– Encontrem-na!! – foi a ordem que reverberou como um gigantesco trovão pelas paredes sólidas da Mansão do Mestre. Não importa o que façam! Tragam-na aqui, viva ou morta! Ela e seu amante, o traidor Ayoros, não podem escapar impunes!!

O grupo de soldados e Cavaleiros de Bronze e Prata que acorreram ao chamado do Mestre partiram em disparada para cumprir as ordens sem discutir, afinal a palavra do Mestre do Santuário era lei e não deveria ser discutida em hipótese alguma, mas ainda assim, muitos saíram de lá com coração pesado pois admiravam o honrado Cavaleiro de Sagitário e a intrépida e bela Amazona de Gêmeos, embora isso não fosse impedi-los de cumprir sua missão.

Fora de si, Ares no corpo de Saga, dava voltas e mais voltas em frente ao trono, furioso consigo mesmo por ter se distraído o suficiente pra permitir que Ying fosse resgatada. Quem teria sido o miserável traidor? Ayoros não porque ele e a pequena deusa já não pertenciam mais ao mundo dos vivos, segundo Shura de Capricórnio. De fato, não sentia mais o Cosmo deles, mas somente se sentiria tranquilo quando visse aos seus pés os corpos dilacerados de ambos. Quanto à Ying, lamentava que Shura a tivesse ferido mortalmente antes que pudesse saciar sua luxúria naquele corpo perfeito, mas não podia permitir que ela escapasse, teria que ter certeza de que estava morta ou não poderia convencer aos outros da farsa que ele tramara.

Maldição!! Todos parecem ter se desvanecido no ar como fumaça! Eu já enganei esse tolos e conquistei o Santuário de minha irmã Athena. agora preciso mantê-lo para poder concretizar minhas ambições! Este planeta medíocre com essa humanidade que ela tanto preza…Será escravizada aos meus caprichos pelos seus próprios defensores… Ele sorriu num esgar. – Irônico…Exatamente como eu gosto…mas eles não perdem por esperar… Quando eu puder evocar o meu próprio corpo e convocar meus cruéis Bersekers… Então, querida irmã… – Ele fechou as mãos em punhos, erguendo-as num gesto de antecipação de algo muito esperado. – …realmente não restará pedra sobre pedra de sua preciosa Terra…

*************

Eu preciso…Preciso tirá-la daqui…

Ayoros sentia como se cada osso de seu corpo tivesse se quebrado, já havia perdido tanto sangue que a fraqueza pesava cada vez mais sobre si, sentia o Cosmo falhar a cada instante, se esvaindo juntamente com seu sangue e sua vida…Ainda assim seguia se arrastando penosamente com a menina segura nos braços .

Mais um pouco… Só mais…um pouco…

Somente os deuses sabiam como tinha conseguido chegar até ali enquanto ainda procuravam seu corpo e o da criança no precipício onde fora atirado. Sentiu um calafrio ao pensar que Athena poderia estar morta agora e tudo teria sido em vão…

Mas ele estava lá bem na hora agarrado aquela reentrância na rocha e conseguiu segurar o bebê quando ela se reclinou demais para olhar para baixo, provavelmente, buscando-o. Infelizmente, o movimento acabou fazendo com que a reentrância desmoronasse. Eles caíram de uma altura que mataria um humano normal, mas Ayoros era um Cavaleiro… E cumpriria seu dever até o último sopro de Cosmo…

Olhou embevecido para seu tesouro, sua razão de viver naqueles poucos momentos que ainda lhe restavam. Graças a Zeus, a criança estava ilesa. Conseguira protegê-la durante a queda com seu corpo.

Tropeçou em uma pedra. As forças lhe fugiam junto com a consciência, mas ele tomou mais um alento e prosseguiu. O pior já passara. O dia amanhecia e eles estavam fora dos limites do Santuário. Nas ruínas de alguns templos esquecidos a meio caminho de Rodórios, já havia uns poucos turistas tirando fotos nas proximidades. Um deles, um senhor idoso, de aparência oriental, despertou algo em Ayoros.

O alquebrado Cavaleiro fez um último esforço para alcançar o local, mais afastado dos outros, onde ele mirava distraído a paisagem do amanhecer naquelas ruínas.

Ying…Meu amor…Athena ficará a salvo…Vou cumprir minha promessa…

Tornou a cair de joelhos, ainda agarrado à pequenina.

– Ei! Você está bem? – Alguém perguntava junto a ele. Sentiu uma mão em seu ombro e ergueu o olhar. Sua vista ia e voltava de foco até enxergar o senhor a quem iria pedir ajuda, o qual o olhava, apreensivo.

Fechou os olhos durante um segundo, inspirando lenta e profundamente, fazendo uma prece muda aos deuses. Conseguira. Era ele.

O senhor olhava pra ele, horrorizado ante a quantidade de ferimentos que cobria o corpo daquele estranho jovem, que mantinha em seus braços um pequeno embrulho que se remexia e ainda carregava um enorme cofre dourado às costas.

