– Ying!!Ying!!! Querida, onde você está? Em nome de Athena, por favor, responda!! – Ayoros chamava, já em pânico, com a impressão de que procurava há horas em vão pela Amazona. Que terrível sensação de urgência era aquela que lhe oprimia terrivelmente o coração ao ponto de lhe faltar o ar? Por que não conseguia sentir o cosmo dela?
Já havia ido até à Vila das Amazonas e lá ninguém a vira. Voltara pra Casa de Sagitário e nada…Pensara também que Ying pudesse ter ido ver seu irmão na Casa de Gêmeos, mas ele também não sabia dela e agora estava como Ayoros vasculhando o Santuário à sua procura. Ayoros pôde ler, aliado à sua preocupação pela irmã, o rancor no rosto de Saga, era quase como se dissesse: “Eu lhe confiei a minha irmã querida, a minha jóia mais preciosa e você a perdeu. Você traiu minha confiança! Se algo acontecer a ela, eu jamais o perdoarei!”
Os jovens Ayolia e Hargos também a procuravam por todos os cantos e nem o futuro Cavaleiro de Lince, com sua visão privilegiada conseguia enxergar qualquer pista do paradeiro da Amazona e isso o estava deixando extremamente frustrado, tal a adoração (leia-se paixonite) que ele desenvolvera por Ying. Até Ayoros já havia percebido e sempre sorria compreensivo. Para Hargos, Ying se tornara uma espécie de ídolo, uma estrela inatingível a ser admirada e venerada. E ninguém iria fazer mal à sua estrela! Era a resolução inabalável que se lia em seu rosto adolescente.
Foi nesse instante que todos ouviram o terrível grito. Era ela!
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– Sinto o cosmo dela agora!! – exclamou Saga, aflito, acrescentando, temeroso: – Por Athena, Ayoros, ela… a energia dela… – ele engoliu em seco, sem conseguir continuar.
– Está quase se apagando! Por Athena, o que houve com ela? – falou Ayoros, ainda vasculhando o ambiente com olhar angustiado. – Já passamos por aqui dezenas de vezes! Por que não a achamos ou sentimos seu cosmo antes?
– Ayoros!! Irmão!!! – gritou Ayolia, apavorado. – Sinto cheiro de sangue!!
– Ali!!! Lá está ela!! Ying!!! – foi o grito desesperado de Hargos, o primeiro a avistá-la. Correndo até o local, ele parou estático, seu corpo todo começou a tremer tomado de violenta emoção. Seu ídolo jazia caído de bruços numa poça de sangue, coberta de ferimentos por todo o corpo, as roupas em farrapos, aparentemente sem vida. Ele não podia crer no que seus olhos viam, preferia nunca ter visto uma cena tão dantesca. Sua boca se entreabria, tentando falar, mas nenhum som escapava de seus lábios. De seus olhos, corriam lágrimas abundantes, mas ele nem percebia.
Saga e Ayoros correram, desesperados, vencendo em uma fração de segundo os poucos metros que os separavam dela.
– Irmã!! Ying!! O que houve? Ying!! Acorde!! – gritava Saga, tomando-a nos braços, e sacudindo-a, frenético. – Acorde, pelo amor de Athena!!! Você não pode estar morta!!! Acorde!!
Ayoros permanecia estático, olhando pra ela, sem conseguir assimilar o que estava vendo, como aquilo havia acontecido? Quem a havia atacado e por que ninguém percebeu nada? Por que só agora conseguiram encontrá-la?
– Saga, acalme-se!! – Ayoros saiu de seu torpor e segurou-o, tentando contê-lo. – Ela está viva, mas assim vai machucá-la mais ainda!
Saga, parecendo fora de si ainda, largou-a nos braços de Ayoros e se levantou, olhando em volta. Havia sentido uma cosmoenergia que esperava não tornar a sentir de novo, mas que estava ali claramente, ou pelo menos havia estado.
Kannon!! Desgraçado!!! – ele falou pra si mesmo, seu belo rosto, contorcido num esgar do mais puro ódio. – Agora você foi longe demais!! Você podia ter feito isso com qualquer pessoa menos com ela!! Eu lhe avisei, agora não vou perdoá-lo!!
– Mestre Ayoros!! Senhor Saga!! Vejam!! Sinais de luta! – gritou Hargos, já recuperado e vasculhando ao redor. – Três cavaleiros e uma amazona… – dizia ele, com a testa franzida pelo esforço de concentração. – Os cosmos já quase se apagaram, mas parecem ser de cavaleiros de Bronze!
