Crianças menores e adolescentes, de várias idades, correm de um lado para o outro, brincando. Adultos evoluídos ensinam-lhes atividades espirituais, enquanto outros se dedicam ao cultivo da flor da vida, em canteiros espalhados pelo campo. Entre eles, José José Carlos. Helena e as mocinhas de sua idade brincam de roda gira-gira. Ao passar por ele, percebe a planta tombar ao solo, perdendo o vigor. Ela corre ao lago, nos arredores e pega água cristalina, com as mãos em formato de concha, e rega-a, como fazem outros casais, que se alegram quando a flor revive. De um botão que surgi, desabrocha uma linda rosa, com cores diferenciadas para cada casal. Ao se abrirem os portais da área ajardinada, como se fossem passagens secretas para outra dimensão, as crianças correm na frente. Adultos seguem na mesma direção. Tudo fica em silêncio. Helena se desperta e também corre. Não tem tempo de fazer a travessia, pois o portal se fecha quando da passagem da última pessoa. Outros casais, que ficam ali, não dão importância ao que acontece, envolvidos em olhares emocionado. Um por um vão desaparecendo, ficando apenas os dois.

José Carlos se aproxima de Helena, imobilizada diante o portal.

Helena — Aonde foram todos?

J. Carlos — Voltaram para o lugar de antes.

Helena — Vamos ficar aqui? — seus olhos lacrimejam.

J. Carlos — Parece que sim. Não precisa ter medo. Estamos juntos e nada de mau nos irá acontecer — sorri de modo amistoso. — Cuidarei de você se for preciso.

Helena estava séria, amedrontada. Entreolham-se. Ele quebra o silêncio: — Você é linda e tão menina! — pega-a pelas mãos, beijando-as com carinho.

Helena se assusta ao notar que suas mãos ficaram invisíveis: — O que aconteceu?

J. Carlos — Não tenho a menor ideia. Talvez, se ficarmos juntos, seremos transportados para onde foram os outros.
Ela, insegura se afasta para trás. José Carlos procura ser gentil: — Tudo bem. Podemos ficar aqui até que voltem.

Helena com voz chorosa — E se não voltarem?

J. Carlos — Lembro-me de ter vindo aqui antes, várias vezes. Devem voltar. – Entreolharam-se mais uma vez, em silêncio.

Helena toca-o no braço. Retorna para trás, confusa, com as pontas dos dedos transparentes. Depois de uma pausa: — Para onde formos ficaremos juntos?

J. Carlos — Prometo que sim.

Helena — Para sempre?

J. Carlos — Sim, enquanto existir vida no universo. — estendeu-lhe as mãos. — Pode confiar em mim.

Helena se sente segura, e alegre pega nas mãos oferecidas. Ele aconchega-a para bem perto, e, transportados. Aparecem numa sala branca, toda iluminada. Ainda estavam abraçados, atentos, quando Ezequiel aparece, usando longa veste branca. Do vão da porta, observa-os: — Mesmo com a diferença de idade, formam um belíssimo e perfeito casal.

J. Carlos — Casal perfeito?

Ezequiel — Sim. Um lindo casal.

J. Carlos — Onde estamos? Quem é você?

Ezequiel — Meu nome é Ezequiel. A partir de agora serei o anjo da guarda do casal.

J. Carlos — Como assim?

Ezequiel — Como todos os casais que já partiram daqui, você e Helena fazem parte de um novo ciclo terreno. De igual forma, ficaram presos no caminho que leva do mundo espiritual ao carnal, onde o ser humano conhece emoções, crenças e outras coisas mais que hão de descobrir no decorrer dessa existência. Cada qual nascerá em um corpo onde serão comandados, enquanto permanecerem neles. Nascerão em famílias diferentes, já preparadas para os receberem. Com o passar dos anos irão se reencontrar e pertencerem um ao outro, não só no sentido espiritual, como ocorreu aqui, mas de corpo e alma.

J. Carlos e Helena entreolharam-se, atentos às palavras do anjo. — Diante dos olhos de Deus, você e Helena agora se pertencem; tornaram-se Almas Gêmeas. Esta união perante os homens será, através das leis civis e religiosas, reconhecida com o tempo. Helena e você se tornarão pais de outros que, enviados daqui, receberão a oportunidade, como aconteceu com seus pais e, agora, com vocês. Na vida carnal existem liberdades que aqui não se tem. Vocês acabarão descobrindo que estão unidos na mesma força do espírito. A carne os levará a um desejo maior. A união se completará dando-lhes maior sentido de viver.

