São Paulo. Periferia, Interior da casa.

Raquel, deitada, com a cabeça no colo da mãe, chora.

Laura — Não vai mesmo me dizer, fia, o que aconteceu? E eu já sabia, que a vida que escolheu não ia dá certo, nunca deu a nenhuma moça.

Raquel ¬— Só quero chorar. Sinto uma dor estranha, como se essa dor viesse da minha alma. Não sei explicar. Senti falta da senhora e de meu pai. Uma sensação, de que não iria vê-los nunca mais. Tive tanto medo, e a única coisa que pensei, foi voltar para perto de vocês.

Laura — Bota uma coisa na sua cabeça, fia. O caminho que escolheu só ia mesmo trazer tristeza. A mulher sempre perde. Para os homens não. Usam, abusam, faz festas, e depois voltam, cada qual para a sua esposa, enquanto a moça tem que deixar um e depois pega outro, sem escolhe qual vai dá o melhor agrado. E a tristeza dela vem depois, quando bota a cabeça no travesseiro pra dormir. Quanta história já ouvi assim. A sua não ia se diferente.

A moça senta, seca o rosto molhado, procura amenizar a tristeza.

Raquel — Ainda não fui mulher de nenhum homem, mãe. Continuo pura.

Laura — Como assim? Faz uma semana que você saiu daqui, foi morar numa casa de perdição. Volta abalada, e diz que ainda é moça pura.

Raquel ¬— É uma longa história. — olha ao redor — Onde está meu pai? Quero dar um abraço nele.

Laura — Ele foi comprar remédio. Não passou nada bem á noite. Sentiu tontura, falta de ar. Acordou sufocado. Disse que teve um sonho. Que eu e ele viajava num navio, bem grande, muito chique, e de repente o navio começou afundar. Quando ele se lembrou de você, tentou nadar, mas não conseguiu. — ri — Só teu seu pai mesmo pra ter um sonho desse. Nós dois, num navio chique, viajando.

Naquele instante, Manoel chega, fica surpreso em ver Raquel. — Fia?

Raquel corre para o abraça. — Que bom que chegou, pai. Estou feliz em vê-lo.

Manoel — Eu também to muito feliz em ver você, fia. Não sei porque, mas, achei que não ia te vê nunca mais.

Raquel chora — Eu também tive a mesma sensação hoje, pai. Tanto, que estou aqui nos teus braços. A mãe me contou o sonho que o senhor teve.

Manoel — Parecia tão real. Mas, agora olhando você, vejo que não passou mesmo de um sonho tolo. — solta o ar pelas narinas — Estou até respirando melhor. — puxa ela — Quero outro abraço seu. Senti sua falta, minha menina.

Manoel a olha dos pés à cabeça. — Que boniteza é essa? Até parece muié de doutor. Não precisava vim assim, tão chique, visitar a gente. Era só fala que eu ia acredita que tá bem, onde escolheu morar.

Raquel — Desculpa, pai. Não vim vestida assim, para mostrar que estou bem. Eu estava num casamento. Fui madrinha do noivo. — ri — E ele é mesmo doutor. Ele é médico lá do hospital.

Laura fica cabreira — Desde quando muié da vida é madrinha de doutor, Raquel?

Raquel senta ao lado da mesa. Pega uma banana na fruteira de bambu. Come, enquanto os pais esperam explicação. Ela refaz a postura, de mulher determinada.

Raquel — A única coisa que não quero na minha vida é sofrer por amor. A senhora pode ter certeza, não vai me ver, nunca mais, chorando por nada.

Raquel se refere ao pai. — Acredito no sonho do senhor, pai. Provavelmente, em outra vida, viveu os acontecimentos que sonhou. Eu devo ter vivido também, em outra época, e nesta, estou comendo o pão que amassei. Muito mal amassado… Não tem explicação. Eu deixei uma festa maravilhosa, com pessoas da alta sociedade para vir chorar no colo da minha mãe, porque nada tem sentindo sem vocês, perto de mim. E a senhora me trata friamente, como se eu não tivesse o direito de fazer as minhas escolhas… mesmo… depois, de lhe dizer que ainda sou a mesma, de quando sai daqui.

