– Como ela está?
– Ah, é o senhor, mestre Arles? – a curandeira, ocupada em amassar umas ervas num velho almofariz de madeira escurecida levantou a cabeça e viu um homem alto, mascarado, de manto branco e elmo vermelho, o que o distinguia do Grande Mestre do Santuário. Era Arles, o Cavaleiro de Prata de Altar e Mestre Assistente.
Chegara ao Santuário coisa de uma semana depois do atentado à vida de Ying e fora apresentado pelo Mestre Shion como seu “irmão”1 mais moço, o qual mandara chamar para ajudá-lo nos deveres de Mestre, uma vez que a idade já lhe cobrava grandes tributos e já não se sentia apto a cumprir com todas as suas obrigações a contento, ainda mais que um período crítico parecia se aproximar com as ameaças ao iminente renascimento de Athena.
Não era homem de muitas palavras, mas soube se fazer respeitar imediatamente por todos em razão de sua postura majestosa, seu Cosmo imaculado e seu ar de dignidade. Somente uma pessoa antipatizou com ele à primeira vista e, aparentemente, a recíproca foi verdadeira: Saga de Gêmeos.
Saga não sabia dizer o porque, mas a simples presença do Mestre Assistente o fazia se sentir pouco à vontade, como se ele tivesse algo a esconder de todos e somente aquele homem sinistro, em sua opinião, pudesse desvendar quando o fitava insistentemente com seus olhos azul-escuros, perturbadoramente penetrantes. Mas o mais estranho era que Saga sentia claramente que o outro também tinha algo a esconder…
– Desde que a mandei de volta à Casa de Sagitário, há uns três dias, tenho ido lá diariamente para trocar os curativos. – Ivanna suspirou, dando de ombros. – Fisicamente, Ying está bem, mas perder um filho derruba o espírito de qualquer mulher…Precisamos contar com sua determinação e força de vontade para voltar ao que era antes. Por enquanto ainda a achei um tanto apática. Mas tenho certeza que os cuidados de Ayoros e do irmão dela irão ajudá-la a se recuperar.
– Esperemos que sim. Acha que ela pode receber visitas? Gostaria de fazer umas perguntas sobre o insólito ataque de que foi vítima…
Ivanna sacudiu vigorosamente a cabeça.
– Não acho recomendável tocar nesse assunto agora, embora compreenda sua urgência, senhor Arles. Como eu disse, Ying ainda se encontra muito abalada e temo que qualquer menção a esse assunto a faça fechar-se ainda mais em si mesma.
Ele suspirou.
– Compreendo…Mas ainda assim, irei vê-la. Recomendável ou não, Mestre Shion me ordenou que investigasse a fundo esse incidente e é isso que farei. Há muito mais em jogo, infelizmente, do que a sanidade de uma Amazona.
– Sim, senhor. – a curandeira cerrou veladamente os punhos, amassando as ervas com energia redobrada. Saga de Gêmeos não gostava daquele homem, e Ivanna começava a gostar do Cavaleiro de Gêmeos mais do que admitiria a si mesma. Embora, sua porção racional compreendesse que tudo devesse ser esclarecido o quanto antes, sua insistência arrogante em perturbar sua paciente fazia com que agora ela começasse a entender o porque daquela antipatia gratuita.
Aquilo não passou despercebido ao perspicaz Arles. Oculto pela máscara, ele deu um sorriso mordaz, enquanto se retirava, rumo à Casa de Sagitário.
Humm…Parece que aqui há mais uma partidária da causa do impoluto Saga de Gêmeos como pretendente ao cargo de Grande Mestre do Santuário de Athena…Hu,hu,hu,hu…Pobrezinha…Tolos…São todos uns grandes tolos…Nem Ayoros de Sagitário, nem Saga de Gêmeos! Eu, Arles de Altar, um Cavaleiro de Prata é que serei o futuro Grande Mestre! Nada mais justo, afinal, o velho Shion, me criou desde que eu era uma criança para lidar adequadamente com as responsabilidades do cargo, embora fosse pra ser apenas uma mera sombra…Só que sempre tive planos mais ambiciosos, de acordo com meus méritos. Eu sou o mais preparado para lidar com essas crianças indisciplinadas! O poder virá para minhas mãos é apenas uma questão de tempo…falta muito pouco agora… – ele deu outra risada. – E pensar que aquele velho decrépito nem percebe que eu estou sugando seu Cosmo e energia vital pouco a pouco…Ele não escolherá nenhum dos dois, não permitirei que tenha tempo para fazer isto. No fundo estarei fazendo um favor à Athena, afinal não ficará desfalcada de nenhum de seus Cavaleiros de Ouro, pois um simples Cavaleiro de Prata desconhecido como eu não fará a menor falta e ainda ganhará um novo Grande Mestre, jovem e capaz. Não temo nem a sombra de Ares, o deus da Guerra que paira sobre este Santuário. EU superarei até os deuses se for preciso para realizar minhas ambições.
