Na casa de Custódio. No quarto. Giza acorda passando mal. Senta na cama e chama Ba e Custódio. Sem resposta levanta e antes que chegue na porta, sente tonturas e cai batendo a cabeça na parede. Fica inconsciente.

Ela se vê descendo uma escada. Usa uma camisola transparente. Na sala, os homens gritam viva ao noivo.

Roberto Lacerda, fala a Custódio. — Pena que não a embrulhei com papel de presente.

Um dos companheiros grita: — Eu queria um padrinho desse.

Adalgisa, sorridente, abraça Custódio pelo pescoço. Ele a olha seriamente.

Roberto — Vai ficar aí parado? Dou minha palavra que ela é tão virgem quanto a sua futura esposa Raquel.

Adalgisa puxa Custódio em direção a escada. — Venha, comigo. Vou ser o presente que você vai amar pelo resto da sua vida.

Roberto para o amigo: – Não precisa ficar com ela mais que meia hora se não quiser. Aproveita bem a sua última noite de solteiro.

No quarto. Custódio, ainda surpreso olha Adalgisa dos pés à cabeça. Ela toma a iniciativa, ajudando-o tirar a camisa – Pode imaginar ser eu sua esposa. Marta me contou que se casa amanhã.

Custódio — Você é mesmo virgem?

Adalgisa — Nenhum homem tocou em mim, e aceitei a brincadeira por que… Bom, minha vida não é fácil. Meu pai está doente, falta de tudo em casa. Marta me procurou e me ofereceu uma boa grana. Seu amigo Roberto me pagou adiantado. — ri — Ganhei uma boa grana.

Custódio — Onde eles a conheceram? Você veio de onde?

Adalgisa — Marta é minha prima, e me procurou hoje de manhã. Ela sabe o que passamos e…

Custódio rindo — Tudo bem. Não precisa explica, já entendi! Não acredito que o maluco do Roberto levou sério a minha conversa.

Adalgisa cochicha aos ouvidos dele. — E amanhã, depois do seu casamento, vai ficar batendo papo com a sua mulher? Eu, com certeza, não vou se arrepender nunca ter aceito a proposta do seu amigo. Marta só não me falou que se tratava de um homem tão bonito. – e beija-o, no canto da boca, querendo seduzi-lo.

Custódio – Nunca devemos desperdiçar um bom presente, e você é um presente tentador. – vai pegá-la.

Adalgisa – Espere! Vou pegar uma bebida.

Ela se aproxima de uma mesinha. Disfarça, enquanto ele tira a roupa, abre a gaveta e pega um saquinho, com pó branco e despeja no copo, misturando com a bebida e entrega a ele, que bebe. Ela se joga em cima dele, na cama, e se divertem, entre sexo e bebida.

Casa de Roberto. No quarto.

Sem pressa, Raquel e Custódio, se entregam as caricias e beijos, se amando apaixonadamente.

Adalgisa, em sonhos, se vê na cama com ele, praticamente desmaiado. ¬— Dorme, meu querido. Quando acordar será todinho meu. Você e sua fortuna. Sua noiva não vai querer vê-lo nunca mais, depois que se ver sozinha na igreja, abandonada, no dia do casamento. — e abraçando o corpo dele, procura dormir.

Na sala, na casa de Beto, enquanto homens jogam baralhos e moças dançam. Beto, próximo ao balcão despeja bebida no copo, sem pressa toma, com o pensamento distante.

Estela, servindo bebidas aos visitantes, observa cada movimento de Beto.

Custódio e Raquel, depois de fazerem amor, abraçados dormem.

Giza, em sonhos se vê ainda na cama com ele. Custódio acorda. — Que horas são?

Adalgisa — Não tenho a menor ideia. Acordei agora também.

Custódio pega o relógio de bolso, na calça que ficou no chão, e, em sobressalto se coloca de pé. — Perdi a hora. Não devia ter dormido tanto.

Adalgisa segura ele — Espere?

Custódio se vestindo — Agora não! Minha noiva está me
esperando. Se eu correr ainda dá tempo de alcançar Raquel na igreja. – e sai colocando a camisa.

Adalgisa, decepcionada — Droga! Não era pra você ter acordado. — sorri — Nem tudo está perdido. Não vou ficar aqui me lamentado. Tenho um casamento para ir. — se coloca de pé e começa a se arrumar. Não demora entrar na igreja, faz sinal da cruz ao se aproximar do altar. Os olhos brilham de inveja e ódio, vendo Custódio tirar o véu que cobria o rosto de Raquel. Ele conversa com ela e a beija, com carinho, nas mãos. Adalgisa é a primeira a se aproximar do casal, e estende a mão para Raquel. — Felicidades no seu casamento.

