Adeus, Companheiras – Parte II

“O que eu proponho é um desafio, princesa, um duelo entre nós duas, para que se comprove, de uma vez por todas, diante de toda a nação das Amazonas, qual de nós é a melhor! Você me deve isso!”

Ying a encarou bem nos olhos durante alguns instantes e murmurou, entre penalizada e surpresa:

– Então… o motivo de todo esse ódio é…despeito, inveja? – olhando-a intensamente, acrescentou com voz firme: – Pois muito bem, Mariska, terá a sua prova, está satisfeita? Mas com uma condição: Aconteça o que acontecer, seja qual for o resultado dessa luta, nós o aceitaremos como definitivo, ou seja, não restará mais nenhuma pendência entre nós, está me entendendo? Tudo será dado por encerrado, não quero que haja mais nenhum tipo de desentendimento entre duas Amazonas. Está de acordo com os meus termos?

– Está certo. Mesmo porque sei que ganharei essa luta e para mim, no momento, é tudo o que importa. – disse Mariska, rindo do formalismo de Ying.

– Isso veremos. – e voltando-se para as outras que as observavam ansiosas. – Hermione…

– Já entendi. Vou buscar as espadas de treino.

– Não! – disse Ying, num tom que a paralisou de imediato. – Esta é uma luta de verdade, portanto, usaremos as nossas próprias espadas.

– Mas… o que… o que disse, Ying? – murmurou Hermione, incrédula com o que acabara de ouvir e encarando a princesa como se ela fosse uma insana. – Você só pode estar brincando!

– Eu não brinco, Hermione. Você me conhece muito bem. O que eu tenho a dizer é outra coisa: Hermione, tia Penélope, quero que jurem por Athena que, independente de quem seja a vencedora, Mariska não sofrerá qualquer tipo de represália. Estamos entendidas?

– Lamento, Ying, mas isso é impossível! A atitude de de Mariska só pode ser classificada como alta traição. A rainha, com certeza, não iria aprovar um combate como esse! – disse a general Penélope.

– Com a minha irmã eu me entendo depois. Compreenda, minha cara tia, se eu recusar essa luta estarei admitindo a possibilidade de que não sou capaz de derrotá-la e, nesse caso, não sou digna de ser uma princesa Amazona e muito menos de me tornar um Cavaleiro de Ouro.

– Muito bem, princesa! – disse Mariska, com aquele sorriso escarninho que tanto a irritava.

Ying a ignorou e insistiu:

– Será que a senhora não confia em mim e nas minhas habilidades de guerreira?

– É claro que confio, mas…

– Então jurem!

Penélope ainda a encarou por alguns segundos, ponderando a situação. No entanto, conhecendo a têmpera da princesa, sabia que se opor seria inútil. Portanto, foi com um longo suspiro que ela falou:

– Está certo, Ying. faremos como você deseja. Nós juramos.

– Por Athena!

– Por… Athena. – conseguiu dizer à custo.

– Ótimo! – disse Ying com um sorriso. – Não se preocupem, tudo vai acabar bem. Mariska… – disse, dirigindo-se para sua oponente.

– Prepare-se! – disse Mariska colocando-se imediatamente em guarda.

Ambas desembainharam as espadas ao mesmo tempo. À princípio, ficaram andando em círculos, uma sem desgrudar os olhos da outra, se estudando e aguardando qual delas iria desferir o primeiro ataque. Finalmente, Mariska resolveu tomar a iniciativa partindo para cima de Ying com um grito de fúria. Esta aparou o golpe de Mariska com a espada de maneira quase displicente. Em seguida, separaram-se e foi a vez de Ying atacar, mas Mariska também soube se defender com habilidade. Ficaram assim durante quase uma hora, com lances hábeis de ambas as partes e a vantagem se colocando hora de um lado, hora de outro. Os estilos de combate eram diferentes. Enquanto Mariska parecia uma força da Natureza, sendo pura força e emoção. Ying entremeava momentos de força emocional com outros de fria técnica. Observando a luta entre as duas era difícil prever quem venceria, embora todas soubessem que Ying possuía incríveis poderes sobrenaturais que poderiam fulminar Mariska em menos de um segundo. No entanto, elas também sabiam que Ying não iria se aproveitar deles, lutando honestamente com Mariska, que aparentemente não os possuía, como se fosse uma guerreira comum, ainda que isso lhe custasse a vida.

De repente, num lance que deixou a todas paralisadas de terror e expectativa, Ying nitidamente se deixou desarmar, talvez mais por enfado do que por um descuido ou falta de perícia de sua parte. Parecendo desequilibrar-se, ela resvalou e apoiou um joelho no chão. Aproveitando-se disso, com um sorriso nos lábios e um brilho maligno no olhar, Mariska ergueu a sua espada sobre a cabeça de Ying para desferir o golpe final.

No entanto, para a surpresa de Mariska, sua espada não conseguiu atingir o objetivo pois foi interceptada a meio do caminho pelas mãos da princesa, postas acima da cabeça, as quais seguraram a lâmina da espada tão firmemente quanto se esta tivesse ficado presa entre duas paredes rochosas. Esta surpreendente manobra foi aclamada pela assistência com um retumbante brado de triunfo. Sem se alterar com o entusiasmo delas ou com os vãos esforços de sua oponente em mover a espada, tendo nos lábios um sorriso mais malicioso do que aquele que Mariska tivera até segundos antes e com a voz mais calma do mundo, Ying dirigiu-se às guerreiras num tom professoral:

– Esta técnica que acabei de empregar se chama “Defesa com a Mão Nua”. É uma antiga técnica chinesa, muito eficiente como puderam ver. Apesar de ser uma técnica essencialmente defensiva, se for aplicada apropriadamente, pode fazer a diferença entre a vida… – Ying, com um rápido movimento, arrancou a espada das mãos da atônita Mariska, jogando-a para o alto, e ganhou a disputa pela sua posse. Ying, então, apontou a espada para o peito de Mariska. – …e a morte. – concluiu a princesa.

