Escalar a montanha mostrou— se um trabalho árduo, o caninho era tortuoso e cheio de perigos, seu senso de direção mostrou— se afiado, os materiais trazidos em sua mochila se mostraram uteis no fim. Soam estava agora a poucos metros da grande fenda, o calor escaldante vindo do rio de lava abaixo dele não o incomodava, seus poderes lhe davam resistência maior ao calor.
Na verdade, ele parecia estar em casa, naquele ambiente escaldante.
— Seja bem-vindo ao meu domínio homem salamandra.
“Homem Salamandra” um termo ofensivo usado para designar seu povo, só por que ele nasceu no reino das salamandras gigantes, fora criado por elas. Ninguém conhecia sua origem, o rapaz sempre fizera questão de esconder as manchas alaranjadas em sua pele, proveniente da ingestão das grandes quantidades de veneno que seu povo ingeriu durante as incontáveis eras.
— O que quer de mim? — Perguntou ele rispidamente. — Por que não se mostra?
— Você já me conhece das antigas lendas de seu povo, eu criei as salamandras e consequentemente o seu povo. — Disse— lhe em sua mente. — Quero que me ajude a recuperar um tesouro roubado de mim há muito tempo.
— Quem é você?
— Eu sou um Dijon, o ultimo de minha espécie. Senhor do fogo, dos sonhos e dos desejos. Faça o que lhe peço e atenderei ao desejo mais profundo de seu coração.
Uma parede de lava se ergueu diante dele e com ela a figura de uma linda mulher apareceu tremeluziu e tomando forma solida caminhou até ele e o beijou apaixonadamente. Aqueles eram os mesmos olhos, o cabelo trançado com rosas e o belo sorriso, aquela era Aia, o amor de sua vida, que por alguma razão escolheu seu melhor amigo ao invés dele.
Ele a tocou por um instante sentindo o calor e a macies de sua pele, o toque de seus lábios junto aos dele, seu corpo a desejava de todas as formas possíveis, deixando transparecer os sinais de seus desejos mais profundos.
Amor, paixão e desejo se misturavam em seu interior, numa amalgama pura e ao mesmo tempo profana.
— O desejo mais profundo do meu coração!
— Sim, Aia será sua para toda a eternidade, se … e somente se me trouxer o que lhe peço.
— Como posso ter certeza de que o que você fala é verdade? — O rapaz questionou.
— Um Djin honra seus compromissos, e como filho do fogo você deveria saber disso. Me traga o punhal das sombras e ela será sua. Então… temos um acordo.
— Sim! — Disse por fim.
— Que assim seja! — Disse o gênio num estalar de dedos.
Ele sentiu seu corpo queimar a pedra em seu pescoço tornou— se fria, uma marca de fogo negro apareceu na palma de sua mão.
— O que significa isso? — Ele perguntou depois de se recuperar.
— Este é o lembrete do nosso acordo, jovem guerreiro. — Disse o gênio mostrando a mesma marca em seu braço. — Desonre nosso acordo e tudo se perderá para sempre.
***
Separada de seus amigos ela viu em cada um dos quatro cantos da terra de Ezius a libertação da energia elementar regente de todos os planos em que a vida habita. Água, terra e fogo, Eolo seria o último a completar a missão. Penetrar a cadeia de montanhas e trazer de lá a fonte de sua magia Elemental – o ar — para assim restaurar o poder do multiverso, mas para isso ela teria de enfrentar monstros terríveis.
Aquela cadeia de montanhas era o lar das harpias, criaturas mitológicas metade mulher e metade ave, que tinham uma personalidade nada amigável, sendo assim aquele não era um lugar fácil de se meter, ainda mais sabendo o motivo pelo qual estava ali, tais criaturas são capazes de se mover com bastante agilidade, enganar qualquer um em prol de seus desejos obscuros, além de uma boa refeição.
A cena diante de seus olhos era magnífica, parecia ter sido pintada a mão por alguém habilidoso. Cercado por cadeias de montanhas um vale florido se escondia, cachoeiras caudalosas despencavam formando rios e pequenas lagoas rodeadas por grama, onde animais de todas as espécies descansavam sem nenhum tipo de preocupação.