– Mas quais?!! Não posso crer que simples Cavaleiros de Bronze tenham conseguido fazer isso com ela!! – disse, Ayolia, perplexo.
Não foram eles, sejam quais forem… Foi Ele!! Kannon, aquele demônio!!! Eu vou matá-lo agora!! – pensava o Cavaleiro de Gêmeos, transtornado, prestes a abrir uma passagem dimensional em busca de seu irmão renegado.
– Saga, precisamos levá-la daqui até à Vila das Amazonas agora! – gritou Ayoros para Saga, que ainda estava em choque.
– O que?! Ah, sim, sim! Tem razão, vou abrir uma passagem direto até a casa de Denora, a líder. Ela saberá o que fazer.
– Vamos rápido, então. – Ayoros levantou-a cuidadosamente nos braços. – Não temos um segundo a perder! A respiração dela está cada vez mais fraca!
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Pronto…Agora já está tudo encaminhado… – pensava Kannon, observando tudo de uma distância segura. – Ying morrerá e com ela, a deusa inconveniente que iria atrapalhar meus planos…
Então, aquela voz tornou a falar dentro de si:
Teus planos?!! Ora, não sejas ridículo, Kannon!! – uma sinistra gargalhada se fez ouvir. – Sei perfeitamente de tuas ambições, uma vez que posso perscrutar teus pensamentos mais íntimos, além do mais foste tu quem me permitiu entrar em tua mente…Como cedo ou tarde, acontecerá com teu irmão mais velho. Mas encare os fatos…Tu não passas de um joguete meu! Sou EU quem controlarei o Santuário e o mundo inteiro sem a intrometida da minha irmã para atrapalhar. Lembra-te, idiota, que quando não precisar mais de você ou de Saga os descartarei como carcaças velhas sem valor e reinarei soberano sem precisar de intermediários! Sinta-se honrado por isso e nem penses em te rebelar! Ares jamais perdoou quem o traiu!!
Sim, meu senhor. – rangendo os dentes de ódio, Kannon se submeteu.
A risada tornou a ecoar em sua mente.
Isso…Assim que eu gosto…Cheio de ódio e revolta, mas submisso à minha vontade…quem sabe até o recompenses se me fores fiel… Mas vamos ao que interessa. Elas ainda estão vivas, não pense que o problema está afastado.. Além disso…
Além disso?
Há uma outra mulher…em Rodórios…Seu nome é Pallas, é a filha do Chefe da Aldeia… Vigie-a. Ela também está prestes a dar à luz a uma menina. Ambas possuem uma Cosmoenergia extremamente perturbadora…
Acha que podemos ter atacado a mulher errada?
Talvez…É melhor matar todas, mas espere um pouco. Veremos quando nascerem as crianças, se nascerem, então…já sabes…
Sim… – Kannon sorriu, sombriamente. E sentindo que Ares já se havia retirado, acrescentou: – Veremos quem dominará o que ou quem no final das contas. Você pode ser um deus, mas eu não sou nenhum idiota…
E desapareceu rumo à Rodórios.
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– E então? Como ela está? – perguntou Ayoros, ansioso.
Denora, que estava ao lado dele e do desesperado Saga, o qual parecia fora de si, alternando momentos de apatia e profunda agitação, como naquele momento andando de um lado para o outro, fez um sinal silencioso para que ele aguardasse em silêncio.
A curandeira, de nome Ivanna, que fora chamada às pressas pela aflita líder das Amazonas, aparentemente sem ter ouvido, continuou a examinar a jovem ferida. Por causa da máscara não se conseguia ver a expressão de seu rosto, mas pelo suor frio que escorria por seu pescoço e corpo, enxugado de tempos em tempos por uma jovem assistente, deduzia-se que a situação de Ying e da criança não era nada boa.
Ela suspirou sem dizer nada e olhando para sua assistente fez um gesto rápido, fazendo com que a menina corresse em disparada, voltando em poucos instantes com ervas, panos limpos e água quente. Um burburinho crescia do lado de fora. Era como se toda a comunidade estivesse em polvorosa pelo que havia acontecido com aquela que já havia se tornado uma lenda entre as amazonas, apesar de ter chegado há poucos meses.
– Em nome de Athena, eu suplico me diga o que está acontecendo com ela!!! – gritou Ayoros, sem conseguir mais se conter.
A curandeira olhou pra ele, de mau-humor e esbravejou, irritada:
– Vocês ainda estão aqui? Saiam imediatamente!! Não estão vendo que ela acabou de entrar em trabalho de parto prematuro?!
