– Ying! Ying, minha irmã, acorde!! – de volta à Casa de Gêmeos, Saga tentava há horas despertar em vão a Amazona inconsciente.

– Acho que aquele cosmo formidável foi demais para o corpo dela aguentar. Talvez ela demore a se recuperar. – disse Mu, balançando a cabeça, preocupado.

– Espero que esteja errado, Mu. – disse Saga, desviando o olhar rapidamente para o amigo. – O Mestre e os outros Cavaleiros podem não querer esperar, alegando que ela desistiu. Afrodite já deve estar trabalhando nesse sentido, tenho certeza.

– Você tem razão, Saga. – disse Ayoros, adentrando a Casa como um furacão, com uma cara de poucos amigos. – Afrodite alegou uma antiga lei que diz que se o desafiante não se apresentar novamente até o nascer do sol será considerado desistente, e portanto, derrotado. Não sei de onde ele desencavou uma lei da qual ninguém mais se lembrava, mas o Mestre, embora visivelmente à contragosto, teve que admitir que ele tinha razão e fez seu pronunciamento da maneira como estou relatando.

– Miserável!! – gritou Saga, furioso, aplicando um violento golpe na mesa de cabeceira partindo-a em duas. Então voltou-se para Ying e a sacudiu com mais força. – Vamos, Ying, acorde!! O sol não tarda a nascer! Você não pode deixar as coisas acabarem dessa maneira estúpida! Acorde!!!

– Calma, Saga! Assim vai acabar machucando-a! – alertou Mu, alarmado com o desespero do Cavaleiro de Gêmeos.

– Você não a conhece como eu. Ela vai desejar estar morta se as coisas continuarem do jeito que estão e ela perder tudo pelo que vem treinando duramente tantos anos. – e tornando a ela, resolveu dar uns tapinhas no rosto de Ying para ver se a Amazona voltava a si, o que aliás deu resultado imediato.

– Ei, calma aí!! – exclamou ele, por pouco não conseguindo aparar um soco desferido por ela em resposta. – Puxa, até que enfim você acordou!

Como ele consegue fazer isso?! – pensou Ayoros atrás dele com uma expressão contrariada e cômica ao mesmo tempo, esfregando o queixo, já tantas vezes atingido por ela.

– Pare com isso, Saga! Me solte!! Eu já acordei faz tempo e escutei tudo o que vocês disseram. Será que uma garota não pode descansar um pouco?

Saga a soltou imediatamente, perplexo e ainda mais irritado:

– Descansar?! Estou aqui há horas aflito se a minha irmã iria sobreviver ou não e se ia se deixar vencer assim após duas lutas bem sucedidas e você me diz que estava só descansando?! – e acrescentou se acalmando aos poucos. – E afinal de contas, que cosmo incrível foi aquele que aflorou no final da luta? Você estava tão estranha…

– Nem sei do que está falando… – falou, parecendo agora estar um pouco confusa. – Espere um pouco então realmente a luta acabou ? Eu venci Shura de Capricórnio?

– Ora, não se lembra? Após ser atingida estupidamente por Shura deixando a todos nós aflitos, você, de repente, se levantou como se nada houvesse acontecido, com um cosmo extremamente poderoso e ordenou que Shura se rendesse; como ele se recusasse, você tornou a desafiá-lo e simplesmente quebrou o braço dele, obrigando-o a se dar por vencido!

Ying ouviu as palavras de Saga, parecendo realmente estar muito surpresa. Mu já havia se retirado para retornar ao templo. Ayoros não perdia uma só das expressões dela, pensando, intrigado:

Será que ela realmente não se deu conta do que houve? Isto está cada vez mais misterioso…Primeiro o estranho ataque daquele touro que parecia estar tomado pelas Fúrias, depois Ying lutando como se fosse a própria reencarnação da deusa da Vitória…Afinal, o que está havendo neste Santuário?

– Lembro-me de tudo vagamente…quase como se tivesse sido parte de um sonho…Quer dizer então que foi real?__ perguntou Ying se levantando e se examinando. – Acho que depois apaguei, não me lembro nem de ter vindo pra cá…

– Eu e Mu a trouxemos depois que o Mestre confirmou sua vitória… – o rosto de Saga assumiu por instantes uma expressão angustiada. – Você me deu um tremendo susto! Pensei que estivesse morta…

Ying o abraçou num rompante, desfazendo toda a tensão.

– Estou viva, meu querido irmão, e pronta para as próximas lutas, pode apostar! – concluiu, olhando firme nos olhos dele e abrindo um lindo sorriso.

– Ying, preste atenção! – disse Saga, muito sério, segurando delicada, mas firmemente o rosto dela entre as mãos. – Sei o quanto é importante para você conseguir conquistar tudo pelo que vêm treinando esses anos todos, assim como defender seus ideais. É muito importante para mim também, talvez até pareça ser mais importante do que deveria ser, mais importante do que a sua segurança, mas… mas não é! Quero que me prometa que não vai arriscar desnecessariamente sua vida! Não quero passar o resto da minha vida me culpando e chorando a sua morte. Será que você me entendeu?

A Amazona suspirou profundamente e respondeu, após alguns instantes:

– Escute, Saga, eu entendo sua preocupação e se a situação fosse inversa, provavelmente estaria lhe dizendo a mesma coisa. Mas eu lhe asseguro, não entraria numa luta se não acreditasse que pudesse ganhar ou se não acreditasse que estou lutando pelo que é certo. O que acontecer será uma conseqüência natural de meus próprios atos. Nem você nem ninguém deverá se culpar se algo de mal me acontecer, certo? E além disso…Ei!! – exclamou Ying, dando com os olhos em Ayoros. – O que ele está fazendo aqui?!