– O que fizeram com você, rapaz?! Descanse, vou chamar ajuda e… – foi dizendo, tentando ajudar Ayoros a se sentar, mas este o impediu com um gesto e o olhar urgente.

– Não…Não há… tempo…

Num gesto inusitado para o velho, o jovem se ajoelhou diante dele e estendeu os braços passando-lhe o embrulho, que então pôde ver que se tratava de uma criança recém-nascida. De cabeça baixa a princípio, numa demonstração de submissão e respeito àquele que surgia diante dele como um salvador de todas as suas esperanças e as da humanidade Ayoros falou, olhando-o fixamente agora, procurando num último esforço firmar a voz para poder completar sua missão.

– Senhor…Em nome de todos os deuses…lhe imploro…Por favor… cuide desta criança para mim…Esta é…a reencarnação da deusa Athena…que vêm à Terra a cada 200 anos para proteger a Humanidade do Mal que a ameaça… – a voz dele era cada vez mais fraca, mas Ayoros não iria esmorecer. Algo que via no fundo dos olhos escuros daquele senhor oriental lhe inspirava um enorme respeito e o fazia crer que a menina estaria à salvo. – Tire-a daqui…Cuide dela como se fosse…de seu sangue…Dê-lhe seu nome… e seu amor…E quando ela tiver idade pra entender…Diga quem ela é e que quando chegar a hora…Cavaleiros fiéis a Ela irão se reunir para combater o Mal…Entregue-lhe também isto… – apontou para o cofre da armadura dourada, que jazia no chão atrás dele agora. – …Para que ela a entregue a alguém digno de ser seu guardião mais fiel…É a sagrada armadura dourada de Sagitário…

Sem entender direito o que aquele rapaz estava dizendo – Ou melhor, algo no mais profundo de sua mente lhe dizia que esperara por aquela hora desde o dia em que nascera – o velho segurou a criança que acordou e lhe sorriu. Sentiu na mesma hora um reconhecimento estranho e um elo indissolúvel com aquele pequeno ser de alma tão poderosa, sentindo que daria sua vida por ela, assim como o rapaz que morria diante de seus olhos…

Com uma sensação de alívio e dever cumprido em meio à dor que sentia, Ayoros fechou os olhos e caiu ao chão. As últimas forças abandonando-o.

– Ei, rapaz! – gritou o velho, tentando segurar a criança e socorrer o jovem desfalecido ao mesmo tempo. – Acorde! Aguente firme!

– Deixe-o comigo… – falou uma voz feminina atrás dele. – Leve Athena daqui como ele pediu.

O velho a olhou, assustado pois não sentira sua aproximação. Era uma mulher belíssima, de cabelos negros longos e olhos azuis-escuros. Parecia tão pálida quanto o outro e embora não tivesse ferimentos aparentes, parecia igualmente coberta de sangue.

– Você o conhece? Esta criança é sua? Quem…?

– Sim…Somos os guardiões desta menina…me chamo Ying de Gêmeos e este é Ayoros de Sagitário…Não há tempo para explicar muita coisa, mas o senhor deve sair deste lugar…não… Deste país e voltar para onde veio com ela e protegê-la…

Ela também se ajoelhou diante do velho, que se sentia inteiramente confuso.

– Este era nosso dever…Mas falhamos miseravelmente…Não deixe que nosso esforço tenha sido em vão… Até o dia em que iremos procurá-la…Cuide dela, senhor…

Ah… Kido…Me chamo Kido Mitsumasa… – murmurou o senhor numa reverência automática.

Ying correspondeu com uma reverência mais profunda, o mesmo gesto de submissão e respeito que Ayoros fizera. Ying sentiu que ele era alguém muito especial, além do fato de ser o novo protetor da preciosa criança-deusa. O Destino tinha desígnios misteriosos realmente…

– Kido-sama… – falou no idioma paterno, que seu irmão lhe ensinara e que era o idioma natal daquele senhor. – Arigatô…

Dito isto, segurou Ayoros nos braços como se ele nada pesasse e simplesmente desapareceu diante do atônito Mitsumasa Kido.

******************

Ele ainda ficou olhando uns instantes pro vazio, sem saber como reagir perante aquela situação tão insólita. Somente o bebê se remexendo, inquieto, em seus braços o despertou de seu torpor.

– Oh, desculpe, pequenina! Deve estar com fome, não é? – ficou olhando para ela, encantado com beleza da menina e uma ideia se formou em sua mente. – Bom, se o que seus pais, ou guardiões, o que seja, for verdade, não devo chamá-la pelo seu nome real…Então… Vou chamá-la de Saori…De hoje em diante será…Minha neta muito amada, Saori Kido. – sorriu pra menina, que retribuiu, arrulhando, feliz. – Tatsumi, venha cá, preciso de sua ajuda pra carregar uma coisa que encontrei! – chamou pelo celular seu mordomo e amigo fiel.

Quando este chegou junto a seu patrão e viu do que se tratava, obviamente quis crivá-lo de perguntas sobre aquele estranho e imenso cofre e aquela criança, mas o velho Kido o silenciou com apenas um olhar.

– Mas senhor… – ainda quis insistir.

