Fazendo Amigos, Quebrando Tabus

– Cá estamos, Ying. – anunciou Saga, apontando para frente. – Essa é a primeira Casa: Áries.

Ying estava deslumbrada.

– É… é linda! Realmente, ultrapassa em muito tudo o que eu possa ter idealizado antes, meu irmão!

De fato, eles estavam diante de um magnífico prédio de mármore imaculadamente branco, ladeado de muitas colunas e decorado com caprichosos frisos esculpidos com baixos-relevos de cenas mitológicas. Suas paredes brilhavam intensamente com os primeiros raios do sol que nascia, dando-lhe um ar de templo olímpico.

– É verdade. Também tive essa mesma impressão quando cheguei aqui com nosso pai, e eu era apenas um menino… – seu olhar quedou-se nostálgico por alguns instantes, mas logo se recuperou. – Bem, as outras Casas também são bonitas, mas espere só até ver a nossa. Nada se compara a ela, com exceção da Casa do Mestre e do Templo de Athena, é claro!

Ying riu.

– Tenho certeza que sim, Saga. Mas, cuidado: A vaidade é um pecado grave!

Saga também riu e respondeu em tom jovial:

– Ora, minha irmã! Não creio que seja pecado falar a verdade, além do mais, eu já me corrigi.

Avançando alguns passos, Ying fechou os olhos, inspirando profundamente.

– Como é tranqüila a cosmoenergia desse lugar! – ela exclamou.

– Sim. – concordou Saga, aproximando-se também. – Mu, o Cavaleiro de Ouro que guarda esta Casa é, na realidade, muito pacífico. Ele é totalmente avesso à lutas.

– É sério?!

– Sim, mas não se deixe enganar por essa cosmoenergia pacífica. Apesar de não gostar de lutar, ele é um dos Cavaleiros de Ouro mais poderosos do Santuário. Mu tem incríveis poderes extrasensoriais, além de ser o único de nós a possuir o conhecimento para construir e reparar armaduras. Mas… – Saga olhava em volta, procurando. – Afinal, onde está o Mu? Estará dormindo ainda depois de tudo o que houve lá embaixo?

– Do que está falando? – estranhou Ying. – Ele está bem aí ao seu lado! Não o vê?

– O quê?! Onde? – perguntou Saga, surpreso, procurando-o até percebê-lo displicentemente recostado em uma das colunas, observando-os com uma expressão divertida. – Ah, Mu! Então você está aí! Pregou-me um grande susto!

– Ah, ah, ah ! Queira me perdoar, meu amigo. Na verdade, não era a minha intenção assustá-los. Queria apenas observar mais atentamente a nossa recém-chegada. Aliás, ela deve possuir alguns dos poderes extrasensoriais, dos quais me diz possuidor, pois ela conseguiu me descobrir antes de você.

– Sim, é verdade. Ela é muito especial, sob vários aspectos. – respondeu Saga, enlaçando carinhosamente Ying pelos ombros. – Eu quero lhe apresentar a minha querida e tão esperada irmã gêmea, Ying, princesa das Amazonas e agora Cavaleiro de Ouro de Gêmeos, assim como eu. Ying, este é Mu, Cavaleiro de Áries.

Ying o observou rapidamente, enquanto se inclinava levemente para cumprimentá-lo. Era um tipo um tanto incomum, em comparação com o que ela imaginava ser um Cavaleiro de Ouro: alto e esguio, parecendo muito magro e frágil para um guerreiro, para dizer a verdade; com longos cabelos loiros, quase brancos e tez igualmente pálida, poderia se dizer que era um albino se não fossem os grandes olhos cinzentos, dos quais se irradiavam uma tranqüilidade e paz infinitas, o que parecia um contra-senso para Ying. Como o representante da constelação, regida pelo deus da guerra, daí o seu nome, podia ter um ar tão pacífico?

Ele sorriu amavelmente, como se seguisse o curso de seus pensamentos, mas não fez nenhum comentário. Como um perfeito cavalheiro, ele, então, tomou delicadamente a mão de Ying e beijou-a.

– É uma honra conhecê-la, princesa.

