No momento em que seus amigos colocaram os pés no território que a arvore se encontrara coisas estranhas começaram a acontecer, frutas ruins foram lançadas, galhos e raízes ganharam vida própria atacando— os com tudo o que tinham. A árvore se protegia com todas as forças. Para onde quer que ele olhasse a cena se repetia.
Cada um de seus amigos lutava contra uma cópia de si mesmo feito a partir de seu elemento natural, cada movimento feito por eles era repetido com maestria, com muito mais força e agilidade do que eles.
Os cinco usavam seus poderes para pôr um fim em tudo aquilo, mas ela resistia a qualquer forma de ataque. Água, terra, fogo e ar haviam enlouquecido, os elementos pareciam não obedecê-los mais.
— O que está acontecendo? — Quis saber Zaon enquanto sua cópia fazia um tornado de fogo ao redor dele queimando a maioria das coisas que estavam sendo arremessadas na direção dele.
— Não era para isto estar acontecendo, nós acabamos com as feras, era para tudo ter acabado. — Emendou Kayra esquivando— se de uns galhos lançados contra ela.
— A arvore…, ela não nos quer aqui. — Respondeu Samuel. — Ela acha que nós estamos aqui para destruí-la.
— O que você fez com ela Sam? — Perguntou Ananda em meio a amarrações de ervas daninhas. – Nós estamos aqui para protege-la e não para acabar com ela.
— Eu não fiz nada, estava tudo bem até vocês chegarem. – Retrucou o garoto tentando ajudar a todos de alguma forma.
— Ah, não me diga! — Brincou a garota. — O que fazemos agora?
— Me deem um tempo, eu preciso pensar!
— Nós não temos tempo! – Gritou Zaon explodindo em chamas e correndo em direção a arvore.
Samuel fez aquilo que seu mestre lhe ensinara em situações difíceis, sentando— se no chão, o garoto se pôs em posição de meditação e fechando os olhos se concentrou em encontrar uma solução para aquela situação. Uma ideia maluca surgiu em sua mente de forma repentina, mas ele só tinha uma chance.
— Temos que chegar perto do tronco e retirar minha pedra de lá, acho que é isso que está causando todo esse transtorno. — Respondeu Samuel. – Ela está resistindo a minha pedra.
— Isso é loucura, se fizer isso a energia maligna pode regredir novamente, e pôr um fim a tudo o que lutamos para proteger. — Gritou Kayra se livrando de um ataque.
— Se você tem uma ideia melhor, estou ouvindo. — Rebateu Sam.
— Se é assim, aqui vamos nós.
Ao olhar para o céu o garoto teve certeza de que aquele era um caminho sem volta.
— Nos te damos cobertura, — Disse Zaon
— Eu preciso das pedras elementais.
— Nossos poderes enlouqueceram desde a luta contra as feras, do que isso vai adiantar as pedras agora.
— Me deem as pedras e me ajudem a chegar a arvore, e deixem o resto comigo. – Ordenou Sam correndo para chegar ao seu objetivo.
Os quatro arremessaram suas pedras ao mesmo tempo para Samuel que as agarrou de uma vez e correndo para a arvore mais uma vez na esperança de que aquele plano desse certo.
***
Diante da grande arvore Sam viu os próprios amigos lutarem contra as criaturas que se materializavam a cada segundo. Zaon estava logo atrás dele, queimando tudo a sua volta enquanto os outros usavam as armas ganhas pelos grandes elementais.
Pedindo a todos os deuses existentes para que seu plano dê certo Samuel cavou um buraco junto a raiz da grande arvore e lá deposita mais uma vez as cinco pedras elementais doadas por seus amigos.
O garoto sentiu sua energia ser sugada antes de uma grande explosão rompe os horrores da batalha fazendo com que todos olhem para o céu mais uma vez um misto de cores toma conta do horizonte, fazendo toda a energia maligna recuar.