Ayoros respondeu, antes que Saga pudesse dizer qualquer coisa:

– Não se preocupe. Não sou um espião e já estou de saída. – disse ele calmamente, sem parecer ofendido. – Apenas vim comunicar a decisão do Mestre e ver como você estava, afinal ainda temos uma questão a resolver, lembra-se?

– A única questão que tenho a resolver no momento com vocês, Cavaleiros de Ouro, é provar que tenho direito a ser uma defensora de Athena, assim como vocês, mas sem a obrigação de usar uma máscara. Se é a isso que se refere, já poderíamos ter resolvido, se você não tivesse deixado para o final do Conselho. De qualquer forma, agradeço pelo voto de confiança, pois é sinal de que acredita que vencerei inclusive a Afrodite de Peixes.

O Cavaleiro de Sagitário não pareceu se incomodar com a ironia da outra, pois ele respondeu, impassível:

– Você sabe muito bem a que estou me referindo. Não se faça de desentendida. No entanto, é verdade. Eu sempre acreditei em sua determinação e força de vontade desde que a conheci e ainda mais agora que pude comprovar com meus próprios olhos a força de seu cosmo. Você vencerá Afrodite de Peixes, não tenho dúvidas, mas conseguirá vencer ao que Eros e a verdadeira Afrodite representam e que já se imiscuiu em seu coração e sua alma muito antes de nos encontrarmos pela primeira vez neste Santuário? – disse Ayoros, antes de se retirar, mas tão baixo que somente ela pôde ouvir.

Ying corou e empalideceu sucessivamente, tomada de grande perturbação, permanecendo estática, enquanto ele ia embora.

– Ying! Ying! Vamos! – chamou Saga, impaciente. – O sol já está quase nascendo. Precisamos ir logo. Vou abrir um portal para nós e… – ele parou de falar, estranhando a atitude da irmã e perguntou: – Ei, o que há com você? Saí por um minuto a fim de verificar quanto tempo tínhamos e quando volto, encontro você nesse estado! Afinal, o que Ayoros disse a você para perturbá-la dessa maneira?

– Hã?! O que? – ela pareceu despertar naquele instante. – Não! Não foi nada. Está tudo bem. Deve ser efeito ainda da última luta. Ele só me desejou boa sorte.

Saga não pareceu muito convencido, mas não havia mais tempo para cogitações. Ele tratou de abrir logo um portal dimensional e em segundos estavam de volta ao Templo de Athena.

***********

– Eu sabia que ela não viria! Ela deve estar com medo de me enfrentar! – dizia Afrodite para quem quisesse ouvir.

– Discordo de você, Afrodite. – replicou Shaka de Virgem. – Ela não me pareceu temer adversário algum. Não viu como Ying cuidou de Máscara da Morte e de Shura?

– Isso não quer dizer nada. Afinal de contas, por que é que ela ainda não está aqui? Só pode ser porque está com medo ou então Shura acabou castigando-a mais do que imaginávamos…aliás, ainda acho que aquela amazona ganhou por um estúpido golpe de sorte.

– Silêncio!! – ordenou o Mestre. – Não admitirei comentários desse tipo neste Conselho! Devo lembrá-lo, Afrodite de Peixes, a sua situação aqui neste Santuário. Você foi parcialmente banido por seu comportamento traiçoeiro com Denora ou será que se esqueceu? Sua presença só está sendo tolerada aqui em razão das antigas tradições que exigem que todos os Cavaleiros compareçam ao Grande Conselho. Máscara da Morte já teve seu merecido castigo. Caso não se comporte, você perderá a sagrada honra de envergar a Armadura de Ouro de Peixes e nunca mais poderá pôr os pés neste Santuário. Será que fui claro?

Uma raiva imensa e quase tangível tomou conta do belo rosto do Cavaleiro de Peixes. Seus olhos azuis profundos, repletos de ódio, pareciam emitir faíscas e se podia sentir a tensão crescendo entre os dois homens, mas foi só por um instante. Com incomensurável esforço, Afrodite conseguiu controlar-se e abaixou o olhar numa reverência nervosa.

– Sinto muito…Santidade. – murmurou ele, entredentes. – Isso não se repetirá mais. – E completou só para si: Qualquer dia, velho, ainda irei me vingar de você e de Athena que o escolheu para Mestre! Tenho certeza de que se o meu pai não tivesse morrido na última Guerra dos Deuses, ele é que teria sido escolhido e eu poderia ter dado o justo castigo naquela amazona insolente sem maiores problemas. A culpa é sua, Shion e eu ainda irei me vingar! Pode esperar!

– Seja como for, o sol está quase nascendo e Ying, assim como seu irmão, o Cavaleiro Saga de Gêmeos ainda não voltaram. – disse Kamus, imperturbável como sempre. – O que decidirá, Senhor, em relação ao prosseguimento ou não deste Conselho?

– A Lei é muito clara. Se a desafiante não retornar até o primeiro raio de sol tocar na estátua de Athena e incidir na sua efígie, o Conselho será automaticamente encerrado.

– Mestre, se me permite falar, devo avisar que os guardiões de Gêmeos, Saga e sua irmã Ying, já plenamente recuperada, se encontram a caminho deste Salão.__ anunciou Mu de Áries, adentrando solenemente o Grande Salão.

– Você tem certeza disso, Mu? – perguntou o Mestre.

– Sim, Santidade. – confirmou ele, ajoelhando-se diante do trono.

– Também dou testemunho disso. – disse Ayoros, entrando e se ajoelhando ao lado de Mu. – Acabo de vir de lá, assim como Mu e confirmo que eles estavam se preparando para retornar a este Salão.