– O QUÊ??!! – exclamaram Ayoros e Saga ao mesmo tempo.
– É isso mesmo que ouviram! – bradou a curandeira. – Agora saiam daqui!
Mas Ayoros e Saga, desesperados, não lhe deram ouvidos, se aproximando da cama, onde Ying jazia ainda inconsciente, branca como papel, enquanto uma mancha vermelha de sangue aumentava assustadoramente sobre os lençóis. O corpo dela era percorrido de vez em quando por espasmos, cada vez mais freqüentes.
– Ying!! Meu amor, por favor, resista!! – disse Ayoros, se ajoelhando ao lado da cama e segurando a mão dela.
Ivanna gritou, furiosa:
–Vocês, homens, estão atrapalhando! Como quer que a salvemos assim? Amazonas, tirem esses Cavaleiros daqui agora!
– Por favor, senhora, eu imploro! – bradou Saga, irreconhecível naquele momento. Toda a dignidade e calma costumeira completamente eclipsadas pelo desespero de ver a pessoa que ele mais amava naquele estado lastimável. – Deixe-nos ficar!! Poderá fazer o que achar melhor para cuidar de Ying, ficaremos afastados, sem atrapalhar. – completou ele, com as mãos nos ombro de Ayoros, tentando fazer com que ele se afastasse da cama. – Mas, em nome de Athena, não nos mande embora!
– Bem, eu… – Ivanna hesitou, assustada com a intensidade de sentimentos daquele homem. Aquilo calou fundo na alma daquela amazona obstinada que até aquele momento,somente dedicara sua vida a minorar os sofrimentos de outras mulheres. Jamais ela esqueceria a beleza e a intensidade daquele olhar…
Gemidos fracos chamaram, então, a atenção deles para a jovem ferida.
– Ela está acordando!! – exclamou Ayoros. – Graças à Athena!
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De fato, Ying abriu os olhos de repente, parecendo muito assustada e sem saber onde estava. Ela olhou, confusa, para as pessoas que a cercavam, ansiosos, até que seus olhos pararam em Saga. Com uma urgência alarmante e uma força de que não a julgavam capaz naquele instante, Ying agarrou a mão de seu irmão, enquanto murmurava:
– Saga…meu…irmão….Por…que? Por que… me escondeu…Ele? Como… pôde?
Saga estremeceu, empalidecendo mortalmente.
– Ele?! Quem é? De quem ela está falando, Saga? – perguntou Ayoros, olhando para o Cavaleiro de Gêmeos, intrigado.
– Eu…Eu não faço idéia! – Saga respondeu, hesitante, acrescentando depois, irritado. – Ela deve estar delirando por causa dos ferimentos, oras!
Ainda segurando a mão de Saga, Ying realmente parecia estar delirando, pois murmurava sem parar palavras aparentemente desconexas:
– Kannon…Irmão…vingança…Não…Não… Athena, cuidado! Ares…Ares…
– Shhh! Shhh! Calma, minha criança, tudo vai ficar bem… – Denora tentava confortá-la, passando um pano úmido por sua testa escaldante.
– Vou lhe ministrar uma erva anestésica e que também baixe a febre e vamos tratar de tentar segurar essa criança mais um pouco em seu ventre ou não conseguirá sobreviver. – disse Ivanna, examinando a temperatura. – Não se preocupem, eu sei o que estou fazendo. Precisamos combater também essa infecção derivada dos ferimentos antes que se espalhe ainda mais.
– Não seria melhor levá-la para um hospital em Atenas?
– E como iria explicar isso? – mostrou o corpo da amazona todo coberto de ferimentos de diferentes extensões. – Já disse pra não se preocupar. Não há nada que eles pudessem fazer por ela que eu não possa. Não sou apenas uma curandeira de aldeia ,mas uma médica formada na capital. Ying está em boas mãos.
– Ela tem razão, meu jovem. – confirmou a líder Denora, pondo a mão no ombro do desesperado Cavaleiro de Sagitário. – Tente se acalmar.
Ying… – ele olhava pra ela, se sentindo a mais impotente das criaturas. – Agüente firme, querida! Por favor, não me deixe! Não é esse o nosso destino!
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Cansada por causa da luta e das contrações crescentes, Ying foi pouco à pouco retornando à inconsciência, levada pelo efeito dos remédios de Ivanna.
– É melhor saírem agora. – Ivanna falou, ainda mais séria. – faremos o possível, eu juro.