J. Carlos — Helena é tão jovem, tão menina!

Ezequiel — Bom saber que tem consciência disso. Ainda que mocinha, Helena já está preparada para estar num corpo. Tanto assim que estão aqui. Ambos deram existência a outro ser, desabrochando o mais puro e singelo símbolo do amor.

Uma tela se abre, mostrando a emoção recíproca do casal quando a rosa desabrocha.

Ezequiel – O ser humano colhe o fruto que planta. Da árvore da vida, sendo esta cultivada com carinho, amor, perseverança, colhem-se os melhores frutos. Se o cultivo forem injúrias, perversidade, ódio e tudo mais que destrua o ser humano, recebe-se da natureza o próprio remédio plantado. Todos são livres para escolher seus próprios caminhos que a terra oferece. Não obstante as leis criadas pelos homens, nada impede que exista o certo e o errado. Cada um tem seu livre-arbítrio, mas é de acordo com o que escolhe seguir que as consequências advindas.

Um anjo aparece na sala.

Ezequiel — É chegada a sua hora. Pode acompanhar o anjo guia. Helena irá aguardar até que chegue a hora de se encarnar. A diferença de idade existente aqui, também continuará na terra.

Helena — Não posso ir com ele, agora?

Os anjos entreolham-se. Ezequiel pergunta: — Do que está com medo, Helena? — ela abaixa os olhos, não sabendo o que dizer. — Deixe-me ver se adivinho. Quando o portão do grande jardim se fechou, à sua frente, sentiu medo, pensando que havia ficado sozinha. Você sente receio se José Carlos não estiver do seu lado o tempo todo. Depositou confiança nele antes de serem transportados para cá.

Helena encara José Carlos. Ezequiel acrescenta: — Na vida terrena esse medo poderá se transformar em doença, levando-os a vários resultados negativos em seu amor. Poderão encontrar dificuldades para se libertar do temor que herdaram aqui. Vamos providenciar para que se conheçam alguns anos antes que se unam. — Aponta para José Carlos: — Qualquer deslize seu, Helena perderá toda a confiança em você. A promessa que fez de que estariam juntos para sempre prevalecerá na memória dela.

J. Carlos — Vou me lembrar disso.

Ezequiel — Esse é o pior problema. Nenhum dos dois se recordará do que aconteceu aqui. Apenas permanecerão marcados no íntimo da alma. O medo da separação poderá ser, para os dois, como uma sombra assustadora, um desafio que enfrentarão. — E, vira-se para o anjo guia: — Leve Helena. Será bom ela ganhar confiança própria, conhecendo a família à qual ele pertencerá. Depois, traga-a de novo. Vamos providenciar para que nasça nessa mesma família. — E depois de observar o casal: — O importante é não deixarem que o medo os domine para ele não destruir o amor aqui predestinado. Devem confiar que ambos serão fortes o bastante para vencerem essa barreira.

O casal estava tenso. O anjo guia dirigiu-se ao rapaz: — Precisamos ir. Dentro de poucas horas você vai nascer.

J. Carlos estende as mãos a Helena: — Não vamos deixar que nada nos separe. Estaremos juntos para sempre. — Helena aperta-lhe as mãos e se sente segura, protegida. — Podemos ir. Estamos preparados.
Os três desaparecem da sala.

No galpão, José Carlos, se mantém inerte, sem um movimento de luz.

Ezequiel — Voltando para junto de Helena, terá a chance de cumprir a promessa que fez a ela. Um novo ciclo de sentimentos irá recomeçar entre ambos, como mãe e filho. Você é o único que pode ajudá-la a se livrar dos fantasmas do passado.

J. Carlos — Não estou preparado para voltar. Cansei-me de sofrer. Não quero outra vida. Não sem a certeza de que estarei feliz ao lado daqueles a quem amei.