– Muito bem. – murmurou o Mestre, parecendo satisfeito. – No entanto, o que eu disse continua valendo. Não posso esperar por ninguém pois o sol não espera por ninguém para ressurgir no horizonte. Se ela não estiver aqui até o prazo final, sua questão será declarada improcedente e ela deverá decidir se permanece na guarda da Casa de Gêmeos ao lado de seu irmão, mas usando a máscara, ou abandona este Santuário para sempre. Essa é a minha palavra final.

Mu e Ayoros retornaram a seus lugares, parecendo muito serenos, o que contrastava com o clima geral de tensão que pairava por todo o Santuário, ainda que com expectativas diferentes, aumentando à medida que o céu ia mudando de cor e as primeiras luzes principiavam a surgir no horizonte.

Os minutos transcorriam com uma lentidão enervante e nada acontecia. – Onde estará Ying de Gêmeos? – todos se perguntavam, apreensivos.

Até que, como não podia deixar de acontecer, o tempo, inexorável em seu percurso finalmente trouxe com ele a manhã tão aguardada. O primeiro raio de sol tocou o alto da estátua da deusa e se dirigia paulatinamente para o centro da efígie. Afrodite já sorria em triunfo, olhando ironicamente para Ayoros que nem piscava observando a trajetória do raio.

Parece que a sua querida Amazona não conseguiu voltar à tempo, meu caro Sagitário…

Ayoros, com um olhar gélido de puro desprezo, voltou-se lentamente para Afrodite que continuava sorrindo.

Se eu fosse você não estaria tão certo disso e muito menos cantaria vitória antes do tempo, Afrodite. – ele telepaticamente como o outro. – Olhe de novo…

Ainda com aquele irritante sorriso zombeteiro, Afrodite se voltou para onde todos já olhavam e sua expressão imediatamente se congelou para se desfazer em seguida, convertendo-se numa máscara do mais puro espanto: de um portal luminoso que se abria exatamente no centro da efígie de Athena Nike surgia como uma visão celeste, Ying de Gêmeos, seguida por seu irmão Saga, compenetrado e solene como um guardião sagrado.

Com uma reverência respeitosa ao Mestre, Saga, sem dizer palavra, retomou seu lugar na mesa do Conselho, enquanto Ying se curvava por sua vez diante de Shion.

– Aqui estou, Mestre, e dentro do prazo estabelecido. Estou pronta para continuarmos.

– Não tive dúvidas de que estaria aqui, mas confesso que não esperava uma entrada triunfal como essa. – ele sorria por trás da máscara cerimonial. – Seja bem vinda novamente a este Conselho e daremos prosseguimento sem mais demora com depoimento do Cavaleiro Kamus de Aquário.

O belo e enigmático Guerreiro de Gelo se ergueu lentamente encarando a Amazona com a mesma expressão indecifrável da noite anterior.

– Você se saiu muito bem contra Máscara da Morte e Shura, embora contra esse último tenha se distraído de uma maneira imperdoável e que poderia ter-lhe custado à vida senão fosse aquele cosmo que desenvolveu de repente. – ele fez uma pausa, observando-a com o mesmo olhar penetrante de Shaka e do Mestre Shion. – Você não é uma guerreira qualquer, ainda tem muito que aprender, é verdade, mas é uma guerreira que merece o meu respeito. Da minha parte, não tenho objeções de espécie alguma em relação à você.

E sem fazer mais nenhum comentário, tornou a se sentar.

– Bem, agora é finalmente a minha vez, não é verdade, Mestre? – perguntou Afrodite, levantando-se imediatamente e encarando Shion em claro desafio.

– Sim, Afrodite. Agora é a sua vez. – e acrescentou, severo, após uma breve pausa. – Mas não esqueça do que lhe disse há pouco.

Afrodite lançou-lhe um olhar carregado de ironia e maldade e voltou então sua atenção totalmente para Ying que o observava com uma expressão neutra.

– Agora é conosco, Amazona. – ele sorriu, como um predador que acabasse de encurralar sua presa. – Já disse isso a uma guerreira como você há muitos anos, alguém que também ousou desafiar a Lei e andar com o rosto descoberto e fiz ela se arrepender amargamente de sua ousadia. Ainda está em tempo, Ying de Gêmeos – o tom de voz com que ele disse o nome dela não foi de reconhecimento de sua condição de cavaleiro e sim do mais profundo desprezo. – Ainda está em tempo de voltar atrás. Não pense que irá me derrotar como fez com aqueles dois idiotas caso decida fazer a loucura de me enfrentar.

– Sei a quem se refere, Afrodite. Eu conheci Denora, a vítima de sua covardia e sei que ela não se arrependeu de nada, muito pelo contrário. Continua usando o rosto parcialmente descoberto depois do que fez a ela e ainda fez com que você e seu capacho Misty tivessem o merecido castigo. Eu estou aqui em nome dela e de todas as outras mulheres para terminar com o que ela começou e derrubar de uma vez por todas esse tabu idiota. No entanto, retribuirei sua cortesia dando-lhe a mesma oportunidade que me deu. Você pode desistir, se quiser. Não precisamos nos desgastar numa luta desnecessária. Sou que afirmo agora: você não tem a menor chance de vencer.

Afrodite deu um sorriso irônico que culminou numa sonora gargalhada.

– Eu?! Afrodite de Peixes, o mais forte de todos Cavaleiros de Ouro, desistir? Bem, já que você declinou de minha generosa oferta, nada mais me resta fazer do que destruí-la e espero que ninguém, ninguém, estão todos me ouvindo? – disse ele lançando um olhar desafiador ao seu redor. – tente interferir de maneira alguma!