Raquel, desapontada. – Não a conheço. Mas, posso imaginar quem seja pela roupa que está usando.

Adalgisa ri e procura ser gentil, enquanto fixa Custódio. – Sou apenas uma amiga que quis conhecê-la. — e fala com ele — Sua noiva é linda! Tem razão de estar apaixonado. Parabéns!

Giza, caída no chão, abre os olhos. Tenta ficar de pé, fraca cai novamente, e se vê, em outro quarto, tirando a maquiagem, e se assusta com Custódio abrindo a porta de uma vez.

Muito possesso, ele vai dizendo: — Quem lhe deu o direito de aparecer assim, no meu casamento, vestida como uma prostituta?

Surpresa, ela ri gostoso. — Acaso, vai me dar uma surra pelo que fiz? Adorei conhecer sua esposa. — e o abraça pelo pescoço, querendo beijá-lo, cai em cima da cama, sendo empurrada com violência para trás.

Custódio agarra ela, que se encolhe esperando apanhar. — Eu devia lhe dar uma surra, pela vergonha que me fez passar, diante da minha noiva e meus convidados. — se afasta — Não quero vê-la nunca mais diante de mim.

Adalgisa — Se for embora agora. Vou na festa, e me apresento como sua amante. Vou adorar ver a reação da sua esposa, quando souber que perdeu a hora da cerimônia, porque estava comigo.

Custódio volta, o corpo treme de ódio, ameaça lhe dar bofetadas, mas ela é salva pelo copo vazio, encima na mesinha ao lado da cama, ele pega e cheira: — Que tipo de droga você colocou na minha bebida?

Adalgisa gargalha.

Ele a segura pelos cabelos. — Não me faça perder a cabeça de vez com você, garota. Fiz uma pergunta, quero que me responda?

Adalgisa, mesmo gemendo de dor no couro cabeludo. — Sua noiva tem muita sorte. Aí. — ri — Era para você acordar só amanhã, e não com tempo de encontrá-la na igreja.

Custódio — Você é louca! Uma desvairada. Isso que é! — E a solta.

Ela corre na frente, fechando a porta, impedindo ele sair. — Se for embora, farei sim, o que falei. Direi a sua esposa o que significo, como ela também deve significar.

Custódio — Você não é nada! Não chega nem aos pés de Raquel, então, lave sua boca antes de se comparar a ela, que jamais será uma vadia como você.

Adalgisa, se mostra ofendida. — Não sou do tipo que você está pensando. Aceitei a brincadeira do seu amigo porque precisa da grana. Caso contrário, eu não estaria aqui!

Ele tira notas do bolso do casaco, e coloca-as entre os seios dela, ainda à mostra. — Prove ser uma moça do bem… Volte para a casa do seu pai… Compre os remédios que ele precisa, e quando estiver bom, mande-o procurar Roberto, que dará a ele um bom emprego na minha fábrica. Ele vai receber um bom salário, assim, não vai lhe faltar mais nada. Agora abre a porta e me deixe viver em paz, com a mulher que amo, sem você no nosso caminho.

Adalgisa examina o dinheiro, enquanto pensa, e se joga contra ele, agarrando-o pelo pescoço, entrelaçando as pernas ao redor da cintura: — Tudo bem! Tudo bem! Pode pensar o que quiser de mim, não me importo! Não quero brigar. Não quero ficar sem você. Fique um pouco mais comigo, antes de ir embora. Sei que pretende fazer uma longa viajem de lua de mel com a sua esposa.

E lhe dá beijinhos. — Se a minha presença, com a roupa que usei lhe incomodou tanto, a ponto de vir aqui tirar satisfações. Prometo ser fiel, ser sua amante perfeita. A melhor que poderá existir. — e beija-o com desejos salientes, querendo seduzi-lo.

Custódio a empurra de leve para trás.

Ela pede em murmúrios: — Não faça isso! Fique um pouco mais comigo! Esqueça a outra, pense em nós. Prometo que vou enlouquecê-lo de amor. — Solta-o, pisando ao chão, e leva as mãos, por dentro da calça dele que a empurra contra a parede, ficando no controle. Ela pede mais, cada vez mais, no objetivo de mantê-lo ao seu lado, e acaba adormecendo, horas depois, exausta e bêbada.

Ba, na casa de Custódio, acorda ouvindo barulho.

Cristovam quem abre a porta do quarto, onde, Giza está caída no chão.

Ba estranha. — Será que o doutor chegou a essa hora? Não, o doutor nunca faz barulho quando chega. Melhor eu ver o que acontece.

