olha em volta – Dona Linda?
Miguel – No banho! Eu aviso ela que você voltou.
Luiz – Vou dormir, amanhã preciso estar na fábrica bem cedo. Boa noite.
Miguel – Há, Luiz espere aí? Como ela está? Maria não passou mais mal?
Luiz – Não! – sorri – Ela até ficou brava comigo por causa disso, na casa do seu Moreira! Eu não tinha visto a Maria tão brava antes. Ela tem o gênero do pai, esquenta fácil.
Miguel – Como você já conhece o gênero do sogro, vai saber lidar com a esposa muito bem, já sabendo que ela é assim! Mas, só perguntei dela por que o doutor Adalberto ficou preocupado com a saúde da Maria. Até me pediu avisar você para ficar atento na alimentação dela que está muito pálida, muito magra. Eu acho que ele não quis falar naquela hora por causa do incidente que o correu. O doutor ficou muito desapontado.
Luiz – Ele não fez de propósito. Entendo isso perfeitamente, e acabou deixando o quarto as presas, talvez por estar atrasado. Eu percebi que ele estava de saída quando chegamos.
Miguel – É! Ele me falou isso depois, que estava mesmo atrasado!
Luiz – Assim que eu ver o doutor converso com ele. Obrigado! Valeu! E vou ficar de olho na Maria no que puder, ela só vem morar comigo depois do nosso casamento. Mas, amanhã mesmo eu converso com ela. Espero não vê-la brava de novo, quando falar no assunto. – ri e vai para o quarto.