– Passem os dois então para a arena. – limitou-se a dizer o Mestre, com voz de poucos amigos.

Como havia se dado no dia anterior, a parede se abriu dando lugar a um espaço aberto sob o olhar vigilante da estátua da deusa Athena.

*********

– Acordem!! Acordem!! Hargos! Cristal! Albiori!! Vejam, ela voltou mesmo! Vai começar a última luta! – gritava Ayolia, sacudindo seus companheiros, que acabaram dormindo ali mesmo, esperando pela continuação dos combates.

– Pare com isso, Ayolia! – resmungou Hargos, se remexendo, ainda de olhos fechados. – Ainda é muito cedo para treinarmos! O sol mal nasceu…

– Pois é isso, seu idiota!! O sol já nasceu!!! Dá pra acordar ou está difícil? Veja se me entende agora: YING VOLTOU!

– Hã??! – agora ele estava completamente desperto. – Por que não me disse isso antes?! – disse ele correndo para o seu ponto de observação, onde já se encontravam Albiori e o Cavaleiro de Cristal.

– Ela parece ter se recuperado bem da luta com Shura. – comentou Cristal.

– Sim. – concordou Albiori, após um momento de reflexão. – Mas o cosmo dela não está como ontem…Ainda me pergunto que cosmo terá sido aquele que sentimos…

– Tenho o palpite de que na hora certa descobriremos. – disse uma voz feminina por trás deles.

Os quatro se ergueram, sobressaltados. Era Denora e mais um pequeno grupo de Amazonas.

– Achei que teria uma melhor visão da arena aqui desse local, pois este combate me interessa particularmente. Creio que sabem o porquê… – disse a líder das Amazonas do Santuário, levando a mão significativamente à sua meia máscara. – Espero que não se importem.

– Sejam bem-vindas, você e suas companheiras, Denora. – disse Albiori, convidando-as a se aproximarem. – E o restante das guerreiras? Não querem apreciar a luta?

– Mandei que continuassem a treinar, pois poderia acabar dando na vista a paralisação de nossas atividades… – ela riu. – Mas tenho a certeza que, na verdade, elas estão dando um jeito de apreciar os combates, assim como nós, o que no fundo , é melhor que qualquer treinamento.

– Atenção! – avisou Hargos. – Vai começar!

*********

Os dois combatentes seguiram juntos para o local indicado e tomaram seus lugares, colocando-se frente à frente a alguma distância um do outro. Sem mais delongas, Afrodite acendeu seu cosmo e dezenas de rosas vermelhas de uma beleza deslumbrante apareceram pairando ao seu redor.

– Como deve saber, sou um admirador da beleza, como sugere o meu nome, Afrodite. – começou ele.

– Sim, eu sei, principalmente se for a sua. – interrompeu Ying, muito séria, mas provocando uma risada geral por toda a assistência.

O Cavaleiro de Peixes franziu o cenho, irritado.

– Como estava dizendo, sou um admirador da beleza e você é muito bonita, eu admito. No entanto, justamente por ser tão bela não creio que deva exibir seu rosto por aí, pois isso poderia distrair seus adversários além de empanar a beleza do combate em si.

– Diga a verdade, Afrodite de Peixes! – disse Ying, impaciente. – O que realmente o incomoda em minha pessoa é que acredita, assim como aconteceu com Denora, que encontrou uma beleza que rivaliza com a sua, como se isso fosse relevante aqui! – disse ela, com visível desprezo em sua voz.

– Não sei do que está falando e pare de me interromper, sua Amazona intrometida!! – berrou Afrodite, furioso e então, controlando-se novamente, completou: – Em virtude de amar tudo o que é belo a despeito do que pensa a meu respeito, minha maneira de lutar é um pouco diferente dos demais Cavaleiros. As rosas são minha arma, como já deve ter ouvido falar. – disse ele indicando com um gesto as rosas à sua volta. – Portanto, não se engane, elas não são inofensivas, são tão mortais quanto belas, assim como você, e servirão inclusive para acompanhá-la em seu enterro. Prepare-se para morrer, Amazona insolente!! Rosas Diabólicas, ataquem-na!!! – gritou Afrodite, desferindo seu ataque.

Ying nem piscou, observando tudo passivamente, com um ligeiro sorriso nos lábios. As rosas venenosas de Afrodite seguiam céleres em sua direção para o desespero dos que torciam por ela e Ying nem parecia se importar!

– Ah, ah, ah, ah, ah! – riu Afrodite, certo de sua vitória. – Eu não disse? Nem consegue se mexer! Você estará morta em segundos… Mas, o quê?!

Esse era o pensamento geral. Ela não havia se movido um milímetro sequer, para tentar se desviar ou se proteger, mas nenhuma das rosas a havia atingido. Como era possível?!

– Suas rosas não podem me atingir, Cavaleiro. Já disse: É melhor desistir.

– Desistir…Hunf! – fez Afrodite, indignado. – Você teve sorte, só isso. Vejamos se consegue repetir isso de novo, só que agora, não vou segurar mais minha velocidade! Tome isto!!!

Afrodite mandou um ataque dez vezes pior do que o primeiro. Quase não se podia ver nada além do rubro das rosas que avançavam vorazes na direção da Amazona, que permanecia impassível.

Até que…

– Ying!! – foi o grito de Saga, colocando-se de pé.

