Estela caminha horas e horas pelas ruas. A noite, ela entra e sai por vários bares, no centro da cidade, mostra a fotografia a pedir informação. Já é tarde quando volta para casa de Beto. Entra pela porta da cozinha. Na sala, homens e moças se divertem entre jogos, bebidas e beijos.

Muito cansada e desiludida, Estela senta na ponta da cama. Volta olhar a fotografia. Seca as lágrimas que descem escorrendo pela face. Guarda a fotografia debaixo do colchão, e, mesmo com o som alto, consegue dormir. Em sonhos, ela se vê no corredor. Bate na porta do quarto de Raquel, e chama. — Raquel? Raquel, abre a porta?

Raquel, muito abatida, olhos fundos, aparece.

Estela preocupada ¬— O que aconteceu?

Raquel coloca a mão no alto do abdômen. — Estou com fome, preciso comer alguma coisa. — E segue em direção ao corredor.

Na cozinha. Pratos, talheres esparramados pelo chão. Estela se coloca de joelhos e começa pegar os cacos.

Estela olha Raquel, de pé, na sua frente e diz: — Antes que a morte levasse minha mãe ela me fez um pedido. Pediu que eu viesse procurar Custódio, e o ajudasse, caso ele precisasse. Acredito que minha mãe pressentia o que vinha acontecendo com vocês dois. Todo o tempo, ela dizia estar preocupada, por ele não levar você para que ela conhecesse, como prometeu que faria, depois do casamento.

Ela se coloca de pé, pega no rosto de Raquel, e acrescenta: — Raquel, agora entendendo o motivo da discórdia entre vocês dois, e vou ajudá-los. E digo mais: Você não está errada, evitando-o. Toda mulher sonha em ter o seu homem inteiro para ela. Mas para que possam encontrar a felicidade precisam se perdoar. Precisam pedir perdão um ao outro. Deixando que o amor fale mais alto. Se Custódio não a quisesse, não voltaria aqui. Ele sabe que vai sofrer, muito mais ainda se lhe perder, e terá que se jogar aos seus pés, de joelhos, e implorar perdão, caso você mude a vida que está vivendo. Custódio tem medo que você o troque por outro, como ele fez, trocando você por outra mulher. É ela que está destruindo a sua felicidade e não você.

Raquel nada responde.

Estela — Eu vou conhecê-la. Quero olhar nos olhos dela, e ver com os meus próprios olhos, se pelo menos ela é feliz, vivendo a mesma vida que você.

Raquel cobre o rosto com as mãos, e chora. Estela abraça-a, com carinho. — Chore, Raquel! Mas também faça a sua parte, sem cobrar nada dele, e um dia, Custódio vai entender que o seu amor é o mais importante que ele possa ter na vida.

Estela volta aos cacos no chão: — Bom, antes de ir conhecer a outra, preciso limpar toda essa sujeira.

Observando a louça quebrada ao meio, sorri e estende para Raquel. — A sua vida é exatamente como isto, que pode ir para o lixo e acabar em nada, como simples pedaços de cacos que não serve para mais nada. Mas, olhe…? — Junta os pedaços, e refaz o prato de porcelana. — Ficou perfeito.

Estela levanta, olha ao redor e coloca em cima da mesinha, em um canto da cozinha. Pega um vaso com rosas, cor diversas, e coloca no meio. — O que me diz?

Raquel observa a arte, e depois indaga, em lágrimas: — Não me de esperanças, Estela. Não acredito que a minha vida com Custódio, um dia será perfeita.

Estela pega-a pelo queixo, para que a olhe. — Nada, neste mundo é perfeito, Raquel! Muitas vezes precisamos juntar os pedaços e fingir que tudo vai acabar bem. O que não devemos é ceder espaços para a tristeza, e a felicidade repousará, sem medo, de ser mandada embora por qualquer motivo que seja.

Estela se agita na cama. Ezequiel sopra ao rosto dela, que volta a sonhar. Ela vê Raquel, sentada numa divã, na sala.

Raquel — Como ele é? Se parece com o pai?

Estela — Não! Acho que se parece com a mãe.

Raquel — Quero ver qual será a reação do Custódio, quando souber que você foi conhecer o filho dele? E estou feliz, sabendo que a criança não se parece com ele, assim, não vai ficará tão empolgado.

Raquel continua séria, enquanto Estela dá risada. — Não falei nada engraçado!

