Tudo aquilo era realmente impressionante.
Explosões de luzes douradas aconteciam constantemente a medida que as bolinhas multicoloridas tocavam nos objetos ao redor.
─ Lindo, não é? ─ Perguntou Samuel vendo Lucca vislumbrar abobalhado todos os cantos da sala.
─ Realmente muito bonito. ─ Disse ele tocando com o dedo em uma bolha próxima a ele que explodiu irradiando o posinho dourado no instante em que foi tocada.
─ Cada ponto luminoso aqui nesta sala, pode ser convertido em outras coisas que derivem desses mesmos pontos, ou seja, água ar terra, fogo, metais e tudo o que você puder imaginar.
─ Como eu faço isso?
─ É como eu disse, basta você imaginar.
Num ato repetitivo de medo ele tirou a varinha do bolso e já estava pronto para usá-la.
─ Você não precisa disso. ─ Sam advertiu. ─ Apenas imagine e acontecerá.
Sam estalou os dedos no ar mais uma vez e a chama reaparecera instantaneamente, mais bonita e intensa do que antes.
Tomado de coragem, Lucca decidiu tentar, guiado pelo instinto, largou a varinha no chão e voltou seus olhos para a mesa de estudos abarrotada de papeis e anotações do pai. Em segundos uma rajada de vento invadiu o ambiente, fazendo com que todas as folhas do lugar voassem em um redemoinho sem fim.
Com movimentos circulares, de um lado para outro e de cima para baixo girando no próprio eixo Lucca guiava com maestria a direção daquela rajada de vento, fazendo a temperatura do ambiente cair drasticamente. Nas mãos de Sam a chama ganhava cada vez mais força, ficando cada vez mais alta e imponente.
Um largo sorriso se formou em seus lábios, era a primeira vez que ele experimentava algo tão incrível daquela maneira tão intensa. Pela primeira vez em sua vida ele tinha conseguido executar algo tão perfeito quanto aquilo. Com os olhos abertos ele via as pequenas explosões de bolhas flutuantes seguirem um ritmo próprio guiado por ele apenas com o leve movimento de seus braços.
─ Tenha calma garoto. ─ Sam o interrompeu trazendo-o de volta a realidade.
Enchendo os pulmões de ar e soltando bem devagar, o homem fez o ritmo dos ventos desacelerarem de forma lenta porem continua, ate que por fim nada restou, nem as chamas bruxuleantes em suas mãos, nem os ventos torrenciais causados por Lucca.
Restava apenas o silencio.
***
Na tela do computador apareciam apenas duas pequenas setas indicando o local do login e da senha do usuário, o garoto retirou do bolso um pequeno objeto no formato de uma kunai ninja e conectou a uma das portas USB ainda disponíveis de seu computador pessoal. Depois de fazer uma varredura completa, ele conectou vários dos fios eletrônicos soltos da máquina ao corpo adormecido da menina.
Estavam os dois no local, um laboratório de química no segundo piso longe de olhos curiosos. Desde o incidente do porão a algumas semanas atrás, uma enorme explosão elétrica que causou a interrupção das aulas no instituto Simons. Assim os alunos foram todos dispensados das aulas ate que o ocorrido fosse apurado pelos órgãos competentes e respostas para o fato fossem dadas a comunidade.
Alice Pacheco, uma garota de estilo e temperamento estranho e incomum havia sido enganada para estar ali naquele exato momento. Ela havia recebido uma mensagem intimando-a a estar ali algumas horas antes, mensagem essa que a fez esquecer-se dos conselho dados por sua mãe:
“ ─ Desconfie de tudo e de todos! o nosso mundo é perigoso e há muitos por ai que querem o nosso fim”.
A garota fora dopada amordaçada e amarrada a uma mesa de aço reforçada para experimentos com acido, e agora estava sendo monitorada por seu vizinho nerd, maluco e sem nenhuma noção de realidade, que passava horas bisbilhotando a vida dos vizinhos (a dela em especial), e sendo o sabe tudo sem graça do colégio.
Az começou a vasculhar seu pen drive a procura de um programa criado por ele que tem o intuito de tornar as pessoas escravas de uma maquina pelo resto da vida. Digitando alguns comandos e verificando minuciosamente cada componente que estava ligado ali, tudo estava pronto para iniciar o processo.
“PROTOCOLO DE INICIAÇÃO CONCLUIDO. DESEJA CONTINUAR? ”
SIM NÃO
As opções sim e não piscavam freneticamente em vermelho diante dele. O garoto que nós conhecemos como Az de apenas 15 anos e já é conhecido como o garoto prodígio com um futuro promissor.
Por uma fração de segundos ele pareceu hesitar, seus dedos tremiam e o ar parecia rarefeito. O protocolo pandora ia muito alem do que ele já havia feito na internet. Burlar senhas de segurança, invadir sistemas e alterar notas e ate roubar alguns trocados num banco eram aceitáveis para ele, mas agora o que ele estava prestes a fazer era incomum ate mesmo para o maior hacker conhecido da historia.
“ ─ Esse é apenas o primeiro passo.” ─ Ele pensou.
“ ─ Faça.” ─ Ordenou uma vozinha em sua cabeça. ─ É o único jeito de vencê-lo.
─ Isso vai destruir a mente dela. ─ Ele disse para si mesmo.
─ Você pode reconstruí-la a sua vontade, é o certo a se fazer se você quer apagar ele e os amigos dele da face da terra.
─ Mas…
Az se mostrava receoso quanto aos planos de Zaon, criar um vírus capaz de controlar mentes para assim recriar um novo mundo onde ele e Alice ficariam juntos por toda a eternidade.
