NOVA CHANCE PARA AMAR
Novela de Ramon Silva
Escrita por:
Ramon Silva
Direção-Geral:
Wellington Viana
PERSONAGENS DESTE CAPÍTULO
AMANDA
BEATRIZ
BELINHA
DANIELA
EDILEUSA
ELISA
GABRIELA
GUILHERME
GUSTAVINHO
JOSIAS
KLÉBER
LAURA
MAURÍCIO
NANDÃO
RAMIRO
REINALDO
RODRIGO
SALINA
SÉRGIO
SEVERO
VIVIANE
PARTICIPAÇÃO ESPECIAL:
AMANTE (NANDÃO), DIRETORA, POLICIAIS MILITARES, POLICIAIS CIVIS e PORTEIRO.
CENA 01. RIO DE JANEIRO. RUA DESERTA. EXT. NOITE.
Continuação não imediata da última cena do capítulo anterior. Polícia cerca a cena do crime. Presença de alguns curiosos e cinegrafistas/fotógrafos da imprensa. Peritos coletam capsulas de bala.
Em CORTES DESCONTÍNUOS: O corpo é removido do carro, é ensacado pela equipe da defesa civil, e levado até o rabecão. Instantes. Tensão.
CORTA PARA:
CENA 02. CASA ELISA. SALA. INT. NOITE.
Rodrigo e Elisa observam Salina e Laura conversando com Amanda e Sérgio. Belinha e Gustavinho brincam à parte.
RODRIGO — Brigado por ter comprado a minha ideia.
ELISA — Eu não poderia ser má ao ponto de deixar uma família se ter onde ficar.
RODRIGO — Bom, na verdade, todos os trabalhadores foram levados para um abrigo. Mas eu vi como essa família sofreu naquela fábrica e quis fazer algo a mais para ajudá-los, sabe? (Aponta) Tá vendo o Sérgio? No dia em que Ramiro me chamou para ir com ele até a fábrica, o Sérgio tinha sido espancado pelo líder da segurança da fábrica.
ELISA — Que horror!
RODRIGO — Elisa, não só esta família, mas todos os outros que eram explorados naquela fábrica, sofreram.
ELISA — Posso bem imaginar. (Pausa) Rodrigo, então… Eu andei pensando bem, e depois de quase ter sido perfurada pela Viviane, eu acho que estou pronta para dar mais um passo a diante na nossa relação.
RODRIGO — (Feliz) Sério?
ELISA — Sim.
RODRIGO — Finalmente esse dia chegou.
Rodrigo puxa Elisa para seus braços e a beija. CAM mostra Salina, Laura, Amanda e Sérgio que sorriem ao ver o beijo do casal. Instantes.
CORTA PARA:
CENA 03. PETRÓPOLIS. XÁCARA. SALA. INT. NOITE.
Móveis empoeirados, teias de aranha em alguns lugares. Beatriz, Ramiro e Viviane entram.
BEATRIZ — Que lugar é esse, Ramiro?
VIVIANE — Seja lá que lugar for este, não é habitado faz tempo. Olha que imundice isso.
RAMIRO — Essa xácara já pertenceu a nossa família.
BEATRIZ — Como? Eu nunca soube da existência dessa xácara!
RAMIRO — Pois é, Beatriz. No fundo o nosso pai escondia segredos até de você.
BEATRIZ — Por que você sabia disso e eu não?
RAMIRO — O nosso pai pode até ter deixado a maior parte das ações da Fabristilo pra você, mas esta xácara era minha. E sabe como eu descobrir? Quando seguir o nosso pai até aqui e o encontrei com uma amante.
Viviane revira os olhos diante da conversa dos dois e pega o cel. e mexe.
BEATRIZ — Bem a sua cara mesmo! Certamente esta xácara pertence a você por motivos de chantagem!
RAMIRO — Pode ser que sim. Mas de fato, a xácara já não é mais da nossa família faz anos!
BEATRIZ — E o que estamos fazendo aqui então?
RAMIRO — O dono nunca veio aqui. Tudo está exatamente igual. E olha que a última vez que eu vim aqui, foi em 2015.
VIVIANE — (Em choque, olhando p/cel.) Meu Deus!
BEATRIZ — Que foi, Viviane?
VIVIANE — Estão dizendo aqui que o Marcelo está morto.
RAMIRO — (Reage forte) Quê?!