Estela — Raquel, se quer mudar, sorria, de gargalhadas mesmo quando não achar graça de nada. Isso faz bem à alma, e para o corpo também. — e ri novamente.

Raquel — Você vai conhecer o filho da outra, e me pede para rir? Não acha humilhação demais?

Estela — Comece aceitando o garotinho. Ele não tem culpa pelos erros que acontece.

No quarto, uma das moças, se coloca na cama de solteiro ao lado. Ela olha Estela que, dormindo sussurra: – Ele tão lindo!

Estela se vê apoiada em uma porta fechada, aos prantos. — O que foi que fizemos, Raquel? Muito mais você, que deveria tê-la defendido, por culpa disso uma pessoa inocente morreu e outra está desaparecida. Só Deus sabe onde e como ela e o filho estão vivendo.

Raquel tapa os ouvidos — Por favor, Estela! Não me culpe também por estes erros. Eu já me arrependi pelo que fiz, e sei que nada terá volta. Como podemos voltar o tempo, e reparar o que cometemos?

Estela — Não tem volta. Nada do que aconteceu tem volta. E não foi só nós duas que erramos.

Raquel — Quero acreditar que um dia tudo terá fim, e haverá um novo recomeço. Não perderei a esperança. Não terei ódio, não terei rancor, magoas em meu coração. Nem mesmo por Roberto. Ele é o responsável por tudo de errado que começou.

Estela com ar confuso — Roberto? O que lhe fez o Roberto?

Moça chama: — Estela, acorda.

Estela abre os olhos. Fica apreensiva.

Moça — Você está Bem? Estava gemendo. Conversando enquanto dormia.

Estela senta na cama. — Eu sonhava com Raquel. Pouco me lembro do sonho. Quando ela ia me falar o que Roberto fez, você me acordou.

Moça ri, enquanto volta para a cama. — Acho que posso lhe dizer o que o Beto fez com ela. Bom, na hora do jantar, falei a ele que eu ia levar o jantar dela. Beto não deixou. Disse que depois, ele mesmo fazia isso, já que você tinha saído. Acho que ele esqueceu.

Estela se espanta — Raquel ficou sem o jantar?

Beto – Sem o almoço também.

Estela levanta e sai em direção a porta. – Vou ver ela.

Moça – Espere, Estela? Ela está trancada no quarto, desde ontem, depois que Beto falou com ela.

Estela fica boquiaberta. Rapidamente sai. No quarto de Beto, ela chama: — Beto, acorda. Porque trancou Raquel no quarto?

Beto, bêbado e sonolento — Me deixe dormir, Estela.

Estela — Quero a chave. Onde está? — Ele nada responde. Ela insiste — Beto?

Eleonora, também sonolenta e bêbada, passa a mão debaixo do travesseiro de Beto, pega a chave e estende para Estela.

Estela — Obrigada, querida. Volte a dormir com os anjos.

Beto, sem se mover, chama: — Estela?

Estela volta olhar ele, que acrescenta: — Não me decepcione.

Ela sorri, beija ele nos lábios. — Jamais farei isso, meu amo. Você já sabe.

Não demora, Estela entra no quarto de Raquel, trazendo uma bandeja

Raquel aliviada. — Enfim, alguém se lembrou de mim. E belo conselho recebi de você. De aceitar o pedido do Beto para me tornar prisioneira dele?

Estela, desapontada – Raquel, não me lembro disso. Não sei o que anda acontecendo com a minha cabeça. Devo estar com amnésia.

Raquel — Essa doença pega? É contagiosa?

Estela, rindo — Claro que não!

Raquel, esfomeada começa a comer. – Que pena, assim queria esquecer muita coisa, principalmente o Beto me trancar. Não entendi nada.

Estela suspira – Talvez, para que você não mudasse de ideia e fosse embora.

Raquel coloca a bandeja do lado. – Estou indo agora ver os meus pais. Eles devem estar desesperados sem notícias minha.

Estela – Raquel, melhor não. O Beto…

Raquel — Estou nesse lugar porque quero. E já estaria bem longe daqui, voltando para Goiás, se você não tivesse me convencido ficar. Perdi uma oportunidade grandiosa.

Estela — Desculpa? Peço mil vezes desculpa, e, pode ir ver os seus pais, mas, Raquel, você promete voltar. Não coloque o Beto contra mim, eu não quero desapontá-lo. O Beto apareceu na minha vida, no momento, em que eu mais precisava de ajuda. Então, não coloque meu pescoço em risco.