Eolo se permitiu admirar por um instante aquele presente, dado pelos deuses. Ela respirou fundo e enchendo os pulmões de ar percebeu uma infinidade de aromas vindas de todas as partes possíveis, vida e morte juntas num só lugar em sincronia.
A cima das nuvens faixas flutuantes de terra dançavam ao sabor do vento, algo em seu corpo lhe dizia que lá estava o objetivo de sua viagem, mas não sem um plano. Ele era um garoto pacifica, não era muito forte e muito menos ágil, uma luta direta seria desvantagem para ela, e com certeza as harpias não se entregariam apenas na base do diálogo.
Tinha que ter outra saída.
— Pense Eolo… pense. — Disse a si mesmo, forçando sua mente a buscar uma solução, com certeza Sam teria encontrado uma resposta para aquele dilema antes mesmo de chegar aquele lugar. — O que eu posso fazer?
Uma rajada forte de vento passou fazendo seu corpo se arrepiar, o medalhão em seu pescoço brilhou, algo estava errado. Um sussurro quase inaudível foi percebido por ela, uma risada horripilante se seguiu.
Ela não estava sozinha.
— As harpias serão a menor de seus problemas garotos. Isso se você conseguir chegar até elas! — Uma voz soou vinda de lugar nenhum.
— Quem está aí? — Perguntou ele, pondo— se em posição de ataque.
Uma rajada de vento fez com que Eolo cobrisse o rosto com os braços, que foram cortados como se facas afiadas passassem por eles, a garota sentiu a dor dos cortes e o escorrer do sangue sobre eles.
— O que você quer de mim?
— A pergunta jovem guerreiro é o que “você” quer aqui? Não fui eu que entrei em seus domínios sem ser convidado!
— Eu sou Eolo Elgin senhor dos Elfos e protetor dos elementos, regente do Ar, e vim até aqui impedir o acordar da grande fera!
Mais uma rajada forte de ar passou por ela, o farfalhar das folhas fez com que ela se assustasse. Um redemoinho se formou a sua frente, era como se ele a estudasse, por um instante o garoto se lembrou das histórias contadas por Samuel sobre a dimensão de onde ele vinha, sobre um pequeno demônio de uma perna só que usa uma carapuça e gosta de brincar com os desavisados, conhecido pelo nome de saci.
— Um belo discurso, não há dívida, — disse a criatura num sussurro.
— Mostre— se! — Ordenou ele
— Deixe que eu me apresente criança! — Um par de olhos vermelhos medonhos apareceu flutuando diante dela, — eu sou Zéfiro, um Elemental. E você entrou em meus domínios sem ser convidada.
Às poucas lufadas de ar passavam por ela e se agrupavam a sua frente formando as partes de um humanoide. Um ser com as feições de um homem, corpo definido e musculoso se apresentou para ela, sua expressão mudou quando pôr fim a última parte de seu corpo se fez.
— Desculpe Zéfiro, esta não foi minha intenção. — Ela se pôs de joelhos diante da criatura. — Estou aqui apenas para cumprir minha missão.
— Todos os que entram em meus domínios o fazem por que eu os chamei ou me pediram permissão para tal travessia, mas você não o fez, e eu não a chamei.
— Eu tenho uma missão a cumprir, meu senhor, e é por isso que estou aqui.
— Recuperar a fonte da magia dos ventos. Isso você já me disse, o que não me disse é o que quer com ela?
— Restaurar a magia Elemental.
— Seu povo sempre foi pacífico, porque entrar em uma luta da qual você não poderá vencer?
— Eu tenho que tentar fazer isso!
— Por que?
— Pelo bem de todos.
— A humanidade é fraca demais, o véu entre as dimensões está enfraquecendo graças à ganância humana, em breve a magia não existirá mais, vocês sabem disso. O que te leva a crer que isso vai dar certo.
— Sempre haverá esperança senhor.
— Você sabe que vai morrer nesse embate, não sabe?
— Um preço tem que ser pago, meu senhor, — continuou ela ainda de cabeça abaixada. – Se esse for o meu preço, que assim seja.
A criatura parecia triste a cada palavra pronunciada por ela, mesmo com todas as possibilidades ruins que ele apresentava o garoto se mantinha irredutível em seu objetivo.