Seu plano finalmente estava dando certo.
Ao longe ele viu os amigos lutando para se livrarem de seus inimigos rajadas de vento, flechas de gelo, galhos e fogo rompiam o horizonte sem sucesso, as criaturas continuavam a avançar contra eles. Então um a um eles caíram, também tomado pelo cansaço Samuel apagou.
***
— Tudo isso é culpa sua e desse seu plano idiota! — Ele ouviu o amigo esbravejar ao seu lado.
Ao abrir os olhos Samuel viu diante dele um Zaon triste e abatido com os olhos vermelhos de choro.
— O que aconteceu? – Perguntou ele atordoado.
— Todos estão mortos! – Zaon gritou esmurrando o chão próximo aonde ele estava. – Tudo isso para que, por causa de uma arvore estúpida.
— Era preciso!
— A que custo! – Zaon devolveu tentando esconder as lagrimas. – Veja, foi isso que o seu plano mirabolante trouxe para a gente. Todos eles morreram.
— Todos nós sabíamos os riscos Zaon e aceitamos eles quando decidimos deixar tudo e vir para esta dimensão.
— NÃO! EU NÃO ACEITEI NADA DISSO – retrucou ele dando um soco em Samuel.
— Nada disso vai adiantar. Me bater ou chorar não vai traze-los de volta. – Disse Samuel limpando o sangue que escorria por seus lábios.
— O senhor perfeição… você não se cansa de ser um irritante sabe tudo, não é?
— Nós não temos tempo para isso. Precisamos checar se a energia maligna foi neutralizada.
— Que se dane essa arvore idiota, eles eram seus amigos também. Ela escolheu você. – Rebateu o garoto. – Eles morreram por sua causa.
— Você acha que eu não sinto o que aconteceu com eles? – Samuel pergunta com os olhos cheios d’água. – Eu a amava assim como você, mas nossa missão é maior do que as nossas vontades. Zaon nós somos guardiões e devemos proteger e manter o equilíbrio a qualquer custo.
Samuel sentiu o peso da mão de Zaon em seu rosto, a dor lacerante percorreu sua face trazendo consigo o gosto ferroso de sangue na boca.
O rapaz não revidou o ataque, pois sabia que aquela era a única forma que o amigo conhecia de extravasar suas emoções, através da pancadaria. Limpando o sangue da boca ele esperou por mais um soco que veio em seguida, outro e mais outro, até que Zaon cessasse sua fúria. Em poucos segundos seu rosto mudou de cor, o inchaço dos ferimentos e a dor o consumiam por inteiro.
Por uma parte ele merecia tudo aquilo, pois foi a falha em seu plano que causou toda aquela catástrofe.
— Por que Sam? – Zaon deixou— se consumir pela angustia presa em seu coração.
— Esse é o nosso destino. – Respondeu o rapaz pondo— se ao seu lado e o abraçando. – Faça o que deve ser feito meu amigo!
— Nosso destino! Você matou nossos amigos por causa das palavras de um velho tolo.
— Equilíbrio…
— Equilíbrio, tudo gira em torno do equilíbrio, não é?
— Sim…
— Que assim seja!
Zaon levantou— se, olhou mais uma vez para o mar de mortos a sua frente antes de correr em posse da adaga de fogo e crava-la junto a grande arvore.
— Luz E trevas estarão sempre juntas!
Sam proferiu mais uma vez as palavras mágicas e uma barreira de energia se ergueu diante da grande arvore, aprisionando Zaon e a adaga em seu interior, libertando as pedras elementais de seu interior.
O céu estava mais uma vez claro, iluminado pelo sol poente, Samuel fitou mais uma vez o horizonte antes de se voltar a sua nova missão, o garoto de 17 anos cavou três sepulturas e enterrou seus amigos junto a grande arvore.
“Aqui jaz amigos que lutaram em prol de um bem maior”
Num piscar de olhos o garoto simplesmente desapareceu.