Ela sai da cama, e na sala, estranha vendo as velas acesas, na luminária. Indo na porta da frente encontra destrancada. — Será que doutor saiu ou não chegou ainda? Tem alguma coisa errada.

No corredor, Ba para vendo a porta do quarto do casal aberta. Decidida entra e encontra Gisa inconsciente, e o lado de Custódio, na cama, intacto. – Meu Deus, onde está o doutor? Ele ainda não voltou!

Giza, volta a reviver o passado, ela se vê sentada ao lado da mesa, na cozinha do bordel. Custódio estava diante um prato feito. Massa com molho de tomates.

Adalgisa querendo agradá-lo. — É meu prato predileto. Espero que também goste.

Custódio experimenta e saboreia. Ansiosa ela espera a resposta. — Como pode ser tão perfeita?

Adalgisa morde os lábios delicadamente, enquanto pensa numa boa explicação que pudesse pressioná-lo ainda mais. — O que diria, se eu lhe dissesse que me apaixonei por você desde o primeiro momento?

Custódio fita-a aos olhos, enquanto engole, sem pressa, o alimento. Depois pergunta: — Quer ser minha esposa?

Adalgisa, com espanto. — Esposa??! Claro que isso é brincadeira. Você tem esposa. Ou, o que vai fazer com Raquel? Melhor, o que dirá ela quando souber disso?

Custódio — Nada! Raquel não tem que dizer nada. Eu faço da minha vida o que bem entender. Mulher nenhuma manda em mim, e o que acontecer de agora para frente entre nós dois, será da minha maneira. Para começar, não quero ouvir falar o nome de Raquel comigo. Está bem assim?
Adalgisa sorri — Quanto eu ser sua esposa o que significa? Que vai me dar uma casa bem grande, linda, com muitos quartos, jardins, etc, etc?

Custódio — Para que você quer uma casa tão grande?

Adalgisa — Filhos! Como uma boa esposa eu quero lhe dar filhos. Ou, nunca pensou em ter uma porção de pirralhos lhe chamando de pai? — coloca a não no abdômen. — Quem sabe, já tem um aqui dentro de mim.

Custódio, sério fixa ela por alguns segundos. Termina de engolir o alimento: — Sim! Eu quero que você me dê muitos filhos. Vai ser bom, se já estiver um aí dentro de você. Amanhã de manhã vamos procurar a casa que você quer.

Adalgisa — Do jeito que eu quiser, e onde eu quiser.

Custódio — Isso, é o de menos agora para mim.

Adalgisa corre e senta no colo dele, e lhe dá beijinhos, apressados na boca. — Vou fazer de você o homem mais feliz deste mundo. Vou recompensá-lo com amor e muitos filhos. O quanto você desejar.

Custódio tira do bolso do casaco uma joia, e estendeu a ela: — O que me diz disso? Comprei de presente para Raquel. Ia entregar depois do nosso casamento.

Adalgisa — Você pediu para não falarmos nela. Então, não vamos falar. — Pega a joia, com satisfação. — É linda! É maravilhosa! Nunca vi uma dessa antes. Deve custar uma fortuna. — e quer colocar no pescoço. Custódio ajuda.

Ba retorna no quarto com outra pessoa. Pegam Giza e coloca na cama.

O espírito de Adalgisa, de pé, na sala, vê a pessoa saindo apressada pela porta. Ela vê Custódio chegar. Transtornado ele pega a garrafa de bebida e toma um gole.

Adalgisa — O que acontece, por que está assim?

Custódio, mal humorado — Você ainda me pergunta?

Adalgisa — Raquel! Você a procurou? – desapontada – Você me prometeu que não ia fazer isso!

Custódio pega-a pelo queixo, com força. — Eu já lhe pedi para não mencionar o nome de Raquel. E sabe por que fui procurá-la? Pelo filho que você é incapaz de me dar. Faz quatro meses que estamos juntos e onde está o filho que você disse estar dentro de você, desde a primeira noite em que ficamos juntos? — Mostra quatros dedos — Vou lhe dar mais quatro meses. O dobro dos dias que estamos juntos. Quatro meses, Adalgisa. Depois disso, se não me der notícias de que espera um filho meu, eu volto procurar Raquel. Vou fazer o que ela deseja. Vou pedir perdão, de joelhos se for preciso, e se Raquel me perdoar, eu deixo você definitivamente. Então, trate de me dar um filho, é mínimo que você possa fazer por eu perder o amor da mulher que amo.

