Ayoros se aproximou do centro da arena lenta e solenemente, sem dizer uma única palavra, seu rosto sem trair nenhuma emoção. Ying também tentava manter a mesma aparência neutra, mas por dentro todo o seu ser tremia, temendo – e ao mesmo tempo, ansiando – pelo que iria acontecer a seguir.

– Mestre, com todo o respeito que lhe devo e a meus irmãos, Cavaleiros de Ouro e os demais aqui presentes, eu reitero o que disse antes neste Conselho: Reconheço Ying de Gêmeos como uma de nós, com ou sem máscara e reconheço plenamente seu direito de se negar a usá-la. O que me traz a tomar novamente a palavra neste momento, devo admitir e por isso o faço somente agora, é realmente um motivo pessoal. Talvez em razão disso devesse acertar tudo com ela outra hora e a sós e esse era meu plano inicial, mas reconsiderei melhor e decidi fazer tudo às claras porque, além de ser essa a minha natureza, sinto que tudo isso irá afetar no futuro a todos nós e, portanto, todos deveriam participar.

– E assim seria mais difícil, para mim, diante de tantas testemunhas, recusar o seu desafio. – disse Ying, sombria.

– Se acha que sou tão calculista assim… – disse Ayoros, com um toque de mágoa no olhar, tão pungente, que quase derrubou as defesas dela. – Pode pensar o que quiser…mas asseguro que não é esse o motivo.

Ele fez uma pausa e, logo após, inspirando profundamente, como alguém a tomar coragem para dar um passo muito importante, ele falou:

– Ying de Gêmeos, já a reconheci como um Cavaleiro de Ouro, mas estou bem ciente de que acima de qualquer coisa, você é uma Amazona e as Amazonas também têm tradições, as quais nem você se atreveria a quebrar, estou certo? Portanto, é pensando nelas que eu a desafio agora para um combate.

Ying estava lívida como mármore e sua voz tremia levemente ao perguntar, embora ela já soubesse a resposta:

– E… E o que estará em jogo?

– O seu amor.

O quê??!!! – e não foi apenas Ying a exclamar.

– Isso mesmo que ouviu e não se faça de surpresa. Se a derrotar, sei que, de acordo com as Leis Amazonas, você terá de aceitar-me, sem mais desculpas ou…se você vencer, poderá dispor de minha vida, como lhe aprouver. Tentei evitar esse recurso extremo de todas as maneiras e você sabe disso, Ying! Mas naquele dia em que nos despedimos na aldeia, você me deixou bem claro de que não me restaria outra escolha…Lembra-se?

– Eu nunca pedi para ser desafiada! – protestou ela.

– Talvez não, mas eu jurei a mim mesmo que não desistiria de você enquanto não me desse uma boa razão e você não foi capaz disso. Disse apenas não poder corresponder ao meu amor, que precisávamos nos afastar…Por que, Ying, diga-me! Ou será que não tem coragem para isso?

Ela permaneceu muda, não tinha nem sequer coragem de encará-lo nos olhos.

– Vamos, Ying! Fale! – ele se aproximou dela, e levantou-lhe o seu rosto, forçando-a a encará-lo. – Diga, olhando nos meus olhos, que não me ama, que não sente nada por mim.

Não!! – ela gritou, ofegante, empurrando-o e se libertando de seu toque, afastando-se dele o mais possível. – Eu não sinto nada por você! Será que não entende? Vai querer me forçar a amá-lo como se fosse um homem qualquer, um selvagem?

Ele estava tão pálido quanto ela, mas uma onda de rubor invadiu agora suas faces.

– É claro que não a forçaria a nada! Mesmo com essa luta não quero forçá-la a nada que não queira. Mas eu sei que está mentindo, Ying…Está mentindo pra si mesma. Tivemos dois momentos maravilhosos…Vejo em seus olhos que se lembra. Por isso jurei a mim mesmo que não iria desistir!

– Aquilo não significou nada, Ayoros. – ela gritou, furiosa, mas depois se controlou, e deu um sorriso irônico. – Eu sou uma mulher normal e devo admitir que você é muito atraente, nada mais que isso! Será que entendeu agora?

Ele a olhou com ódio por um segundo, mas não mais do que isso. Balançando a cabeça negativamente, lançou-lhe um olhar penalizado e continuou com voz suave:

– Está mentindo de novo e sabe disso. Entendeu agora porque a desafiei? Nós dois sabemos o motivo porque está fazendo isso, porque quer tanto se afastar de mim, mas é preciso que você o admita, Ying.

– Você não entende, não é? – balbuciou Ying, parecendo uma menina indefesa, pela primeira vez em sua vida.

– Pelo contrário, entendo melhor do que pensa e é por isso estou aqui. E então? Vai admitir que me ama ou prefere lutar?