Afrodite sorria, maldoso, como se dissesse: “Agora, sim! A vitória minha!” Ayoros observava a ambos, pálido como mármore, como se não acreditasse em seus olhos(reação semelhante a de todos que assistiam àquela luta) e no centro de tudo, Ying, ainda serena, olhava para seu adversário, sem esboçar reação alguma, além de limpar displicentemente o filete de sangue que surgira em seu rosto, provocado pelos espinhos de uma das rosas que conseguira atingi-la.

– Agora, orgulhosa Amazona, caso não queira morrer em poucos segundos, acho melhor admitir qual de nós dois é o melhor. Se fizer isso, serei misericordioso e lhe darei o antídoto para o veneno que já circula em seu sangue.

– Veneno? – disse Ying, com um sorriso particularmente malicioso. – Que veneno? Não seja tolo, Afrodite, essa bobagem não faz efeito em mim.

– O quê?!! – exclamou, Afrodite, incrédulo.

– Olhe bem, por acaso, pareço alguém à beira da morte?

Realmente, ela não aparentava o menor sinal de estar sendo afetada pelo poderoso veneno das rosas do Cavaleiro de Peixes. Pelo contrário, a cosmoenergia dela crescia assustadoramente, fato que já começava a ser percebido por todos, incluindo o próprio Afrodite.

– Como…Como isso é possível?! Nenhum ser humano, mesmo um Cavaleiro de Ouro pode sobreviver ao veneno das minhas Rosas Diabólicas! Quem… Quem é você? – balbuciou Afrodite, tremendo intimamente.

– Eu sou aquela que, em nome de Athena, irá lhe dar uma lição que acabará com essa sua vaidade desmedida, Afrodite de Peixes! Essa é a última chance que lhe dou, Cavaleiro! Está disposto a seguir até o fim com essa luta ou prefere ser sensato e reconhecer que não pode me derrotar com esse seus propósitos vis?

– Nunca!!! – Afrodite deu um soco no peito, dando um passo à frente. – eu não mostrei a você nem metade da minha força ainda!

– Muito bem. – Ying soltou um profundo suspiro e ergueu o olhar em fogo, ao mesmo tempo que sua cosmoenergia incendiava ao seu redor – Então está na hora do contra-ataque! Receba sua rosa de volta, Afrodite!

Ela arremessou a rosa com toda a sua força na direção de Afrodite de Peixes. Este ficou sem ação por uma fração de segundo com aquele ataque inusitado, mas conseguiu segurar a rosa no momento do impacto, esmagando-a. No entanto, quando ele abriu a mão…

– O quê??!! Como… – foi a reação dele e de todos que assistiam.

A rosa, de rubra de sangue, se tornava amarela como o brilho dourado do sol, ao mesmo tempo que um delicioso e inebriante aroma se espalhava rapidamente pela arena e arredores.

Outra vez, aquele perfume de rosas, mas não são das rosas de Afrodite, tenho certeza disso! – pensou Ayoros, inspirando profundamente. – Qual será o segredo de Ying, afinal?

*********

– O que é que está acontecendo, Hargos? – perguntou Ayolia, intrigado. – De onde veio aquela rosa amarela?

– Ora, Ayolia, você não viu? Ela veio de Ying! O cosmo dela a transformou.

– O quê??!! Mas como?

Hargos deu de ombros, sem saber o que responder. Albiori e Cristal também pareciam não ter nenhuma resposta, continuando profundamente entretidos com o que se passava na arena. Denora quebrou o pesado silêncio.

– As rosas mágicas de Sharon… – murmurou ela, pensativa.

– O quê?! – exclamaram todos.

– As rosas mágicas de Sharon. – repetiu ela, de maneira mais convicta. – Sim, é isso mesmo. Só pode ser. Incrível!! Como ela as conseguiu?

Os quatro adolescentes a olhavam como se a velha amazona de repente tivesse começado a falar em uma língua estranha. Como se, afinal, se desse conta de onde e com quem estava, ela explicou:

– É uma velha lenda das Amazonas. Conta-se que há muitos séculos, uma princesa de uma das tribos (pelo visto, a mesma de Ying) chamada Sharon se apaixonou por um jovem príncipe de um país vizinho, contra o qual as Amazonas estavam em guerra por disputas territoriais. Em virtude do ódio mútuo entre seus povos, eles passaram a se encontrar às escondidas em uma caverna de desfiladeiro próximo às fronteiras dos dois países. E o sinal para o encontro, era um buquê que ele deixava num local combinado, um buquê de rosas amarelas como aquela que apareceu na mão de Afrodite. – Denora apontou para os lutadores. – Essa situação permaneceu por muito tempo, pois a guerra parecia não ter fim. Até que um dia…

– Por favor, continue – pediu Ayolia.

– Bem, um dia, o príncipe chegou e Sharon não estava. Ele escondeu o buquê no lugar de costume (próximo à entrada secreta do Vale) e se dispôs a esperar sua amada, mas o que ele não sabia é que havia sido seguido. Um pequeno destacamento de soldados o encurralou e o capitão, que possuía um ódio terrível pelo jovem, que considerava um traidor de sua pátria, ordenou que o príncipe revelasse a localização da entrada secreta do Vale das Amazonas. Como ele recusasse, foi torturado barbaramente durante horas, mas não disse nada aos soldados. Quando ele já estava quase morto, Sharon finalmente chegou com algumas amazonas e quando viu o que estava acontecendo foi tomada de terrível fúria, destruindo praticamente sozinha o grupo de invasores. No entanto, apesar de sua bravura, ela também havia sido mortalmente ferida pelo odioso capitão e, recusando ajuda das outras, se arrastou até onde jazia o príncipe agonizante. Ele morreu pouco depois nos braços dela e então ela reparou que na mão direita dele que havia permanecido fechada até aquele momento estava uma rosa amarela do buquê, a qual ele sempre entregava a ela pessoalmente, amassada e completamente tinta do sangue dele. O príncipe havia preferido a morte a entregar a mulher que amava e seu povo à uma emboscada que seria morte certa para elas. Sharon então, sentindo que sua vida também chegava ao fim, pediu que ela fosse enterrada ali ao lado dele e assim foi feito. Conta a lenda que, algum tempo depois, algumas amazonas voltaram àquele local, encontraram ao invés dos túmulos, uma enorme roseira em flor, repleta de lindas rosas amarelas. A lenda termina dizendo que, assim como um protegeu ao outro, quem conseguisse adquirir o poder daquelas rosas seria invencível, se estivesse disposto a lutar para proteger outras pessoas.