Adalgisa o abraça pelo pescoço – Eu juro que vou lhe dar o filho que tanto quer. Não acredito que sou uma mulher seca, incapaz de gerar um filho. Vou fazer promessas, simpatias, tomar garrafadas, tudo que for preciso, assim, você não vai precisar se humilhar para ter o amor de outra mulher. Você tem a mim, e eu o amo. Tenho muito amor para lhe oferecer. – sorri – E depois, eu sou um presente que você ganhou do seu melhor amigo, e um presente não pode ser desprezado.

Custódio se afasta dela. — Um presente que desgraçou a minha vida, e se você não der a certeza que espera um filho, no prazo que lhe dei, e Raquel não me perdoar, eu mato você. Mato Roberto. Mato Raquel e depois acabo com a minha vida também, e vamos viver nos quatro no inferno, cutucando a alma um do outro, como Deus e o diabo permitir. — ameaça sair, para ouvindo barulho na porta, e estranha vendo Afonso, Eduardo e Noemi chegarem.

Custódio, dormindo, ao lado de Raquel, sonhando pergunta: — O que vocês estão fazendo aqui há essa hora da noite? O que aconteceu?

Na casa dele, Afonso coloca a mão, em Giza.

Noemi também pega nela – Será que está morta?

Dudu segura o pulso dela — Ela está viva.

Noemi — Querido, não é melhor levá-la para o hospital? Quem sabe Custódio esteja lá.

Ba — O doutor teria me avisado se tivesse ido para o hospital.

Dudu se lembra das palavras de Beto, lhe dizendo Custódio voltaria por causa de Raquel.

Afonso insistia com Ba — Custódio não avisou para onde ia?

Ba — Não senhor! Não tenho ideia onde ele possa estar.

Afonso se refere a Giza — O que será que aconteceu com ela? E o seu irmão, onde poderia ter ido?

Dudu — Acho que sei onde Custódio está, vou atrás dele.

Afonso sai atrás. – Vou com você.

Dudu — Melhor não, pai. O certo é o senhor ficar aqui. Eu não demoro.

Adalgisa se mexe, e se vê falando com Marta. — O que preciso fazer para ter um filho do Custódio? Eu não quero perdê-lo para Raquel. Eu tomo veneno se for preciso para embarrigar. Então, me diz o que faço? Se eu não der um filho a ele, Custódio vai procurar Raquel. Vai implorar, se humilhar para ter o perdão dela. E se ela resolver perdoá-lo, eu vou perdê-lo Marta, e eu não quero perdê-lo, muito mais ainda se ela der um filho a ele.

Marta – E se o problema estiver com ele? Custódio também não vai engravidá-la.

Adalgisa se anima: – Marta, eu não tinha pensado nisso. Se o problema é dele, mesmo que um dia procure Raquel, ele volta pra mim. Lembra o que me disse a respeito de um filho do Custódio, caso ele tivesse ido viajar com a esposa? Eu gosto dele Marta. Claro que não vou negar que também gosto do conforto que ele me dá.

Marta — E pensando nesse conforto, na segurança que terá pelo resto da vida, dando a ele um filho, você será capaz de fazer o que for preciso para mantê-lo do seu lado. Eu sei que o Roberto é louco para colocar a mão na grana do amigo, então, não vai pensar duas vezes em deixar um filho dele, herdar toda a fortuna que Custódio tem.

Adalgisa — Eu tenho outra saída?

Marta — É pegar ou lagar minha querida.

Adalgisa — E se eu não engravidar, corro o risco de perder Custódio, descobrindo que o problema é meu, ou, resolvo minha vida para sempre. Agora se o problema for do Custódio. Será que Raquel, a mulher que ele ama tanto, tem coragem de dar a ele um filho, como eu tenho? – ri com satisfação – Não! Raquel não ama Custódio, se amasse, ele não estaria comigo. Quem ama perdoa. E se ela é incapaz de perdoá-lo, é porque não ama.

Marta — Raquel não precisa do dinheiro do Custódio, como você precisa. Raquel nasceu em berço de ouro, e não precisa implorar pelo amor de um homem como Custódio para ter conforto, segurança, como você faz. Ela sempre teve tudo isso, vindo do pai. Essa é a diferença que existe entre você e Raquel, e Custodio sabe disso! Ele sabe que não precisa comprar o amor de Raquel com o dinheiro que tem.

Adalgisa fica de costa para a prima. – Queria ver se ela estivesse no meu lugar! Duvido que não iria fazer o mesmo para ter uma vida melhor. Ela iria implorar o amor dele, para ter tudo que deseja na vida.

Marta – E você, o que faria se estivesse no lugar de Raquel?