Ying ficou o que pareceu um longo momento completamente imóvel, travando uma tremenda batalha interior, até que finalmente respondeu, já totalmente refeita e senhora de si, rígida e desafiadora:

– Parece que não tenho escolha… Muito bem, se coloca assim, tão espontaneamente, a sua vida em minhas mãos, se deseja tanto perdê-la agora, não poderá dizer que não tentei evitá-lo. Você me desafiou como uma Amazona e é uma Amazona que aceita seu desafio. – disse, despindo a armadura dourada, para grande surpresa de todos. – Venha!

Ele a imitou, retirando a armadura de Sagitário.

– Lutaremos então como pessoas comuns? – perguntou Ayoros.

– Não. – respondeu ela, impassível. – Você é um Cavaleiro de Ouro e eu não me esqueci disso e eu também o sou. Não podemos negar isso. Lutaremos com todas as nossas forças e poderes, mas sem a proteção das armaduras. Será ou tudo ou nada. Concorda?

– Você é louca! Seremos feitos em pedaços!

– Talvez. Desiste?

– Nunca! – murmurou, calmo e obstinado. – Que assim seja então.

*********

– Ying! Ayoros! Parem com isso!! – gritou Saga, aflito. – Mestre, por Athena, precisa impedi-los! Isso já ultrapassou todos os limites! Eles vão se matar!

Shion permaneceu impassível aos apelos de Saga, mas com a insistência deste e de outros cavaleiros, respondeu, lentamente:

– Infelizmente, isso fugiu à minha intervenção…Não tenho poder nesta situação, é algo que envolve coisas muito antigas e graves, às quais não me cabe interferir e… mesmo que pudesse…vejam, eles não estão mais ao nosso alcance.

Todos se voltaram e viram que o Mestre Shion estava certo. Não havia mais ninguém na arena à frente deles.

Ying!! – gritou Saga. – Droga! Ela se transportou com ele para uma dimensão paralela!

Saga correu para a arena tentando segui-los através de seus cosmos, mas deparou com uma espécie de barreira. Impotente, ele recuou, contrariado.

– Parece que ela não quer mesmo que ninguém interfira nesse caso. – arriscou Hargos, cada vez mais impressionado com aquela situação.

Saga resmungou, sombrio:

– Ela sempre foi independente demais…Espero que isso não acabe sendo sua perdição.

***********

Perto dali, invisível aos olhos de todos, mesmo aos de Saga que só podia pressenti-lo, por estar também em uma dimensão paralela, Kannon também não estava nada satisfeito por não poder acompanhar o que se passava com Ying. Se antes queria matá-la, agora queria impingir-lhe força, determinação e ferocidade necessárias para acabar com Ayoros, o que também convinha grandemente aos planos de Ares, Hades e de maneira especial, aos seus próprios, uma vez que achava que o Santuário e o mundo inteiro estariam bem melhor nas suas mãos do que nas dos prepotentes deuses.

Malditos!!! Estejam onde estiverem, eu os encontrarei! Ying matará seu amado, como já está previsto e eu a matarei em seguida. Saga acabará tragado por Ares, Athena ficará desprotegida e será a próxima e então nada nem ninguém mais, humano ou deus, poderá me deter! Ah, ah, ah, ah, ah!”

*********

– Bem, e então? – falou Ying, impaciente e pronta para o combate. – Não vai atacar?

– Ying, onde estamos?

– Sem que você percebesse, nos transportei para uma dimensão paralela à nossa. Não queria interferências de espécie alguma. Isso é só entre nós dois.

– Muito bem. É melhor assim realmente…

– Você vem ou não?

– Deixarei o primeiro ataque a seu cargo, pode vir que estou pronto. – disse calmamente Ayoros, pondo-se em guarda.

– Já que insiste… – ela acendeu seu cosmo. – Explosão Galáctica!!!

O quê??!! – exclamou ele.

O mesmo estrago arrasador acontecido anteriormente se promoveu naquela outra arena. Não se via Ayoros em lugar algum.

Triste, Ying olhou em volta, enquanto se encaminhava para o centro da arena.

Parece que aquele sonho fatídico se realizou afinal. Perdoe-me, Ayoros…quis acabar logo com tudo para não fazê-lo sofrer…Por que tinha que me desafiar? Podíamos ter evitado isso… – duas lágrimas correram furtivas por sua face sem que ela se desse conta. – Bem, não tenho mais nada a fazer aqui

– Um momento, Ying. – a voz de Ayoros se fez ouvir do alto de uma coluna quebrada, uns vinte passos à esquerda da Amazona. – Achou que ia conseguir acabar comigo assim tão fácil? – ele ofegava ligeiramente e sua face estava coberta de suor. – Se bem que devo confessar que me surpreendeu com esse ataque… – ele passou o dorso da mão esquerda na cabeça, enxugando a testa. – Não achei que fosse usar logo de cara um golpe tão dispendioso energeticamente, ainda mais quando acabou de usá-lo contra Afrodite! O que deu em você? Mas ainda assim tornou a me surpreender, pois não foi um “Explosão Galáctica” comum, você combinou O “Estrela Flamejante” com ele, criando um golpe de potência extraordinária!! Como consegue se manter de pé depois de já ter gasto tanto cosmo contra Afrodite? Sabia que está arriscando sua própria vida? Quer tanto assim me destruir e manter sua independência?

