Uma risada sarcástica se fez ouvir poucos passos à sua direita, enquanto uma amazona alta e esguia de longos cabelos negros e lisos, usando uma armadura de bronze escurecida e de aparência sinistra e aquela odiosa máscara de caninos pontudos e sangrentos, que tanto asco lhe provocara da primeira vez, vinha andando lentamente em sua direção, parando na metade da distância de um disparo de flecha.

– Me ordena?! Me ordena, você disse? – ela tornou a rir e Ying sentiu que o rosto da outra se contorcia numa expressão de sarcasmo e do mais profundo desprezo. – Ora, Ying, a mesma princesinha mimada de sempre, tsc, tsc… Esqueceu que aqui somos todas iguais? Você não é mais uma princesa, não estamos mais no Vale, lembra-se?

O rosto de Ying corou levemente. Era verdade o que ela falava, mas não se deixou intimidar pela truculência explícita da outra e tornou a falar:

– Tem razão, mas ainda assim esquece que sou um Cavaleiro de Ouro e há uma certa hierarquia aqui, embora negue isso. Agora me diga, Calypso, o que…

– NÃO ME CHAME MAIS ASSIM! – gritou a outra, apontando com orgulho para a máscara horrenda.! – Vocês me expulsaram, esqueceu? Me chamo Jisty agora e sou uma Amazona de Bronze. Da constelação de Serpens Caput1… Pelo menos…oficialmente…Na verdade, prefiro me considerar a Amazona da constelação secreta de Vampiro. – ela se aproximou mais, ameaçadoramente. – Bem apropriado, não acha?

– De fato… Somente alguém como você para representar uma constelação amaldiçoada… – Ying não conseguiu esconder um esgar de desprezo. – Mas não entendo como você aceitou usar uma máscara…

A outra contraiu os punhos, com os brios feridos e replicou, com a voz sibilando de ódio:

– Sim, tenho tanto orgulho de nossa raça quanto você, muito mais até e também não gosto de me esconder atrás dela, mas não me deram a oportunidade de não usá-la…Mas até que tem suas vantagens… principalmente para intimidar o inimigo…Afinal, nossas antepassadas pintavam o rosto durante as batalhas, não é mesmo?

– Se está querendo me intimidar, Calypso…ou Jisty, como queira, saiba que não está tendo sucesso. Afinal, o que quer de mim?

Ying sentiu que a outra sorriu novamente por trás da máscara, sua energia tornando-se cada vez mais ameaçadora e hostil. Uma gota de suor frio brotou em sua testa e ela a enxugou, irritada. A criança em seu ventre se agitou, sentindo sua apreensão. Ying procurou enviar-lhe pensamentos tranqüilos para acalmá-la. Nem ela mesma sabia porque se sentia apreensiva, afinal porque temia uma Amazona de Bronze?

– Tem certeza que não sabe, Ying? – Jisty deu uma risada baixa e sinistra. – Acho que está bem claro… Eu quero sua cabeça!

– O QUÊ?!

– É isso mesmo que ouviu. Quero matar você, sua princesinha ridícula! Estripá-la e arrancar essa criança de seu ventre para que seu querido Ayoros a encontre estrebuchando e enlouqueça de desespero. Ele não será o novo mestre do Santuário! Jamais!! Athena jamais voltará à Terra! O Escolhido de Ares, o glorioso deus da guerra é que tomará o poder, transformando esse planeta no reino dos mais fortes e tudo a partir desse lugarzinho patético e você, minha cara, será a primeira a tombar pela glória de Ares!!

Agora Ying sabia porque a temia. Se ela nunca tivera escrúpulos desde criança, agora estava completamente louca! E de alguém como Calypso – Jisty – se poderia esperar qualquer coisa.