Adalgisa – Eu, filha de um milionário que não precisasse se preocupar com absolutamente nada. Ter em meu poder apenas conquistar um homem como Custódio com o meu amor? Eu iria desejar a morte da outra! Juro que iria ter o prazer de vê-la morta, enterrada, assim, Custódio ficaria livre para mim, sem a outra no nosso caminho para atrapalhar a nossa felicidade.

Marta bate as mãos – Acorda para realidade, Adalgisa? A outra é você, e é Raquel que não quer Custódio. Roberto esteve com ela. Conversou com Raquel. Ela está morando sozinha. Os pais estão viajando, e não sabem quando retornam. Custódio mandou os dois viajar no lugar dele e de Raquel, que passou a fazer todos os deveres da casa. Ele colocou Raquel para baixo. Raquel está sem os pais que bajulou a filha desde quando nasceu. Raquel está lavando as roupas se quer limpa. Cozinhando se quiser comer e limpando o chão que pisa. E tem mais! São ordens também do Custódio o escravo que cuida do jardim vigiar Raquel vinte e quatro horas. Se ela arredar o pé da casa, o escravo tem que contar para o patrão.

Adalgisa — Não acredito no que está me dizendo.

Marta — E não foi através do Custódio e muito menos de Raquel que Roberto ficou sabendo. Quem contou pra ele foi a escrava que trabalhava na casa. Custódio mandou ela ir trabalhar na fábrica, e de vez em quando, manda ela ir ver como Raquel está vivendo. Cada vez, que a escrava volta, dizendo que Raquel está se saindo bem, Custódio fica louco da vida. Ele pensou em punir Raquel, acreditando ela pedir socorro, mas não, Raquel está firme, não se dá por derrotada. Quando Roberto ficou sabendo, foi correndo visitá-la. Ele também pensou que encontraria Raquel descabelada, desorientada, por não saber fritar um ovo, mas não, Roberto ficou surpreso quando a viu melhor do que imaginava. Colocou ele pra correr, quando lhe ofereceu o ombro amigo pra chorar. A única coisa que falta Custódio tirar de Raquel é o alimento que manda a escrava levar na casa toda semana. E sabe por que Custódio não faz isso? Ele sabe que Raquel vai preferir morrer de fome, do que se entregar à ele, que sabe, que se quiser ter o amor de Raquel, terá que implorar perdão, e olha lá, se não for de joelhos.

Adalgisa desapontada senta na diva – Então, essa é a razão dele me dizer que vai fazer o que Raquel quer. Que vai implorar de joelhos o perdão dela. E ele vai fazer isso, Marta! Custódio vai se humilhar para ter o amor daquela mulher e comigo ele não precisa fazer nada disso! E se o problema dele é ficar comigo por um filho, eu vou dar esse filho a ele.

Adalgisa se vê diante de Roberto, rindo ele lhe diz: – Deixe ver se entendi? Custódio pediu um filho para continuar vivendo com você, e esse filho não deu sinal de vida.

Adalgisa – Como vou saber se o problema é comigo ou com o seu amigo se não fizer o que tem que ser feito para descobrir? E você vai me ajudar arrancar Raquel do caminho do Custódio, de uma vez por toda, já que me ajudou a destruir a felicidade dele.

Roberto ri – Adalgisa, você acha que um filho seu vai conseguir separar Raquel e Custódio? Você está completamente enganada. Custódio jamais vai abrir mão do amor que tem por Raquel por um filho. Eu conheço ele muito bem. Custódio ficou maluco por ela desde a primeira vez que a viu, e se ele exigiu um filho de você, tem alguma coisa muito séria atrás disso. Algo que eu desconheço.

Adalgisa – Custódio me deu um prazo, e se eu não der notícias de que o filho está a caminho, ele volta procurar Raquel, e se ela não perdoá-lo, ele mata você. Mata a mim. Mata Raquel e depois a ele. Eu acredito que ele fala sério. Você quer o quê? Ariscar ter um filho comigo, ou ser morto pelo seu amigo? Eu não estou a fim de morrer, caso Raquel não aceite o amor dele.

Roberto solta gargalhadas: — Eu vou adorar ver um filho meu herdar toda a fortuna que Custódio tem. Espero que o problema não seja seu, porque minha mulher tem quatro filhos, e sei que ela não fica engravidando por aí.

Adalgisa se vê na cama, com o bebê nos braços. Acabava de dar à luz. Custódio de pé, um pouco afastado observava os dois. Ela amedrontada pergunta: — Por que vai dar ao nosso filho o nome do seu amigo Roberto Lacerda?

Custódio — Quero sempre olhar você e o menino, e lembrar que os dois. Você e Roberto quase acabaram com a minha vida.

Adalgisa – Por que está falando assim?

