Cristovam, depois da visita de Ezequiel, segue pelo portal que se abre no tempo, era noite, quando ele se aproxima da mulher, estirada na cama, e chama-a pelo nome “Sara”. A mulher abre os olhos, e se alegra ao reconhecê-lo.

Cristovam. — Como vai, meu amor?

Sara — Melhor agora vendo você.

Cristovam lhe estendo as mãos. — Está chegando a sua hora. Deve se juntar a mim. Tudo o que foi destinado para nós, já vivemos, sem deixarmos erros para trás. Toda a nossa missão foi cumprida.

Sara observa a filha dormindo, na cama, ao seu lado.

Cristovam completa: — É também chegado a hora de Estela buscar os caminhos que estão reservados a ela. Peça a nossa filha que vá para junto do irmão. Estela, está destinada em ajudar Custódio com a esposa. Eles precisam de ajuda para reparar contratempos que estão enfrentando. Ao lado do irmão, Estela encontrará aquele que um dia, na passagem para a vida terrena, cultivaram juntos, à flor da vida, dando assim, oportunidades de vidas a outros que virão depois. — sorrindo acrescenta: — Lembra-se que foi também assim entre nós dois?

E ambos, buscam no íntimo da alma, o momento em que a flor da vida desabrocha no jardim universal, após ser cultivada por ela e Cristovam.

Com emoção recíproca, ele tocou-a no rosto com a palma da mão. Os jovens espíritos foram transportados para uma sala iluminada.

Ezequiel, entre eles, descreve: — Diante aos olhos de Deus, ambos se tornaram Almas Gêmeas. Esta união, um dia, também será reconhecida na terra.

Cristovam, segurando a mão de sua amada — nascemos, crescemos e nos encontramos nos caminhos da vida. Lembra-se de como foi nosso encontro terreno?

Sara, em largo sorriso — Nunca esqueci um só instante, em toda a vida em que vivi.

Ambos, voltam buscar no íntimo de suas memórias o encontro terreno. Ela, moça caipira. Dentro do chiqueiro limpa os cochos para dar de comer aos porcos. Ele, moço da cidade, bem vestido e humorado, chega no sítio. — Oh, de casa. Tem alguém aqui?

Sara, em meio aos barulhos dos animais, não escuta. Ele, ao ouvir ela falar com os porcos, segue o caminho. Boquiaberto, com o coração disparando no peito, retira o chapéu para ver melhor a moça que pegava o cesto com alimentos. Sara se assusta com a presença dele, e cai no chão, com cesto e tudo. Cristovam corre para socorrê-la, ajudando a ficar de pé. Sara pisa em uma banana madura e escorrega. Teria caído de costa, se Cristovam não fosse mais rápido, segurando-a, em tempo, atarracando-a pela cintura.

Pai da moça, sujeito choco caipira, não sabendo o motivo do agarramento, grita com o casal. — O que tá acontecendo aqui?

O casal, preso um ao outro, entreolham em espanto. O homem aponta a espingarda e grita com o rapaz. — Pode casa com ela, agora. Ou, pensa que só vai difama a honra da minha fia?

O rapaz treme junto às palavras. — Casar, com ela, agora?!

Pai — Casa ou morre! A escolha é sua.

Cristovam — Eu caso! — e lasca um beijo na boca de Sara, dura, olhos arregalados, olhando-o, ainda presa nos seus braços. — Pronto! Você agora é minha mulher. Acabamos de nos casar. — vira-se para o homem — Posso levá-la para a minha casa?

Pai grita — Nada disso! Vosmecê não sai daqui enquanto não dize o teu nome, de onde é, o que faz e quem é o vosso pai. Vo manda chama ele agorinha meno, pra junto ressorve mais eu, esta questão dos dois. Fia minha não sai daqui, assim não, com um quarque que eu nem sei quem é. Agora, vamo lá, começa a me dize quem é vosmecê?

Cristovam — Meu nome é Cristovam. Moro na cidade, trabalho com meu pai. Mudamos para cá faz alguns dias. Estamos montando um restaurante, e…, e ficamos sabendo que o senhor tem uma criação de suínos. O, o, o, meu pai, — Gagueja, segurando melhor Sara, — me, me mandou aqui para comprar os porcos. O nome dele é.

Pai — Entoice já sei quem é o vosso pai. Acabei de fala com ele lá na vila. Fui lá oferece as porca da minha filha.

