A mesa estava uma bagunça total.

Cadernos, dados e fichas estavam espalhados por todos os lados, os cinco passaram uma tarde inteira intertidos em um jogo extenso de RPG apenas para matar o tempo.

Eles estavam jogando numa plataforma genérica simplificada de RPG que Lucca achara na internet há meses, essa plataforma consistia em criar uma partida de RPG em poucos minutos. Garantia de sucesso para aqueles que soubessem como criar uma historia envolvente, com personagens cativantes e experientes.

Os garotos eram experts no assunto, passavam boa parte do tempo tramando novas aventuras em varias plataformas de jogo. A preferida deles, e a mais jogada era a D&D, Lucca era o mestre do jogo e sempre criava situações inusitadas que fazia o resto do grupo usar o cérebro para escapar de suas armadilhas.

Ele havia chamado os amigos para passarem um tempo em sua casa ate o retorno do pai, que já estava fora há três dias. Lucca nunca sabia quanto tempo às saídas do pai duravam em geral eram de uma semana mais ou menos, e ele sempre voltava banhado em sangue.

Com o passar do tempo ele aprendeu a não perguntar sobre as escapadelas do pai, ele só sabia de uma coisa, o pai passaria por tempos difíceis e precisaria ficar sozinho por um tempo, pelo menos ate se recompor da caçada.

Era assim que Orfeu definia suas saídas demoradas, uma caçada. O que eles caçavam era um completo mistério, Lucca nunca se atreveu a perguntar, pois sabia que o pai jamais responderia a essa pergunta.

Eles tinham pedido varias caixas de pizza, o que significava que eles faltariam à escola para ter uma noite de garotos regada a jogos e pizza.

O cara ainda ta apagado lá em cima? Perguntou Jimmy mordendo um pedaço de pizza.

Sim. Respondeu Lucca. Ele esta dormindo há três dias.

Você tem certeza que ele não morreu? Perguntou Drew.

Tenho sim, eu chequei os batimentos dele. Deve ser só cansaço, logo, logo ele acorda.

Você consegui decifrar mais alguma coisa do livro? Perguntou Tonny deixando de lado seu ultimo pedaço de pizza.

Ainda não. Ele respondeu olhando para o livro do mestre diante dele.

De repente seus olhos ficaram embaçados, e ele começou a suar, seu estomago estava embrulhado. Ele estava a ponto de vomitar toda a pizza que tinha comido.

Lucca o que você tem? Perguntou Adam percebendo a palidez do amigo. Você esta bem?

O garoto não conseguiu responder, suas mãos estavam suadas e sua cabeça rodava. Ele apenas baixou a cabeça por um segundo para recompor as ideias e simplesmente apagou.

Definitivamente algo estava errado com ele.

Vultos de imagens apareciam diante de seus olhos enquanto alguns de seus pensamentos vinham à tona. Lucca tinha a sensação de que aquilo já tinha ocorrido antes.

Ele estava acorrentado a uma cadeira, Um garoto sorria, mostrando a ela um tabuleiro de xadrez preparado para o jogo.

Onde eu estou?”

Seja bem vinda meu anjo. Disse o garoto sentado a sua frente. Preparei este jogo especialmente para você.

O que você quer comigo? Perguntou ele tentando se livrar das correntes. “ Como eu vim parar aqui?”

Não adianta tentar se soltar, – ele disse pondo-se de pé, isso é prata pura, minha linda vampirinha.

Então foi você quem me mandou aquela mensagem? “ O que eu estou dizendo?”

Você não esta aqui para ter respostas e sim para responder as minhas perguntas. Ele disse pegando uma seringa com sangue que estava por trás do tabuleiro. O jogo apenas começou.

Sem cerimônia, o garoto injetou uma pequena quantidade do conteúdo da seringa no braço dele. Lucca sentiu suas veias queimarem, seus olhos apresentavam manchas negras que dificultavam ainda mais sua visão, ela estava começando a perder a consciência.

O que é isso? Perguntou ele com a voz embargada.

Isso minha querida, é um veneno para os seres de sua espécie. Respondeu ele retirando a corrente de um dos braços.

Sangue de um homem morto. Disse ele quase sem forças, vendo ele espirrar um pequeno jato para testar a agulha.

Como ele poderia sabia daquilo.

Seu copo já não obedecia mais as suas vontades.

O que você quer com ele? Perguntou o garoto próximo ao seu ouvido.

Ele quem? Ele perguntou.

Não tente me enganar meu amor. Eu venho vigiando vocês em segredo. Ele disse beijando os lábios dele. O que há entre você e o Lucca?

Eu não sei do que você ta falando. Quem é você? “ O que você quer comigo?”

Você não faz ideia de quem sou eu? Ele perguntou acariciando sua mão.

Sinceramente, não. Ele respondeu.

Lucca não conseguia distinguir a figura que estava a sua frente, seu rosto era apenas um borrão distorcido.

Ela esta mentindo. Disse uma voz em sua cabeça. Pergunte sobre o guardião.