— Que assim seja! — Com um movimento das mãos Zéfiro conjurou uma espada e a apresentou a Ananda. – Use esta espada para se proteger do que está por vir, as harpias não são tão pacíficas quanto eu, e não se comoverão com sua história. Acabe com elas quando for a hora certa traga o equilíbrio novamente. E lembre-se— se por um os cinco vão perecer.
— Como assim?
— Que os bons ventos a guiem! – E dizendo isso Zéfiro desapareceu.
***
Chegar aquele platô flutuante não foi nada fácil, mesmo com as bênçãos de Zéfiro parecia que centro do poder Elemental do ar não queria sua presença, por isso ela teve seus empecilhos.
Depois de algumas horas de treino com a nova arma Ananda pode se acostumar ao peso e o corte de seu novo equipamento, a menina criara uma espécie de planador rústico com os poucos materiais que possuía, madeira das arvores, cordas feitas a partir do trançado das fibras e uma parte do tecido de suas roupas, aquilo não aguentaria seu peso por muito tempo, mas graças as suas habilidades em manipular as correntes de vento ela chegara ao seu destino.
Ela caminhou pela densa floresta, observando cada detalhe enquanto colhia folhas e flores que poderiam ser usadas tanto para curar quanto para envenenar alguém dependendo da vontade de seu manipulador. E se ela queria vencer a Harpia aquilo poderia ser de grande ajuda. – Torna— lá lenta era seu melhor plano até aquele momento.
Depois de percorrer todo o caminho Ananda se viu diante de uma pequena estrutura feita a partir de galhos, folhas, musgo e peles de animais. Certamente ela havia chegado no ninho.
Ao seu redor ossos de todos os tipos e tamanhos haviam sido arremessados, além de corpos inteiros, peças de roupa e outras coisas das quais ela não sabia o nome. O cheiro de carne apodrecida pairava por todo o lugar.
Eolo fez uma prece silenciosa antes de erguer a espada entregue a ela por Zéfiro, um sopro quente e reconfortante saiu de seu medalhão tomando a forma de uma ave que rapidamente subiu, pairando sobre sua cabeça por alguns segundos antes de voltar e pousar em seu ombro e depois fazendo— lhe um carinho em seu rosto com o bico.
— Eu ficarei bem meu amigo! – Disse ela retribuindo o carinho do animal. – Com a permissão de Zéfiro eu adentro em seu reino senhora do vento!
O silencio durou incontáveis minutos antes de uma risada maligna tomar conta de tudo.
— Você tem minha permissão para entrar em meu ninho criança – Disse ela em uma voz estranhamente fina e esganiçada. – O que quer aqui filha dos elfos?
— Venho em paz, minha senhora, peço que me entregue a fonte da magia Elemental em sua posse para que eu possa restaurar o frágil equilíbrio entre os planos.
— Você mente, assim como todos os outros que vieram antes de você. – Disse a fera. – Todos pediam minha benção antes de adentrar em meu ninho, matar meus filhos e roubar meus pertences, mas todos falharam assim como você!
— Nossa luta é justa e nossos objetivos são nobres, minha senhora, os reinos precisam da magia, o véu que os protege encontra— se fraco, só a restauração dos elementos primários pode fazer com que a vida volte ao seu rumo natural.
— A ganância dos homens fez com que todo o tecido do multiverso perecesse, foi o homem que tirou da terra mais do que ela pode repor, foi o homem que desmatou, sujou e usurpou a terra, a água, o fogo e o ar. nós resguardamos a fonte da magia para que ela não morresse.
— Não! – Ananda gritou com lagrimas nos olhos. — As quatro nações elementais ainda respeitam a magia dos elementos, e mesmo entre os homens há aqueles que seguem os antigos costumes.
— A pergunta é: até quando?
— Enquanto houver um único indivíduo que acredite, a magia existirá.
— Isso é um sonho criança! — Disse a criatura saindo de seu esconderijo num voo rasante.