Laura — Não consigo acreditar que…

Raquel — Nenhum homem ainda tocou em mim, mãe, estou falando a verdade. Teria acontecido ontem à noite, com o doutor, se um fantasma não tivesse batido na porta, e ele saiu quase pelado, pra ver se era alguém que estava morrendo no corredor.

Manoel — Deixa ver se entendi o que falou, fia. Ontem, você estava na cama com o doutor que se casou hoje, e você foi madrinha dele?

Raquel fica de costas. Olhos parados. — Exatamente isso, pai! Mas, como eu disse, não deu tempo de acontecer nada. O irmão dele é dono da casa, onde estou, e praticamente me obrigou acompanhá-lo.

Raquel volta olhar os pais. — O pior de tudo, foi ver ele se casar. Senti uma sensação ruim. Ainda estou sentindo arrepios, como se espinhos entrassem na minha carne, me machucando sem piedade. E lá no altar, me senti resumida a nada. Era como se todos os convidados me olhassem, com piedade. A única coisa que eu queria era fugir dali. Vir para perto de vocês e não sair nunca mais.

Raquel com os olhos lagrimejando-se. — Não quero voltar pra aquele casa, pai. Perdoe essa sua filha sem juízo, que tomou a decisão errada, sem pensar direito. Estou com medo do que poderá acontecer agora. Tenho pressentimento que o doutor vai voltar a me procurar. Não sei se quero ser a outra na vida dele. Acho que não estou preparada pra isso. Como eu disse, não quero sofrer por amor.

Laura — Raquel, você ficou apaixonada pelo doutor?

Raquel — Eu acho que ele também se apaixonou por mim. Porque na hora, ele não quis. Mas, quando me abraçou. Quando me aceitou, senti o corpo dele tremer de emoção. Eu senti o mesmo. Uma sensação que nunca pensei que sentiria.

Local da festa. Aos redores da mesa, a família dos noivos, comem e bebem. Noemi pergunta a Roberto. — E a moça que estava com você, filho, porque foi embora? Ainda não entendi.

Beto, envergonhado, disfarça — Raquel nem queria vir. Eu que insisti. Eu não tinha arrumado uma madrinha ainda para me acompanhar. Ela veio mesmo só para me fazer companhia.

Afonso — Apesar dela ter ido embora, até mesmo sem despedir de você, gostei da moça.

Beto sorri — Raquel é uma moça encantadora.

Afonso — Onde você a conheceu? Como se chama os pais dela?

Beto mente naturalmente — Ela é irmã de um amigo meu, o senhor não conhece. Até o convidei para o casamento, mas ele não veio.

Clara — Você parece que está gostando da moça. Será que sai logo outro casamento na família?

Roberto não tem tempo de responder. Giza chega. — Doutor Custódio? Alguém o viu?

Afonso — Não está com você?

Beto faz gozação. — Está vendo, pai! Não sou o único a sumir de vez em quando.

Giza preocupada — Distraí, conversando com algumas amigas, e não vi o doutro sair. Onde poderá ter ido?

Tainá — Talvez, foi atender uma emergência, como médico.

Eduardo chega. Afonso pergunta: ¬— Custódio, você viu para onde ele foi?

Beto fica sério. Escuta a própria voz, dizendo a outro homem, como se respondesse a pergunta do pai. (Era outra época e outro lugar semelhante) — Será que ele foi atrás da outra.

Homem, ao lado de Roberto Lacerda. — Se ele fez isso, é maluco. Onde se viu largar a noiva, sozinha, com os convidados, no dia do casamento.

Beto volta a si, com Giza lhe perguntando. — A moça que estava com você, Roberto, aonde está?

Beto, salta, ficando de pé. — Acho que sei onde encontrar Custódio. Vou atrás dele! — aponta Giza – Vou trazê-lo de volta. Prometo que faço isso.

Beto, apressado, sai tropeçando nas pessoas, cadeiras e mesas.

Todos entreolham confusos, sem nada entender. Giza se apoia na mesa, abalada, sente as pernas bambas. Ela senta no lugar de Roberto. Pega o jarro em cima da mesa e toma vinho, no próprio. Engole forte, como se fossem espinhos descendo na garganta. Percebe todos, em silêncio, notarem seu comportamento. Vagarosamente devolve o jarro na mesa. Levanta, pede desculpa e sai.

Mãe, sentada, na outra ponta da mesa, fica de pé, fala com o esposo, boquiaberto: — Vamos atrás da nossa filha. Vamos saber direito o que aconteceu.