– Como… Como conseguiu escapar de meu poderoso “Ataque Supernova”?

– Ah, é assim que ele se chama? – Ayoros desceu novamente até a arena. – Pra dizer a verdade, nem eu mesmo sei direito, mal consegui me desviar…seu golpe parecia ultrapassar minha velocidade da luz, mas no último instante…pareceu se desviar!

– Desviar?!

– Sim, foi isso mesmo. Acho que você se arrependeu no último momento, pois não?

– Não diga tolices!!! – gritou Ying, virando-lhe intempestivamente às costas para que ele não se apercebesse de seu rubor.

– Sei… – murmurou ele, sorrindo consigo. – Agora é a minha vez de atacar! Prepare-se!! Trovão Atômico!!!!

– Oh!!! – exclamou Ying, antes de ser apanhada em cheio pelo golpe, um misto arrasador de deslocamento sonoro e explosão nuclear.

O grito de agonia que ela soltou obrigou Ayoros a tapar os ouvidos, já arrependido do que fizera.

– Ying!!!

Um débil gemido soou em resposta a alguma distância dali, seguida de uma risada ( é verdade, que um tanto forçada, o que só serviu para aumentar a dor que ela estava sentindo) e ela já estava de pé, embora parecendo bastante ferida.

– Parabéns, Sagitário! – Ying se esforçava bravamente para não expressar em seu rosto a dor dos ferimentos. – …Mas…não…Não vai ser tão fácil assim me derrotar!

– Ying, vamos acabar com isso, antes que se machuque ainda mais! Admita que a derrotei, ou melhor…Na verdade, você me derrotou desde o primeiro instante em que pus os olhos em você! Por favor…

– Nunca!!! Eu já derrotei três Cavaleiros de Ouro! Não me custa derrotar mais um, ainda que seja você! Aliás… – ela deu um sorriso irônico. – parece que agora foi sua vez de amenizar seu golpe, não conseguiu atingir nenhum de meus pontos vitais e isso foi um grande erro, Ayoros!!

– Já disse que não quero matá-la! De que me adiantaria dedicar meus sentimentos a um cadáver? Deixe de ser cabeça-dura e me escute!!!

– Não tenho nada a escutar! Será que nunca poderá me entender? – gritou Ying, parecendo fora de si. – Eu é que peço: Desista dessa luta e de seus tolos objetivos românticos, pois não foi isso o que vim buscar neste Santuário. Ou você abandona a luta enquanto ainda pode ou eu não vou mais me segurar e acabarei destruindo-o. A escolha é sua!

Ayoros suspirou longamente, de novo com aquela expressão torturada no olhar que quase a fez chorar. Depois, sacudindo a cabeça, ele riu gostosamente:

– Você não muda mesmo, não é? Sempre obstinada e teimosa… Acho que é isso que adoro em você… Muito bem, Ying. Vamos em frente. Também não vou mais me segurar, mas não quero matá-la. Será que está mesmo disposta a ir até as últimas conseqüências?

– Não… Não duvide disso!! – disse ela, acendendo novamente seu cosmo e curando seus ferimentos, preparando-se em seguida para novo ataque. – Receba minhas Rosas Douradas!!!! Ataque!!!

As rosas se materializaram e partiram céleres na direção de Ayoros, mas, para surpresa de Ying, as rosas de detiveram no último instante e permaneceram pairando placidamente ao redor dele até desaparecerem deixando um suave aroma no ar.

– Mas…Mas…O que aconteceu?

– Lembra da história que acabou de contar? – perguntou ele, com um ar de piedade irritante. – Essas rosas foram criadas em meio ao imenso amor que unia duas pessoas com a função de resguardá-lo… – A expressão dele pareceu tornar-se estranhamente nostálgica. – Elas jamais fariam qualquer mal a quem se ama. E essa é apenas mais uma prova de que eu estou certo: Você corresponde inteiramente aos meus sentimentos.

– Cale-se!!! – gritou ela, furiosa e acrescentou, entredentes. – Eu vou mostrar, custe o que custar, o quanto está enganado! Eu… – uma súbita fraqueza a fez cair de joelhos, ofegante e pálida.

– Ying!! – ele correu ao encontro dela, ansioso por ampará-la. – Você já despendeu uma quantidade absurda de cosmo durante as batalhas que travou até agora. Se continuar assim vai se matar! Por que não admite o óbvio?!