BEATRIZ — Que história é essa Viviane?
VIVIANE — Um famoso portal de notícias postou há dez minutos um artigo noticiando que o Marcelo foi executado com cerca de 15 tiros de fuzil no seu carro tio Ramiro.
RAMIRO — (Transtornado) Meu Deus! (Gritando desesperado) Meu filho! Meu filho!
Beatriz apoia o irmão abraçando o mesmo, que chora muito. Viviane se emociona. Instantes.
CORTA PARA:
CENA 04. APART GABRIELA. SALA. INT. NOITE.
Reinaldo chega da clínica. Dani vem do quarto. Seu rosto está com uma fisionomia melhor, devido ao creme que Reinaldo passou nela.
DANIELA — Pai! Por que vocês sumiram desse jeito?
REINALDO — Filha, eu e sua mãe fomos resolver um problema.
DANIELA — E nem atendem o telefone. Liguei o dia todo.
REINALDO — Desculpa, filha. Estávamos ocupados com uma coisa muito importante.
DANIELA — (Sorrindo) Que coisa é essa? Você a mamãe voltaram?
REINALDO — Não, Dani. Inclusive conversamos sobre o que motivou o nosso divórcio. Não há nenhuma chance de isso acontecer. E além do mais, a sua mãe está feliz com o Guilherme. Eu respeito isso e fico feliz por ela. Mas já que a senhorita curiosa faz tanta questão de saber o que eu estava fazendo, acho que posso dizer.
DANIELA — (Curiosa) Fala, pai! Fala!
REINALDO — Eu estava participando de um estudo clínico, uma pesquisa.
DANIELA — É sobre essa doença que eu tenho?
REINALDO — Que nós temos! É isso sim.
DANIELA — (Feliz) Ai! Então eu vou voltar a ter minha pele como antes!
REINALDO — Sua mãe e o Guilherme estão fazendo o possível e o impossível para que você volte a ter tudo como antes.
DANIELA — A minha mãe é a melhor!
Fecha em Reinaldo, que sorrir. Instantes.
CORTA PARA:
CENA 05. CLÍNICA. LABORATÓRIO. INT. NOITE.
Gabriela e Guilherme ali.
GUILHERME — Acho que o resultado primário ficou bem claro.
GABRIELA — Concordo! O sistema imunológico do Reinaldo aceitou bem a substância. (Suspira) Ai, Guilherme. É inacreditável que finalmente estamos avançando. Obrigado! Obrigado pelo seu apoio nesse momento delicado que a Dani tá passando.
GUILHERME — Não precisa me agradecer. Eu tô aqui ao seu lado para o que for preciso!
Gabriela sorrir, feliz e volta analisar uma substância no microscópio.
GABRIELA — Guilherme, dá uma olhada nisso aqui.
GUILHERME — O quê?
GABRIELA — Tem algo novo nessa mistura. Veja que a membrana está à parte. Ela não está junto com as demais substâncias.
GUILHERME — Deixa eu ver. (olha pelo microscópio) Essa membrana não deveria estar aqui!
GABRIELA — (Estarrecida) Guilherme… Acho que sei porque essa membrana está aí.
GUILHERME — Por quê?
GABRIELA — Pensa aqui comigo. A mistura da substância a base de ureia e ácido salicílico com a seiva da Handrostrum, formou essa membrana.
GUILHERME — Então isso quer dizer que…
GABRIELA — A membrana é a solução! A partir do ponto em que a solução penetrar na pele após aplicação da substância, ela vai formar uma espécie de barreira.
GUILHERME — Não deixando assim a doença, digamos, transportar para fora dos poros da pele, é isso?
GABRIELA — Exatamente! A membrana vai formar um bloqueio.
GUILHERME — (Entusiasmado) Conseguimos, Gabi!
GABRIELA — Eu nem acredito!
Guilherme abraça Gabriela.
GUILHERME — Esse estudo pode ser muito bem-aceito na Sociedade de Dermatologia Brasileira.
GABRIELA — Temos que redigir tudo isso.
GUILHERME — Vou buscar meu notebook no consultório e volto já! (E sai.)
GABRIELA — (P/s, radiante) Conseguimos!
CORTA PARA:
CENA 06. CANARINHO. PONTO DE TÁXI. EXT. NOITE.
Nandão aos beijos com sua amante. Maurício a observar.