– A honra é toda minha, Cavaleiro. Aliás, deixemos de tantas formalidades. – disse Ying, fazendo questão de apertar a mão de Mu. – Afinal, a partir de hoje, é bom que fique bem claro que, apesar de continuar uma Amazona, não sou mais uma princesa. Sou apenas um Cavaleiro de Athena, assim como você, meu irmão e os outros deste Santuário. Quanto a descobri-lo, não foi muito difícil. Minha primeira mestra, Nevara, foi criada em Avalon, onde vivem mulheres aparentadas com as Amazonas que se especializaram nas artes da paz, principalmente as artes mágicas. O truque que você usou para ocultar o próprio corpo é conhecido por elas há muitas gerações.

– Humm… Isso é impressionante! Você também é capaz disso?

– Sim, é claro. No entanto, como conhece o princípio do truque, seria difícil me ocultar de você. – confessou Ying. – Por isso consegui enxergá-lo.

– De qualquer forma, sinto realmente em você a presença de uma cosmoenergia incomum. Pude senti-la se aproximando do Santuário e creio que os outros Cavaleiros também devem ter sentido o mesmo em maior ou menor grau. Não concorda, Saga?

– Tem razão. Ying parece ter amadurecido muito desde que terminamos o treinamento e… mas, que espada é essa? – perguntou Saga, reparando na reluzente espada pendurada no cinturão dela.

– Oh, esqueci de lhe contar! Minha irmã Hipólita entregou-me esta espada quando vesti a armadura. Disse que era um presente de Avalon. – explicou Ying, desembainhando a espada e mostrando-a a seu irmão. – Não a reconhece? É a legendária Excalibur.

– Excalibur?! Isso é incrível!! – exclamou Saga, perplexo. – Mas, por que Avalon a entregou a você? Pensei que ela ficaria eternamente no fundo do Lago Sagrado, conforme a lenda.

– Não sei ao certo. – respondeu Ying, reticente. – Creio que, talvez, seja alguma espécie de missão que terei de cumprir.

– Bem, veremos o que dirá o Mestre. Você conhece a regra de Athena em relação à armas.

__ Sim, conheço. Eu a citei para Hipólita, mas ela disse que eu tinha a permissão para usá-la, contanto que fosse sempre em nome da Justiça.

– Se me permitem uma opinião. – falou Mu, de repente. – acho que o problema não será o Mestre.

– O que quer dizer, Mu? – perguntou Saga.

– Creio que Ying terá de enfrentar os ciúmes de Shura.

– Está se referindo a Shura de Capricórnio?

– Sim, isso mesmo. Afinal, não se esqueça de que ele usa como principal golpe a força de Excalibur, a qual, na Era Mitológica, foi entregue pela própria deusa Athena ao primeiro Cavaleiro de Capricórnio, por sua lealdade a ela.

– Tem razão, Mu. Eu já havia pensado nessa possibilidade. – concordou Ying. – Eu não gostaria disso, mas… se um confronto entre nós dois for inevitável, estarei preparada.

– Espero que não seja necessário que haja uma luta entre Cavaleiros de Ouro, pois isso provocaria um desnecessário derramamento de sangue, além de um confronto de energias sem precedentes. – comentou Mu, pensativo. – Entretanto, é bom mesmo que esteja preparada; temo que uma disputa entre você e não apenas um de nós seja inevitável. É quase certo que mais de um Cavaleiro se levante contra a ideia de uma mulher que não usa a máscara se incorporar ao nosso grupo.

– Então somos da mesma opinião, Mu. Também já havia dito isso a Ying. – concordou Saga.

– Como eu já havia dito, não vou me preocupar com isso agora; mas, mudando de assunto, Mu; Saga disse que você também tem a habilidade de reparar e construir armaduras, é verdade?

– Sim, de fato.

– Poderia me satisfazer uma curiosidade?

– Claro, se estiver ao meu alcance…O que quer saber?

– Bem, deve ter reparado que, apesar de gêmeos, eu e Saga não temos armaduras iguais. Hipólita, minha irmã mais velha, contou-me que meu pai, o Cavaleiro Yang, e o Cavaleiro de Áries construíram uma armadura especial para mim…

– Ah! – fez Mu, compreendendo a dúvida de Ying. – Deve estar se referindo ao meu mestre, Shion, o Cavaleiro de Áries antes de mim e atual Grande Mestre deste Santuário. Ele me passou tudo o que sabia sobre essa arte. Eu realmente conheci o seu pai, mas era apenas um menino naquela época.