Custódio nada responde. Ameaça deixar o quarto, mas, retorna com ela perguntando, em lágrimas – Você não vai conhecer o seu filho? Nem chegou perto para ver o rostinho dele? – força um sorriso – Ele é tão lindo!

Custódio pensa, se aproxima, senta na ponta da cama e puxa o pano, que envolve a criança. — Não vou culpar o menino pelos nossos erros. Não devo fazer isso nunca! – sorri – Ele já me deu um pouco de sorte. Raquel não me perdoou totalmente mais está me aceitando. Então, nunca vou perder a esperança de receber dela o amor que ainda sinto em meu coração.

Adalgisa chora: – Você está querendo me dizer o quê?

Custódio – Isso mesmo que você entendeu! Estou voltando
definitivamente para a mulher que amo, e é com ela que eu quero viver o resto da minha vida… Não vou desamparar você e o menino. — se coloca de pé, já saindo — Volto qualquer hora para ver como estão vivendo.

Lágrimas brotam no canto dos olhos de Giza, estirada na cama. Noemi, percebe e chama: — Gisa, você está me ouvindo?

Afonso — Eduardo está demorando, será que não encontrou Custódio ainda?

Noemi — Eu ainda acho que devíamos ter levado ela para o hospital.

Afonso desapontado — E vamos falar o que quando chegarmos lá? Que o marido dela, é médico, e não estava em casa quando ela passou mal, e ninguém sabe do paradeiro dele.

Noemi faz um chamego no rosto do esposo — Desculpa. Uma coisa é certa. Custódio deve um grande motivo para fazer isso. Conhecemos ele desde menino, e sempre foi atencioso em tudo.

Giza volta reviver o passado. Ela se vê, ao lado da escrava, trocando o bebê. Estela entra no quarto, e se encanta com a criança. Adalgisa, sem nada entender pergunta para a mucama, que chega com moça. — Quem é ela?

Mucama – Disse ser irmã do patrão.

Estela – Sim! Custódio é meu irmão. Ele me falou do bebê. Fiquei curiosa para conhecer o meu sobrinho. Não resisti. – pega no pezinho do bebê – Ele é uma graça. Muito lindo.

A criança chora. Adalgisa pede para a escrava – Agasalhe logo ele, que está com frio!

Estela – Deve estar mesmo. O pezinho dele está roxo. Um só. Que engraçado!

Adalgisa — É uma mancha de nascença.

Estela para a pajem: – Posso pegá-lo um pouquinho?

Adalgisa pega a criança, primeiro: — Está na hora da mamada, ele está com fome.

Estela – Desculpe, eu sou um pouco intrometida mesmo. Meu irmão sempre briga comigo por causa disso. Ele não falou de mim a você?

Adalgisa – Sim, falou, quando você veio morar na casa dele.

Estela – A casa não é só dele, é minha também! Quando nosso pai morreu, Custódio resolveu morar na Capital. Ficou com toda herança para montar a fábrica, e eu sou dona da metade. Fiquei, apenas, com alguns joias, que eram da minha mãe. Ideia do Custódio, sabe, ele é muito preservado. Disse que, caso desse errado a fábrica, assim, eu não perderia tudo. Então, Custódio sabe que tudo o que ele tem, metade me pertence.

Adalgisa fica surpresa: — Ele não disse nada sobre isso.

Estela — Isso faz diferença?

Adalgisa — Seu irmão não fica comentando a vida particular dele comigo? – solta um ar alegre — Raquel, sua cunhada como está? Ela está bem?

Estela ri: – Engraçado… Você acabou de dizer que meu irmão não fala da vida particular dele com você, que acabou de me perguntar de Raquel. Você fez essa pergunta para saber como Raquel ficou depois que soube que o filho do meu irmão nasceu? Quer saber? Raquel está mal! Estou aqui por causa dela, e pelo meu irmão também

Senta na ponta da cama e continua: – Antes de minha mãe morrer ela me pediu para vir morar com Custódio. Saber o que estava acontecendo de errado com ele. Ela estava doente e não podemos vir no casamento do meu irmão que ficou de levar Raquel em Goiás para minha mãe conhecer. Custódio não apareceu, e assim que minha se foi, eu vim para São Paulo, cumprir a promessa que fiz a ela. De ajudar o meu irmão, caso estivesse com problemas. Pela felicidade dele eu estou aqui. Eu não vi alegria nos olhos dele, quando falou do filho. Foi por isso, que resolvi conhecer o meu sobrinho. Eu quero entender porque que meu irmão está tão infeliz. Eu o amo muito, e daria metade da herança que meu pai me deixou, em troca de ver o meu irmão feliz. Deus sabe que estou falando a verdade!