Com um quase imperceptível movimento de cabeça, Arles se despediu, se dirigindo à Casa de Sagitário.
***************
– Ying, minha bela, seu irmão está aqui para vê-la, conforme pediu. – Ayoros anunciou, entrando no quarto.
Qual deles? – Ying pensou, com triste ironia.
– Por favor, diga a Saga para entrar. – com uma ligeira careta de dor, ela se ergueu para se recostar nos travesseiros do espelho da cama. Ayoros, solícito e carinhoso como sempre, se apressou a ajudá-la.
– Eu estou bem, querido. Não se preocupe! – Ying sorriu, tentando animá-lo e brincou: – Pare de me olhar assim, como se eu estivesse à beira da morte!!
Ayoros a olhou, entre sério e emocionado.
– Desculpe-me…Sei que, graças à Athena, você está bem agora, mas…Ying, você esteve tão próxima da morte…Eu tive tanto medo que você me deixasse… – ele sacudiu a cabeça, afastando aqueles pensamentos mórbidos.
– Isso já passou. – Ying disse, sempre prática, tentando afastar de si a imensa tristeza que a dominava há dias. – Nossa filha está com os deuses agora e eu vou me recuperar logo, você vai ver. Agora, por favor, deixe Saga entrar e nos deixe a sós. Preciso muito falar com ele.
– Afinal, não vai me dizer o que está havendo? Por que todo esse segredo? – disse Ayoros, um pouco enciumado.
Ying, olhando-o ternamente, segurou as mãos dele.
– Antes preciso esclarecer algumas coisas com Saga, para que eu possa me certificar de minha própria sanidade. Assim que eu conseguir entender tudo o que houve – Pois eu juro por Athena que Saga não sairá daqui enquanto não me explicar tudo direitinho. – Você será o primeiro a saber, eu juro.
– Seja como quiser… – ele suspirou e foi abrir a porta do quarto, dando passagem ao jovem Cavaleiro de Gêmeos, se retirando em seguida.
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Ying olhou com firmeza para seu irmão, que parecia muito pouco à vontade, parecendo querer evitar olhar dela à todo custo. Isso não era típico de Saga.
– Agora, nós, meu irmão… – principiou Ying, decidida. – Você não tem vindo me ver…Tem agido de maneira estranha e arredia… mesmo agora… – disse Ying, procurando os olhos dele. – Por que não me olha nos olhos, Saga? O que tem a me esconder?
Com alguma dificuldade, Ying se levantou da cama e foi até Saga, distante uma meia dúzia de passos, agarrou-lhe o braço, forçando-o a encará-la.
– Deixe-me dizer-lhe então, meu irmão, para tentar tornar as coisas mais fáceis para você…Por que não me contou sobre Ele? Por que não me disse que Kannon estava vivo e aqui no Santuário com você? Como pôde me esconder isso, Saga?!
Ele finalmente a olhou nos belos olhos azuis, no momento escuros como um céu noturno tempestuoso, e abriu a boca para responder, mas durante alguns instantes, ainda nenhum som conseguiu sair dela.
– Minha irmã querida…Ying, por favor, perdoe-me…
O coração terno de Ying doeu ao ver a angústia que Saga sentia, mas procurou manter-se firme.
– Diga-me, Saga, por favor…Diga-me que não estou louca! – ela agarrou-se a ele, sacudindo-lhe debilmente. Era Kannon, não era? Por que ele fez aquilo? Por que ele me odeia tanto?!!
Ele baixou a cabeça, entre constrangido e furioso com o que o outro fizera.