– Claro. Não poderia ser mesmo você, mas pensei que… – Ying balançou a cabeça, parecendo desapontada. – Bem, talvez, você pudesse saber para onde ele foi.

– Infelizmente, não posso ajudá-la. Sinto muito, mas você sabe que nem a Saga ele quis revelar o seu verdadeiro destino.

– É verdade. Foi uma tolice de minha parte.

– Não seja tão severa consigo mesma, irmã. – consolou-a Saga, pondo a mão em seu ombro. – Afinal, também me faço a mesma pergunta todos os dias. E você nem teve a oportunidade de conhecê-lo; eu, pelo menos, convivi com ele durante 14 anos.

– Mas não pôde conhecer nossa mãe em contrapartida. O Destino foi um tanto cruel conosco nesse sentido, não foi?

– Tudo tem a sua razão de ser, meus amigos. – filosofou Mu. – Com certeza, um dia, vocês saberão o porquê dessa triste separação. De qualquer jeito, estão juntos agora.

– Sim, Mu. Estamos juntos agora e para sempre desta vez, eu espero e… Ora, mas o que é isso? – estranhou Ying, ouvindo uma grande algazarra nos fundos da Casa de Áries.

– Ei, Mu! Mu! Aonde você está? Tem alguém em casa? – gritava a plenos pulmões alguém com voz de trovão.

– Acho que você tem mais visitas, caro amigo Mu. – riu Saga, reconhecendo a voz do discreto visitante.

– Puxa, que manhã movimentada! – exclamou Mu, com uma risadinha. – Estou aqui, meu amigo! – gritou Mu, em resposta.

 – Quem é, Mu? – perguntou Ying.

– Você vai ver, minha cara. Mas não se preocupe, é um de nossos amigos. Só por brincadeira, esconda-se. Vamos fazer uma surpresa a ele.

Curiosa, Ying obedeceu e aguardou o recém-chegado oculta atrás de uma coluna.

Então, a inesperada personagem foi entrando no salão, falando:

– Mu, você soube da confusão que houve na entrada do Santuário hoje cedo? Parece que uma das mulheres pôs aqueles guardas idiotas em seu devido lugar! Eh, eh, eh, eh!… Opa! Não sabia que você estava com visitas! Como vai, Saga?

– Muito bem, caro amigo! – tornou Saga, com ar de riso.

– Huum… Estou sentindo algo diferente no ar…__ murmurou o Cavaleiro, percorrendo o ambiente com o olhar arguto… – Uma cosmoenergia diferente… Está acontecendo alguma coisa por aqui?

– Para falar a verdade, está. – respondeu Mu, sorrindo. – Ying! – chamou – Pode aparecer agora. – quando ela apareceu, ele fez as apresentações. – Ying, este é o Cavaleiro de Ouro Aldebaran de Touro. Aldebaran, essa é Ying de Gêmeos, irmã de Saga e nossa nova companheira; e, é claro, como você já pode adivinhar, a autora da “confusão” de hoje cedo.

– Ora… Olá! – exclamou Aldebaran, com sincera admiração. – Nunca poderia imaginar que a nossa belicosa recém-chegada fosse tão bonita!

– Aldebaran! Não se esqueça de que ela é irmã de nosso amigo Saga!

– Eh… Não faz mal, Mu. Como vai, Aldebaran? – conseguiu dizer Ying, que, a princípio, ficara sem fala, admirada pela altura descomunal do Cavaleiro de Touro. Aldebaran, em comparação com Ying e os outros, que poderiam ser considerados de estatura elevada, era um verdadeiro gigante!

Detestaria ter que lutar com ele! – pensou Ying, enquanto apertava a mão de Aldebaran.

– Queira perdoar a minha indiscreta admiração. – falou Aldebaran, curvando-se em reverência.

– Quer dizer que não se importa que eu não use uma máscara como as outras mulheres-cavaleiro?