Raquel encara os olhos da amiga.

Estela — Espere um minuto, eu já volto. Termina de comer, enquanto isso.

Raquel volta se alimentar. Estela logo retorna. Envolve um lenço ao redor da cabeça de Raquel e coloca um chapéu. – Usa esse disfarce para entrar e sair, e de preferência pela porta do fundo. Beto está tão bêbado que vai dormir praticamente o dia todo. Dá tempo de você ir e voltar, sem que ele perceba.

Raquel — Estela eu…

Estela — Por favor, volte. Bom, vou dizer a mesma palavra que o Beto me disse, quando peguei a chave. Não me decepcione. — coloca nas mãos dela dinheiro — Vá de charrete, assim não perde tempo esperando o bonde.

Raquel não demora sair na rua. Caminha rápido, e, sem o disfarce chega na periferia, no barraco onde mora os pais. Chama, e sem respostas senta na cadeira e chora ao recordar a conversa com a mulher que lhe daria carona.

Mulher — O caminhão já vai cheio, não tem como levar nada. Talvez, eu tenha que deixar algumas coisas para trás, para que vocês tenham maior espaço na carroceria.

Raquel ainda soluçava quando Manoel entrou. Ela fica surpresa em vê-lo. — Pai, pensei que tinham ido embora ontem, com aquela senhora.

Manoel — Esperamos você até tarde. Como não veio, ela seguiu viagem e decidimos ficar. Bom, pela tua mãe, a gente teria ido. ¬— mostra o pacote que tinha em mãos — Fui na padaria comprar um pão.

Raquel – Minha mãe, onde está? Não vai me dizer que ela aceitou ir sozinha.

Manoel — Não. Ela foi logo cedo conversar com a patroa. Ela havia dispensado as roupas que lavava.

Raquel – Não pude vir. Mas, não quero falar nesse assunto com o senhor. Não quero que fique preocupado.

Manoel pega, em um bule, pendurado no teto, um pacote de dinheiro. — Devolve esse dinheiro para o rapaz.

Raquel surpresa — Que rapaz? Que dinheiro é esse?

Manoel — O que esteve aqui ontem. Eu tinha saído. Sua mãe quem falou com ele. Se apresentou como Roberto Lacerda.

Raquel — Beto?! Mas qual razão ele vir aqui e dar esse dinheiro para a mãe?

Manoel — Pediu que eu e sua mãe fosse embora, e deixasse você continuar lá na casa dele. Que a gente não precisava se preocupar, que você ia ficar bem. Quando sua mãe me falou, estranhei. Você saiu daqui determinada voltar.

Raquel, volta sentar na cadeira. Se senti frágil — Beto me trancou no quarto, pai. Eu teria voltado para dizer que não ia mais embora. Claro! Estela está certa. O Beto ficou com medo que eu viesse e mudasse de ideia e fosse embora daqui com vocês. Eu só ainda não entendi o motivo dele vir aqui e trazer esse dinheiro.

Manoel – Como falei, pela sua mãe, a gente teria ido. Ela disse que sentiu firmeza no rapaz, e que você havia feito sua escolha. Eu mandei ela ir sozinha se quisesse. Eu ia fica pra ver com meus próprios olhos, se a minha fia estava feliz, com a escolha que tinha feito. Posso ver agora que não.

Raquel, em prantos, o abraça. — Sinto muito, pai, a gente ter que continuar aqui. Estou feliz pelo senhor não ter ido embora e me deixado sozinha nessa cidade.

O pai coloca o dinheiro na mão dela. — Leva o dinheiro de volta pro moço. Não quero o dinheiro dele. Quero que trate bem você. Que faça feliz. Porque ele falou pra sua mãe que pediu você em casamento. Que só precisa de um tempo, antes de marcar a data. Que você é uma moça especial que apareceu na vida dele.

Chegando na casa de Beto, Raquel mostra o dinheiro para Estela.

Estela — Estou surpresa com o Beto ter feito isso. Bom, isso prova ser verdade o pedido que ele lhe fez.

Raquel – Que confiança o Beto tem em mim, a ponto de me deixar presa neste quarto, quase vinte quatro horas? Estela, não quero ser prisioneira de nenhum homem. Eu vou devolver esse dinheiro a ele, e voltar pra casa do meu pai. Se o Beto tem mesmo interesse de se casar comigo, ele terá que ir lá e pedir minha mão em casamento ao meu pai.