– Como você mesma disse, não sou mais uma princesa. – começou tentando ganhar tempo. Ayoros tinha que encontrá-la e rápido. Se arrependia de ter se afastado sozinha, mas como poderia adivinhar um ataque desses? Normalmente, poderia derrotá-la com um simples levantar de capa, tal era a diferença de poder entre as duas, mas a gravidez complicada deixara a sua energia vacilante e fugidia. O resultado de um combate nessas condições era algo imprevisível, podendo até ser fatal para ela e o bebê. No entanto, ela blefou: – Mas ainda sou um Cavaleiro de Ouro, portanto, nossos cosmos são muito diferentes. Não tente me desafiar, estou lhe avisando! E que história é essa de Escolhido de Ares? Explique-se!!

Jisty riu alto agora. Uma risada enlouquecida que pareceu ecoar por todo o Santuário. Onde estava Ayoros? Por que não aparecia ninguém? Não estavam longe das Casas Zodiacais e a Vila das Amazonas estava bem próxima. Sentia algo estranho como se estivessem isoladas do restante do mundo. O que estava acontecendo?

– Sempre arrogante…Você não está em posição de exigir explicações! – gritou, sorrindo desdenhosamente em seguida. – Está esperando ajuda? – perguntou a outra, ironicamente, num forçado tom de pena. – Então não está tão segura assim de seu poderoso cosmo…Ótimo! Foi o que pensei. Você está fraca e vulnerável… Assim fica até sem-graça. Será como há 18 anos atrás quando raptei seu irmãozinho Kannon…Nada mais que um bebezinho indefeso…

Nada, nenhum golpe que a outra pudesse desferir poderia tê-la surpreendido mais do que aquela afirmação bombástica.

– Como… Como é? Kannon?! Você???!!

A expressão de surpresa de Ying foi inebriante para Jisty. Ela tornou a rir e parecia que nunca mais ia parar. Apreensiva e irritada por tanta ousadia, Ying procurava uma brecha para escapar ou atacar, mas de qualquer jeito, sair daquele impasse humilhante. No entanto, sentia-se paralisada pelo cosmo de Jisty, como um rato sob o olhar hipnótico de uma serpente…

Finalmente, a outra parou, olhando para Ying com fingida comiseração.

– Não consegue se mover? Tsc…tsc…Coitadinha! Para ver como estou mais forte do que você, Amazona de Ouro! Como disse, assim fica até sem-graça matá-la…não terá emoção…mas me contentarei em me banhar com seu sangue…

Ying se manteve firme. Aquilo já era demais! Como ousava falar com ela dessa maneira? Ela achava mesmo que ia se entregar sem luta?

– Exijo que diga o que fez com meu irmão!! Onde está Kannon?

Jisty deu outra risada sarcástica.

– Você…exige?! Exige, você disse? Ora, minha cara Ying, você não está em condições de exigir nada! Nem consegue elevar seu cosmo poderosíssimo de Cavaleiro de Ouro para quebrar meu controle, aliás, sei que em condições normais você nem teria sido dominada, ainda mais tão facilmente…Até que é divertido…Imagine só…Ter a mais poderosa das Amazonas inteiramente à minha mercê…

A fúria de Ying crescia assustadoramente, elevando agora seu cosmo, mas Jisty nem se abalou.

– Huh! Vejo que está tentando reagir…Mas ainda não é o suficiente… fraca demais e além do mais sei que não quer se arriscar a lutar por causa da criança…Patético…

– Não me subestime, sua traidora imunda! – gritou Ying, furiosa. – Diga logo o que fez com meu irmão Kannon, se não quiser que eu acabe com você!!

– O QUÊ??!! – exclamou Jisty, agora um pouco preocupada. Ying não deveria ser capaz de elevar seu cosmo tanto assim no estado em que estava. Começava a tornar-se difícil mantê-la sob controle, mas ela não perdeu a frieza.

– Não, Ying. Admiro sua determinação, mas por mais que se esforce, não será capaz de escapar da armadilha que preparei pra você… Eu estou muito bem apoiada…Só pra começar, olhe em volta. Nós não estamos sós. Apresento meus fiéis comandados, os Cavaleiros Medusa, Golfinho e Serpente Marinha. Não conseguirá escapar de nós todos… e ainda nem sabe quem mais está aqui… – ela sorriu maldosa.