Adalgisa — Por que está me dizendo tudo isso?

Estela – Se meu irmão estivesse feliz ao seu lado, ele não iria procurar Raquel. Muito menos depois que o filho dele nasceu. Você não concorda comigo?

Adalgisa — Você ainda quer segurar o seu sobrinho?

Estela se alegra: – Sim!

Giza, se vê em desespero, correndo no barracão da fábrica. Ao entrar no escritório fica surpresa vendo Raquel com Custódio. Indo em direção a ela, arranca o bebê dos braços de Raquel, enquanto fala com Custódio. – Essa mulher é uma louca. Ela roubou o meu filho, sem que eu percebesse. Me falaram que ela andou rondando a minha casa. Eu vim direto para cá lhe dizer o que tinha acontecido. Não pensei que ela estaria aqui com o menino.

Custódio – Entregue-o de volta para Raquel? Eu que pedi a ela que buscasse o menino. Achei que Raquel não teria coragem de fazer isso, mas ela teve. Ela tirou o menino dentro de casa, sem que você perceber. Isso significa que você não serve para ser mãe de um filho meu.

Adalgisa entra em desespero: – Eu o deixe sozinho por alguns minutos. Não imaginei que a louca da sua mulher fosse entrar lá e pegar o menino. Mas, eu juro que isso nunca mais vai acontecer.

Custódio – Não vai mesmo! Raquel provou que pode ser uma mãe melhor que você. A partir de agora, Raquel vai cuidar do menino. Ou, será que existe alguma coisa que impede um filho morar com o pai? Porque ele é meu filho. Ou não é?

Adalgisa fixa Raquel, antes de confirmar: – Sim! Claro que ele é seu filho.

Custódio pega o menino e entrega-o a Raquel. – Leve-o para casa. Cuide dele como se fosse nosso filho. Meu e seu. Vou providenciar uma ama de leite, e levarei em seguida para que possa alimentá-lo. Daqui a pouco estou em casa. – Raquel observa Adalgisa chorando, e depois sai levando o bebê.

Adalgisa chora — Você não pode fazer isso comigo! Não pode tirar o meu filho de mim. Eu tenho sentimentos de amor por ele.

Custódio, saindo – Fique chorando aí o tempo que quiser. Estou indo comprar uma ama de leite para o menino. Quando eu voltar, não quero encontrá-la aqui.

Adalgisa, em casa, descontrolada andando de um lado a outro, fala com Marta. — Eu perdi até mesmo meu filho para ela. Custódio me usou para dar um filho a ele, que é incapaz de engravidar a mulher que ama.

Marta – Para com isso, Adalgisa? Pare e pense melhor. Leve pelo lado bom. Custódio lhe deu metade da fortuna dele, e olha que não é pouco, e sem que você precise agora, ter o trabalho de ficar pajeando o seu filho.

Adalgisa chora: – Será que você não tem sentimentos! É do meu filho que estou falando.

Escutam batidas na porta. A escrava atende. Raquel, transtornada, se aproxima de Adalgisa e lhe entrega o menino. — Desculpe, por levá-lo daqui.

Adalgisa pega o filho. – Custódio?!?

Raquel — Está chegando. Eu mandei recado, dizendo que estava lhe devolvendo o menino. – em prantos observa o rostinho da criança – Seu filho é tão lindo. Eu vou guardar para sempre, em minha memória, as lembranças dele, nas horas em que ficou comigo, como um filho que passou na vida de uma mãe, e a morte o levou, deixando apenas a dor e a saudade.

Adalgisa também se emociona: — Obrigada, por devolver o meu filho. Pensei que jamais o teria de volta. Confesso que já fiz muita coisa errada na minha vida, e nada foi comparado a dor que senti, pensando que tinha perdido ele para sempre. Senti um desespero tão grande, quando não o encontrei no berço. Descobri, em poucas horas, que o amor que tenho pelo meu filho é maior que tudo nesta vida.

Custódio entra falando com Raquel — Que História é essa, Raquel? O que está fazendo aqui com essa criança?

Sem pressa, Raquel seca os olhos. Solta um sorriso forçado, falando com Adalgisa. — Cuide também, do pai do seu filho. Eu vou deixá-lo livre para se casar com você. Cuide bem dos dois, por mim.

Custódio segura ela, quando passa por ele. — Raquel…

Raquel — Por favor, não me diz nada. Eu reconheço que os meus erros, foram maiores que os seus, para chegarmos ao ponto em que chegamos. Definitivamente estou saindo da sua vida, para deixá-lo viver com a mãe do seu filho o tempo que Deus permitir. Então, por favor, em nome do seu filho, não me procure mais.