O rapaz arregala os olhos, falando com a moça, dura para trás, ainda presa pela cintura. — Não liga não. Seu pai está nervoso. Errou o nome das porcas. Chi, eu também errei. Desculpa?

Sara balança a cabeça — Não! Meu pai num erro não, as porca é minha memo.

Cristovam — Há, bom! Que alivio, pensei que ele chamava as filhas de porcas.

Sara — Ele não tem mais fia não, só eu, mesminha.

Cristovam — Há! Certo! E já que a porcada é sua, quanto quer? Pago em dobro a oferta. Podemos deixar uma como criadora. Tem um espaço bom, no quintal de casa, dá para fazer um chiqueiro. Quero dizer, na casa do meu pai onde vamos morar com ele e minha mãe. Não acredito que deixem eu comprar uma casa tão já para nós dois, estamos gastando um bocado para montar o restaurante e…

Sara faz um gesto rápido positivo com a cabeça, quase caindo. As pernas se cansavam de ficar com o corpo dobrado para trás. Ele a segura melhor.

O pai grita: — Qué tirá as mãos de cima da minha fia?

Cristovam — Ela agora é minha mulher, acabamos de nos casar. Posso segurá-la como eu quiser.

Pai — Que sujeitinho atrevido e topetudo.

Irmão de Sara, assistindo a cena — Atira nele, pai. Se o senhor quise, podemo capa, como fazemo com os cachaços, quando dá de cima das porcas.

Pai — O cê fica quieto no teu canto, desse assunto trato eu. — e se referi a Cristovam, enquanto engatava a espingarda. — Vou conta até três, e vosmecê some daqui se não quisé morre de verdade, e num vorta aqui nunca mais… Um…

O rapaz solta a moça, e dá um passo para trás.

Pai — Dois…

O rapaz dá outro passo, com os olhos fixos em Sara, que também o olha seriamente.

Pai — E…

Cristovam toma coragem. — Espere aí, meu senhor? Precisamos conversar direito. Meu pai me mandou aqui para comprar os porcos. Pediu para que eu não volte para casa sem eles, então, vou levar as porcas comigo. — puxa Sara pela mão, levando-a para bem perto. — Também posso levar a sua a filha junto, se ela quiser, é claro! — e pergunta para a moça, muito assustada. — O que me diz?

Pai continua — Três…

Sara entra na frente do rapaz: — Pera aí, pai! Se o senhor mata o moço, vai me deixa viúva. Eu e ele num acabamo de casa?

O rapaz se alegra com o comentário. — Isso quer dizer que aceita se casar comigo, mesmo que seja assim, desse jeito, agora, tão de repente?

Sara fica intrigada — A gente num caso de verdade?! E o bejo que o cê me deu, como que fica? Não quero fica difamada na boca do povo não, assim, já largada pelo meu marido na hora do casamento. O que num vão fala deu por aí? Não quero fica falada não. Muito meno quero fica viúva se meu pai mata o cê, e dispois.

Pai — Cala boca Sara. Chega de conversa fiada. Esse daí não é pago pra te o cê como cumpanhera. Deve se um sujeitinho que não ama a vida que tem, e vai agarrano uma moça de respeito. Mas comigo as coisa é bem diferente. Malandro nenhum chega aqui e agarra fia minha e sai vivo.

Cristovam — O senhor não me conhece! Não pode falar assim da minha pessoa. Sou um rapaz de respeito, e não agarrei a sua filha porque quis, ela que, — Breca as palavras, encarando os olhos de Sara. Sorrindo completa: — Falando sério, o senhor tem uma filha jeitosa, muito bonita.

Irmão de Sara — Outro dia, meu pai capo dois safado que tava de zoio na minha irmã. Não é verdade pai?

O homem, com espanto, fala aos ouvidos do filho: — Não exagera na mentira.

Sara e Cristovam, atentos um no outro, nada percebem.

Cristovam — Pensando bem, posso mesmo me casar com a sua filha, em vez do senhor me matar.

Sara preocupada — O senhor num vai mata ele de verdade não, né pai?

O pai, que ainda aponta a espingarda para o rapaz, percebe brilhos nos olhos do casal. — Vo pensa a respeito disso, fia. — Tira o chapéu, coça o couro cabeludo, enquanto pensa.

Cristovam e Sara sorri novamente um para o outro, com emoção igual.

O pai, observa o rapaz bem vestido, cabelos aparados e bem penteado, usando um terno de linho, coisa fina. Aponta melhor a arma. — Vosmecê qué memo leva minha fia daqui mais o o cê? Vai quere memo se casa com ela?