Três Cavaleiros que Ying nunca havia visto antes no Santuário surgiram como que do nada, cercando-a. As armaduras dele eram estranhas, lembrando as criaturas do mar citadas. “Parecem mais cavaleiros de Poseidon…”, pensou. Podia sentir que não eram fortes, mas em seu atual estado, não estava muito certa de conseguir dar conta de tantos adversários ao mesmo tempo e havia mais alguém…Conforme Jisty insinuara, uma outra pessoa, com um cosmo extremamente perigoso e maligno estava por perto…Recomeçou a suar frio. Ela já sentira aquela energia sinistra antes… Durante a luta com Ayoros, naquele dia do ataque do touro enlouquecido! E antes…Logo que chegara ao Santuário! Mas a quem ela pertencia?

– Jisty, posso não estar em minha melhor forma, mas repito para não me subestimar! Não conheço o motivo de seu ódio por mim e minha família, mas vejo agora o quão acertado foi o julgamento de minha irmã Hipólita e do Conselho das Anciãs em expulsá-la de nosso povo e acredite, você e os seus comparsas também serão escorraçados daqui ou coisa pior! Essa atitude covarde de me atacar em grupo e sem motivo se constitui em alta traição à Athena!

Jisty deu de ombros e cruzou os braços:

– Estou tão preocupada com isso…Já disse que não devo lealdade à Athena! Essa deusa estúpida e pacifista não passa de um empecilho incômodo a ser removido… – Ela deu um sorriso tão repleto de maldade por trás da máscara que Ying se sentiu estremecer. – Você vai morrer mesmo, portanto, não me importo de dizer isso a você…Aliás, acho que já havia mencionado…Ares é meu senhor. Sim, Amazona Dourada, o poderoso deus da Guerra. Ele assumirá o controle desse Santuário em breve, assim que Athena estiver definitivamente afastada e eu estou aqui hoje para garantir esse primeiro e importante passo para a conquista da Terra!

– Você está louca!!! – Ying exclamou, pondo-se em guarda e elevando seu cosmo o máximo possível. – Nós, Cavaleiros de Ouro, jamais permitiremos isso!

Jisty e os outros também acenderam seus cosmos.

– Já disse que não está em posição de impedir nada! Estamos aqui para eliminá-la e é o que faremos agora. Na verdade, acho uma pena não podermos obrigar a Vitória a trabalhar do nosso lado, mas as atuais circunstâncias nos obrigam a eliminá-la para impedir que Athena venha a esse mundo… Mas chega de conversa! Ataquem!! MORRA, YING!!!

Uma expressão de absoluta perplexidade surgiu no rosto de Ying naquela fração de segundos. Não pelo ataque, mas uma luz, um pensamento perturbador e extraordinário lhe vinha à mente:

Pelos deuses! Não pode ser…Mas isso também explicaria a atitude do Mestre Shion agora há pouco…Eles estão pensando que eu sou Nike, a deusa da Vitória, e que estou grávida do avatar de Athena?! Não posso afirmar nada quanto à Nike, embora ache que eles estão loucos, mas …não… Se Athena estivesse comigo eu sentiria…No entanto… – ela crispou as mãos. – …sendo ou não verdade, não vou me entregar sem luta! Pelo Santuário, por minha filha e por Athena! Farei com que se arrependam de suas pretensões malignas!!

– Chute da Serpente!

– Golpe do Golfinho!

– Força dos Torpedos! – gritou o cavaleiro Medusa

– Garras do Inferno! – gritou Jisty.

– Vocês caíram em sua própria armadilha! – gritou Ying, com o olhar em fogo, envolta em uma explosão de cosmoenergia. – Recebam agora uma dose de seu próprio veneno! Dimensão Espelho!!!

Foi impressionante. Economizando seu Cosmo, Ying se protegeu e fez com que a tremenda descarga de cosmoenergias combinadas destinada a atingi-la, voltasse para seus respectivos donos, que mal souberam e conseguiram acreditar no que os atingiu. Mas, ao contrário do que Ying pensou, eles não estavam mortos, o quinto personagem que observava a cena de um lugar seguro, em uma dimensão paralela, os salvou, embora à contragosto, pois detestava cavaleiros que se mostravam mais fracos.