Estela segura ela. — Não faça isso, Raquel. O Beto não vai deixar você ir embora. Mas, ele também não vai lhe fazer nenhum mal.

Raquel — O que está acontecendo?

Estela – Eu creio que ele só quis ir conhecer os seus pais. E como sabia, que eles pensam em voltar para Goiás, deu o dinheiro para ajudar. Isso mostra ele ser bem generoso.

Raquel — Você me convenceu ontem, hoje não me convence mais. Não vou me casar com o Beto. Não quero ser uma cativa dele. Ou será que não tenho opção de escolha? Depois que ele me trancou nesse quarto, pensei muito, e não é isso que quero. Não amo o Beto o bastante para me prender a ele, que também não me ama. Caso contrário, não pediria tempo. Apesar de quê

Estela — Tá bom! Raquel. Você me convenceu. Eu sei o motivo de o Beto não deixar você ir embora.

Raquel – Qual motivo?

Estela — Sinto muito em lhe dizer, você está nas mãos dele. Você e doutor Custódio, quando retornar da viagem e vier lhe procurar. Bom, se isso acontecer podem contar comigo, dou um jeito de tirar o Beto do caminho de vocês.

Raquel — Por que está falando isso?

Estela — Espere um minuto, eu já volto! — Entra no quarto e vê a cama de Beto vazia. Da escada vê duas moças, na sala, e pergunta: — Vocês sabem do Beto?

Moça que dormia com o Beto — Saiu pra rua. Faz meia hora.

Estela — Obrigada.

Ela volta no quarto de Raquel. — Prontinho!

Raquel — O que está acontecendo, Estela?

Estela — Isso se chama precaução! Prometi tomar cuidado com tudo que falar, assim, não falo nada que me comprometa. E, quando o Beto souber que você já sabe que doutor veio lhe procurar, antes de seguir viagem com a esposa, vai me matar.

Raquel balança a cabeça, espantada.

Estela continua — O Beto fez um acordo com ele, de que você vai estar aqui, intacta, esperando o doutor. Proibiu qualquer uma de nós falar a respeito disso com você. Então, não se iluda. Não acredite que o Beto está sendo bonzinho. Ele tem certeza que o doutor vai voltar a lhe procurar, e para levar você daqui, terá que pagar muito caro. E, quanto ir conhecer os seus pai é porque queria saber se a história que você contou a ele era verdade.

Raquel andou de um lado a outro, enquanto pensava. — Ainda bem que eu não estava aqui quando o doutor apareceu. Eu o mandaria voltar para a esposa.

Estela — Foi o que Roberto fez. E quer manter a palavra com o irmão. Outro dia, ele dormiu comigo e desabafou. Disse que o doutor estava se casando, apenas para construir uma família. Ter filhos… Então, minha amiga, comece pensar no que você realmente quer. Não é só o Beto, eu também acredito que o doutor volta a lhe procurar.

Raquel — Você é apaixonada pelo Beto, não é?

Estela — Raquel, não estou falando de mim e do Beto. Estou falando de você e do doutor. Vi com os meus próprios olhos, o quanto o doutor ficou agoniado, perturbado, quando não a encontrou aqui. Se tivesse encontrado, acredito que a lua de mel seria com você, e não com a esposa.

Raquel — É você ou a amnésia que está dizendo isso?

Naquele instante, Laura e Manoel andam no centro da cidade. Ela para quando vê Beto e Marta conversando no Bar.

Manoel — O que foi mulher?

Laura — Aquela mulher quem ofereceu o emprego fácil a nossa fia. E o rapaz é o que esteve em casa ontem.

Manoel indo em direção ao bar — Vou falar com ele.

Laura segura — Você pode colocar a nossa fia em perigo. Ela não falou que foi lá em casa, sem ele saber.

Manoel suspira, enquanto pensa. — Que a nossa fia me perdoa, caso ele fizer algum mau com ela, mas eu quero conhecer ele.

Laura segue o marido. Beto tomava uma bebida, quando os dois se aproximam.

Manoel procura ser educado — Boa tarde, moço. Boa tarde, minha senhora.

Beto lembra de Laura — Posso imaginar quem é o senhor. Ela é a mãe de Raquel.

Manoel — Sim! Ela é a mãe e Raquel é minha fia. Pelo menos a minha mulher diz que sim.