Um arrepio frio percorreu sua espinha, ao perceber o tipo de criatura ela enfrentaria a partir daquele momento, como diziam as lendas, ela era um misto de mulher e ave, o tronco evidenciava suas feições femininas, os seios fartos e glúteos avantajados além das belas cochas cobertas de penas, que a partir dos joelhos davam lugar a pés de uma ave de rapina com garras afiadas, por toda a extensão dos braços penas brancas e avermelhadas formavam asas.
A harpia se posicionou diante dela fechando suas asas de modo tão simples e natural como se fosse simples ter asas crescendo em seus braços.
— Vê todos esses ossos criança… – Eu continuo num leve sorriso. – São de todos os que me desafiaram, cassaram e mataram meus filhos e filhas em nome da honra e da gloria da caçada sem propósito.
— Eu sinto muito. – Respondeu ele olhando em volta mais uma vez.
— Você acha isso justo?
— Não existe justiça na morte de inocentes, minha senhora. – Ela respondeu voltando sua atenção para a mulher diante dela. – Se me entregar a fonte Elemental deste reino prometo que tudo será restaurado, e poderemos viver em paz mais uma vez.
— Isso é uma grande mentira filha dos elfos. E você pagará por sua insolência.
Num segundo a mulher ave abriu suas asas mais uma vez e alçou voo tão alto que Ananda quase não a enxergou pairando no céu. No instante seguinte a harpia desceu a toda velocidade mostrando as garras para feri— lá. E por uma fração de segundos ela não o fez, pois Ananda sacara sua espada e colocando— a diante de seu corpo protegeu— se do primeiro ataque.
Usando toda a força de seus músculos Eolo jogou— a para longe num movimento digno de uma esgrimista, mas com o bater de suas asas a harpia produziu uma rajada de vento cortante do qual a garota não foi capaz de fugir, levando os braços a frente do corpo ela sentiu como se pequenas agulhas penetrassem sua carne e uma dor angustiante.
Um único ataque. Era tudo o que ela tinha para vencer, mesmo que ela morresse no fim, levaria consigo o poder do ar. Em uma medida desesperada a garota procurou em seus pertences algumas das flores e folhas que coletara pelo caminho, lembrando do treinamento que tivera ela pegou um punhado de folhas e flores secas amassou bem com a palma das mãos criando um pó muito fino. Ignorando a dor intensa de seus músculos ela inspirou fundo e soprou o pó na frente do corpo e girando a espada de Zéfiro criou uma corrente de ar própria ao redor de seu corpo.
Esperamos que seu plano desse certo, Eolo esperou pelo ataque final da criatura, com sorte o veneno criado a partir das plantas que ela triturou paralisaram a harpia e assim ela poderia prendê— la para sempre, na pior das hipóteses a morte certeira abraçaria as duas.
Ele se posicionou mais uma vez esperando pelo pior, os olhos flamejantes da harpia encontraram os dela, numa fúria sem igual, o monstro soltou um grito estridente que lembrou a ela o piar de um gavião pronto para abater sua presa.
Era aquele o momento do fim.
No instante em que a criatura entrou no campo venenoso sua respiração tornou— se rarefeita seus batimentos se aceleraram e ela levou a mão ao peito.
— Como? – Questionou a criatura.
— Veneno, minha senhora! – Respondeu
— Você usou uma estratégia covarde de combate para me vencer e ainda se diz digna criança. – Disse a harpia perdendo as forças.
— Fiz o que foi necessário, — respondeu ela indo de encontro à criatura – não me orgulho disso, mas está feito.
— Amaldiçoo o dia de hoje, por todas as eras, você e os seus pagaram por isso.
A harpia dera seu último suspiro.
— Que assim seja.
Eolo respirou fundo mais uma vez e se permitiu chorar, antes de levar o corpo inerte de sua oponente para seu ninho, que daquele dia em diante seria seu tumulo.
Dentro dele uma lufada de ar quente soprou do belíssimo cristal no centro do ninho levando para dentro de si o corpo da criatura.
O preço havia sido pago com a morte, e ela carregaria isso pelo resto de sua vida. Uma luz branca levantou— se rumo ao céu, então Eolo teve certeza que sua missão estava finalmente cumprida.
Já sou fã da Alice … Rs Show o episódios duplo Parabéns ! Aguardando o próximo com expectativas rs
Que bom…
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