– Eu?! Importar-me?! Ora, é claro que não! Seria um pecado exigir que a deusa Afrodite1 usasse uma máscara quando se encontra entre nós, pobres mortais.

– Ora, pare com isso! Não diga blasfêmias! – ralhou Ying, tentando conter o riso. – Sinto-me lisonjeada com suas palavras, galante Cavaleiro, mas sou apenas um Cavaleiro de Ouro como todos vocês e gostaria que me vissem como tal.

– Está bem, mas não será fácil… Aliás, falando em Afrodite… – tornou Mu, subitamente pensativo.

– O que foi, Mu? – perguntou Saga.

– Hum…nada. Só pensava em como o nosso “amigo” Afrodite de Peixes, o “Cavaleiro das Rosas”, vai reagir quando vê-la.

– Qual é o problema? – perguntou Ying, sem entender.

– É que Afrodite se julga o Cavaleiro mais formoso do Santuário. Entretanto, na opinião de muitos por aqui e também na minha, essa beleza é apenas aparente, quero dizer, somente exterior. Na verdade, ele é um homem extremamente cruel. – respondeu Mu.

– Bem, das duas, uma: ou ele vai se apaixonar por Ying ou vai querer matá-la só para acabar com a concorrência. Lembram-se da história da Branca de Neve? – pilheriou Aldebaran.

– Aldebaran, isso não é brincadeira! Tem razão, Mu. É bom Ying ter cuidado com ele. – concordou Saga, muito sério.

– Querem parar de falar como se eu não estivesse aqui?! – protestou Ying, já exasperada. – Afinal, por que esse Afrodite é tão perigoso? E por que vocês o chamam de “Cavaleiro das Rosas”?

– Bem, por um motivo muito simples, minha cara: você pode imaginar alguém que use rosas para matar?

– Rosas?!

– Sim, você não se lembra? Segundo a mitologia, a rosa era a flor consagrada à deusa Afrodite; por sua vez, o nosso Afrodite usa o seu cosmo para criar rosas assassinas das mais variadas cores para envenenar ou estraçalhar os inimigos a seu bel prazer.

– Humm… entendi… – Ying quedou-se pensativa por alguns instantes e depois abriu um sorriso mais do que malicioso. – Não se preocupem. Já sei como cuidar dele. Afrodite terá uma grande surpresa caso se atreva a se meter comigo.

– E o que pretende fazer? – perguntou Saga, intrigado.

– Na hora certa todos verão. – limitou-se a responder Ying, enigmática.

– Bem, se estou entendendo, vocês estão falando sobre possíveis opositores à nossa nova colega, não é verdade? Nesse caso, me vejo na obrigação de lembrá-los do Cavaleiro que guarda a Casa logo acima de Gêmeos, ou seja, Câncer. – falou Aldebaran, com ar sério dessa vez. – Truculento como é, ele é capaz de querer enfrentá-la pelo simples prazer de matar alguém.

– Bem lembrado, Aldebaran. – concordou Saga. – Não é à toa que o chamam de “Máscara da Morte”; aliás, creio que ninguém nem mais se lembra de seu verdadeiro nome. Na minha opinião, o Mestre já deveria tê-lo banido do Santuário há muito tempo. Acho que só não o fez porque, na verdade, Máscara da Morte está quase sempre fora daqui.

– É, espalhando morte e destruição pelo mundo afora. No entanto, o Mestre até que tem conseguido contê-lo. – falou Mu.

– No que se baseia a força desse Cavaleiro? – perguntou Ying, curiosa. – Qual o seu principal golpe?

– Ele, em geral, atrai suas vítimas para o Yomotsu, a fronteira do País do Mortos, através de uma espécie de porta dimensional. – respondeu Mu.

– Isso não me assusta. Nós, Cavaleiros de Gêmeos, podemos viajar sem problemas através das dimensões, não é mesmo, Saga?

– Sim, mas, de qualquer maneira, você não deve subestimar o poder dele. Máscara da Morte é muito traiçoeiro, não se esqueça disso.

– Lembrarei, meu irmão. Pode estar certo de que tomarei cuidado; mas agora, sem querer ser indelicada, será que poderíamos ir para a nossa casa? Estou exausta. Não durmo há quase 24 horas!