– Mas então elas não eram somente uma lenda! – disse Ayolia, entusiasmado. – Como será que Ying as conseguiu?

– Vejam!! – alertou Hargos, cuja atenção não se desviara da arena um segundo sequer, apesar de ter ouvido tudo o que Denora dissera. – Eles pararam de lutar! Parece que Ying também está contando a lenda das Rosas Mágicas. Vamos ouvir o que ela diz!

– …Então uma de minhas ex-aspirantes, fez uma viagem considerada impossível por todas, percorrendo uma enorme distância em poucos minutos só para me ofertar aquelas rosas magníficas como um presente de despedida em nome de todas as amazonas, como prova de respeito e admiração. Não sei como e nem em que momento adquiri esse fantástico poder, mas soube que o tinha no momento em que soube que poderia enfrentá-lo, Afrodite, e, pelo visto, a lenda é verdadeira, pois as rosas estão me protegendo, uma vez que eu luto não somente em meu nome, mas no de todas as mulheres deste Santuário.

– Bah!! É tudo um monte de bobagens! Mas devo admitir que você é realmente forte… tanto que tem a ousadia de não usar um máscara, contrariando o costume e de lutar usando as mesmas armas que eu!! – Afrodite estava vermelho de cólera. – Pois muito bem, Ying! Vamos ver se as suas patéticas rosas amarelas conseguem protegê-la – ele disse isso dando um careta de escárnio – das minhas terríveis rosas negras!!

Todos, sem exceção, prenderam a respiração ao ouvir aquilo, pois sabiam que aquele era o ataque mais mortífero do Cavaleiro de Peixes. Ying, no entanto, nem se abalou:

– Humpf… Vamos acabar logo com isso! Estou com fome!

Isso só serviu para deixar Afrodite mais furioso. Com uma explosão de cosmo em torno de si, ele desferiu o ataque:

– Foi você quem pediu! Rosas Piranhas!! A ela!!!

Por sua vez, Ying também fez explodir sua cosmoenergia, o que fez com que dezenas de belíssimas rosas, não apenas amarelas, mas douradas surgissem em torno de si.

– Rosas Douradas! Ataque e Defesa!!

As rosas negras de Afrodite se aproximavam cada vez mais e as rosas douradas de Ying voavam para interceptá-las. Quando o encontro se deu, não houve quem não se levantasse com um grito de assombro.

– Minhas rosas… As minhas rosas negras… – murmurou Afrodite, perplexo, antes de cair, fulminado por suas próprias rosas piranhas.

Na colina próxima, havia quatro jovens boquiabertos e uma veterana sorrindo complacente.

– Incrível!!! – Hargos conseguiu dizer e essa era única palavra que ocorria a eles todos. – Ela é incrível!

De fato, num incrível lance que deixou a todos perplexos, as rosas de Ying não somente a protegeram do ataque de Afrodite, como fizeram com que as rosas negras modificassem sua trajetória, passando a atacar seu criador, o qual não conseguiu presença de espírito suficiente para reagir, tal sua surpresa.

Foi então que uma outra atitude inesperada de Ying deixou até Denora perplexa.

Vendo o Cavaleiro de Peixes caído, Ying se aproximou, julgando-o derrotado e indefeso, para dar a luta por encerrada e oferecer-lhe ajuda, se necessário.

– Está vendo, Afrodite de Peixes? De que adiantou seu orgulho e sua vaidade desmedida? Minhas rosas repletas do um sentimento puro de amor e proteção rechaçaram suas rosas negras de ódio e suas rosas vermelhas do veneno da inveja sequer se aproximaram de mim ou lograram me fazer mal. E sempre será assim. Pode parecer piegas aos seus ouvidos o que vou dizer, mas nada é mais forte do que a Justiça. Desista, Afrodite e aceite minha mão e minha amizade. Não vim a este Santuário para ser inimiga de ninguém. Agora que sentiu na própria pele a dor que causou aos outros, espero que tenha aprendido a lição e se arrependido de sua arrogância e do que fez à Denora.

***********

– Nããooo!! Ying!!! O que está fazendo, sua tola? Não baixe sua guarda!! Não confie nele!!!! – Denora gritava, alarmada.

***********

Afrodite permanecia mudo, de cabeça baixa, parecendo não ter mais a capacidade de reagir de maneira alguma, seu orgulho destruído e sua prepotência completamente aniquilada. Ying ajoelhou-se perto dele e estendeu a mão, mais uma vez, permanecendo pacientemente à espera de uma reação por parte do Cavaleiro derrotado.

Todos estavam com a respiração suspensa, numa expectativa angustiante. Sem exceção, qualquer um naquele Santuário sabia que Afrodite de Peixes era um Cavaleiro mau e traiçoeiro e Ying também sabia. Será que ela não tinha consciência do perigo a que estava se expondo?