Jisty, sua tola! Depois acertaremos as contas…Malditos sejam! E maldita seja você, Ying! Onde diabos aprendeu essa técnica? Foi Saga que lhe ensinou isso? Ele nunca me mostrou esse golpe! – pensava Kannon, aborrecido, se aproximando ameaçadoramente da Amazona.

************

Apesar de ter poupado sua própria energia, Ying tombou de joelhos, ofegante e completamente exausta. Alguma coisa estava muito errada com seu corpo. Estranhos espasmos percorriam seus músculos e nervos. Aquela gravidez complicada a fragilizara demais! Não deveria ser assim… Ter filhos não era algo assim tão difícil, ainda mais para uma mulher da raça das Amazonas, mulheres acostumadas a terem seus filhos sozinhas e sem a ajuda de ninguém desde tempos imemoriais…Ying suava frio, as dores estavam aumentando e estavam em intervalos regulares! Não!! Era cedo demais! Apenas sete meses! Um pensamento que já havia ocorrido outras vezes, mas que ela sempre espantara de sua mente, como um temor infantil voltava agora com toda força de sua apavorante perspectiva: ela e sua criança sobreviveriam ao parto? A maldição de Ares se concretizaria?

Tentando dominar o caos em sua mente e corpo, Ying procurou se acalmar e tomar controle da situação.

Calma, filha… Fique quietinha… Ainda… – Uma pontada mais forte a fez interromper o pensamento, trincando os lábios. Procurando normalizar a respiração, ela continuou: – Ainda é cedo… É muito cedo para ver a luz desse mundo, criança. Tudo vai ficar bem…Logo seu pai vai chegar e nos levar para um lugar seguro…

Detestava ter que admitir isso, sendo uma Amazona, mas a presença de seu homem, seu amado consorte, era necessária agora… e muito!

O alarmante mal-estar, para seu alívio, foi aos poucos se acalmando. Ela se levantou, com algum esforço. Parecia que havia sido apenas mais um alarme falso, graças à Athena… Ao evocar a deusa, olhou em volta para os corpos inertes de seus atacantes:

Calypso…Jisty…Você me disse coisas surpreendentes e alarmantes…Não creio que eu tenha recebido a suprema graça de ser a Portadora, mas… – ela acariciou o ventre, onde a criança agora estava tranquila. – Sinto que esta menina também é especial…de certa forma e eu juro que farei de tudo para que ela sobreviva, nem que eu precise…me sacrificar…que seja feita a vontade de Athena…

Uma voz às suas costas, então, a fez voltar-se, atônita.

– Muito nobre de sua parte, querida irmã…Mas, infelizmente, não está nos planos dos deuses, ou pelo menos de um deus, que vocês duas sobrevivam. Prepare-se para morrer!

 

 Ying abriu a boca para falar, mas não conseguiu emitir nenhum som.

Sa…Saga! Mas… – uma descoberta terrível então se revelou. Aquele não era Saga…Aquela cosmoenergia era diferente, agressiva, maligna… A energia que sentira quando chegara ao Santuário e naquele dia do ataque do touro descontrolado! E que sentira apoiando Jisty! Então, ele era, só podia ser…

– Não, você não é… o Saga…Você é…Ka…Kannon!! – ela conseguiu exclamar.

Ele sorriu. Um sorriso mau, perverso, repleto de triunfo. O sorriso do predador.

– Sim, sou eu, Kannon. O irmão rejeitado. – Sua aura então se tornou ainda mais pesada e maligna, mudando as feições do outro de maneira assustadora e sinistra. Ele apenas sussurrou, sombriamente:

– Morra!

E gritou:

– EXPLOSÃO GALÁCTICA!!!!

 Ying arregalou os olhos. Não houve nem sequer tempo para pensar em qualquer reação.

– Kannon!!! NÃÃÃÃOOOOOO!!!AAAAAHHHHHHH!!!!

Seu grito ecoou por todo o Santuário.

Continua…

1 Cabeça da Serpente (N.A)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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