Saga, parecendo ainda perturbado, não discutiu mais e saiu da casa. A curandeira o acompanhou com o olhar até ele desaparecer.
Ayoros, antes de sair, ainda perguntou, fazendo um esforço sobre-humano pra não perder o controle de vez:
– Senhora, acredita que há chance de salvá-las?
Ivanna deu de ombros e respondeu, simplesmente:
– Ying ainda tem uma chance de sobreviver…Ela é muito forte… – ela suspirou, parecendo ainda em dúvida. – Mas a menina…
Ayoros fechou os olhos por um instante e suspirou profundamente.
– Espero que isso não a mate… – ele murmurou. – Muito bem, eu vou embora, mas estarei lá fora. Qualquer coisa, me chamem imediatamente! Nem que… – ele estremeceu ligeiramente. – Nem que seja pra… me despedir dela.
Ele saiu. Estava trêmulo. Toda a sua alma protestava contra aquela brutalidade, contra aquela situação absurda que ocorrera com sua amada e contra a qual não pudera fazer nada!
Ying!! Não morra!! Por favor, pelos deuses…Por Athena…Por mim… – ele estava chorando abertamente agora, sem se importar com os olhares dos outros Cavaleiros e Amazonas. Ayolia e Hargos se juntaram a ele, apreensivos, ao vê-lo naquele estado.
Algo de muito sinistro está acontecendo nesse Santuário e pressinto que coisas ainda piores hão de suceder… – as lágrimas cessaram repentinamente e seu olhar endureceu, dirigindo-se inconscientemente para a estátua de Athena lá em cima. – Mas eu hei de descobrir e deter esse Mal! Custe o que custar! E faremos isso juntos, Ying! Eu juro!!
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Maldito Kannon! Mil vezes maldito!!! Você pagará pelo que fez a Ying, seu desgraçado!! Juro que vou matá-lo!!! – pensava Saga, andando como um desvairado por todo Santuário em busca de seu irmão.
De um lugar seguro, bem próximo dali, Kannon, ocultando habilmente seu cosmo para não ser descoberto por seu furioso irmão, a tudo observava:
Excelente! Se ele está desesperado dessa maneira, isso significa que elas estão perdidas… – pensou, com um sorriso maligno.
“Sim, deveras interessante…” – pensou Ares, em algum lugar da mente de Kannon. – Sinto muita força e determinação naquele ali, muito mais do que neste aqui que me serve por ora…e há ambição também…Sim! E sede de poder! Esplêndido! Posso ver claramente…Nem mesmo ele percebeu, os pensamentos ainda não estão conscientes, mas quanto a isso se pode dar um jeito, não é mesmo, meu caro Kannon? Ele não está tão furioso unicamente pela situação delicada de sua irmãzinha, oh, não…Ele teme, embora nem tenha se dado conta disso ainda, que esse incidente possa prejudicá-lo, chamar a atenção negativamente e com isso influir contra ele quando o Mestre Shion tomar sua decisão acerca de seu Sucessor…Ótimo, ótimo! Vamos ver se conseguirmos fazer com que a Face Oculta do Mal desse Cavaleiro de Gêmeos aflore cada vez mais…
Conto contigo pra isso, Kannon.”
Sim, meu senhor – pensou Kannon, com um olhar sombrio, enquanto pensava para si, acreditando que Ares não podia ouvi-lo. – Veremos quem tirará proveito disso, Ares, veremos…Ele é meu irmão e se alguém tem tirar partido dessa situação nada mais natural que seja eu.
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O quarto na casa de Denora havia desaparecido como por encanto. Ying se encontrava agora numa espécie de planície cinzenta e desolada. Formas desconhecidas passavam por ela sem vê-la. Ela se sentia perdida e confusa, sem saber como fora parar naquele lugar estranho.
Onde estou? Que lugar é esse? Me lembro de estar no quarto de Denora, sentindo muita dor, meu bebê estava nascendo antes do tempo e…Por Athena!!! Estarei morta, então? – Ying levou as mãos ao rosto, num gesto de surpresa e desespero. – Oh, pobre Ayoros!! Deve estar desesperado! E Saga!!
– Você não está morta, Ying.
De repente, uma voz feminina, muito suave e doce se fez ouvir à sua volta, mas sem que ela localizasse a origem, como se viesse de toda parte e de lugar nenhum. Num instante, se viu transportada ao Templo de Athena, de frente à gigantesca estátua da deusa. Uma jovem de longos cabelos loiros, quase brancos, e olhos cinzentos a fitava, compassiva.