O rapaz pensa, enquanto tem a atenção dirigida para a moça. Solta um largo sorriso maroto. — Não será má ideia. Confesso que não vi ainda, moça mais bela, a ponto de fazer o meu coração bater mais forte no peito.

Pai — Quanto o cê, fia, o que pensa a respeito desse sujeitinho?

Sara — Num to entendo mais nada, pai! Ele caso ou num caso comigo? Se ele caso, ele já é meu marido, se ele não caso a gente casa do memo jeito… Ele não falo que so uma moça bela. Nunca um homem falo assim deu antes.

O rapaz sorri, emocionado.

O homem volta olhar ele dos pés à cabeça, e depois o chiqueiro. Tinha lama todos os lados, devido a sujeira dos amimais e a chuva que caiu a noite toda. — Vê bem, sujeitinho atrevido. Se o cê qué leva as porca da minha fia com vosmecê, entra no chiquero e leva pra carroça. Todas elas! Sem deixa uma pra trás, e tem mais, quero o pagamento em dobro, como o cê falo pra Sara que ia paga, e o pagamento fica comigo, pra paga os mio que plantei na roça, e as porca da minha fia comeu… Agora vai, moço. Entra no chiquero e pega uma por uma.

Sara fica apavorada: — Pai, ele vai se suja no barro, óia como ele ta limpinho.

Pai — Num se preocupa com isso não fia. O cê vai ajuda ele pega as porca.

O casal entreolha surpreso. O homem apontoa a arma e grita: — Tão esperano o quê? Entra os dois no chiquero e pega as porca. Ou será que o sujeitinho quer ir embora daqui com as mão vazia, e num vorta aqui nunca mais dispois? A escolha é dos dois agora.

Tenso, os dois se olham outra vez, e depois o chiqueiro.

O pai grita, — O que ainda tão esperano? Não temo o dia intero pra resorve isso. Os dois decide agora o que qué.

Cristovam e Sara seguram a mão um do outro, e pulam juntos dentro do chiqueiro. Foi ele, ela, as porcas e as galinhas, que estavam no chiqueiro atrás do resto de comida, atropeladas, enquanto rolam pelo barro.

Chegando na vila, Sara e Cristovam são alvos de olhares curiosos. Param a carroça na frente da casa, onde ele mora com os pais.

O homem pançudo, calmo, e bem humorado se aproxima, e sem pressa, arrumando o suspensório, observa o casal, depois as porcas.

O casal continua sentado no mesmo lugar, esperando a reação do homem, que pergunta ao filho: — Rapaz, o que foi que você aprontou? Eu mandei trazer os porcos e não o chiqueiro completo.

Cristovam — Pai, eu posso explicar!

Sara, também muito envergonhada. — E tem explicação, sim!

Homem — Então comecem a me dizer o que aconteceu.

Depois de tudo explicado, o homem rindo completa: — Você pode ter escapado de morrer pelo pai dela lá no sítio, mas eu duvido que escape de morrer aqui. Tua mãe vai te matar na hora em que for lavar suas roupas. Duvido que outra faça isso no lugar dela. Se a tua mãe não jogar no lixo.

Sara, muito tímida, levanta a ponta do dedo. — Eu lavo! Ele é meu marido agora, então, eu cuido das ropa dele, e a mãe num precisa mata não.

O rapaz, emocionado encara os olhos de Sara, enquanto fala com o pai. — Me diz a verdade, pai? Fiz um bom negócio comprando as porcas e trazendo a dona comigo. Mesmo ela toda suja, cheirando mal, é uma anja de pessoa.

O homem também ri. Cristovam para a moça: — Posso lhe dar outro beijo, como aquele?

Sara encolhe os ombros, muito acanhada: — Assim, toda cherano barro ruim?

Cristovam — Eu não me importo com o seu cheiro, se você não se importar com o meu.

Sara balança a cabeça negando. — Num me importo não. — e faz bico. Ele cola os lábios, sem pressa.

Algumas mães, tampam os olhos dos filhos pequenos.

O pai, sobe na carroça, e dá palmadas de leve, no cangote do filho. — Veja o que está fazendo, rapaz? Pare com isso.

Cristovam — Se eu beijei ela na frente do pai, por que não posso beijar na frente do senhor?

Homem — Não da vizinhança inteira. Está todo mundo assistindo. Vão querer ser difamado como um casal sem vergonha, na frente desse povo? Essas coisas é uma coisa íntima, entre um homem e uma mulher, não precisa ser mostrada aos quatro ventos. Deixa pra beijar ela à noite, quando deitarem juntinhos, debaixo do mesmo cobertor. Aí, sim, você vai descobrir que o beijo tem mais sabor.