– Largue-me!! – ela o empurrou, agressiva. – Não sei do que está falando! Não posso admitir uma coisa que não é verdade e que só existe em sua mente doentia!

– Lamento que pense assim…Embora ainda não acredite que seja verdade.

– Ora, seu…

A disputa de cosmos entre os dois Cavaleiros de Ouro recomeçou acirrada. Nenhum dos dois parecia ficar com a vantagem por muito tempo, estando a disputa muito bem equilibrada. Ayoros resolveu atacar novamente com seu Trovão Atômico, mas Ying defletiu o ataque, usando a “Dimensão Espelho” somada com o “Explosão Galáctica”. Esse ataque pegou o Cavaleiro de Sagitário completamente de surpresa atingindo-o em cheio. Embora ambos estivessem (embora nenhum deles admitisse) usando um nível mínimo de potência cósmica, pois sem armadura seriam completamente aniquilados com o impacto dos golpes com magnitude total, já estavam bastante feridos e com seus cosmos praticamente esgotados.

Em virtude disso, após Ayoros se levantar penosamente, bastante ofegante e Ying mais uma vez pedir que ele desistisse de seu intento e ele negar, partiram pra luta corpo à corpo, a qual se mostrava igualmente equilibrada, pois apesar de Ying ser mulher, sua força nada ficava dever ao próprio Hércules. No entanto, não parecia uma disputa comum de força física, eram vontades em disputa, seus próprios espíritos com todas as suas emoções tempestuosas e desejos ocultos transcendiam os corpos e se digladiavam naquele momento num combate formidável e desesperado, o qual parecia envolver questões inacabadas e mal resolvidas que se prolongavam há séculos e séculos. Era como se tudo tivesse que ser decidido naquele instante, de uma vez por todas. Definitivamente.

***************

Enquanto isso, no Santuário, já era noite alta e todos aguardavam o final daquela disputa, impacientes e ansiosos, principalmente por não poderem saber o que estava se passando. Saga não conseguia parar quieto um minuto, tendo percorrido pela milionésima vez o espaço que constituía a arena, tentando descobrir algum vestígio de sua irmã e de Ayoros, mas provavelmente seu próprio nervosismo o impedia. Sereno como sempre, o Mestre permanecia sentado em sua cadeira.

– Nada ainda, senhor? – perguntou Hargos, se aproximando timidamente, receoso da fúria latente que se lia no rosto do Cavaleiro de Gêmeos.

– Não consigo localizá-los… – respondeu Saga, distraidamente, cheio de mau humor. – Mas sinto que a disputa se aproxima do seu clímax, até mesmo pelo tempo que estão demorando. Droga!! – ele deu um soco em uma coluna, abrindo nela um buraco que ia de um lado a outro e depois agarrou pela gola da túnica o pobre rapaz a seu lado, erguendo-o do solo até a altura de seus olhos.

– Se o seu mestre Ayoros machucar a minha irmã, eu… – mas não tardou a se acalmar e colocar Hargos no chão outra vez. – Me desculpe, rapaz, você não tem nada a ver com isso.

– Está tudo bem. – disse Hargos, se recompondo, um tanto ofegante. – Na verdade, estou preocupado com os dois. Não gostaria de perder meu mestre, que é como um irmão mais velho para mim, mas também não gostaria que algo de mau acontecesse a uma guerreira tão nobre quanto sua augusta irmã. Só espero que eles cheguem a um acordo…

Saga concordou com a cabeça, sua atenção repentinamente, voltada para um ponto próximo dali. Não estava sentindo mais a presença de Kannon por perto. Preocupado, Saga estacou, pálido, ao compreender o que isso podia significar. Será que ele descobrira o paradeiro dos lutadores e iria tentar interferir mais uma vez, como fizera na luta entre Ying e Shura? Aquele desgraçado iria pagar muito caro…

***********

Realmente, depois de muito procurar, Kannon afinal descobrira para que dimensão Ying e Ayoros haviam ido. Estava lá agora, a poucos passos dos dois e parecia aborrecido com aquela luta interminável e que parecia que não ia dar em nada. Tentara interferir por diversas vezes, mas Ying e Ayoros estabeleceram uma barreira de defesa tão forte, que era impossível transpor, o que o deixara extremamente frustrado.

No entanto, um sorriso de triunfo surgiu repentinamente no rosto de Kannon. O motivo era que ele sentia a barreira começar a esmorecer, assim como os cosmos dos lutadores, que estavam no limite de suas forças físicas e cósmicas. O combate finalmente se aproximava do momento decisivo e ele, talvez, pudesse dar uma ajudazinha…quem sabe, inspirando-lhes alguma ideia…

Ayoros e Ying haviam dado uma pausa no combate. Parados à curta distância um do outro, de modo que não se perdessem de vista, pareciam estar obviamente no limite de suas forças, seus corpos cobertos de ferimentos, mas nenhum deles estava disposto a recuar um passo em seus objetivos, era o que se lia nos olhares obstinados que se lançavam como dardos. Só a energia presente neles seria o suficiente para derrubar uma pessoa comum.