Instintivamente, Mariska fez um movimento de recuo, mas ao fazer isso, perdeu o equilíbrio, caindo de costas no chão.

Ying se aproximou, encostou novamente a espada no peito dela e aguardou. Sentindo-se vencida, Mariska falou num tom cheio de dignidade:

– Vamos, acabe logo com isso! O que está esperando? Não vou implorar por piedade, se é o que está pensando.

Jogando longe a espada, Ying estendeu-lhe a mão para ajudá-la a se levantar e disse muito séria:

– Não, Mariska. Para mim, a luta já acabou e eu venci. Agora ouça: existe uma grande diferença de poder entre nós. Eu poderia ter lutado na velocidade da luz se eu quisesse e a teria aniquilado em menos de um segundo, mas não o fiz. Lutamos, portanto, em igualdade de condições e mesmo assim a derrotei. Eu lhe dou a minha palavra de honra de que você não sofrerá represálias, seja o que for que resolva fazer de sua vida daqui por diante, cumprindo assim a minha parte em nosso acordo. Espero que também cumpra a sua.

Mariska ficou olhando para aquela mão estendida à sua frente por alguns instantes. Finalmente resolveu aceitá-la e se levantou, olhando diretamente nos olhos da princesa e respondeu com toda a dignidade de que pôde dispor:

– Por mais fortes que sejam os lados contendores, uma batalha pode ser decidida em um momento e parece que, desta vez, o momento foi seu, Ying. – respirando fundo, continuou. – Está bem, eu honrarei minha palavra e até admito que você é realmente uma guerreira formidável. Quanto à minha vida, creio que já sei o que farei. De qualquer forma, acho que seria a única solução possível qualquer que tivesse sido o resultado de nossa disputa. Mas não pense que essa será a última vez que nos vemos, Ying. O mundo dá muitas voltas e a Roda da Fortuna ainda pode girar a meu favor. Talvez um dia tenha a minha revanche.

– Você nunca poderá me vencer, Mariska… – disse Ying, sacudindo tristemente a cabeça. – enquanto lutar tão somente pela sua satisfação pessoal. Eu já disse antes: um verdadeiro guerreiro pode vencer qualquer adversário, por mais forte que ele seja, mas apenas se a sua causa for verdadeiramente justa.

– Veremos, minha cara princesa, veremos… – e deu-lhe as costas, afastando-se.

Ying ficou observando-a longamente até que ela desapareceu na descida da colina.

Parece que a nação das Amazonas perderá hoje duas de suas guerreiras e o Santuário da Athena ganhará dois novos Cavaleiros. Não gostaria de enfrentá-la de novo. Se tornarmos a nos ver , espero que possamos ser amigas outra vez.

Nesse momento, uma das guerreiras veio conduzindo pela brida um magnífico garanhão, branco como a neve, e se dirigiu, respeitosamente à Ying:

__ Alteza, não gostaria de passar o novo batalhão em revista em seu cavalo, como costuma fazer sempre, antes de partir?

– Acho que não é necessário e também não é mais minha responsabilidade, mas… Foi bom que o tenha trazido. – disse, aproximando-se do animal e afagando seu altivo pescoço. – Assim posso me despedir dele.

Como se tivesse compreendido o significado de suas palavras, o fogoso garanhão observou-a atentamente com seus olhos grandes e doces, onde podiam se notar uma leve sombra de tristeza. Ele retribuiu os afagos de Ying roçando o focinho em seu peito.

– Oh, Pégasus! Meu querido Pégasus! Vou sentir muito a sua falta, mas para onde eu vou não poderei levar você. Entretanto, não duvide de que eu o amo muito, pois deixarei você aos cuidados de uma pessoa que é também muito cara ao meu coração. Por isso, seja um bom cavalo e lhe seja tão fiel quanto foi a mim.

Dizendo isso, ela se dirigiu à Hermione e lhe estendeu as rédeas.

– Oh, Ying! Eu… – hesitou Hermione, desconcertada.

– Aceite, minha irmã, por favor. É o último presente de amizade que lhe dou e, além disso, não poderia ficar mais tranquila, pois sei que ele estará em excelentes mãos.

Ainda hesitante, Hermione aquiesceu, emocionada. Mas antes de pegar as rédeas, resolveu fazer um pedido:

– Ying, será que você poderia… – e sussurrou em seu ouvido.

Ying concordou e subiu no belo corcel. Emocionada até as entranhas de sua alma, ela fez com que ele empinasse e gritou:

– Por Athena!!

Centenas de vozes ecoaram o heroico brado, o qual pôde ser ouvido por todo o Vale das Amazonas.

Ying, então, desmontou e pegou o buquê das mãos de Hermione, beijando-a nas faces como despedida. Olhou para o sol que caminhava rapidamente para o poente e dirigiu-se à suas companheiras:

– Bem, creio que está na hora de ir. Minha irmã me aguarda no palácio. – disse, concluindo com uma continência. As outras guerreiras corresponderam à continência e Ying se retirou.

Continua…

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