O rapaz olha o céu e pergunta em deboche: — Será que vai demorar escurecer?

O homem palmeia novamente o cangote do filho, desta vez rindo com ele — Leva a tua mulher lá dentro, para ela conhecer a tua mãe, e depois vão tomar banho, os dois estão fedendo.

Emocionados, Cristovam e Sara, segurando a mão um do outro, descem da carroça.

E deixando as lembranças de lado, segurando as mãos um do outro, cinquenta anos mais velhos, Cristovam fala com Sara — Temos agora duas escolhas. Podemos voltar a viver uma nova vida terrena, sem sombras do passado, nada deixamos de errado para ser cobrado depois, ou, podemos escolher o infinito, iluminando o universo, e juntos ao nosso criador ser uma só estrela brilhante no Céu.

Sara volta a atenção para a filha. Estela ainda dormia do seu lado.

Cristovam — Não se preocupe com aqueles que ficam. Nossos filhos devem seguir o caminho reservados a eles.

Sara — Custódio. Alguma coisa de errado deve estar acontecendo com nosso filho. Sinto que ele não está bem.

Cristovam — É o seu coração de mãe, que pressente a dor do filho. Mas nada podemos fazer. Não, nós dois. Fizemos a nossa parte, em vida. Ensinando aos nossos filhos o amor, o respeito, a honestidade, o carinho para com o próximo, como os nossos pais também nos ensinaram, e seguimos os exemplos deles. Cabe agora, nossos filhos, continuarem seguindo os exemplos que também deixamos a cada um deles. Se eles errarem a culpa não será nossa. Fizemos o certo. Custódio está passando pela provação que o mundo oferece. Infelizmente, ele está se deixando levar pelo sofrimento, dor, traição e injustiça. Caberá somente a ele, enxergar o caminho da verdade, ouvindo a voz da razão, do amor, do perdão, da felicidade. Ouvir a voz do próprio coração. — Olha a filha — Quanto a Estela, está chegando à hora dela encontrar o verdadeiro sentido da vida, como todos devem seguir, caso contrário, nossa raça chegaria ao fim. Então, peça a ela que vá para junto do irmão. O encontro dela e daquele que um dia, plantaram justos a flor da vida, nascendo destinado um ao outro, para viverem o amor entre eles, acontecerá na casa onde Estela estiver. Caminhos, estão sendo abertos para que lá se encontrem. Estela deve ajudar o irmão a superar os desvios que ele e Raquel estão vivendo. Faça agora, sua última missa terrena, e depois venha comigo, escolher o nosso próximo destino. Cada um fará sua própria escolha. Se escolhermos o caminho de volta a vida terrena. Nosso amor terá que vencer todas as dificuldades e provações que a vida oferecer, e já sabemos que não é um mar de rosas sem espinhos. Então, meu amor, eu lhe pergunto: você está preparada para uma nova passagem? Mas lembre-se, está passagem não terá volta. Não ser que, fazermos por merecer em tudo que vivermos na terra, caso, escolhermos juntos, uma nova vida terrena, ou, podemos nos separar para sempre, caso as escolhas forem diferentes. Cada um, seguirá sozinho o próprio destino. Está preparada para isso?

Sara alegre — Sim, estou!

Cristovam, desaparecendo, diz: — Espero você meu amor, no mesmo lugar onde, um dia, tudo se iniciou entre nós, na terra. — e desaparece de vez junto à luz que o envolve.

Sara acorda Estela, conversam a respeito de Custódio. Depois pede que a filha busque um pouco de água. Estela acende outra vela, na que está no criado, e sai. Quando retorna com a água, encontra o corpo intacto. Estela chama a mãe. Grita, em desespero, pelo tio, do lado de fora, olhando uma pequena estrela, quase se apagando, muito distante, entre as nuvens.

O tio se desperta ao ouvir os gritos da sobrinha, e corre, entrando no quarto. Sara tinha a fisionomia alegre. — Sua mãe se foi feliz. Vai vê, Sara encontrou teu pai, do outro lado. Outro dia memo, ela falo que tinha desejo de reencontra ele, e vive junto dele, uma nova vida na terra, ou, quem sabe, vive juntinho, em algum lugar no espaço, lá junto às estrela.

Estela, em prantos — Mamãe sabia que estava partindo, tanto que se despediu de mim.