Ayoros resolveu quebrar o silêncio tenso que se instalara:

– Parece que chegamos novamente a um impasse.

– Sim. – respondeu a Amazona, exausta.

– Devo cumprimentá-la. Você é realmente uma adversária formidável. Nunca enfrentei alguém com seu cosmo e sua perícia em combate corpo à corpo é inacreditável, ainda mais…

– …para uma mulher, não é mesmo? – completou Ying, maliciosa.

– Sim, é verdade. – admitiu ele, meio à contragosto. – Nossos cosmos e nossas habilidades de luta se equivalem e, pelo visto, nenhum de nós parece disposto a ceder a vitória ao outro, estou certo?

Aos ouvidos de Ying, parecia haver um certo tom de súplica e esperança mesclados na voz do Cavaleiro de Sagitário, como se intimamente ele estivesse dizendo: “Por favor, Ying, se renda! Não quero ter de machucá-la ainda mais! Não vê que isso está me destruindo?”

Sem perceber, ela respondeu no mesmo tom. Embora sua voz se mantivesse firme, seu coração se reduzira ao tamanho de um grão de areia, enquanto pensava: “ A mim também, mas eu não posso ceder!”

– Já disse a você minha posição, Ayoros, e reafirmo que ela não mudou. Se não quiser que isso termine em uma tragédia lamentável, sugiro que você desista!

– Mesmo que quisesse, eu não poderia. Você também sabe disso. Mas como continuaremos essa luta, se nossas forças estão quase no fim? E eu já perdi completamente a noção do tempo. Há quantas horas estamos lutando?

– Aonde estamos o tempo é algo sem a menor importância ou referência. Podemos estar aqui há horas, dias ou até mesmo anos. Não faço a menor idéia, mas o que realmente importa é que precisamos chegar a uma decisão.

– Como? – ele insistiu. – Nossas forças e habilidades se equivalem, eu já disse, e ao que parece nossa determinação, ou teimosia, também. Devemos lutar indefinidamente até que um de nós caia morto de pura exaustão?!

Ying não respondeu. Sem saber explicar como e nem quando – pois ela tinha a certeza absoluta de tê-las deixado no Santuário – Ying viu as armas deles (o arco e flecha de Sagitário e a espada Excalibur) juntamente com as armaduras colocadas a um canto, prontas para serem usadas. Como elas teriam aparecido ali? O elo cósmico de ambos com suas respectivas vestimentas e armas seria tão forte que algum pensamento despercebido as teria trazido até ali?

Sem dizer uma única palavra, Ying indicou sua descoberta a Ayoros. Numa simples troca de olhares, eles se entenderam: A batalha final seria decidida com as armas. O mais rápido a alcançar sua arma e armar um golpe fatal e indefensável para o outro seria o vencedor. Ainda teriam forças suficientes para tanto?

Por algum tempo, eles permaneceram imóveis, se estudando. Nenhum dos dois se decidia a dar o primeiro passo. Como se houvesse uma contagem regressiva ou cada um aguardasse uma brecha na guarda do outro para correr e conseguir uma vantagem e, por conseguinte, a vitória. Alguns segundos se passaram, os mais longos segundos de que já se teve notícia, até que, num repente, na velocidade da luz, os dois partiram juntos. “Como podia ser aquilo?”, eles se perguntavam, se é que havia tempo para pensamentos durante aquele frenesi. Se eles mal se agüentavam em pé até há poucos instantes, de onde vinha toda aquela energia para aquela louca corrida pela vida? Estariam consumindo sua própria energia vital ou a fonte seria um intruso inconveniente que a tudo observava incógnito, ansioso pelo final da disputa?

Se Ying matar Ayoros, ficarei livre de um adversário perigoso, o qual poderá atrapalhar e muito os meus planos.” – pensava o intruso, que não era mais ninguém do que Kannon. Ou não? Sua fisionomia parecia alterada, num estranho e selvagem ricto de ódio, ainda mais diabólica que antes… – “Se Ayoros matar Ying, me livrarei dessa intrometida que tem uma influência boa sobre Saga, a peça-chave de tudo o que planejei e, o principal, Athena perderá sua maior aliada…” – aquele que era e, ao mesmo tempo, não era Kannon, deu um sorriso sinistro, enquanto uma ideia lhe ocorria. – “Se bem que eu até poderia usá-la, afinal, quem não quer a Vitória sempre a seu lado? Isso me seria muito útil…Mas não importa se ambos se matarem! De qualquer jeito, eu é que serei o verdadeiro vencedor, de uma maneira…ou de outra…” – e soltou uma gargalhada sinistra.