Ezequiel levanta as mãos para o alto e intercede por alívio para as aflições que trazia aquela alma. Uma neblina luminosa surgi, vinda do céu. Ezequiel passa as mãos no alto do corpo no chão. — Seu desejo foi atendido. Você irá descansar até que se prepare para voltar a viver, como deveria estar desde o início.
Luzes coloridas surgem do alto e circula ao redor do espirito, se dividindo em duas partes. Uma, se mantém no lugar, a outra luz é transportada para o útero de Glória Maria. Era noite escura. Ela vê Helena na mesma cama, sentada, acariciando o ventre, já no final da gravidez. José Carlos chega e fala com Helena. Glória nada ouve. A imagem está fosca. Eram fantasmas em sua memória. José Carlos ameaça tocar-lhe ao abdome. Helena se encolhe, impedindo-o. Ele se afasta, ficando de costas. Fala-lhe outra vez, e deixa o quarto. Helena levanta, abre a janela, e sai no jardim. Segue a trilha em meio a floresta e chega no rancho. Fala com o pai, cuja imagem também é embaçada. Glória Maria vê Helena estirada na rede e Margaret chega. Trocam palavras e a mulher sai. Glória se agita na cama, em murmúrios, falando com o filho, enquanto acaricia a barriga: — Não vou me afastar de você. Ninguém vai tirar você de mim. Ficaremos sempre juntos. — Com dificuldades, sai da rede. Pega roupas no varal, do cômodo, coloca-as em um saco branco e sai do rancho. Toma rumo da floresta. Cansada, dorme no chão. Acorda em gemidos, com fortes dores. Em pranto, implora: — Mamãe me ajuda.
Tereza, com veste branca – Venha, filha. Precisa sair daqui.
Helena pega a mão oferecida. Juntas aparecem na frente do casarão. Helena vê um escravo, que também a vê. O escravo corre em direção à porta. Helena foge correndo. Entra no rancho, estende a mão em direção ao pai. Em desespero pede: – Pai, me ajude. Eu não quero morrer.
Glória vê o rosto de Adalberto, acorda assustada. Senta e olha ao redor. Vê Clara dormindo ao seu lado. Ela leva a mão na barriga e acaricia. Pensativa volta à cabeça no travesseiro. Olha a janela fechada. Levanta, abre e pula saindo no jardim.

O sol está alto quando Clara a encontra sentada, em um tronco de árvore, observando o pouco que resta do rancho.

Clara – Filha, o que está fazendo aqui? Por que saiu tão cedo sem avisar, ficamos preocupados.

Glória, entristecida – Como me encontrou aqui?

Clara – Um ex-escravo viu, quando você veio nesta direção. Saí sem rumo, até encontrá-la. Mas o que está fazendo aqui? O que veio fazer a este lugar?

Glória – Tive um sonho estranho, e segui o rastro dela.

Clara – Rastro de quem?

Glória – Helena. Acredito que seja ela, que estava grávida, quase na hora do filho nascer. Fugiu sem rumo, porque não queria perdê-lo para as pessoas que queria tirá-lo dela. Que voltou, pediu ajuda para o pai, porque não queria morrer. – Olha Clara – Eu também não quero morrer de tristeza, mamãe.

Clara faz um delicado chamego no rosto da filha – Você não vai morrer, se não quiser. Basta ser forte e lutar contra a tristeza que está sentindo.

Glória acaricia a barriga – Um filho, seria minha fortaleza. Pensei nisso, e senti uma força que não sei de onde veio. Talvez, na esperança de que um filho esteja dentro de mim. – sorri – Seria maravilhoso. Assim, não irei me sentir sozinha. Meu irmão se foi e para sempre. Papai também. Logo vovô me deixará. E Caio, talvez nunca volte. Meu filho não. Ele vai estar junto de mim, sempre.

Clara, confusa – Quanto a mim, o que sou na sua vida?

Glória toca levemente o rosto da mãe com a palma da mão – A senhora não existe, mamãe. Não é real! É um anjo que imaginamos. Aquele que faz parte da nossa existência, mas não conseguimos enxergar. É assim que a vejo, um anjo que sempre vou imaginar fazendo parte de mim. Um anjo forte, capaz de suportar todas as provações, e ainda obrigada ser forte por mim, por não sei lidar com a minha dor.

Clara abraça-a, e também chora – Vamos acreditar que dentro de você tem um bebê, e você precisa ser forte por ele.

Glória coloca a mão na barriga e sorri. – Vou acreditar que tem um ser especial já fazendo parte de mim, e por ele eu serei forte.
Clara, alegre concorda, faz outro carinho na filha. – Vamos para casa, meu bem. Você precisa se alimentar. Não come faz tempo e não quero que fique doente. – Coloca a mão na barriga da filha. – Ainda mais se tiver um neto meu dentro de você. Vou adorar ser avô. Já estou amando. Agora, vamos para casa. Seu avô ficou preocupado. Queria vir junto procurá-la, eu não deixei. – Glória concorda. Termina de secar os olhos encharcados e vão embora. Eduardo recebe-as, no jardim.

Na casa de Adalberto, ele pega das mãos do filho os documentos – O que é isto?