─ Me ajude criança, o cyber espaço é o primeiro de muitos outros reinos que você vai conquistar. ─ Ordenou a voz sutilmente. ─ Tire o do cyber espaço e ele não será nada comparado a você.
─ Você tem razão Zaon, o Lucca não é nada sem a internet.
─ Sim meu pupilo. Este é o único modo de chamar a atenção dele, é através do elo que ele tem com a garota. Confie em mim, é o certo a fazer.
─ UPLOAD CONCLUIDO. VIRUS PANDORA EM 100%.
─ Finalmente. ─ Disse ele com um brilho diferente nos olhos, um misto de orgulho e medo invadiram seu corpo, ele estava prestes a atingir seu objetivo. ─ É hora do show.
O protocolo conhecido como “A caixa de Pandora” estava pronto para o seu primeiro teste, ─ invadir o sistema da escola e se infiltrar entre seus usuários, ─ Az estava um tanto confuso, mas decidiu atender ao que o ser dimensional conhecido como Zaon propusera em sua mente. Tudo não passaria de um simples teste, e logo ele estaria do lado de sua amada sem ter de se preocupar com o garoto problema, a pedra no seu sapato.
Az havia passado horas a fio trabalhando em um programa que agiria diretamente no cérebro humano, através das ondas de baixa frequência transmitidas pela internet aos seus usuários. A ideia inicial era através dele, forçar o cérebro a ter uma velocidade maior de absorção de informações para o uso consciente delas, reduzindo o tempo ocioso em frente ao computador.
O programa usava uma interface simples de códigos binários, que através de uma única imagem transmitia a pessoa que a visse uma mensagem: “qual o propósito de sua visita a este site?” quando essa pergunta fosse saciada através da busca pela informação desejada, o usuário abandonaria o aparelho e voltaria a suas atividades normais sem se prender tanto a internet.
Através de um único e-mail compartilhado para a sua pequena lista de amigos, ─ os seus professores no instituto Simons, que seriam os responsáveis por passar a mensagem para a grande massa da escola ─ Az teria em menos de 24 horas os dados pertinentes ao poder de alcance do protocolo Pandora podendo assim passar para um próximo nível.
Usar o Protocolo Pandora contra Lucca, a pessoa que impedia de seu maior sonho se realizar.
***
─ O que aconteceu? … Onde eu tô?
A cabeça dela doía, uma dor aguda e insuportável, sua mente estava grogue e seus globos oculares tremiam o que parecia fazer seu cérebro chacoalhar como uma gelatina que acabara de desenformada. Todos os músculos de seu corpo tremiam incontrolavelmente, estava tão fraca e dolorida que o simples ato de abrir os olhos fazia seu inconsciente gritar por uma morte rápida.
Alice continuava amarrada a uma mesa de metal onde frio com correntes de prata pura apertando seus braços e pernas, provocando nela queimaduras e corroendo sua carne, lhe causando um desconforto mortal transformando em uma grande massa fétida e um liquido viscoso.
Pelo que a garota podia se lembrar, ela estava em um lugar diferente, um lugar escuro e úmido, o cheiro de mofo e poeira invadiam suas narinas, era como se o lugar não fosse limpo há semanas, talvez meses, pedaços de panos negros cobriam o que lembravam pequenas janelas e que para ela davam acesso à parte de fora, sendo assim sua melhor chance de fuga e um pouco mais para o canto a sua esquerda uma expeça lona negra estava estendida impedindo que algo passasse.
─ Você deve estar com muita fome não é? ─ Disse uma voz masculina vinda detrás de um amontoado de maquinas interligadas frente a mesa.
Alice ainda não havia se dado conta, mas estava sendo monitorada todo o tempo através de eletrodos espalhados por todo o corpo, ligados a um computador antigo que mostrava ao garoto seus batimentos, taxas de adrenalina e outras coisas que só o rapaz entenderia.
─ O que é tudo isso? ─ Perguntou ela com a voz fraca, quase inaudível.
─ Este minha cara, é o meu centro de comando. ─ Respondeu ele saindo detrás do amontoado de maquinas e indo em direção a um freezer.
O garoto esquelético de cabelos vermelhos voltou trazendo duas bolsas de sangue em temperatura ambiente. Seus olhos azuis fixaram-se nela por alguns segundos em silencio.
─ Eu não sei se faz diferença ou não no sabor. ─ Afirmou ele. ─ Mas, eu tenho aqui uma bolsa O- e AB+, qual você prefere?
─ Me tira daqui. ─ Pediu ela com a voz falha.
─ Isso é impossível meu anjo. ─ Ele disse, colocando um canudo em uma das bolsas de sangue e colocando junto à boca de Alice para que ela sugasse.
Com dificuldade ela sugou rapidamente uns poucos goles do sangue frio que estava sendo servido, tão rápido que quase se engasgou sentindo sua garganta rasgar com a passagem do alimento.
─ Eu iria com mais calma se fosse você, ─ disse ele puxando uma cadeira, mais para próximo de onde a garota estava, ─ já faz algumas semanas que você só recebe alimento diretamente em sua corrente sanguínea. “É hora do primeiro teste! ”
─ O que você quer comigo?
Seus sentidos voltavam pouco a pouco à normalidade, o pouco sangue ingerido fez seu corpo esquentar, ela já podia ouvir seus batimentos com mais clareza, seus olhos pararam de tremer, fazendo-a focar em um único ponto e sua mente já trabalhava em um ritmo acelerado ouvindo os pensamentos dele e tramando um modo eficiente de sair daquela estranha situação.
Alice não estava muito certa do que ia fazer, a única coisa que sabia era que ele não viveria para contar a história.