Tio — Num chora não, minha sobrinha. Se chora, vai estraga a felicidade dela, que vai fica preocupada, deixano o se triste. Sara deve tá juntinho do teu pai. Os dois, tão seguino, agora, outro caminho.

O tio estava certo.

Sara, em espírito, se aproxima de Cristovam, aguardando próximo ao chiqueiro. Ambos, em espíritos, tinham a mocidade que se encontraram, na época, do encontro terreno e sorriram com emoção, lembrando-se, outra vez, o encontro que ali aconteceu.

Quatro luzes surgem do alto. Duas atrás de Sara. Duas atrás de Cristóvão. Cada um, observa as luzes, atrás do outro. Uma era colorida, com raios brilhantes, como também era a outra do outro lado. Sabiam que aquelas, levariam numa nova vida terrena. As outras de uma única cor, como parte das nuvens, levariam para a dimensão do Céu, bem próximo ao Criador, passando a viverem como estrelas no universo.

Os dois sorri, tensos, e seguem juntos na direção da luz, passando um pelo outro. Param na entrada do portal. Olham para trás e novamente sorri. Cristovam faz um gesto positivo com a cabeça, ela também faz, e depois seguem em passos firmes, parando diante o portal, que se dá início as luzes que se dividem em duas partes. O portal se fecha, quando entram.

Sara escolhe o de única cor. Uma escada leva-a as nuvens, chegando na dimensão do espaço. Entre as nuvens encontra outro portal, e, do lado de dentro, duas passagens, e entra por uma.

O mesmo acontece com Cristovam, do outro lado. Decididos abrem uma porta e atravessam, ficando suspensos, no espaço, envolvidos pela mesma luz que risca o céu.

Cristovam segura Sara, em seus braços, e, envolvidos pela mesma emoção do reencontro, tomam lugar, entre as diversas estrelas do infinito, e se tornam mais uma, brilhante na escuridão.

No outro dia, Estela, juntamente com o tio e amigos, colocam flores na sepultada de Sara. Uma oração também é feita pelo vigário.

Estela fica sozinha com o tio, e se despede dos pais. — Quero acreditar que papai e mamãe estejam juntinhos, em algum lugar no Céu, como estrelas brilhando no universo, e de lá, possam olhar por mim. — Sorri — Um dia, eu também quero viver um grande amor. Quero ser feliz de verdade com o meu amor, como mamãe e papai foram felizes juntos, enquanto viveram casados.

Tio — Teu pai apaixono pela Sara desde o primeiro minutinho que boto o zoio nela, que tamem gosto dele na mema hora. Desde do dia que se conhecero não pensaro notra coisa, num ce fica juntinho.

Estela — Até que a morte separou os dois, levando papai embora, assim, sem mais sem menos. Porque as pessoas tem que morrer?

Tio — Pra sobra espaço pra outras que vai nasceno. Já penso se ninguém morre? No mundo não cabia mais ninguém.

Estela — Pensando por este lado, meu tio está certo.

Tio — Minha sobrinha vai memo pra Som Paulo, onde ta o teu irmão Custódio, como pediu tua mãe, antes de morre?

Estela — Sim. Vou atender o último pedido dela. E bem que meu tio deveria ir junto, para não ficar morando sozinho no sitio.

Tio — Minha sobrinha me descurpa, mas num vo vende o sítio não. Vo continua na mema vida que sempre tive, até memo antes do cê e a tua mãe i mora lá no sitio mais eu. E sei que a tua mãe só vorto morar lá, depois que teu pai morreu, purque gostava muito daquele luga. O cê deve se lembra bem, o que ela falo, quando o teu pai morreu. Que lá ela conheceu ele e lá ela ia espera, inté que ele buscasse ela, e deve te buscado, por isso tua mãe morreu feliz. E dispois já to acostumado vive sozinho, desde do dia que meu pai tamém se foi, lá pro outro lado, se encontra com a minha mãe, sua vó. E é lá no sitio que eu quero espera minha amada, como aconteceu com tua avó, tua mãe.

Estela — Meu tio nunca se casou por quê?