Para tentar evitar alguma atitude indigna por parte de Afrodite, o Mestre se aproximou também e perguntou a ele, apenas para constar, pois já considerava a disputa decidida:

– E então, Afrodite de Peixes? Você admite sua derrota e jura em nome de Athena que não pensará em represálias?

O Cavaleiro continuou imóvel como uma estátua, mas todos sentiam algo estranho pulsando no ar. Não se podia dizer se era uma energia maligna, o cosmo de Afrodite tornando a crescer ou o que fosse, mas todos se mantinham tensos como se cada um estivesse pronto a sofrer um ataque, menos Ying, que continuava ali, confiante, com a mão estendida ao adversário caído.

De repente, Afrodite começou a se mover, muito, muito lentamente, aumentando a tensão reinante. Saga, Ayoros e os quatro jovens e a líder amazona na clareira próxima em especial e principalmente Hargos, que com a melhor visão de todos, acompanhava cada mínimo movimento e expressão de Afrodite, embora elas não fossem perfeitamente visíveis para ninguém, ainda mais da distância que Hargos estava, mas ele via tudo…

Então, Afrodite começou a estender sua mão em direção da Amazona à sua frente, erguendo lentamente o olhar.

– Eu…juro…

***************

– YING!!! NÃÃÃOOO!!! Salto do Lince!! – gritou Hargos, inesperadamente saltando de onde estava para a arena, numa atitude aparentemente suicida.

– HARGOS!!! – gritaram Ayolia, Cristal e Albiori, saltando atrás dele.

*************

– …Juro que vou matá-la!!! – rosnou Afrodite, fixando nela um olhar feroz e erguendo o punho direito fechado de onde partiram como que minúsculos raios dourados em direção aos olhos de Ying.

– AAAAHHHH!!! – ela gritou, agoniada, levando as mãos aos olhos feridos.

– Ying!!! – gritou Saga, erguendo-se.

– Afrodite, seu miserável traidor!!! – gritou Ayoros, também de pé.

– Agulhas. – murmurou Mu, perplexo. – Ele usou agulhas de arremesso!1 Que atitude covarde!!

– He, he, he, he! – riu Afrodite, deliciado com o sofrimento e a confusão de Ying. – Parece que você não contava com isso, não é mesmo? Será que esqueceu que as rosas também têm espinhos? – sorriu ele, irônico. – E nem pense em interferir, Mestre

Shion, o combate ainda não terminou! – disse ele, sério, dedo em riste, numa atitude desafiadora.

– Afrodite… – sussurrou Shion entredentes, cerrando os punhos e se afastando um pouco. – Eu não vou tolerar mais essas atitudes vis de você. Independente do resultado desta luta, não quero mais vê-lo neste Santuário!

– Humpf…Grande coisa! Eu já esperava por isso. – disse Afrodite, desdenhoso. E voltando-se novamente para a Amazona ainda encolhida, bradou, fazendo seu cosmo explodir: – Agora, nós, Ying, esse será o seu fim!

– Ainda não, seu miserável covarde!! Antes de terá de passar por mim!

– E por nós também!!

O quê?!! – exclamou Afrodite, perplexo, olhando o jovem que acabara de aparentemente cair do céu na sua frente e os outros que chegaram e se posicionaram em semicírculo logo atrás dele e resguardando Ying. – Quem diabos são vocês?! E como se atrevem a interferir numa luta que nem o Grande Mestre tem o poder de interromper?

– Sou Hargos, da constelação de Lince, futuro Cavaleiro de Prata.

– E nós somos Albiori Daidaros de Cefeus e Cristal de Crux, Cavaleiros de Prata e Ayolia de Leão, aprendiz de Cavaleiro de Ouro.

– Todos os conhecemos muito bem. – disse o Mestre, severo. – Vocês não deviam nem estar assistindo a luta, quanto mais interferindo abertamente dessa maneira.

– Nós sabemos disso, Grande Mestre e pedimos seu perdão. – disse Hargos, ajoelhando-se diante de Shion em atitude respeitosa. – Na verdade, a iniciativa foi minha e meus amigos apenas vieram atrás de mim. Não os castigue, eu lhe peço, Santidade.

– Isso é verdade? – perguntou o Mestre.

– Sim, pelo menos a princípio… – disse o Cavaleiro de Cristal, como também era conhecido. – Na verdade, nossa honra de cavaleiros nos obrigaria vir de qualquer jeito e além do mais…Se até os Cavaleiros de Ouro, que também estão impedidos de tomar qualquer atitude, iriam infringir essa regra para defender uma combatente leal e digna de respeito, porque um discípulo não poderia fazer isso, até mesmo para impedir que seu mestre incorresse numa infração grave como essa?

– Como disse?! – exclamou Shion.

E foi então que todos perceberam que Ayoros estava com o arco armado e pronto para disparar uma flecha em Afrodite. Além de Saga, Mu, Aldebaran e até mesmo Kamus, que pareciam prontos a atacar também, aparentemente numa atitude reflexa, para defender uma companheira de armas.

Afrodite protestou:

– Então é assim? Basta que uma dama esteja em perigo para que os galantes cavaleiros corram em seu socorro? Pensei que ela estivesse nessa arena para provar que a máscara não fazia diferença… – ele sorriu, irônico. – Mas se a cada vez que sua frágil vida for ameaçada todos pularem assim…Isto é ou não uma luta séria, Mestre?

– Você não é o que se poderia chamar de combatente leal também, Afrodite, ao contrário de Ying, que até agora não usou de subterfúgios e lutou apenas com suas forças e habilidades. Talvez por isso os outros cavaleiros e esse jovens aprendizes tenham querido intervir, embora isso seja altamente irregular… – Shion lançou um olhar severo em torno fazendo com que os Cavaleiros de Ouro retomassem seu lugares, embora muito a contragosto. Somente o grupo de Hargos não se moveu.