– Seja bem-vinda, Ying de Gêmeos. Eu precisava muito falar com você antes de me despedir.
Quem é você? Como vim parar aqui? – Ying perguntou, completamente atônita.
Acalme-se! Não tenha medo. Você não vai morrer. Nós apenas fizemos com que seu espírito se desligasse um pouco de seu corpo para que não sofresse ainda mais.
– Nós?! A quem se refere?
– Um dia você saberá. Eu a trouxe aqui para lhe agradecer pelo tempo em que me abrigou em seu ventre e pedir desculpas também…acho que o meu poder era demais para que seu corpo mortal pudesse suportar, não queria que tivesse sido tão difícil pra você durante esses sete meses…
– Foi a maldição de Ares… – começou, tentando ainda entender o que estava acontecendo.
– Não bote a culpa em maldições. Isso é algo que seres inescrupulosos como Ares inventaram para amedrontar os mortais, mas não passa de superstição, a qual faz mais mal pelo efeito psicológico nas almas despreparadas do que poderia fazer de fato. Como disse, meu cosmo foi demais pra você, mesmo sendo especial, uma Amazona Dourada e… e a Eleita de Nike. Mas, apesar das dificuldades, tudo teria dado certo, senão fosse a interferência de seu irmão Kannon e Daquele que o guia.
– O q…
– Ares, Ying. Seus irmãos estão em perigo, assim como Athena que está pra nascer, o Santuário e toda a humanidade. A influência Dele cresce a cada dia. Por isso eu vinha à Terra por seu intermédio, mas os planos tiveram que ser mudados…
– Eu… Eu sinto muito… – Ying disse, baixando a cabeça.
A jovem se aproximou e lhe ergueu o queixo, delicadamente.
– Não se culpe. Seja como for, Athena ainda está protegida pelo anonimato, Ares e seu séquito ainda não sabem se ela nascerá de você ou de outra pessoa…
– Então…Então você não é Athena!! – Ying se agitou, começando a compreender, mas ainda um tanto confusa.
– Não. Conhece o Mito de Pallas?
Ying pensou um momento e respondeu:
– Fala da jovem, filha do deus Tritão, que foi criada junto com Athena e morreu durante uma contenda entre as duas?
– Sim. A jovem ia alvejar Athena, mas Zeus, visando proteger a filha, a assustou e ela acabou sendo atingida por Athena, a qual nunca se perdoou por ter matado sua melhor amiga, chegando a incorporar o nome dela ao seu para nunca esquecê-la.1 Essa jovem se comoveu com o sofrimento de Athena e sua amizade e como se culpava por ter desejado matá-la por um motivo fútil, do qual nenhuma das duas se lembrava mais, jurou fazer de tudo para protegê-la, sempre que fosse preciso… Como agora.
– Não me diga que você é…
–Isso mesmo. Sou Pallas. Eu viria para confundir Ares, para que ninguém soubesse quem era Athena e desviar a atenção de qualquer ameaça à segurança dela, mas não se aflija! Sinto muito pela dor que irá dilacerar sua alma. É terrível para uma mãe perder sua criança e você ainda terá que suportar muito mais se as coisas continuarem a correr como estão… – ela divagou, enigmática, com uma expressão ausente como se vislumbrasse o futuro. – Mas assim, de qualquer forma, Ares pensará que sua inimiga está fora do seu caminho, ao menos por algum tempo…Mas isso não irá durar muito e Ele voltará a atacar. Vocês devem estar atentos, portanto, acautelem-se! – ela suspirou e sua imagem pareceu oscilar. – Preciso ir agora e você deve voltar para seu corpo.
– Ma…Mas…Espere!! Contra quem devemos nos acautelar? Você falou nos meus irmãos…Isso é impossível! Quer dizer, eu sei o que Kannon tentou fazer comigo, mas Saga…Não, ele não, ele…
– É íntegro demais pra isso? – ela me lançou um olhar estranho antes de se virar pra ir embora. – Talvez…Mas não esqueça, Ying, todos temos uma face oculta, um lado sombrio que muitas vezes até nós desconhecemos ou negamos que exista e isso é bem representado pela constelação que você e seu irmão Saga representam…Fique em paz e arrebanhe forças para o que ainda está por vir. Athena e a Terra contam com você e todos os que lutam pelo Bem. Adeus.
– Espere!! E de quem Athena nascerá?
Tarde demais. Uma explosão de luz ocorreu repentinamente, cegando-a e Ying sentiu como se estivesse sendo puxada de volta ao lugar onde estava antes.
Continua…