Custódio — Adalgisa sabe que é você quem eu amo. Sempre soube.

Raquel — Se eu pudesse voltar o tempo, daria a minha vida, em troca da sua irmã viver novamente.

Custódio chora: – Raquel, eu perdi…

Raquel – Não! Por favor, não diz nada! Eu prefiro não saber o que realmente aconteceu. Vamos deixar como está. Deus é testemunha de tudo o que aconteceu. Sua irmã também sabe, e nada que mudarmos agora, vai trazê-la de volta. Fique com o seu filho. Pela sua irmã, vamos deixar tudo como estava antes.

Adalgisa boquiaberta, ainda com o filho nos braços, ouvia.

Raquel – Custódio não mandou eu pegar o seu filho. Você tem que saber da verdade. Agi por vontade própria. Pensei que seu filho pudesse ser o filho que neguei meu marido deixar dentro de mim na primeira noite que seria nossa. Pela minha estupidez, Estela pagou caro com a vida dela. – e rapidamente sai.

Adalgisa — O que aconteceu com a sua irmã?

Custódio, parado no lugar, cabisbaixo e olhos fechados, responde: – Por culpa de Roberto; sua culpa; de Raquel e minha, eu a matei.

Adalgisa senta para trás na diva, e chora. — Meu Deus, eu não queria isso! Eu não queria que ninguém morresse, eu só queria você e o seu dinheiro, admito, eu não queria mortes. – Aproxima-se dele – Você também matou Roberto? Eu soube que ele foi encontrado morto. Foi você quem o matou?

Calado, Custódio observa o filho chorando no colo da mãe, e depois segui em direção a porta.

Adalgisa – Espere? — Vai até ele e lhe estendeu a criança. – Leve seu filho com você. Leve o de volta para Raquel. Ela o merece muito mais que eu.

Custódio — Meu filho?!

Adalgisa — Sim! Dou minha vida em troca da sua felicidade com a mulher que você ama se não estou falando a verdade!

Custódio encara-a aos olhos, e vagarosamente pega o bebê, e sai levando com ele.

Adalgisa fecha a porta.

Marta — Meu Deus, Adalgisa! Como que você pode fazer isso? Você sabe que Custódio não é pai do seu filho. O menino é a cara do Roberto. Sem dizer que tem no pé, a mesma marca de nascença que Roberto tinha. E depois, você não estava chorando, lamentando, querendo o seu filho de volta? Eu não entendi a sua decisão.

Adalgisa — Ele pode não ser filho do Custódio, mas é meu filho, e um dia vai herdar toda a fortuna do pai. Isso é tudo o que importa a mim.

Marta ri — Você não é nem um pouco burra.

Custódio, dormindo ao lado de Raquel, volta no tempo, através de sonho, se vê ao lado dela, estirada na cama, debilitada.

Custódio, em desespero — Por que está fazendo isso com você? Não faça isso comigo, Raquel! — e chora. Os dois escutam o choro do bebê.

Raquel, sem forças pede: — Volte para a mãe do seu filho. Leve-o daqui. Eu não quero vocês dois perto de mim. Volte para ela. Cuide dela e do seu filho.

Custódio pula na cama, acordando, com batidas na porta.

Raquel também acorda assustada.

Beto chama: — Custódio, Raquel abrem a porta?

Dudu também: — Custódio?

Custódio — Estou indo! – coloca a roupa e abra a porta.

Beto brinca: — Passou a noite inteira com Raquel, doutor. Vai querer passar o dia todo também?

Custódio — Que horas são?

Dudu — Ainda é cedo, o sol acabou de sair.

Custódio — O que está fazendo aqui?

Dudu procura amenizar a tensão que sente. — Melhor vir comigo.

Custódio — O que aconteceu?

Dudu — Sua esposa, ela não está nada bem!

Custódio olha Raquel, e sai. Beto e Dudu também observam.

Raquel, envergonhada: — O que aconteceu com a esposa dele?

Dudu — Está inconsciente! Agonizou a noite inteira, enquanto meu irmão se divertia com a senhora. — Coloca a mão no ombro do irmão. — Retire tudo o que falei naquele dia, Beto. Custódio tem menos juízo que você. A gente se vê, meu irmão. Estou indo
trabalhar.

Beto continua parado, fixo em Raquel: — Como você soube ontem, que Custódio tinha chegado na casa?

Raquel nada responde.

Beto ri. — Espero que tenha aproveitado bem à noite, minha querida. — e sai.

Raquel suspira profundo, fecha a porta e volta para a cama.

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