Laura, desapontada – Manoel?

Marta dá risada. — Gostei do senhor.

Beto — A senhora me disse que ia convencer o vosso marido. Pelo jeito…

Manoel — Rapaz, eu vou lhe dizer uma coisa. Muitas vezes, a gente faz besteira, sem pensar nas consequência. Falo isso da minha mulher. Ela odeia essa cidade… Resumindo… Viemo pra cá porque eu não andava bem de saúde, e o nosso sonho é de um dia vorta pra nossa Goiás.

Beto – Conheço essa história. Primeiro sua filha me contou, depois a sua mulher, tanto que dei a ela uma boa.

Manoel toma a frente – Quantia em dinheiro, e já mandei a Raquel lhe devolver. Se um dia, eu tiver outra chance de ir embora dessa cidade, vou só se a minha fia for junto. Não deixo Raquel pra trás, se ela não puder ir comigo, eu fico onde ela está.

Beto e Marta entreolham surpresos.

Casa de Beto, no quarto, Raquel e Estela ainda conversam.

Estela — O Beto não vai abrir mão da fortuna que ele quer tirar do irmão. E quer usar você para isso.

Raquel — Você não está exagerando?

Estela — Faça o teste. Quando ele chegar, entregue a grana. Caso, ele deu para a sua mãe, sem qualquer interesse maior, não vai se importa que você fique com o dinheiro. Eu duvido que o Beto deixe um centavo na sua mão. E se você ir embora desta casa, ele vai atrás de você onde estiver.

Raquel — Você está me colocando medo.

Estela — Eu, no seu lugar, esperaria o doutor voltar, e aceitaria ser a outra na vida dele. Ou, será que você não é forte o suficiente para enfrentar os desafios que surgirem no seu caminho, amando, e sendo amada por um homem como o doutor. Acredito que será melhor ser a outra, do que sujeitar a qualquer tipo de homem depois, para pagar a sua dívida que o Beto está deixando você acumular aqui dentro. Comece pensar em tudo isso. Bom, você pode dar o dinheiro que ele deu a sua mãe, em troca da sua liberdade.

Raquel — Tenho medo de sofrer por amor.

Estela — Quem nunca sofreu ou vai sofrer, pelo menos uma vez, por amor?

No bar, Beto volta se sentar ao lado do balcão. Tinha o pensamento distante. Marta lhe serve uma bebida.

Marta — Você manteve Raquel trancada no quarto, como disse o pai dela?

Beto toma a bebida em um só gole, e sai apressado.

No quartinho, dentro da banheira, Raquel toma banho sem pressa. Seus pensamentos estão ligados, no momento em que esteve com Custódio. Quando entra no quarto, enrolada na toalha, empalidece vendo Beto sentado na poltrona, esperando.

Beto — Como foi o seu passeio, minha querida Raquel? Conversou bastante com os seus pais.

Raquel — Como sabe que… Espere, você e a Estela estão juntos?

Beto se aproxima, a olha dos pés à cabeça. Ela cobre melhor os seios. Ele ri. — Você acha que um toalha iria me impedir de fazer amor com você, se eu quisesse?

Raquel — O que você realmente quer comigo?

Ele segura-a pelo queixo, com desejo de beijá-la na boca. A fisionomia pareceu ser de outra pessoa, imaginando jogá-la com força na cama, arrancando a toalha. Engole a saliva, ao se afastar.

Beto — Seu pai conversou comigo. A atitude dele me fez lembrar meu avô Eduardo Lacerda. Que foi capaz de abrir mão de uma grande fortuna, como único herdeiro do pai, para ficar com uma filha. Uma filha dele e de uma escrava. Eu sempre pensei, o meu avô ser único maluco fazer isso. – Volta olhar Raquel. Estende a mão. — Dê-me a grana que seu pai mandou me entregar.

Raquel pega debaixo do travesseiro o pacote de dinheiro e coloca na mão dele.

Beto observa o pacote, e depois completa: — Seu pai deixou de ir embora para Goiás, comprar um bom pedaço de terra e ser dono do próprio negócio. Preferiu continuar com a vida miserável que tem, para ficar perto da filhinha dele. – ri alto.

Ele ameaça sair do quarto. Torna olhar Raquel, intacta, segurando firmemente a toalha enrolada ao redor do seu corpo. Volta, pega a mão dela e coloca o dinheiro.