O homem dá um sorriso encabulado. — Nunca incontrei a tampa do meu carderão. E, e, eu sei que todo mundo tem a sua tampa, mas eu nasci sem a minha. Meu pai, teu avô, me disse uma vez, e eu acabei descobrino dispois que ele tava certo. O tempo passo, passo, ainda passa e num acontece deu encontra minha tampa, como teu pai fez, quando encontro a Sara lá no meio das porcada. Veja bem o que aconteceu mais os dois? Teu avô, pai do teu pai, tinha lá uma vidinha trunquila, em uma outra cidadezinha, bem distante daqui. Os fio mais véio seguiro o destino de cada um. Teu pai fez a cabeça do teu vô, de monta aqui na vila um restaurante, e teu pai foi lá no sitio compra as porca da Sara, e o resto o ce já sabe o que aconteceu.

Estela — O mocinho da cidade encontrou a caipirinha da roça e nasceu entre eles um grande amor.

Tio — Vê a vida, como ela é? Deu um jeitinho do teu pai encontra tua mãe lá no meio do mato. Tua mãe num ia na vila. Ela dizia que os moço daqui era tudo bocó. Bocó por bocó, ela dizia que preferia morre sortera se não encontrasse o principe, e ela encontro. Quero dizer, ele encontro ela.

Estela sorri — Um encontro maluco que aconteceu.

Tio — Eu que o diga. E a minha subrinha tá certa, quere i embora daqui. Num aquerdito que teu príncipe encantado vai aparece lá no sítio, atrás do cê, como fez o teu pai com a tua mãe. Quem sabe, teu príncipe, ta lá longe, perto do teu irmão, e o ce que tem que i no encontro dele. Do teu amor, e construi uma famía alegre, feliz de verdade. E minha subrinha pode i trunquila, sem se preocupa com eu, que vo continua lá no sítio, fazendo o que sempre fiz, com muito gosto. Espera que um dia minha amada tamém vem se encontra comigo, ou, quem sabe, eu vo até ela, no dia que eu tamem fo embora desta vida.

Estela — O que é isso, tio? Depois que o senhor morrer não terá graça encontrar a tua amada. E depois, como sabe que vai encontrá-la após a morte, se ela não vier ao seu encontro em vida?

Tio — Vejo minha amada todas as noite, quando ela aparece, lá, em um cantinho do Céu.

Estela surpresa — A lua? Meu tio namora a lua? Bem que eu já vi meu tio, muitas vezes, admirado, olhando o Céu durante a noite. Eu só não imaginava que estava enamorando a lua. — e ri.

Tio — Num é a lua que é a minha amada, não. Minha amada é uma estrelinha, bem pequenininha, que vive solitária, quase se apagano, em um cantinho do Céu. Tem noite que fico hora e hora, procurano, até que ela sorta um brilhinho, dizendo: To aqui, meu amor, e o meu coração pula de alegria, dentro do peito, memo eu enxergano ela tão longe de mim. E vo conta uma istória que meu pai me conto, quando eu era bem menino. Ele disse que uma estrela risco o céu, no dia que eu nasci. Passou bem baxinho, e caiu em argum luga, não muito longe daqui. Um dia, eu olhano o infinito, lembrei dessa istória, e fiz um balanço da minha vida. Todos que eu conhecia já tinha encontrado a sua metade, até memo Sara que era bem mais nova que eu, já tava feliz, com o amor que tinha encontrado, e eu, barbado, ficano véio cada dia que passava, e nada, de aparece aquela que pudesse esquenta meus pé, nas noite fria. Intão, senti um vazio muito grande no coração, tanto que gelo minha arma, me fazeno se senti sozinho, aborrecido, sem sabe o caminho que devia segui. Foi ai que eu vi a minha estrelinha amada, tamem viveno solitária, distante de todas as outras estrela do céu, com um brilho quase impursivo de se vê. Ela é tão solitária quanto eu, viveno à espera de um brilho maior… Minha vida é assim. Não passo de um home solitário, viveno a espera de enconta um mundo colorido.

Estela — Que é a sua outra metade, tio? A estrela que caiu, no dia em que o senhor nasceu, deve estar esperando o senhor encontrá-la, em algum lugar. Eu não acredito que seja no Céu. O senhor deveria ter ir atrás dela há muito tempo, e não ficar esperando que ela venha ao seu encontro. Quem sabe, se procurá-la, talvez, ainda a encontre, esperando pelo senhor, em algum lugar na terra, para viverem juntos, um lindo amor.