Dudu, murmura: — Isso é coisa do Roberto!

Afonso — Você sabe onde ele e Custódio foram? Sabe o que está acontecendo?

Dudu — Primeiro a moça que estava com o Beto vai embora sem se despedir de ninguém. Depois, Custódio some, sem a noiva saber do seu paradeiro, e o Roberto… Melhor eu não dizer mais nada, para não falar errado. Besteira o que passou pela minha cabeça.

Noemi, Clara, as irmãs, cunhados e sobrinhos, se matem fixos a ele.

Afonso — Deve estar havendo um engano. Custódio não deixaria a noiva com os convidados, no dia do casamento para ir atrás de outra.

Dudu sorri. Pega o jarro que Giza deixou na mesa: — Alguém quer vinho? Eu quero!

Afonso percebe que o filho disfarçou.

Dudu completa. — Custódio é maior de idade. Dono do próprio nariz. Deve saber o que faz. Bom, vamos imaginar que ouve uma emergência e ele não teve tempo de avisar. Foi isso que aconteceu, não foi? — Ninguém se move. Ele vira para o garçom, segurando um jarro — Concorda comigo pelo menos você?

Tainá pula na cadeira, levando um banho de vinho.

Garçom — Desculpa, moça. Fiz sem querer.

Tainá — A culpa não é sua. É do meu irmão, eu vi quando ele puxou o seu braço.

Dudu — Foi sem querer, Tainá. Desculpa? Fui mal. — se coloca de pé. – Eu a levo para trocar a roupa.

Garçom — Melhor a moça remover o vinho rapidamente para não perder o vestido. — Estendendo-lhe um tecido que carregava. — Molhando em água limpa, passando várias vezes vai remover parte da mancha. Posso acompanhá-la para fazer isso agora, antes que o vinho seca.

Tainá não se move, acanhada, olhar fixos nos olhos do rapaz.

Dudu insisti: — Decida logo, Tainá. Vai com ele, comigo, ou vai ficar com o vestido manchado de vinho?

Tainá disfarça, pega o tecido oferecido. Eduardo percebe o gesto do rapaz, com gentileza, acompanhando Tainá.

Afonso — Você não derrubou de propósito vinho na sua irmã, só porque o garçom estava de olho nela?

Dudu – Ele estava de olho nela?

Afonso — Sim! Ele estava como uma estátua, do seu lado, devorando a sua irmã com os olhos.

Dudu vira para traz, querendo ver onde Tainá e o rapaz estão. – E ela preferiu ir com ele. – ri — Sem querer acabei ajudando os dois. – E brinca, fazendo todos rirem. — Acabei de descobrir que sou um cupido.

Noemi se coloca de pé. — Vou ajudar Tainá com o vestido.

Afonso — Deixe os dois se virar, meu bem. Já são bem crescidinhos. Tainá tem juízo.

Onde Beto mora.

Custódio, abre bruscamente a porta do quarto de Raquel, dizendo: — Você não devia ter ido no… — e se cala, sem ver ninguém.

Ao descer a escada se depara com Roberto, entrando pela porta da frente.

Beto ri — Doutor, cria juízo. Você é um homem sério, de respeito, acabou de se casar. Não foi essa educação que nosso pai lhe deu!

Custódio abafado — Onde está ela?

Roberto bate palmas. Estela aparece no alto da escada, e se esconde para ouvir a conversa.

Beto — Raquel, mais uma vez, mostrou ser uma mulher surpreendente. Merece salvas de palmas. Ela é incrível! E se não está aqui, deve estar na casa dos pais. E juro, que se soubesse o endereço lhe daria, com muito gosto.

Custódio — Porque faz isso comigo?

Beto, sério e bravo — Não estou fazendo nada com você, doutor. A brincadeira foi ontem. Hoje, o assunto é outro. Seu lugar, nesse momento, deveria ser ao lado daquela que você escolheu como esposa, e não aqui, atrás de Raquel.

Custódio engole a saliva, que desce grossa na garganta.

Roberto gargalha: — Eu sabia! Eu tinha certeza que você iria amar o presente que lhe dei. Na hora em que vi Raquel, pensei comigo. Essa mulher vai enlouquecer o meu irmão. E se ela mexeu com você tanto assim, era tão fácil resolver a questão. Deveria ter dito não, diante o vigário. E seria livre, desimpedido para correr atrás da mulher que você realmente quisesse.