– Depois, meu amigo. – disse simplesmente, olhando em volta, parecendo apreensivo. – Vamos sair daqui. Assim que chegarmos ao hotel, arrume as malas e mande preparar o helicóptero para nos levar ao aeroporto. Voltamos ao Japão ainda hoje.

– M-Mas, Kido-sama…Acabamos de chegar! O senhor disse…

– Os planos mudaram, meu amigo. Depois explico. Vamos!

E logo sumiam dali para a segurança. Felizmente, aqueles que queriam destruir Athena voltavam seus olhos para outros lugares. Ying e Ayoros eram o alvo, mas eles no momento também se encontravam fora de alcance…

***************

Nevara se levantou no meio da madrugada, como se tivesse despertado de um sonho ruim ou como se alguém a chamasse… Apreensiva, prescrutou a escuridão do quarto simples em busca do que a perturbara, mas no fundo a antiga sacerdotisa sabia do que tratava…

– Ying…Então…Finalmente aconteceu…

 

Recuperando a serenidade habitual, Nevara se levantou devagar e saiu de sua cabana, indo até o pequeno lago que usava como oráculo. No céu, uma magnífica lua cheia iluminava o espelho d’água.

– Mostre-me… – ela sussurrou após recitar algumas palavras em gaélico.

Impassível, ela observou as águas brilhantes pela luz do luar se turvarem e cenas perturbadoras se desenrolaram diante de seus olhos como se numa tela de cinema.

O Destino segue seu curso célere…Nada mais pode ser feito… – Nevara suspirou enquanto sua mão, correndo suavemente pela superfície do lago, desfazia a Visão.

Ergueu o olhar para a lua, tornando a suspirar. Não. Ainda havia algo a ser feito.

Muito bem…Assim como previ quando os gêmeos nasceram o encantamento deve ser completado…Este mundo merece mais uma chance e…Bem, não vou deixar minha garotinha se sacrificar em vão… Niké,se tem algum apreço por seu avatar, empreste-me sua força! Badb1, Ceridwen, Grande Mãe! Eu as invoco! Que a profecia se cumpra! – Nevara ergueu os braços para noite, sendo cercada por um misto de luz e brumas.

*************

Ayoros abriu os olhos, piscando-os inúmeras vezes, confuso. Tentou se mover, mas as dores que sentia apenas lhe permitiram mover o rosto numa careta. Sentia que estava nos braços dela…Seria possível?

– Ying? Você…viva…? Mas Shura…

A jovem amazona sorriu para o Cavaleiro moribundo em seus braços.

– Poupe suas forças, meu amor… Sim, estou viva e bem. Não se preocupe…Nossa deusa agora segue viagem com seu novo guardião para uma terra distante. Está segura…

Ayoros tornou a fechar os olhos soltando um profundo suspiro de alívio…Por sua amada estar viva e sua missão cumprida.

– Então creio que… já sabe o que… deve fazer…Perdoe-me por lhe pedir isso, mas… – ele sussurrou num fio de voz.

– Sim…Vamos para Sagitário… – com o coração dilacerado, ela o ergueu nos braços com carinho e cuidado, como uma verdadeira Pietá, como se ele nada pesasse, abrindo um portal que os levaria onde precisavam.

****************

– Aldebaran!! Espere!! – foi o grito de Mu, paralisando-se à meio caminho da Mansão do Mestre.

– O que houve, Mu? Veja o caos que está se estabelecendo nesse Santuário! Precisamos descobrir o que está havendo! – gritou o gigante moreno, olhando para trás.

Mu suspirou, fechando os olhos. Ele ergueu a mão direita para que Aldebaran se calasse um instante enquanto ele ouvia…

– Vamos sair daqui. O que se passa lá em cima se trata nada menos do que uma farsa bem orquestrada pelas Forças das Trevas… nada podemos fazer aqui, por enquanto, a não ser garantir que os danos não sejam permanentes…

– Pare de falar por enigmas, Mu! O que quer dizer, afinal? – Aldebaran franziu a testa, sem compreender.

– Apenas siga-me. – e tomou o rumo de Rodórios.

Aldebaran ainda olhou para cima para o Templo e a mansão do Grande Mestre.

Forças das Trevas, hein? – pensou o Cavaleiro de Touro, intrigado e dividido, sentindo uma estranha e sinistra cosmoenergia vindo de lá…Era extremamente poderosa…Parecia a de Mestre Shion, mas…Não era…

Virando as costas, decidiu e seguiu atrás do Cavaleiro de Áries antes que o rastro de seu Cosmo desaparecesse. Seja o que fosse, ele devia saber o que estava fazendo…

Continua…

1Badbdeusa da guerra, dos campos de batalha e das profecias. Era conhecida como “O Corvo de Batalha” ou “A Gralha Escaldada”. Com suas irmãs, Macha e Morrighan, formava um trio de Deusas guerreiras, as filhas da Deusa-mãe Ernmas, que morreu em “A Primeira Batalha de Magh Turedh”, conto que descreve como os Tuatha Dé Danann tomaram a Irlanda dos Fir Bolg. Badb rege a morte, a sabedoria e a transformação.

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