Ying e Ayoros se moviam agora ainda mais rápido do que a luz, se é que isso era possível, pareciam ter a velocidade do pensamento! Tinham transcendido todos os limites possíveis e imagináveis para seres humanos ou até mesmo para Cavaleiros de Ouro que eram. E até nisso eram iguais, se moviam como se fossem um só. O menor erro e tudo seria decidido. Será que haveria esse erro ou o impasse permaneceria? Isso era inadmissível!

As armas estavam ali, a um passo. Tudo acontecia muito rápido, mas ao mesmo tempo parecia ocorrer em câmera lenta. Eles já apanhavam suas armas e então, aconteceu algo inesperado. Apesar de estar totalmente concentrada no combate, assim como na luta com Shura, sua atenção se desviou inadvertidamente e seu olhar treinado atravessou a barreira dimensional e recaiu no intruso. Já com a espada em punho, Ying parou, perplexa. “Quem era aquele homem? Era Saga? Não!! Aquele não era Saga! Era.. Só podia ser…”

Então escutou um grito de triunfo.

– Venci! Eu consegui, Ying! Desista!

Era Ayoros. Ele estava com a flecha dourada armada em seu arco, apontada diretamente para o coração da Amazona, tão próximo que não havia como fugir. No entanto, ela nem se abalou.

– Acho que está enganado. – ela disse, simplesmente.

O que?!!

Foi a vez de Ayoros ficar perplexo. Assim como ele, Ying também estava em posição de ataque com sua espada em riste, perfeitamente posicionada para um golpe perfurante também visando o coração do Cavaleiro de Sagitário. Apesar da distração momentânea e já completamente esquecida, o corpo – ou o espírito? – da Amazona agira sozinho e não abandonara a luta, como antes. Se um deles se mexesse, significaria a morte do outro. O impasse continuava.

E assim ficaram pelo que pareceu uma eternidade, imóveis como duas estátuas. O momento decisivo chegara afinal. Qual das vontades se dobraria primeiro à outra?

– Ying, desista, eu já disse!! Não quero matá-la, mas não posso conviver com você como um completo estranho, sem poder tocá-la! Por que tudo isso? Diga!! Do que você tem tanto medo?

– Não!!! – ela gritou, transtornada. – Não posso!! Você nunca iria entender… – sua voz morreu na garganta, estrangulada em um nó que só fazia crescer à medida que a emoção tomava conta dela. Ele já a havia vencido, mas ela não conseguia aceitar. – Eu não quero matá-lo, Ayoros…mas se você não abaixar esse arco, eu.. eu o farei!

O suor escorria abundante por sua face e corpo. Os belos olhos violetas desmesuradamente abertos. Sem que Ying pudesse controlar, suas pupilas tremiam sem parar, mostrando a violenta emoção que a dominava e sobre a qual praticamente não tinha mais controle. Um espelho do Cavaleiro de Sagitário. Ayoros observou tudo isso e mais: uma enorme determinação de não recuar e levar tudo aquilo até o fim, independente do sofrimento que iria lhe causar.

Ayoros viu então que não lhe restava outra saída. Com o olhar repleto de ternura e a expressão serenamente resignada de alguém que já havia aceitado o seu destino, ele abaixou lentamente seu arco e sua flecha e os depôs aos pés da atônita Ying. Abriu então os braços em cruz, expondo corajosamente o tórax à espada da Amazona.

– Mate-me, então. – disse simplesmente

– O que disse?!! – exclamou Ying, perplexa com aquela atitude inusitada e incompreensível para ela.

– O que ouviu. – respondeu impassível. – Eu não posso matá-la, já disse o que sinto por você. Mas não pense que estou desistindo, não vou deixá-la em paz até que me esclareça seus verdadeiros sentimentos. Se deseja se livrar de mim, essa é a única maneira. Vamos! O que está esperando? Mate-me!

Olhando-a intensamente, ele se aproximou temerariamente e agarrou a ponta da espada, encostando-a em seu próprio peito, na altura do coração. Gotas de sangue já escorriam de seu dedos em virtude da lâmina afiadíssima de Excalibur.

Aquilo foi demais pra ela. Todo o autocontrole tão cuidadosamente construído mediante anos de disciplina ameaçava ruir a qualquer momento. O tremor dos olhos se espalhou por todo o seu corpo e apenas levemente segurava Excalibur ainda contra o peito de Ayoros. Lágrimas escorriam por seu rosto, sem mais nenhum empecilho.

Invisível ao lado dela, Kannon já estava irritado com o que considerava uma tola hesitação por parte da irmã, se preparando, então para intervir.