– Sei que deve estar cansada, Ying, mas não acha que antes deveria conhecer um pouco sobre seus possíveis adversários? Não se esqueça de que é muito importante conhecer as fraquezas de seu oponente para melhor encontrar estratégias para derrotá-los. Você deve saber disso muito bem.

– Sim, eu sei. Está certo, Saga. – concordou Ying, soltando um longo suspiro. – Entretanto, eu repito que você disse que iríamos falar sobre isso mais tarde.

– Ora, Ying! Por que deixar para depois o que podemos fazer agora? Não se preocupe, querida, iremos logo para casa.

– Prometo que não demoraremos. – confirmou Mu. – Bem, vejamos…Ayolia da Casa de Leão ainda é um menino, portanto, não lhe causará problemas…

– Mesmo porque ele é o irmão mais novo de Ayoros, o qual já manifestou o seu apoio… – acrescentou Saga.

Ying percebeu o leve toque de ironia na voz do irmão e fuzilou-o com o olhar.

– Ah, verdade? Já se conhecem? Hum… Sim, isso é muito bom… – continuou Mu, fazendo uma pausa, parecendo pensativo e Ying notou nele uma estranha hesitação. – Dohko, o Cavaleiro da Casa de Libra, em contrapartida, é o mais velho e mais sábio de todos os Cavaleiros; nós o chamamos carinhosamente de Mestre Ancião. Ele é respeitado até pelo Grande Mestre. Tenho certeza de que ele a receberá bem. Já não estou muito certo é quanto a Millo de Escorpião. Ele é um tanto imprevisível…

– Não se preocupe com ele, Mu. – falou Saga. – Millo é meu amigo e já conversei com ele sobre Ying. Ele também dará o seu apoio.

– Bem, sendo assim… Deixe-me ver… Resta o Cavaleiro de Aquário, Kamus. Ele é o primeiro e o maior dentre os Cavaleiros de Gelo. Kamus é uma pessoa ponderada, na minha opinião, não acredito que ele se oponha a você, Ying.

– Mu, me parece que você, propositadamente, deixou de citar o Cavaleiro de Virgem. Por que? – perguntou Ying, intrigada.

Mu soltou um grande suspiro e respondeu:

– Shaka é o seu nome, Ying. De fato, deixei deliberadamente de mencioná-lo, ou melhor dizendo, deixei-o para o final porque… Bem, Shaka é verdadeiramente um caso à parte, quero dizer, ele sempre viveu um tanto distanciado de nós, os outros Cavaleiros. Vivem em um outro mundo, Shaka e sua legião de discípulos. Ele é realmente um enigma. É impossível saber se ele vai se posicionar contra você ou não. Pode ser que faça isso apenas para testar o seu cosmo e a sua tenacidade ou pode ser que não faça nada. É difícil afirmar qualquer coisa; mas acredite: Se eu fosse você, torceria para não ter que lutar com ele.

Ying assustou-se com o ar grave de Mu.

– Ora e por que?

– Porque, de todos os 88 Cavaleiros Shaka é aquele cujo poder mais se aproxima do Grande Mestre. Na verdade, dizem que é quase como um deus.

– Oh! – exclamou Ying, fazendo um movimento instintivo de recuo. – O mais próximo do Mestre?!Uma deus?! Mas, afinal de contas, o que ele pode fazer? – perguntou, tentando recuperar o sangue-frio.

– Ele é capaz de manipular o corpo e o cosmo de seus adversários da maneira como lhe aprouver, mesmo à distância e, além disso… bem, é difícil de explicar…em linhas gerais, ele pode também mandar o espírito de seus oponentes para qualquer mundo ou dimensão estranha do Universo, mais ou menos como o Máscara da Morte…

– Mas se o poder dele é semelhante ao de Máscara da Morte…

– Você ainda não entendeu, Ying. – falou Saga. – Mu fez apenas uma suave comparação. Na realidade, o cosmo de Shaka é dez vezes, não, cem vezes maior do que o de Máscara da Morte.

– O quê?!