O garoto se afastou um pouco, deu alguns passos para traz, olhando para as peças do xadrez ele estudava uma estratégia para fazê-la falar.

Sou eu minha querida, o Ângelo. Disse ele finalmente.

Ângelo… Eu não sei estou reconhecendo você. Ela respondeu. “ A pior pessoa que eu já vi na minha vida, para não dizer a mais burra também.”

As primeiras peças foram jogadas, logo, logo meu vírus estará em todos os lugares da rede e ninguém poderá me impedir de destruir o mundo. Nem mesmo você Lucca Souza.

O garoto viu-se cara a cara com Az, sua única vontade era de saltar em seu pescoço e drenar dele todo o sangue.

Em um piscar de olhos toda aquela cena havia mudado, toda a cena se repetia mais uma vez, agora ele era um mero espectador dos fatos. Ele via Alice sentada tentando se livrar das correntes. Ele viu Az injetar nela o sangue de homem morto mais uma vez.

Ela estava sofrendo.

Lucca foi tomado por um ódio imensurável, ele queria tira-la de lá, mas era como se ele fosse apenas um espírito, um ser sem corpo físico, sem capacidade alguma para defendê-la dele.

Eu preciso fazer alguma coisa para ajuda-la. pensou ele.

Você não pode. Az respondeu olhando fixo nos olhos dele. Você é um mero reflexo.

Vamos Lucca, faça alguma coisa, Disse ele a si mesmo.

O que um garoto magrela como você é capaz de fazer contra mim? Az desafiou. Vejamos do que você é capaz filho de Orfeu.

Lucca fechou os olhos por um instante.

Ele nunca havia desejado na vida matar alguém, ao ver aquela cena se repetindo inúmeras vezes ele cedeu ao desejo. Ele queria matar, tomado pela fúria ele sentiu uma força descomunal invadindo seu corpo, ele queria arrancar o coração de Az com as próprias mãos.

Seus olhos brilhavam de excitação, Lucca se entregou ao momento. Em questão de segundos ele estava diante do carcereiro de Alice pronto para estrangular seu pescoço.

Não me provoque. Ele disse mostrando os dentes pontudos.

Sem pensar duas vezes Lucca cravou os dentes no pescoço de Az que atordoado apenas ficou imóvel esperando pela morte.

 

***

 

Ele acordou atordoado, aquilo tinha sido apenas um sonho. Seu coração estava tão acelerado que parecia que iria saltar pela boca, seu estomago ainda parecia revirado.

O bater de asas de um morcego ecoava pelo quarto, como se quisesse acorda-lo. Lucca abriu a janela para respirar o ar noturno.

Um homem observava a noite sentado num banco em frente à casa. Lucca o observou por um tempo, ate se dar conta de uma coisa.

Ele ainda podia sentir o gosto do sangue em sua boca.

 

***

 

O mal ainda espreita,

Lacaios da noite perecerão diante do nosso poder.

Magica adhuc vivit.

 

A Ordem dos Templários de Prata. Pensei que nunca mais veria esse nome novamente. Disse ele colocando uma moeda na bolsa amarrada à perna do falcão.

Há muito tempo ele não via aquele símbolo, Orfeu quase se esquecera de que um dia fizera parte ordem. Sem nenhum aviso o falcão real adentrou sua casa, aninhando se na mesa da cozinha a espera de alguém para receber a mensagem.

Orfeu chegara em casa de um dia estressante de trabalho na universidade local, apinhado de compras e trabalhos esperando sua correção, quando viu o animal a sua espera ele tomou um susto.

Orfeu dava aulas no curso de historia da em um polo de educação a distancia da Universidade Estadual Oswald Andrade, apelidada por seus cursistas de OZ, que era uma referencia direta a serie televisiva comparando as salas de aula com uma prisão de segurança máxima.

Aquele era um belíssimo animal, forte, robusto e de pose imponente, o falcão não alçara voo de imediato, Orfeu percebeu que era necessário uma resposta àquela mensagem. A ordem estava sendo convocada mais uma vez para uma missão depois de anos.

Para a sua surpresa aquela não era uma ordem direta do papado atual e sim uma missão por conta própria dos membros restantes.

Aquele era um procedimento de praxe do grupo, primeiro ele veria a mensagem amarrada ao pé do animal para ter certeza de sua procedência e só então ler a verdadeira mensagem.

Orfeu procurou papel e caneta nas gavetas de um armário próximo, rasgou uma pequena tira, escreveu a frase: “Um guerreiro divino nunca foge da batalha. A magia ainda vive.” dobrou o papel com cuidado colocou na bolsa junto com a cunha de prata.

O homem retirou das costas do animal um envelope em couro marrom, e de dentro do envelope outro em papel comum. Este segundo envelope estava lacrado com uma fita vermelha e o selo da cruz de malta cravado em cera.

A águia baixou a cabeça como uma espécie de reverencia a Orfeu em agradecimento, abriu suas magníficas asas alçando voo pela mesma janela aberta. Orfeu seguiu-a com o olhar deparando-se com um belo por de sol.

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