Caio – A escritura da fazenda e um testamento deixado em nome de Caio José Neto. Isso prova que José Carlos Medeiros era mesmo meu bisavô. O senhor não acreditou na história que o avô da minha mulher contou. É tudo muito coincidência, o senhor não acha?

Adalberto – Nunca imaginei um dia descobrir coisas a respeito de meu pai. Confesso que estou surpreso. Bom, quando a sua mulher, onde ela está? Porque não veio com você?

Caio – Glória preferiu ficar um tempo com a mãe na fazenda. Como eu não podia demorar, voltei… Bom, estou cansado da viagem, estou indo para casa descansar um pouco. Passei aqui só para o senhor saber que cheguei. Até amanhã, pai! – vai saindo.

Adalberto – Espere? – Caio olha o pai, e não consegue encará-lo. – Sua esposa ficou na fazenda porque quis, ou você pediu a ela que ficasse lá? – Caio encara-o, seriamente, em silêncio. Adalberto faz um gesto qualquer, palmeia-o ao ombro – Tudo bem, filho. Desculpe, esquece o que falei. Sei que você é forte o bastante e vai superar tudo que está acontecendo. Tenho certeza que vai. Vou ler os documentos com calma, assim que tiver um tempo livre. Depois decidimos o que fazer. Para dizer a verdade, não tenho interesse em heranças que pudesse receber o meu pai. Vou pensar como ele agiria, não voltando nem mesmo para saber notícias daqueles que ficaram na fazenda. Com certeza, ele não aceitaria nada que viesse do pai.

Caio – No lugar do meu avô eu também não aceitaria, nem quero aceitar nada que venha de lá. Aquele lugar me dá pressentimentos ruins. Se Glória não estivesse ficado lá, não voltaria naquele lugar nunca mais. Se o senhor não tiver interesse naquelas terras, que são suas por direito, faça um novo documento em nome do meu sobrinho mais velho. Minha irmã se casou com um homem que não tem muito que oferecer a ela e os filhos. Quem sabe possam morar na fazenda e terem um futuro melhor. Meu cunhado é um bom sujeito. Vai saber cuidar bem de tudo. – Adalberto faz um gesto concordando. – Até mais, pai. Estou mesmo indo para casa. A gente se vê amanhã.

Adalberto – Dorme aqui, já que está sozinho na sua casa.
Caio pensa e responde – Um homem não deve sentir medo de viver sozinho, se for preciso. – sorri e acena – Dê um abraço na mãe por mim – e sai. Caminha vagarosamente pela rua. Logo entra em casa. No quarto, observa a cama vazia, e se lembra do momento em que ele e Dalva quase se beijaram. Depois, lembra as palavras de Glória – Existe uma Dalva no nosso caminho e você precisa descobrir se é ela, ou comigo que deseja ficar. Caso, seja ela, prometo entender e o deixarei livre para ser feliz. Não precisa voltar aqui, se não quiser, nunca mais. Viva a sua vida com ela, sem mágoas entre nós dois.
Caio esfrega os olhos. Suspira fundo, vai na sala. Na mesinha do canto, despeja no copo uma dose de bebida, da garrafa, e toma em um gole. Senta numa poltrona. Fica ali até o amanhecer.
No quartel, ele observa o armário de Carlos, fechado. Lembra-se da última conversa dele: Se deseja mesmo se casar com a moça, decida de vez. Não a deixe esperando tanto tempo. Faça-a feliz. Ainda que um dia descubram que fizeram a escolha errada.
Caio fala, com ele mesmo – Como poderia você saber que eu fazia a escolha errada? Será que é o próprio reencarnado? E quem é Glória? – e lembra do incidente na mata, evitando que o estaleiro caía em cima dela, e o desespero da moça. — Não quero. Me solte. Me deixe ir embora. Não quero.

Caio — Tudo está bem, Glória. Calma.

Glória abre os olhos, confusa, sem entender o que tinha acontecido.

Caio — Você está bem?

Glória nada responde. Apenas mexe as mãos, presa pelos pulsos.

Caio solta, deixando-a livre. Ela levanta e corre pela trilha. Caio corre atrás, pedindo que espere. Ele se aproxima dela, próximo à margem do rio. — O que aconteceu, Glória? Não entendi nada.

Glória ainda se sentia perturbada — Não sei! Por um instante, pensei que você fosse… — e se cala, sem coragem de prosseguir.

Caio — Fosse o quê?