– Ele está louco… – sussurrou. – Completamente louco, Ying…Dominado por sonhos delirantes de domínio e grandeza! – Saga fez uma pausa, como se procurasse ordenar os pensamentos. – Um pouco antes…Uns seis meses antes de eu chamá-la, Kannon apareceu no Santuário…
Saga respirou fundo, tomando fôlego e continuou:
– Tudo que ele contou foi que até poucos meses vivia numa aldeia próxima daqui, completamente ignorante de sua origem, até que descobriu, por acaso, que havia sido seqüestrado quando criança. Saiu então procurando por sua verdadeira família e um dia me viu em Rodórios…Ele… – Saga ficou vermelho e cerrou os punhos, fervendo de ódio. – Ele parecia tão desprotegido e confuso e eu fiquei tão feliz de encontrá-lo que nem me preocupei em investigar mais a fundo a história dele…Como pude ser tão tolo!! – Saga deu um soco tão forte numa mesa de mármore, que quase a partiu ao meio.
– Você sabia que ele havia sido raptado por uma das Amazonas daqui? – perguntou Ying estudando o rosto de seu irmão.
– O que??!! – ele olhou pra ela, perplexo.
– Uma Amazona de Bronze… Jisty é o nome dela agora. Jisty de Serpente ou Jisty de Vampiro, como ela mesma se intitulou… – Ying se sentou na cama, cansada. – Mas eu a conhecia por outro nome… Calypso…Ela era do meu povo, uma jovem de sangue real, oficial do exército…
– Irmã, você precisa descansar… – Ele a ajudou a deitar, solícito e preocupado.
– Não!! – ela segurou-lhe as mãos com firmeza inesperada, obrigando-o a ajoelhar-se ao lado da cama. – Estou bem e há muito a ser dito ainda! Ouça! Uma ameaça nos cerca já há muito tempo e precisa ser eliminada o quanto antes!! Jisty é uma serva de Ares!!
Ying viu a perplexidade e a incredulidade estamparem-se no rosto de Saga.
– Ying…Não pode ser… É muito grave o que está dizendo! Você tem certeza?
– Mas é claro que tenho!!! E Kannon é um deles também! Ele tentou acabar comigo porque pensou que eu carregasse em meu ventre o novo avatar da deusa Athena!
– Por todos os deuses!! – Saga exclamou se levantando, extremamente perturbado. Ele começou a andar de um lado pro outro do quarto como uma fera enjaulada. – Por isso ele não queria que o apresentasse ao Mestre Shion e aos outros Cavaleiros! Ele temia ser desmascarado em seus intentos!! E eu que acreditei que ele apenas estava querendo se acostumar com sua nova situação…Droga!! A culpa foi minha, Ying!! Ele podia tê-la matado e a culpa foi toda minha!! – explodiu ele.
Ying suspirou, penalizada. Saga, agora sentado na cama, com a cabeça entre as mãos era a mais fiel imagem do desespero. Esquecida momentaneamente da raiva e da mágoa que sentia, ela o abraçou pelas costas, encostando a cabeça em seu ombro.
– Saga, não se martirize dessa maneira. Você não teve culpa. Creio que posso compreender o que passou…Apesar de tudo, você ama a Kannon e não se conforma com o que ele mostrou ser a sua verdadeira natureza… – ela suspirou. – Bem que o achei estranho desde que cheguei ao Santuário…Parecia que eu adivinhava que algo muito grave se passava com você e que não estava querendo me contar. Afinal, por que vocês, homens, acham sempre que podem resolver tudo sozinhos? Por que não confiou em mim para ajudá-lo a carregar esse fardo?
Ele se virou para encarar Ying de frente. Havia lágrimas reprimidas em seus olhos.
– Por que?! – ele sorriu amargamente. – Ora, minha irmã! Acha mesmo que é fácil admitir, principalmente pra mim mesmo, que falhei em meu julgamento? Que ele me enganou miseravelmente? Mesmo agora, não consigo aceitar isso!!
Ele se levantou, com o cenho franzido e recomeçou a andar de um lado pro outro.
– Entendo…Então foi por orgulho… – Ying suspirou, tristemente. Tomada de uma estranha sensação que não conseguia definir o que era, possivelmente algo como uma premunição, fitou atentamente seu irmão, procurando ler em sua alma. – Mas, Saga…Lembre-se de que você não é um deus. É apenas um ser humano e, nós, humanos, somos passíveis de erro…
– Eu sei disso, Ying! Mas lembre-se que muitos no Santuário me vêem como muito mais que um simples homem. Deve ter ouvido os boatos. Assim como seu amado Ayoros, sou cotado para ser sucessor do Grande Mestre! E eu, por imprudência, coloquei todos em risco, principalmente a você, minha querida irmã, que é a pessoa mais importante pra mim!! Isso é imperdoável!!!