– Realmente, ele não é um adversário comum. – concordou Aldebaran, cruzando os braços sobre o enorme peitoral e franzindo o cenho.

– Vocês não estão querendo me amedrontar, não é? – perguntou Ying, tentando gracejar; mas, observando a fisionomia séria dos outros, concluiu: – Não, parece que não.

– Ouça, Ying. – disse Saga, encarando-a frente a frente. – Tudo o que falamos até agora não passa de pura especulação. Todos os Cavaleiros que mencionamos são extremamente poderosos, é verdade, principalmente Shaka de Virgem, mas isso não significa que terá realmente que enfrentá-los. Caso isso aconteça, quero que acredite em mim, minha irmã, pois eu reafirmo diante de todos, não a teria chamado aqui se não confiasse, com toda a força do meu ser, que você venceria a quantos se pusessem no seu caminho.

– Eu sei disso, meu irmão. Quero que acredite também que tudo farei para retribuir a confiança que deposita em mim; embora, na realidade, preferisse não ter que lutar com ninguém. – Ying deu um sorriso triste. – Sei que parece estranho ouvir uma Amazona, uma mulher guerreira, falar assim; mas não tenho vergonha de dizer isso, pois é a mais pura verdade. Não vim aqui para lutar com ninguém, vim aqui para ficar cumprir meu papel de Defensora de Athena ao seu lado; já disso antes. Entretanto… – acrescentou, com voz firme e olhar resoluto. – Também reafirmo diante de todos: não recuarei sob hipótese alguma e não me submeterei a usar uma máscara, juro por Athena! São quatro prováveis adversários, não é? Pois bem: que venham! Estarei pronta. Mas… desculpem-me… Será que podemos ir agora? – concluiu. quase suplicante.

– Sim, é claro. – disse Saga, sorrindo, compreensivo, e voltando-se para seus amigos: – Bem, nos veremos mais tarde, talvez quando o Conselho se reunir.

– Até lá, então. Tenha um bom descanso, Ying. – falou Mu.

– Eu vou acompanhá-los e no caminho mostrarei a minha casa à Ying. – falou Aldebaran.

– Então vamos.

**********

Mais tarde, já instalada em seu novo quarto, Ying lutava consigo mesmo para conciliar o sono. Estava exausta, é verdade, mas tantas coisas haviam acontecido, as quais mudaram radicalmente o rumo de sua vida, que sua mente teimava em fazer um balanço dos últimos fatos. Em pouco mais de 24 horas, havia recebido o aviso de que deveria partir para sempre de sua terra natal, deixando, em razão disso, seu posto de comandante do exército; lutara com sua ex-melhor amiga Mariska, a qual também resolveu abandonar o Vale; envergara a tão almejada armadura de ouro de Gêmeos; recebera das mãos de sua irmã a Espada de Avalon, a famosa Excalibur, uma honra totalmente inesperada para ela; conseguira transportar-se através do tempo e do espaço até o Santuário na Grécia e, por fim, conhecera o homem que povoava seus sonhos desde pequenina. Esse último pensamento provocou-lhe um aperto no coração. Nem conseguia pensar direito no que era realmente importante, ou seja, no que teria de enfrentar adiante, em relação ao uso da máscara. Sabia que o Mestre e alguns Cavaleiros poderiam não gostar da sua rebeldia; mas ele não se importava, e por mais que isso lhe parecesse absurdo, nada mais tinha importância para ela. Sentia-se mais forte do que antes, porém sua consciência dizia que devia lutar contra esse sentimento novo e assustador que teimava em querer tomar conta dela. Antes de mais nada era uma Amazona e não podia se apaixonar por ninguém, precisava manter total controle de si mesma. Sua mãe sofrera muito por ter se rendido ao amor, e Ying jurara que não iria passar por isso de jeito nenhum.

Em meio a esse e outros pensamentos tumultuados acabou deixando-se entregar ao sono, com a certeza de que aquele sonho voltaria a atormentá-la. Mal sabia Ying, mas, enquanto isso na Casa de Sagitário, Ayoros também enfrentava problemas para conciliar o sono.

Continua…

*********

1- Afrodite: deusa do Amor, na Mitologia Grega-” ”>-‘.’ ”>

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