Ela o olha nos olhos: — Não. Não era você. Foi outro que vi em cima de mim. Era como se ele… — interrompe, envergonhada.

Caio — Fazer amor com você à força?

Glória — Sim! Era o seu primo Carlos. Ele quem eu vi me segurando, sem que eu pudesse me defender.

Caio encara Glória, depois solta gargalhada, fazendo gestos negativos com a cabeça. Glória se defende — Estou falando sério. Não sei porque tive esse pressentimento, mas era como se fosse real. Suas mãos eram como se fossem as dele me segurando forte. Caio se pergunta. – Quem é você? Eu não quero acreditar que seja Helena reencarnada. Ela era mãe de Neto e se eu sou Neto ela era minha mãe. – coloca a mão na cabeça, como se sentisse dor – Eu não quero mais pensar nisso. É loucura acreditar num passado que não me pertence. – Bate a mão no peito – Eu sou eu. Meu avô era meu avô. Nisso que devo pensar. E tenho mais o que fazer, em vez de ficar aqui pensando. – e decidido sai.

Na casa de Adalberto. Enquanto jantam. Ester fala com ele – Pensei que não viesse jantar aqui hoje também. Faz dias que não aparece. Está magro. Não anda se alimentando direito.
Caio, atento ao prato – Estou ótimo, mãe. Não precisa se preocupar comigo.

Ester – Quando vai buscar a sua mulher? Faz quase dois meses que ela está na fazenda. Vocês parecem que não estão felizes com esse casamento, Caso contrário, minha nora estaria aqui. O lugar de uma esposa é ao lado do marido.
Caio fixa a mãe, depois o pai, e fala com calma – Ainda não sei quando vou buscar Glória. Estou bem sozinho. Repito: A senhora não precisa se preocupar.

Adalberto – Sua mãe está certa. Você tem que tomar um rumo. A vida continua apesar do que aconteceu com a família da sua mulher, e com a nossa também. A morte do seu primo ainda me incomoda. Tenho pesadelos, quase todas as noites. A imagem dele, pendurado pelo pescoço não sai da minha mente. Talvez, porque eu deveria ter feito algo, naquele dia, quando vocês dois brigaram por causa dela. Não interferi, achando que eram adultos o bastante para resolverem aquela situação. E o que foi que aconteceu? Meia hora depois você apareceu na minha sala, dizendo que estava decidido se casar com Glória. Fiquei do seu lado para não magoá-lo. Para não pensar que eu seria contra o seu casamento, e agora não tem como voltar o tempo. Do jeito que está não pode continuar. – aponta o filho – Assuma sua responsabilidade de esposo. Procura viver bem ao lado da sua mulher, em vez de querer ficar só. Não abra mão de ser feliz, ter uma família, como vez o seu avô.
Caio empurra o prato, pensa e responde – Ando pensando em tomar um rumo certo. O que não quero é me precipitar novamente, sem a certeza do que estou fazendo… Eu pretendo ser feliz ao lado de alguém… Me preocupo com a felicidade de Glória também. Ela não tem culpa de nossas vidas serem tão erradas. Cada vez que penso nisso, me sinto mais próximo a ela.

Adalberto – Eu também não quero vê-la sofrer. Desde o primeiro momento que a vi, naquele dia, em que nossas famílias se reuniram, para selar o noivado entre vocês dois, senti um carinho muito grande por ela. Vejo Glória como se fosse uma de minhas filhas. Tenho por ela o mesmo carinho.

Depois de pausa, Caio solta um sorriso: – Ando pensando seriamente na sugestão que o senhor me deu, na primeira vez que conversamos a respeito das duas, lembra? Vai depender de Glória e Dalva aceitarem, é claro! – Adalberto, boquiaberto, nada responde. Caio leva o silêncio dele como resposta positiva – Isso quer dizer que o senhor não é mesmo contra?
Adalberto volta ao alimento – Falei, várias vezes, que você pode contar comigo em tudo que precisar. Mas, faça somente o que seu coração desejar, e não caprichos de um homem que não se sente feliz de verdade ao lado da companheira que escolheu e precisa de outra, fazendo parte da sua vida para encontrar a verdadeira felicidade
Caio se coloca de pé. – Boa noite, pai. Boa noite, mãe, estou indo para a minha casa.

Estela – Filho, espere?

Adalberto – Deixe que ele vá, Ester. Ele precisa ficar sozinho. Pensar bem no que realmente deseja na vida.

Ester – Eu ia oferecer a sobremesa.

Adalberto – Se fez o que ele gosta, levo amanhã no quartel.

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