Bem, já que Ying não se decide a dar um fim nesse estorvo, acho que vou ter que decidir por ela… Afinal, ele mesmo está pedindo por isso…”

E já ia empurrar o braço de Ying, fazendo com que ela concretizasse o golpe fatal, quando braços poderosos o seguraram, imobilizando-o numa “gravata” e ele se viu forçado a afastar-se do casal.

– Mas o que…? – ele conseguiu dizer, enquanto tentava em vão se libertar.

– Kannon, – soou a voz de Saga às suas costas. – graças à Athena, consegui encontrá-lo a tempo antes que cometesse um crime inominável! Você não tem o direito de interferir nessa luta! Por que acha que eles vieram até essa dimensão isolada? Isso é só entre eles dois e você não interferirá em prol de seus propósitos malignos! Vamos sair daqui agora!

– Saga!! Solte-me!!

– Só quando estivermos bem longe daqui e você tiver readquirido um mínimo de bom senso!

Dizendo isso, Saga abriu um portal para uma outra dimensão afastada dali e Ayoros e Ying ficaram novamente sozinhos.

************

Durante esse incidente, nenhum dos dois havia percebido nada, tão concentrados estavam um no outro.

Após o que pareceu um longo tempo, se ouviu um ruído seco de metal contra o chão de terra. Ying largara Excalibur no chão, afastando-se um passo do Cavaleiro de Sagitário.

– Você venceu, Ayoros! Eu…não…não posso matá-lo…porque… porque… eu o amo! Está satisfeito agora? – bradou entre lágrimas, levando as mãos aos olhos e virando-lhe às costas na vã tentativa de que ele não a visse chorando. Era humilhação demais para uma Amazona orgulhosa como Ying. Ser vista chorando por causa de um homem e na presença do próprio!

Passos soaram atrás dela. Lentamente, Ayoros se aproximou de Ying e a abraçou pela cintura. Curvando-se um pouco, ele mergulhou o rosto na cabeleira da Amazona, aspirando o suave aroma de seus cabelos. Ying tentou se desvencilhar, mas Ayoros a manteve junto a ele, beijando-lhe os cabelos e delicadamente fez com que se voltasse para fitá-la de frente.

– Não, Ying. – Ayoros deu um sorriso triste, falando com extrema ternura. – Está enganada. Você venceu… e não falo dessa nossa luta de agora, você me venceu muito antes, antes mesmo de se pensar em reunir o Conselho… – ele fez uma pausa prolongada, olhando-a embevecido como se antigas e doces lembranças lhe viessem à mente. – Sabe, Ying, por motivos pessoais os quais declinarei adiante, assim como você, eu havia jurado a mim mesmo jamais entregar meu coração a ninguém, servindo somente à Athena de corpo e alma, mas… – seu rosto afogueou-se e sua voz encheu-se de calor. – isso mudou no momento em que a vi lutando contra aqueles soldados na fronteira do Santuário, no exato instante em que olhei em seus olhos e a reconheci como aquela a quem tenho amado através dos séculos, muito antes de nascer nessa vida como um Cavaleiro de Athena. Vi então que não poderia cumprir meu juramento, pois meu coração já não me pertencia mais. Resolvi me entregar a esse amor, mas você… Você fugiu de mim!

– Ayoros, não podemos… temos um dever a cumprir junto à Athena, não compreende? – Ying dizia entre lágrimas, com ar suplicante. – Não vê que está me torturando?

– Você é que está me torturando com essa sua obstinação, Ying! – falou ele, exaltado, soltando-a, já no limite máximo de sua resistência, mas recuperando rapidamente a calma, tornou a pedir, em tom de quem não a deixaria ir sem uma resposta definitiva: – Ying, você me deve e sabe disso. Diga agora: Por que foge, negando seus sentimentos que são tão óbvios quanto os meus?

Ela empalideceu. Sabia que estava encurralada. O momento da verdade tão temido chegara e sabia que não poderia mais fugir. Suspirando profundamente, ela começou a falar.

– Desde que tenho consciência de mim mesma… quero dizer, minha lembrança mais antiga é a de um sonho que me persegue todas as noites…

Ying então contou a um atento Ayoros todos os detalhes de seu pesadelo: O centauro, a corrida e luta, o romance, a tragédia que os separou, matando a ambos…

– Não sei quem é o rapaz que me salva no final, pois não consigo distinguir seu rosto… – concluiu ela, no fundo, sentindo um profundo alívio por estar dividindo com ele aquela imensa carga que há anos suportava sozinha. – embora sinta que o conheça, mas você… Você eu reconheci! Reconheci no momento em que o vi quando apareceu e interrompeu minha luta com os guardas. Era você o centauro do meu sonho, o homem que eu amava e sinto que sempre amei e que iria, de alguma forma, morrer…por minha causa! Entende agora porque é impossível? Eu o amo, Ayoros! Não pude matá-lo agora e não quero que morra por minha culpa!