Custódio, aponta o irmão — Tire-a, do meu caminho, da mesma maneira que você colocou. Caso der errado meu casamento, eu mato vocês dois.

Beto segura-o, impedindo de sair. — Espere aí, doutor? – Se olham nos olhos. — Conheço você melhor que ninguém, e, entenderia as suas palavras, se não tivesse escolhido a profissão que escolheu.

Custódio — Minha profissão não tem nada ver com o que está acontecendo.

Beto — Tem sim! E muito! Você passou anos e anos dentro de uma faculdade, estudando maneiras de como salvar vidas, e vai jogar o seu diploma no lixo por uma bobagem sua?

Custódio desvia o olhar. Beto continua: — Acaso eu lhe pedi que viesse procurar Raquel? Ela também lhe pediu algo parecido? Não, meu irmão. Jamais esqueça que está aqui por vontade própria, e não venha culpar a mim e Raquel pela sua fraqueza.

Beto deixa-o livre, e vai pegar uma garrafa em cima do balcão. — Estou feliz em saber que temos algo em comum. Precisamos investigar melhor, com certeza, temos parentesco que nos leva querer viver no pecado, como viveu nosso avô Roberto Lacerda.

Beto despeja a bebida no copo, levanta em direção ao irmão, intacto, ainda observando-o. — Um brinde a você, que também caiu nas piores tentações que o mundo oferece.

Custódio ameaça sair, mas retorna, com Beto dizendo: — Vou lhe provar, Custódio, que não sou uma pessoa má. Tanto, que vamos fazer um acordo. Faça sua viajem de lua de mel, com a mulher que acabou de escolher como esposa, sem pressa de voltar. Quando retornar, prometo que Raquel vai estar aqui, esperando. Claro, vai depender dela, aceitar ou não ser a outra na sua vida.

Mostra-lhe a ponta do dedo – Ontem, depois que você foi embora, conversei com Raquel. Ofereci a ela uma vida digna, eu a pedi em casamento. Claro, foi um charme que usei para ver qual seria a atitude dela, e sabe qual foi a resposta? Caso nunca encontre um homem que a ame, como única mulher, prefere ser amada por muitos. – ri – Então, meu irmão, pense bem enquanto estiver fora. Quando retornar, terá que escolher qual mulher que vai querer depois. Duvido que Raquel aceite ser a outra.

Custódio nega com a cabeça. — Acabei de me casar. Fiz um juramento, e não vou deixar minha mulher por causa de outra.

Beto — Acorde para a realidade, Custódio. Será que ainda não percebeu a loucura que acabou de fazer. A primeira pergunta que me fez, quando entrei nesta sala foi: onde está ela? Isso significa o quê? Que você iria atrás de Raquel até mesmo no inferno se tivesse certeza que a encontraria lá. — sorri — Como sabia que a encontraria aqui, veio correndo. Então, eu lhe pergunto: O que aconteceria se a encontrasse? Deixe ver se adivinho, e não preciso de uma bola de cristal para isso. Bom, vou começar pela cabeça da sua noiva, nesse momento, se vendo sozinha, dando explicações aos convidados pelo desaparecimento do noivo, enquanto ele estaria nos braços da outra. Eu, no lugar da sua mulher, jamais lhe perdoaria.

Custódio, sente cair um peso em seus ombros. A voz quase não sai: — Não brinque com meus sentimentos!

Beto procura ser gentil — Não estou brincando com os seus sentimentos, meu irmão. A escolha foi sua estar aqui, nesse momento. Como eu disse, a brincadeira foi ontem, hoje a história deveria ser outra. — ri — Fiquei sabendo do fantasma. Estou investigando para ver se descubro quem foi o maldoso. E se não fosse ele, talvez, você perderia a hora do casamento. Posso lhe dar uma sugestão, se não encontrar uma boa desculpa para dar a sua mulher, caso, ela não o perdoei pelo que fez. Diz que precisou sair correndo para não sujar a calça com a caganeira que teve, ela vai acreditar em você. — Custódio sai apressado. — Tenha uma boa viagem, doutor. — completa Roberto rindo.

Estela se esconde melhor para não ser vista por Beto. Ele pega outra bebida. Estela percebe nele, dupla face. Beto, levanta o copo e brinda. Sua fisionomia fica apagada, olhos vazios.

