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Tonny tinha ouvido passos vindos de fora, alguém estava observando o grupo há algum tempo, com apenas um olhar Tonny mandou os amigos para pontos estratégicos dentro do porão. Lucca permaneceu imóvel na frente do computador, levou menos de uma fração de segundo para invadir o sistema de câmeras da escola e acessar a câmera em frente à porta do porão flagrando a espiã no ato.
Jimmy e Drew deram a volta pela parte de traz do colégio o que levou cerca de cinco minutos para eles chegarem onde estava a menina. Lucca confirmou que eles já estavam em posição e isso fez Tonny e Adam se aproximarem da porta. Tonny fez algum tipo de contagem mental e no terceiro aceno com a cabeça eles puxaram a porta com toda a força que tinham, fazendo o metal enferrujado ranger como um trovão abafado.
─ Ora, ora, ora, o que nós temos aqui? ─ Perguntou Tonny encarando a menina nos olhos.
A menina era linda, tinha a pele tão branca quanto o mármore, cabelos castanhos, curtos e com algumas mechas rosa desgrenhadas, seus lábios eram finos e delineados por um batom roxo, seus olhos eram de um vermelho intenso e valorizados por uma sombra escura, ela usava uma saia na altura dos joelhos cheia de babados, várias anáguas, uma blusa regata azul que valorizava os seios em formato de pera firmes, e por cima, uma jaqueta preta lhe dava um ar malvado e sedutor.
─ Eu sou Alice. ─ Disse ela com a voz firme.
Sem nenhuma cerimônia Alice fixou seus olhos vermelho escarlate em Tonny como se quisesse fuzilá-lo, mas sem perder a delicadeza nem a firmeza de sua voz. O som de sua voz era apaixonante, tão doce quanto o mel e tão inebriante e saboroso quanto o vinho.
As caras amarradas deram lugar a sorrisinhos bobos de felicidade. Os quatro antes dispostos à briga agora pareciam marionetes nas mãos de Alice, ela os fez deitarem no chão enquanto entrava naquele lugar.
─ Quem é você? ─ Perguntou Lucca com um tom desafiador em sua voz.
─ Eu quero que você saia daqui agora! ─ Ordenou ela com o mesmo olhar penetrante de antes.
─ Quem é você e o que faz aqui? ─ Perguntou ele aumentando o tom de voz.
─ Apenas obedeça. ─ Disse ela encarando-o.
─ O que você fez com os meus amigos!? ─ Lucca perguntou agarrando-a pelo braço. As luzes do lugar começaram a acender e apagar em um ritmo frenético fazendo algumas lâmpadas explodirem.
Alguma coisa estranha estava acontecendo ali, e Alice não sabia como explicar que seus poderes hipnóticos pareciam não surtiam efeito naquele garoto, que parecia estar possuído por algum tipo de poltergeist.
***
Lucca não sabia como aquilo tinha acontecido, como as luzes do porão piscavam incontroláveis e cada vez mais fortes.
O garoto não sabia como, mais sabia que ele era a causa do que estava acontecendo, ele sabia que Alice estava confusa e resolveu usar isso a seu favor. Pela primeira vez na vida, de algum modo ele experimentou um poder que não sabia que tinha e aquilo o fizera feliz.
Meio atordoada Alice apenas tapou os olhos com as mãos tentando fugir do brilho ofuscante daquelas luzes, a garota estava cega, ele acabara descobrindo seu ponto fraco.
─ Saia daqui! ─ Lucca ordenou com a voz firme.
─ O que você fez comigo, seu garoto idiota! ─ Alice de alguma forma sabia que aquilo era culpa dele.
─ Liberte meus amigos de sua influência, ou sofrerá as consequências!
Lucca apenas pensou no fogo se alastrando, e em questão de segundos um círculo ardente se formou ao redor deles.
─ Como você faz isso!? ─ Perguntou Alice surpresa.
─ Isso você terá de pagar para descobrir. Arrisque-se! ─ Ele disse encarando-a nos olhos.
Notando o medo na voz da menina Lucca fez as chamas aumentarem e assim o barulho ensurdecedor do alarme fez que ativassem os extintores de incêndio no teto, apagando por um momento as chamas e dando a chance perfeita para que Alice escapasse dali em questão de segundos.
Do lado de fora do prédio pessoas se amontoavam tentando fugir do perigo, os professores que já tinham conseguido sair tentavam acalmar e organizar os alunos histérico. Grupinhos começavam a se formar, garotas choravam e se abraçavam, sem entender o que estava acontecendo.
As sirenes anunciavam a chegada dos bombeiros.
As aulas haviam sido suspensas pelo resto da noite, todos os alunos foram mandados para casa, por sorte o fogo não havia se alastrado, mantendo-se apenas no subsolo do prédio.
Lucca foi o último a sair, ele e os amigos tiveram de tirar todos os equipamentos que estavam guardados no subsolo para não dar na vista, ou eles poderiam ser acusados de alguma coisa ligados ao incidente, e aquilo não era bom para nenhum deles.
O diretor anunciou a todos a suspensão das aulas até que o incidente fosse esclarecido, e assim a atmosfera de medo começou a se dissipar com os alunos que iam embora.
***
Ela era um enigma. Nenhuma informação sobre a garota, Lucca já tinha fuçado todos os lugares possíveis e impossíveis que pudessem guardar informações sobre ela. Nenhum histórico médico ou escolar, nenhum registro de nascimento ou carteira de motorista, nada que levasse a uma pista sobre quem era Alice ou de onde ela vinha, era como se ela não existisse.
Não havia nenhum registro até ela chegar naquela cidade, ninguém nunca tinha ouvido falar nela até sua mudança, o que mais chamava a atenção de Lucca era que Alice não usava a internet para nada, MSN, Orkut ou Facebook, ela não existia virtualmente e parecia que não existia fisicamente também.
Desde o dia do seu primeiro encontro, aquela cena não saia da sua cabeça, a hipnose, o modo como ela fez de seus amigos meros fantoches, como se eles não tivessem vontade própria.
Por que Lucca não fora afetado?
Essa era a pergunta que perturbava o garoto há algumas semanas. Aquele misto de raiva e medo de algum modo liberou seus poderes parcialmente e agora ele podia usar a magia para pequenas coisas, ele ainda não sabia como controlar o fluxo de magia, isso dependia de suas emoções, em especial quando Alice estava entre seus pensamentos.
Apenas a menção da imagem de Alice fazia as coisas explodirem, flutuarem e muitas vezes mudarem de forma diante de seus olhos, ele não era capaz de controlar, mas os acontecimentos ocorriam com mais frequência quando ela estava perto dele.
A partir daquele momento ele usaria aquilo a seu favor.