Tio — Num tenho mais idade pra busca essas coisas não, menina, e dispois, quem garante que vo encontra minha amada. Nem memo o cê me deu essa certeza. Disse que tarvez eu ainda encontre ela esperano por mim, na dúvida, prefiro não arrisca, como nunca me arrisquei saino pelo mundo, sem a certeza que podia encontra um amor de verdade pra mim… Se eu fize isso agora, num vou pode enamorar minha estrela solitária, que vai continua lá, toda noite no memo lugarzinho, esperano eu, que num vai pode mais passa às noite, às vezes, a noite inteirinha, até não enxerga mais ela, com o sol nasceno, deixano a outra sozinha, dormino na minha cama. Uma delas eu ia te que trai. Intonce eu fico com a minha amada estrela. Quero fica com ela, principarmente dispois que eu morre…. Antes do teu vô morre, perguntei se ele era feliz com a vida que tinha, sem mais a minha mãe perto, e se ela num fazia farta pra ele. Cabei ficano bravo com a resposta que o meu pai me deu. Ele disse: que em breve tava se juntando a ela, lá nas artura do Céu, pruque o amor que sentiro um pelo outro ia uni os dois novamente, e pra sempre lá nas artura. Intonce, fico imaginano eu lá tamem, juntinho da minha estrela amada… Sem a tristeza que sinto em meu peito. Sem dor. Sem as dificurdade da vida, viveno como um luz, lá no Céu… Ás vezes, inté chego pensa tamem em te uma famia bem grande, com uma porção de pivetim me chamano de pai, mas é só pensamento, que na artura da minha vida que to, sei que esse sonho num vai se realiza.

Estela — Eu acredito que não devemos ficar esperando milagres cair do Céu, tio. Devemos correr atrás dos nossos sonhos, das vontades e desejos, muito mais, com o desejo de viver um grande amor. Quem que não sonha em viver um grande amor? Eu sonho viver um grande amor. Sinto em minha alma que devo ir embora daqui, assim, irei encontrar o meu amor, em outro lugar, esperando por mim.

Tio — O cê é jove. Tem todo o direito de sonha. Tem muitos e muitos anos pela frente. Enquanto eu, nun passo de um véio cheio de cabelo branco, sem força pra recomeça. Que moça vai quere um veio como eu? E dispois, caso isso acontece, vou te memo que abandona minha amada estrelinha, e num quero vê ela triste, sem mais o brilho que ela tem, esperano por mim, todas as noites.

Estela ri. — Está certo, tio! Não posso mudar os seus pensamentos, mas o amor não tem idade. Quanto a mim, quero encontrar sim, o meu grande amor. Meu príncipe encantado e ter uma porção de filhos, fazendo a minha felicidade completa.

Em casa, Estela arruma a bagagem, e depois, vai conhecer a estrela enamorada do tio. Não consegue enxergá-la, apesar do esforço, e acaba fingindo vê-la, para não decepcionar o tio. O tempo nublado dificulta ver qualquer estrela no Céu, mas o tio conseguia, mostra com entusiasmo, sua estrelinha, em um lugarzinho no infinito.

No amanhecer, ele acompanha Estela até a vila. — Que teu anjo da guarda lhe acompanhe na viagem, minha sobrinha.

Estela se despede, e entra na diligência. Um senhor chega atrasado, e toma lugar, sentando ao lado dela. Puxa conversa: — A moça está seguindo viagem para onde?

Estela — São Paulo. O senhor também está indo para lá?

Ezequiel — Sim! — Olha o céu, vendo nuvens escuras. — Parece que não vamos ter uma boa viagem. No caminho, vamos atravessar uma boa tempestade.

Estela se benze, fazendo o sinal da cruz. — Quero chegar viva em São Paulo. Não quero morrer no caminho.

Ezequiel estende a mão para ela e tenta deixá-la calma. — Temos um longo caminho e conversando o tempo passa mais rápido. Meu nome é Ezequiel.

Estela observa a mão estendida, estranha notando muito branca, pálida. — Morrei muito tempo na cidade, e conheço quase todos os moradores da vila. Meu pai tinha um restaurante, e muitos viajantes passavam lá, nunca vi o senhor antes, e. — Faz um gesto qualquer. — Deixe para lá. — Pega a mão oferecida, e se apresenta.

Ezequiel também cumprimenta os outros passageiros. No final da tarde a tempestade cai.

Estela — O senhor é adivinho?

Ezequiel — Não se preocupe. A senhorita vai chegar viva em São Paulo.

Estela — Que meu anjo diga amém. — e junta as mãos, em preces, amedrontada com os relâmpagos e trovões.

Ezequiel pronuncia, sem ela escutar. — Amém!