Ela parou, esperando a reação dele. Mas de modo algum estava preparada para aquilo. Ayoros começou a rir de mansinho, riso que foi aumentando aos poucos até se transformar numa estrondosa gargalhada.!

Ying protestou, indignada:

– Ayoros de Sagitário! Então é assim que afirma me amar? Eu lhe abro as portas de meu coração e alma e você ri, como se eu estivesse contando alguma piada?! O que há com você? Ficou louco?

– De…Desculpe, Ying! – disse ele, tentando se conter ainda, lágrimas escapando de seus olhos. – Juro que não estou fazendo isso por mal, mas é que …é coincidência demais!

O que?! – exclamou ela, sem entender. – O que quer dizer com isso?

– Não. – Ayoros balançou a cabeça, mais calmo agora, mas ainda sorrindo, parecendo muito feliz. – Não é coincidência. Isso é algo que não existe. – ele olhou pra ela muito sério agora. – Só pode ser o Destino mostrando como nossas almas, nossas vidas, estão entrelaçadas.

Ayoros se aproximou de Ying novamente e pôs as mãos em seus ombros. Seus olhos escuros e profundos se fixaram nos dela:

– Ying, lembra-se de quando eu disse que, por motivos pessoais, da mesma forma que você, não queria me apaixonar por ninguém? Bem…parece que o motivo realmente era o mesmo.

– Como? – ela arregalou os olhos, incrédula. – Não está querendo dizer…

– Isso mesmo. Eu tinha e ainda tenho, às vezes, um sonho idêntico ao seu, pelo menos até a parte em que somos separados… – ele fez uma pausa, tornando a abraçá-la e desta vez, ela não se esquivou. – Também resolvi lutar contra o Destino e evitar à qualquer custo que “aquilo” pudesse acontecer, mas quando a vi, pude compreender que o preço seria alto demais…

Ayoros começou a acariciar ternamente a face ainda úmida da Amazona.

– Não posso viver sem você, Ying. Eu resolvi enfrentar o que quer que seja e viver esse amor pelo tempo que nos esteja destinado, seja um ano, um mês, um dia…ou apenas esse momento que estamos vivendo agora e foi chegando a essa conclusão que finalmente pude ter paz.

– Ayoros…

– Não podemos permitir que um sonho nos afaste de nossa missão com Athena, pois tenho a nítida impressão… não…a plena certeza de que temos algo a cumprir junto a Ela. Nós dois. Juntos. E… – ele se inclinou, aproximando o rosto do dela, sua boca beijando sua face e seus olhos, delicadamente, docemente, procurando a de Ying, que se derretia em seus braços, agora totalmente entregue.

– …não podemos deixar que nos afaste… um do outro… – concluiu, num sussurro, beijando-a afinal.

Ying fechou os olhos, abandonando-se àquele momento maravilhoso. “Sim”, ela pensava, “Sim, você tem razão. Não adianta mais negar. Nevara também estava certa. Não se pode fugir do amor, nem mesmo uma Amazona pode…Então…que seja…”

Não houve mais pensamentos dali por diante, mas algo que as palavras não teriam o poder de descrever. Amor e alegria infinitos, para dizer o mínimo, de um reencontro há muito tempo adiado. Cenas de um passado remoto e recente voltaram às suas mentes como num turbilhão, servindo apenas para aumentar a intensidade daquele instante. Não eram mais duas pessoas distintas. Eram uma só pessoa. Uma só alma. Pouco importava o que acontecesse dali em diante. Pouco importava o que se desencadearia a partir da decisão dos dois. Houvesse o que houvesse, de uma maneira ou de outra, jamais seriam separados de novo…

Eles se amaram ali mesmo, naquela dimensão perdida, onde ninguém (pois Saga se encarregara disso) poderia incomodá-los e uma energia tão grande e poderosa foi gerada que curou os ferimentos de seus corpos e se fez sentir até mesmo no distante Santuário, espalhando uma indefinível sensação de bem estar e enlevo.

**********

Já de volta ao Santuário, após uma longa e difícil “conversa” com Kannon, Saga olhou para o céu e viu um enorme clarão de cosmoenergia indo na direção da Casa de Sagitário. Saga sabia do que se tratava. Eram eles retornando.

Seja feliz, minha irmã.” – ele sorriu, acompanhando o rastro de luz com os olhos marejados. – “Um novo período se inicia agora para você e…estranho…não sei bem, tenho a sensação de que para todos nós também…” – ele franziu as sobrancelhas e estremeceu, tomado por um súbito calafrio. Sem que Saga se desse conta, uma sombra escura e maligna pairava sobre ele, mas foi apenas por um instante. Tornando a sorrir, já esquecido do estranho pressentimento, ele concluiu: – “Que Athena os abençoe.”

Continua…

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