Ying empalideceu. Fechando os olhos, ela se recostou no espelho da cama. Preocupado, Saga tomou-lhe as mãos frias, chamando por ela.
– Ying!! Ying, minha irmã, o que houve? Está se sentindo mal?
Ela abriu os olhos, devagar, fitando-o com uma intensidade perturbadora.
– Não foi nada… Ying suspirou profundamente, parecendo tomar fôlego. – Saga, não se ofenda com o que vou perguntar agora, mas é vital que seja absolutamente sincero comigo, promete?
Ele olhou-a, assustado, sem entender o porquê da expressão grave da irmã.
– Ora, claro que sim…
– Muito bem…Saga, por acaso, você está com ciúmes de Ayoros?
– O quê?!!? – exclamou Saga, perplexo.
– É isso mesmo. Seja de mim, sua irmã, ou do perigo que ele possa representar para suas ambições pessoais…Esse sentimento existe? Diga-me! Você tem a ambição de se tornar Mestre do Santuário, não por altruísmo e vontade de servir à Athena e à Humanidade, mas por satisfação pessoal? Responda!!
Saga se levantou, fitando-a. Seja qual for a reação que Ying esperasse por parte de seu irmão, o que viu a fez estremecer. Foi só por um instante, muito menos do que uma mísera fração de segundo, tanto que até hoje, se pergunta se não fora meramente uma ilusão, mas naquele instante terrível, pareceu a Ying ter novamente diante de si não o bondoso Saga, mas o maligno e assustador Kannon. O cenho franzido, o olhar em fogo, cheio de cobiça e possessividade, além de uma aura impressionantemente maligna…
Saga!! Po…Por Athena…O que é isso?!? – foi tudo o que conseguiu pensar.
Mas num piscar de olhos – ou menos – não havia mais nada. Diante de si, estava apenas o doce e meigo Saga, com uma expressão magoada, sim, mas totalmente inofensivo, com os olhos cheios de lágrimas, as quais agora escorriam sem que ele as impedisse.
– Ying, eu… – ele tornou a ajoelhar-se junto à cabeceira da cama, tomando-lhe as mãos. – Como pode…Como pode pensar isso de mim?! – a voz embargada e a expressão perplexa e sentida o fazendo parecer ainda mais jovem. – Eu…confesso que sempre achei, no fundo, que nenhum homem, Cavaleiro ou não, jamais seria digno de um sorriso seu, mas…Bem, que irmão não pensa isso da irmã querida? Mas com o tempo, quando vi que você e Ayoros…bem, quando percebi o quanto estavam sofrendo por negarem para si mesmos o quanto se amavam, e depois de tudo o que se passou…Eu mudei de ideia e lhe garanto que ninguém nesse Santuário os apoiou mais do que eu! Quanto a isso fique tranquila.
Ele suspirou.
– Quanto a ser ou não Mestre do Santuário, isso não me importa realmente, eu juro! Somente disse aquilo porque…Bem, você sabe o quanto sou perfeccionista, é difícil pra mim admitir que fui enganado. Minha indicação ou a de Ayoros por enquanto não passam de boatos, que podem não ter fundamento algum. Em minha opinião, apesar da idade muito avançada para padrões humanos, Mestre Shion ainda estará em atividade por muitos anos e mesmo que não, ainda há Arles, o novo Mestre-substituto. – uma sombra passou pelo olhar dele ou foi impressão de Ying? – Asseguro-lhe que minha intenção é apenas ser um bom Cavaleiro de Athena e se as Moiras2 quiserem que eu assuma uma responsabilidade maior, que seja, a aceitarei com o espírito do Bem Servir. Caso contrário, apoiarei incondicionalmente aquele que o Mestre Shion escolher como seu sucessor. Satisfeita?
– Sim… – Ying o olhava, emocionada e cheia de amor. Aquele era o irmão que ela tanto amava!
– Agora descanse. – ele ergueu-se, depositando-lhe um carinhoso beijo na testa antes de sair do quarto. – Vou embora antes que seja expulso por cansá-la além da conta.
Na porta, acrescentou:
– Eu juro, Ying. Tudo será esclarecido e os culpados, inclusive, nosso irmão Kannon, serão punidos exemplarmente…Ou não me chamo mais Saga de Gêmeos!