Beto — Tim. Tim, doutor. O que temi aconteceu. Pra levar Raquel daqui, vai ter que me pagar muito caro. Metade da sua fortuna será pouco.

Estela frange o cenho. Cristovam se coloca ao lado dela. Estela lembra o dia em que Raquel chegou na casa. Depois que Beto deixa o quarto, na cozinha, ele fala com uma das moças, a mais velha de todas.

Beto — Daqui a pouco você leva o jantar para a nova candidata. O nome dela é Raquel.

Moça — Eu vi quando Marta chegou com ela. Moça muito bonita!

Beto — Linda! Vamos dizer. E não a deixe sair do quarto por nada. Não quero nenhum homem sabendo da ausência dela na casa, se acontecer o que me passou pela cabeça. Raquel vai me render um bom dinheiro.

Estela, também sentada ao redor da mesa – Posso ir conhecer a moça? Eu estava no banho quando a Marta chegou.

Beto – Não quero ela circulando nem mesmo aqui dentro. Quanto menos tiverem envolvimento com ela será melhor.

Moça – Antes da moça, Estela, você era a mais nova na casa. Na ausência do chefe é a mais velha quem comanda, e nesse caso sou eu.

Estela pega o prato para se servir. — OK! Não está mais aqui quem falou. É que o mestre, — se refere a Beto. — Falou com tanto entusiasmo da beleza da moça que fiquei curiosa para conhecê-la.

Moça 2 – Só você que não viu a moça, Estela, quando Marta entrou, com ela, pela porta do fundo.

Moça 1, se coloca de pé. — Vou levar o jantar da Raquel.

Ao passar por Cristovam, ele coloca a perna na frente da moça. Aos gritos de dor, ela volta para a cadeira.

Moça 1 — Droga! Torci o meu pé. — olha para Estela — Isso foi praga sua garota?

Estela se defende. — Ficou pirada? Claro que não!

Beto ri e se refere a Estela. — Acho que a sua vontade prevaleceu. Vai lá levar o jantar da Raquel. — aponta ela — Vou ficar de olho em você. Meu pai sempre diz que palavras tem poder. – e sai rindo.

Moça continua gemendo com dor no pé.

Estela, no esconderijo, na parte superior da escada, volta olhar Beto, apreciando a bebida. Ela volta recordar, quando, na noite anterior, sobe a escada com Augustinho, e vê Beto entrar pela porta da frente, e, em seguida, Custódio no corredor. Chega ouvir novamente a pergunta dele, muito assustado. “Quem bateu na porta?”

Cristovam sussurra aos ouvidos da moça. – No quarto do Roberto você vai descobrir quem é o fantasma.

Estela volta olhar Beto, e sem fazer barulho caminha. Abre a porta do quarto, com cuidado. Ainda olha no corredor para ver se não tinha ninguém. Dentro do quarto abre e fecha as portas do armário, procurando entre as roupas.

Beto termina a bebida. Coloca o copo no balcão e sobe a escada.

Estela, surpresa encontra uma porta falsa, dentro do armário, e se alegra: — Tim. Tim, digo eu Roberto Lacerda. Acabei de encontrei o fantasma do doutor Custódio.

Cristovam alerta ela — Ele vem vindo.

Estela coloca a atenção em direção a porta, e ouve os passos na escada. Fecha o armário e se joga na cama, no instante, em que Roberto abre a porta.

Beto fica surpreso. — O que está fazendo no meu quarto, Estela?

Ela mostra os dentes, e se retorce, tirando a blusa. — Esperando o mestre. Faz dias que não ficamos juntos. Estou com saudade dos seus carinhos. — e lhe estende a mão. – Vem?

Beto, tira o paletó e se joga na cama — Como pode um homem viver sem as tentações do mundo?

Estela sente alívio, ele nada perceber.

Na casa de Custódio.

Abrindo a porta, ele para de frente a foto do pai. Ao colocar a mão na pintura se pergunta, com emoção: — O que está acontecendo comigo, pai? Onde estiver, se souber dê-me uma resposta.

Cristovam se coloca ao lado dele.

Custódio ainda lamenta: — Por que tudo na minha vida tem que ser assim?