MAURÍCIO — Tá cada dia mais folgado, hein, Nandão!
NANDÃO — (Aos beijos, faz pausas para falar) Na boa Maurício do Táxi. Descola da sola da minha bota, mano!
MAURÍCIO — Se você acha que sabe o que tá fazendo, tá bom!
CAM mostra um ônibus se aproximando da rua perto da floresta. Edileusa salta. Maurício avista ela e arremata.
MAURÍCIO — (P/si) Agora que o barraco tá formado!
Edileusa se aproxima e ao ver o marido aos beijos com uma mulher, fica chocada.
EDILEUSA — (P/si, perplexa) Aquele é o Nandão? Desgraçado! Ele me paga!
MAURÍCIO — Oi, Edileusa.
Nandão arregala os olhos e para de beijar a amante e vira-se para Maurício, e Edileusa está ali.
NANDÃO — (Assustado) Edileusa?
EDILEUSA — (Indignada) Mas é um cafajeste mesmo! Eu trabalhando e você aqui com essa piranha!
AMANTE — Piranha não!
EDILEUSA — É piranha sim! Pegando marido dos outros!
NANDÃO — Não é nada disso que você tá pensando, Edileusa?
EDILEUSA — Ah, não? Agora vai querer me dizer que eu não te vi beijando essa piranha?! Não vai querer me dizer que você estava “salvando a piranha de se afogar”! Até porque piranha sabe nadar nas águas da maré VIOLENTA!
Edileusa avança pra cima da mulher, dando chutes e tenta agarrar o cabelo da mesma. Nandão a contém. Maurício só observa e sorrir.
NANDÃO — Para com isso, Edileusa!
EDILEUSA — Eu paro! Paro sim! Você merece apanhar mais do que ela (dá tapas nele)
NANDÃO — (Se protege) Para, Edileusa!
EDILEUSA — Cachorro! Sem vergonha! Quer saber de uma coisa, Nandão? Chega! Cansei disso tudo! Na minha casa você não entra mais!
NANDÃO — Mas as minhas coisas estão lá!
EDILEUSA — Estão? Então se prepare para pegá-las na calçada!
MAURÍCIO — (Debochado) Ou então você pode fazer uma fogueira, Edileusa.
EDILEUSA — Boa ideia, Nandão!
Edileusa segue se afastando.
NANDÃO — (Sarcasmo) Valeu pela ajuda, hein, cara! (Vai atrás de Edileusa) Espera aí, Edileusa. Não dá ouvidos pro que o Maurício falou.
MAURÍCIO — (P/si, sorrindo) Não foi por falta de aviso!
Um carro da polícia passa por Maurício.
MAURÍCIO — (Sério) Eu, hein! O que esse carro da polícia faz por aqui?
CORTA PARA:
CENA 07. CASA ELISA. SALA. INT. NOITE.
Rodrigo, Elisa, Gustavinho, Laura, Salina, Amanda, Sérgio e Belinha ali conversando.
SÉRGIO — A gente sofreu bastante naquela fábrica.
SALINA — Posso imaginar. Meu Deus! Que coisa terrível!
AMANDA — No meu caso passei por momentos mais difíceis há alguns meses. Principalmente quando a Regina inventou de querer que a minha filha morasse com ela.
LAURA — Essa mulher com sua filha, não! Ela era terrível!
AMANDA — Era sim.
ELISA — Mas que bom que o Rodrigo trouxe vocês pra cá. Agora vocês estão salvos e em paz.
AMANDA — Muito obrigada por ter recebido a gente, Elisa.
ELISA — Que nada! Acho que qualquer pessoa que tem um senso de sensibilidade não deixaria de ajudar.
Alguém bate na porta.
RODRIGO — Tá esperando alguém, Elisa?
ELISA — Não. Deixa que eu vou atender.
Ela se levanta e abre a porta, e são dois policiais.
POLICIAL 1 — Boa noite, senhora. Estamos procurando o Rodrigo Garcia Vieira.
RODRIGO — (Se aproxima) Sou eu.
POLICIAL 1 — Marcelo, filho do seu Ramiro Vieira, foi assassinado e a última ligação que partiu do celular dele, foi pra você.
Reação dos demais sentados no sofá surpresos.
RODRIGO — (Em choque) O Marcelo? Meu Deus! Quem faria uma coisa dessas com ele?
POLICIAL 1 — Podemos conversar a sós aqui fora?