Shion olhou para Ayoros, que se dirigiu, relutante, a seu discípulo:

– Hargos… Saia daí e leve Ayolia e seus amigos com você. A luta deve prosseguir…independente do resultado. – concluiu, baixando a cabeça, para esconder o olhar aflito e cheio de revolta. Seus punhos estavam cerrados, como para conter a vontade que ele tinha de entrar naquela arena e acabar com Afrodite pessoalmente.

– Mas…m-me-estre…Eu… – balbuciou o jovem, relutante.

– Faça o que ele diz, rapaz. E obrigada pela ajuda.

Era Ying que assim falava. Ela já estava de pé em posição de combate. Seus olhos estavam fechados, embora não houvesse vestígio de sangue neles.

Atônitos, os quatro rapazes se afastaram como se movidos por algo além de sua vontade, sem conseguir desviar os olhos dela nem por um instante.

Ela continuou:

– Agradeço sinceramente a vocês quatro e a todos os Cavaleiros de Ouro que se levantaram em minha defesa. Só isso já valeu por todo o esforço que fiz até agora, pois mostra, sem sombra de dúvida, que fui reconhecida como uma de vocês. Embora saiba que também fizeram isso por serem cavaleiros honrados, que não admitem procedimentos covardes como o do Cavaleiro de Peixes. São verdadeiros defensores de Athena e eu me orgulho por estar aqui e fazer parte desse grupo.

– Você ainda não conseguiu seu objetivo, Amazona. Ainda falta passar por mim!! – gritou Afrodite, furioso, mas um quase imperceptível tremor se via em suas pupilas e um pensamento tomava conta de sua mente: O cosmo dela está crescendo novamente daquele jeito estranho!! Como na luta com Shura!!!

Ying se virou lentamente para Afrodite. Em sua mão direita, as agulhas destinadas a perfurar seus olhos, as quais ela despejou lentamente no chão na frente dele. Sua voz extremamente serena, como na referida luta com Shura, só fez aumentar sua perturbação.

– Quiseram os deuses, Afrodite de Peixes, que eu lhe desse mais uma chance de se arrepender de sua má conduta e se redimir de seus erros, por isso lhe estendi a mão numa atitude que muitos devem ter considerado estúpida e arriscada… – ela suspirou, com um toque de tristeza na voz, a qual em seguida, se tornou severa. – No entanto, você jogou fora mais essa oportunidade. É meu dever então lhe aplicar o castigo devido, assim como fiz com Máscara da Morte e Shura. Achou que me cegando, eu seria uma presa fácil? Pois bem, você falhou e mesmo que tivesse conseguido, posso ver muito bem com minha visão espiritual, além de concentrar ainda mais o meu cosmo dessa maneira. – ela sorriu, se voltando por um instante para o Cavaleiro de Virgem – Assim como Shaka. Prepare-se, Afrodite, ex-Cavaleiro Dourado de Peixes, para o golpe mais poderoso dos Cavaleiros de Gêmeos! Explosão Galáctica!!!!

 As pessoas que assistiam mal tiveram tempo de se proteger da tremenda descarga de energia cósmica liberada por Ying, até Saga ficou surpreso com a potência do golpe de sua irmã. – “Acho que nem mesmo eu consigo tamanha magnitude! Incrível!!” – pensava ele.

Afrodite foi tragado sem chance de defesa por aquele “Big Bang” em miniatura, sendo arremessado impiedosamente contra a estátua de Athena, a qual resistiu incólume, ao contrário do restante da arena, da qual não sobrou muita coisa, assim como da armadura de Peixes, a qual, aliás, salvou a vida de Afrodite.

O Grande Mestre se aproximou de Afrodite e o examinou atentamente, constatando, não sem uma íntima satisfação, oculta por sua máscara cerimonial, que o Cavaleiro de Peixes estava totalmente impossibilitado de continuar a luta.

Muito solene, ele retornou ao centro da arena e estendeu a mão indicando a amazona.

– Em nome de Athena e de todos os Cavaleiros deste Santuário, declaro Ying de Gêmeos a vencedora incontestável e, de hoje em diante, ela será oficialmente, junto com Saga, a guardiã da Casa de Gêmeos e sem obrigação nenhuma de usar uma máscara, a qual só será usada a partir de agora por uma guerreira se assim for de sua vontade! Assim se cumpra!

Uma aclamação geral saudou àquela proclamação. Já de olhos abertos, Ying olhou para todos e agradeceu, sorrindo emocionada, a acolhida e aprovação, especialmente de Denora e suas amazonas, que de hoje em diante e por sua causa, estavam livres da humilhação da máscara. Ela considerava essa sua maior vitória. No entanto, havia alguém que se mantinha imóvel, impassível, apesar de ter se manifestado a seu favor durante vários momentos críticos daquelas batalhas: Ayoros. Parece que o momento que ela mais temia afinal chegara.

– Esperem! Ainda não acabou. – ele falou, se levantando, solene.

 

O Mestre se voltou para ele, surpreso, mas logo lembrou de que Ayoros havia deixado seu pronunciamento para o final.

– Muito bem, Ayoros de Sagitário. O que tem ainda a nos dizer?

Continua…

1 Nome original “agulhas de sopro”. Arma lendária, inventada segundo dizem, por costureiras e tecelãs chinesas que foram levadas a trabalhar no Japão, na época do xogunato, embora não reconhecida por muitos realmente como uma arma propriamente dita.(N. A)

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