Ying ficou observando até que Saga desapareceu atrás da porta. Seus temores em parte acalmados, mas ainda assim sentia que muita coisa ainda estava por acontecer.
Ayoros entrou logo em seguida, preocupado com ela, e sua solicitude amorosa não lhe deixou muito tempo pra pensar, além de que Ying relutava em compartilhar suas preocupações com ele, embora soubesse que devia. Mas o amor pelo irmão falava mais alto, no entanto. Ela queria dar a chance de Saga resolver tudo sem que mais ninguém precisasse ser envolvido. Só esperava não estar tomando a atitude errada, pois então poderia ser tarde demais pra se arrepender…
****************
Mas o Mal tem várias faces e muitos subterfúgios para estar sempre no local certo na hora certa… Próximo a uma janela do quarto de Ying, Arles espreitava oculto nas sombras. Ao que parecia ele também sabia passar despercebido muito bem, pois ouvira tudo o que os dois irmãos conversaram sem que sua presença fosse sequer cogitada.
Hummm…Interessante…Muito interessante…Isso tudo pode me ser muito útil…– ele sorriu, pondo a mão no queixo com ar pensativo. – Mas espere um pouco, se Ying não era a portadora do novo avatar de Athena, então quem é? Ainda sinto a aura poderosa da deusa no ar e Ares, Kannon, ou quem quer mais que esteja interessado também deve sentir. Preciso descobrir onde ela está, antes que todos! Talvez a jovem deusa nem precise ser destruída…Quem sabe? Se eu puder manipulá-la à minha mercê, até que não necessite mais dela , poderá vir a ser muito útil para conseguir todo o poder que tanto anseio…
Arles se retirou, sorrateiramente, com seus planos e sonhos de grandeza e poder. Tolo mortal! Mal sabia ele que o Deus da Guerra nunca dorme e lá também estava à espreita na pessoa do outro gêmeo, Kannon. Cada mínimo pensamento havia sido monitorado e Ares sorria intimamente, divertindo-se muito com a ingenuidade do ambicioso Mestre-assistente.
Manipulá-la?!? Athena?!! – em perfeita consonância com a mente do deus que o controlava, Kannon deu uma gargalhada. – Esse ser insignificante acha que consegue ser mais esperto do que um deus? Mais inteligente do que a Deusa da Sabedoria, mesmo que sua mente ainda esteja embotada pelo processo de reencarnação?! Mais inteligente do que eu, Ares, o Deus da Guerra?!? – ele tornou a rir, o semblante de Kannon agora se confundindo com as feições do deus, numa carranca furiosa, mas terminando num sorriso malicioso e cruel. Sua mão direita se fechando em punho erguido. – Pois sim, meu caro… Arles…Humm… Gostei do nome…Pois sim, meu caro Arles de Altar, Mestre-assistente, já que quer tanto o poder, você o experimentará…Como mais um joguete meu! Humanos ridículos!! Quando será que perceberão que não passam de meros marionetes dos deuses?
Na dimensão paralela em que estava, Kannon/Ares, se afastou da Casa de Sagitário, descendo em direção à Gêmeos. Saga iria continuar recebendo sua influência sutil até que estivesse no ponto certo para substituir o irmão e depois…Bem, tudo corria exatamente como Ares havia planejado desde que findara a última Guerra Santa e sua irmã Athena deixara seu último avatar. Ele já sabia agora onde ela estava. Não era difícil deduzir. Poderia acabar com ela agora facilmente, mas… Que graça teria? Não…Tudo estava calculado, não haveria erros…E ninguém poderia acusar Ares de ser apenas um deus violento e sedento de sangue. Veriam que também sabia ser sutil e saborear a vingança e o poder absoluto sobre a Terra da maneira mais prazerosa e irônica possível e então…Que Hades e Zeus o aguardassem!! Nenhum deus do Olimpo ou das Profundezas seria páreo para ele!!
Continua…
1 Na verdade, alguns acreditam, que se trata mais provavelmente de um órfão que Shion resolveu criar, uma vez que seu verdadeiro irmão mais novo já havia morrido há muito tempo (ver capítulo ). Mas ninguém sabe ao certo. Isso ainda será esclarecido.(N. A)
2 -O destino personificado. Para os gregos, são Átropos, Clotó e Láquesis, divindades que, respectivamente, tecem, enrolam e cortam o fio da vida de cada indivíduo. Equivalentes às Parcas dos romanos. (N.A)
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