O tio volta para o sítio, para a vida solitária. Várias noites, olha o céu, senti tristeza na alma, sem conseguir ver sua estrela amada. — Até mesmo minha estrela me abandonou. Até mesmo ela… — repeti em prantos. Seca os olhos com as mãos, para enxergar melhor o clarão que surgi. Entre a luz, um homem com vestes brancas aparece. Tio reconhece — Paiii?!!? — e se alegra.

Formatos de duas mãos, feitos de nuvens, descem do Céu. Os dois sobem, cada qual em uma, e são levados para o alto.

O tio é deixado em um estreito caminho.

De um lado, um grande paredão de rochas, do outro o mar.

Tio, indeciso, sem saber que lado seguir, fica parado, no mesmo lugar. Ouvi gemidos.

Uma mulher em trabalho de parto dá a luz. Estende a crianças para o tio. — Leve-o com você.

Tio — Não sei onde estou. Não sei para onde vou.

Mulher insiste — Leve-o com você. Se ficar comigo, não sobreviverá.

Tio pensa. Olha para os dois lados e nada vê, além da estrada. A mulher ainda lhe estende a criança. Decidido, ele pega e aconchego-o, com cuidado. — Eu sempre quis te um fio.

A mulher senti alívios, e ele a reconhece: — Mãe?

A mulher faz gestos positivos com a cabeça e desaparece em meio a uma luz.

Ungido pela mesma luz, Tio é levado a dimensão, entre as nuvens. O bebê não mais está com ele, que anda de um lado a outro, sem saber onde ir. Uma menina aparece. Dança alegremente balé, saltando entre as nuvens.

Tio, de mansinho se aproxima: — Menina, onde estou? Que lugar é esse?

A garota sorri, e sem deixar a dança — Você não sabe? Aqui é o Céu!

Tio se lembra de sua amada estrela, e se emociona: — Se aqui é o céu, posso então encontrar minha amada estrelinha. Onde está ela? Como faço para encontrar minha amada?

Menina aponta um caminho que se abre entre as nuvens.

Rapidamente o tio segue por ele e chega na casa dos mortos. Da entrada, observa o lugar, sem limites de intensidade, dividido em duas partes.

Espíritos evoluídos, e outros, em fase de aprendizagem ajudam no tratamento das almas solitária, estiradas em macas enfileiradas.

Um corredor dentro da sala dos mortos mostra o caminho. Ao lado um túnel, onde a escuridão é total.

A menina se aproxima novamente dele, parado, sem se manifestar em escolher um dos caminhos e para ajudá-lo a decidir, lhe entrega um lindo buque de flores. — Leve-as para a sua amada?

Tio se nega — Não gosto de rosas. Tem espinhos. Machuca a gente.

Um homem surge em meio a uma luz — Não existe maravilha maior que todas as flores de um grande jardim. Entre todas as mais belas, esconde os espinhos. Assim é a vida. Bela como uma rosa e os mistérios que as envolvem podem ser como espinhos, que muitas vezes machucam sem piedade. Deus entrega ao homem um universo, e lhe dá o livre arbitro de opções de escolhas. Basta o ser humano seguir suas próprias vontades e encontrar o caminho que o leva a verdadeira felicidade. O reino pertence aos puros de coração como a inocência de uma criança.

Tio acorda, dormia sentado, no gramado, do lado de fora da casa. Haviam se passado apenas alguns segundos e ele se alegra em ver sua estrela favorita brilhar no céu. Continua sentado, observando-a.

Ano 1935

Na frente da catedral, na cidade de São Paulo, o mendigo, observa o altar.

Eduardo e Francine, de mãos dadas ao filho de 3 anos, passam por ele. Maria e Luiz. Mirtes e Geraldo. Adalberto e Tereza. Raquel com a mãe e as crianças também. Ela entrega moedas aos filhos que colocam no chapéu de pano, ao lado do tio, como faz cada um.

Roberto vai ao encontro do avô. Abraça Afonso e Noemi pelo pescoço.

Giza corre ao encontro de Custódio que também chega na igreja.

Cristovam e Sara observam os gestos das crianças e principalmente de Custódio que, emocionado, abraça a menina, que o envolve com os bracinhos o pescoço. De mãos dadas os dois seguem em direção uma luz e desaparecem no infinito, tomando lugar como estrela.

Ezequiel e Estela também atentos em todos, seguem por um portal que se abre. Os dois aparecem na fazenda. Moreira alegre, brinca com o filho de seis meses. Dora coloca a mão na boca, sentindo enjoos, com o cheiro da cebola, com uma italiana fazendo o almoço.

FIM

Um forte abraço literário. Obrigada por acompanhar a novela.

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