Beto — Eu gosto quando as pessoas são sinceras comigo. Pode ficar com a grana. Numa condições, que eu nunca venha perder tempo, em sair desta casa à sua procura. Eu encontro você, onde quer que esteja. Então, não brinque comigo.

Depois de segundo, e acrescenta: – Quando quiser ir ver os seus pais, você me avisa, eu faço questão de acompanhá-la. — sorri — Vamos nos casar em breve. Estou pensando em comprar um terreno e construir uma casa, isso leva tempo.

Beija-a na testa — Troque de roupa, está esfriando, não quero que fique doente.

Beto a deixa sozinha. Raquel senta na ponta da cama. Observa o pacote. Vai até um vaso, tira as plantas, coloca dentro o dinheiro e volta as flores.

Beto sai na rua. Logo depois chega próximo ao portão da fábrica. Parado na rua, observa. Ele vê Luiz chegar. Ele se esconde atrás de uma arvore para não ser visto. Assim que Luiz passa por ele, vai embora.

Luiz passa no barracão e cumprimenta todos. — Boa tarde, pessoal. Boa tarde, senhor Moreira. Oi pai.

Moreira boquiaberto olha ao redor: — O que esse moleque está fazendo aqui?

Geraldo para o filho que passa direto — Luiz, onde vai?

Luiz — Sou o novo funcionário da fábrica.

Moreira inconformado — Há, não! Já basta eu ter que engolir o pai, vou ter que engolir o filho também.

Geraldo, muito surpreso — Que história é essa moleque? Quem contratou você?

Luiz — O senhor Eduardo. Estou indo falar com ele.

Pasmo, Geraldo acompanha ele com o olhar.

Moreira tira sarro. — Fiquei sabendo, que tem alguém por aqui, que andou falando por aí, que o filho vai ser doutor. Acho que esse doutor acabou de ser operário, igualzinho qualquer um de nós.

Todos riem. Geraldo muito sério, observa-os e se afasta.

Na sala, Afonso e Dudu estranha a chegada de Luiz. — Pensei que fosse vir mais tarde. Não era para você ainda estar no colégio?

Luiz — Já fechei todas as matérias do semestre. Falei com o professor e ele me deixou sair mais cedo.

Geraldo entra na sala. — Com licença? — E fala com o filho — Que história é essa de você vir trabalhar aqui e não me contar nada.

Afonso — Luiz, você não falou nada para o seu pai?

Luiz se refere ao pai. — Desculpa, pai, eu não ter lhe dito nada. Bom, o senhor iria deixar eu vir trabalhar aqui?

Geraldo — Claro que não! Faz dez anos que venho trabalhando dobrado, guardando cada centavos que posso, para que você vá para uma universidade e você vem trabalhar aqui, como um operário qualquer.

Dudu ¬— O Luiz vai trabalhar no escritório comigo. Ele vai ficar no lugar do Roberto.

Geraldo — Mesmo assim, não estou de acordo. Isso pode atrapalhar os estudos dele, que devia ter falado comigo, antes de vir aqui.

Luiz — Pai, o meu trabalho aqui, não vai atrapalhar os meus estudos. Eu vou…

Dudu — Luiz, deixa eu falar com ele. Geraldo, vamos fazer uma acordo entre eu e você. O Luiz trabalha um mês aqui comigo, e se eu achar que ele não serve para a empresa, dispenso o serviço dele. Estamos combinado?

Geraldo pensa, olha Afonso, Dudu e aponta o filho — Veja bem o que pretende fazer. Não me decepciona na frente daqueles operários. Já que vai trabalhar aqui, que faça o seu melhor para merecer a confiança do senhor Eduardo e do pai dele.

Luiz solta um sorriso. Dudu também. Geraldo pede licença e sai.

Afonso se refere ao garoto — Luiz, não é à toa que tenho orgulho desse filho que Deus me mandou. Faça seu pai orgulhar de você também.

Luiz para Dudu – Obrigado, Edu. Isso é tudo que posso lhe dizer no momento.

Dudu — Já que está aqui, vamos começar.

Mostra a ele uma terceira mesa na sala. – Aqui é o seu local de trabalho. Quando decidi trabalhar com o meu pai, eu era mais novo que você. Tudo que ele me ensinou, vou repassar a você.

Afonso — Seja bem-vindo, Luiz. Em todos os casos eu também estou aqui para ajudar.

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