Cristovam desaparece, depois que Ezequiel surge e lhe mencionar um gesto positivo com a cabeça.

Custódio se desperta ao ouvir barulhos constantes, vindo, de um dos quartos. Ele caminha vagarosamente. Quando entra em um, para ao bater a ponta do sapato na mala pronta para viagem. Reflexos do passado lhe volta a memória. Ele vê Raquel sentada na cama, com as costa apoiada na cabeceira.

Raquel — Quem é ela?

Custódio se vê sentando ao lado dela – Uma moça qualquer que conheci ontem. Uma brincadeira do Roberto que… — Ele se cala, olha para as malas, também no chão do quarto. — Podemos viajar agora se você quiser.

Custódio se assusta, voltando a si, com o barulho retornando, agora em outro lugar. Ainda parado na soleira da porta, volta olhar a cama e nada vê. O barulho insiste. Ele segue o corredor e abre a porta de outro quarto.

Uma pombinha, voa de um lado para o outro, procurando a saída. Cai no chão, levanta voo, e novamente, cansada, torna cair. Custódio procura acalmá-la. Pega-a com cuidado. Abre a janela e a deixa ir embora. Ele segue-a com o olhar, até que desaparece. Suspira, se sentindo melhor. A pombinha retorna, era Cristovam que se coloca ao lado do filho, e fala com ele.

Cristovam — Giza o aguarda para seguirem viagem. Espiritualmente ela sabe que é responsável estar vivendo agora, o mesmo que Raquel. Vocês escreveram suas histórias com dor, sofrimento e sangue. Receberam a chance de desfazerem os erros do passado. Cada um deve buscar o perdão e arrependimentos para que outros, também encontrem o verdadeiro caminho da felicidade, como deveria ser desde o começo.

Custódio pensa, e decidido fecha a janela.

Onde a festa continua. As pessoas comem, bebem, conversam felizes. Luiz pega uma rosa branca, em um dos vasos que enfeitam o ambiente. Maria sorri quando ele lhe faz um sinal. Ela espera ele se afastar, levanta e fala com Dora.

Maria — Mãe, preciso fazer xixi. Já volto. – e sai, sem esperar resposta.

Do outro lado, Luiz vê Custódio chegar. Dudu, um pouco afastado também, e vai ao encontro do irmão que pergunta pela noiva.

Dudu – Ela começou abusar um pouco do vinho, mesmo depois que a mãe falou para os convidados que você teve que atender uma emergência. Todos acreditaram, menos a sua noiva e a nossa família. Os pais acabaram levando ela embora. Pra casa deles. Mandou te avisar.

Custódio – Estou indo e não volto mais.

Eduardo – Você estava com o Beto?

Custódio – Desculpa em lhe dizer Eduardo. Mas se um dia o Beto estiver morrendo, quero estar bem longe daqui. – vê Afonso vir na direção dele, acena, saindo – Quem sabe, um dia, a gente se encontra de novo. Adeus meu irmão.

Dudu – Custódio, espere?

Afonso chega – Por que Custódio saiu tão rápido? O que lhe disse? Ele falou o que aconteceu?

Dudu percebe que Custódio fugiu para não falar com Afonso. E disfarça: – Não, ele só perguntou da Giza. Foi atrás dela. Bom, ele não mais volta aqui hoje.

Afonso, preocupado percorre os olhos ao redor, vê Luiz entregar a rosa para Maria. Com emoção, ela senti o perfume. Afonso solta uma grande gargalhada.

Dudu, de costas para o casalzinho, fica sem entender – Por que está rindo?

Afonso – Olha você!

Dudu vira para trás. Maria, emocionada ainda cheirava a rosa, fixa em Luiz, que conversava com ela. Dudu sorri – É o amor! Que nasce quando menos se espera.

Afonso – Hum! No caso desses dois é esperado há muito tempo. Espero que Moreira e o Geraldo não vejam os filhos juntos, brigam, e acabam de vez com a festa. E pensar que quando essa menina nasceu Geraldo e Moreira quase se atarracaram. Fui testemunha, e estou sendo novamente. O pior que falei para os dois que não seria testemunha de nada!

Dudu — Como assim? É a primeira vez que escuto o senhor falar nisso.

Afonso — Se eu contar você não vai acreditar.

Dudu — Conta. Agora o senhor me deixou curioso.

Afonso volta olhar o casalzinho.

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