RODRIGO — Claro. (P/Elisa) Daqui a pouco eu volto.
ELISA — Tá bom.
Todos ficam ali surpresos. Sérgio fica mais pensativo que os demais. Instantes.
CORTA PARA:
CENA 08. CASA ELISA. FRENTE. EXT. NOITE.
Rodrigo e os policiais 1 e 2 ali.
RODRIGO — Eu não cheguei a receber essa ligação do Marcelo, porque fiquei sem bateria. Quando estava na fábrica denunciando o trabalho escravo, foi até o celular do Nandão, o taxista que estava comigo, que eu utilizei pra ligar.
POLICIAL 2 — O senhor vê alguma correlação entre a denúncia do trabalho escravo e a execução do filho do dono da Fabristilo?
RODRIGO — Sinceramente não sei. O Marcelo não era focado nos negócios da família.
Sérgio sai da casa e se aproxima.
SÉRGIO — Desculpa atrapalhar. Eu passei muitos anos trabalhando forçadamente na fábrica da Fabristilo. E nesse tempo eu conheci um homem que, com certeza, seria capaz de fazer isso! Ainda mais depois de ter sido demitido.
POLICIAL 2 — Quem?
SÉRGIO — Kléber, o chefe da segurança na fábrica.
CORTA PARA:
CENA 09. RIO DE JANEIRO. RUA. INT. NOITE.
Carro estacionado. Kléber ali a ler a reportagem da morte de Marcelo, no cel.
KLÉBER — (P/si, furioso dá socos no volante) Droga! Droga! Droga! Ramiro que deveria estar naquele carro! Desgraçado! (Digita) Serviço fail, mas ainda vou te matar, seu desgraçado! (P/si indeciso) Envio ou não?
CORTA PARA:
CENA 10. PETRÓPOLIS. XÁCARA. SALA. INT. NOITE.
Ramiro ainda em choque. Viviane pensativa. Beatriz vem da cozinha com um copo d’água.
BEATRIZ — Não tem nada nessa xácara! Toma esse copo d’água, da bica mesmo.
RAMIRO — (Áspero) Não quero água nenhuma, Beatriz!
VIVIANE — Acho que a gente tem que deixar o país.
RAMIRO — (Sarcasmo) Jura que você acha isso, Viviane?!
BEATRIZ — Ramiro, eu sei que isso é uma fatalidade. Mas a Vivi está certa. A gente tem que pensar agora numa forma de fugir sem que sejamos pegos!
RAMIRO — Eu não vou a lugar nenhum até saber quem matou o meu filho!
Cel. de Ramiro notifica mensagem. Ele pega e lê.
RAMIRO — Desgraçado!
BEATRIZ — Que foi, Ramiro?
RAMIRO — (Pega uma arma na mala e coloca na parte de trás da calça) Tenho que acertar as contas com uma pessoa. Se eu não voltar até o meio dia de amanhã, vocês podem fugir! (E sai)
BEATRIZ — Ramiro, espera aí, Ramiro! Aonde você vai desse jeito?
VIVIANE — Deixa ele, mãe. O tio Ramiro precisa espairecer.
BEATRIZ — Espairecer? Com a polícia caçando a gente que nem caçam terroristas? Ramiro só pode ter ficado louco!
CORTA PARA:
CENA 11. CASA ELISA. SALA. INT. NOITE.
Rodrigo pensativo, escorre uma lágrima de seus olhos. Elisa vem do quarto.
ELISA — O que você ainda tá fazendo aqui nesse sofá, Rodrigo? Vem deitar.
RODRIGO — Coloquei meu celular pra carregar depois que os policiais foram embora… Olha porque o Marcelo me ligou.
Elisa pega o celular, se senta no sofá e ouve.
MARCELO — (OFF) Rodrigo, eu tô tentando falar com você o dia todo, cara. Descobrir tudo sobre a Fabristilo e as indústrias do seu pai na França. Todas as informações estavam num programa com a sigla NCIF. Eu tô com um Pen drive com todas as informações, mas deixei um com a secretária caso você aparecesse na empresa hoje. Assim que ouvir isso, me liga.
ELISA — Mas que informações são essas?
RODRIGO — Amanhã eu pego esse Pen drive com a secretária e vou saber de tudo.
ELISA — Tá. Então vamos deixar isso pra amanhã. Agora vem.
RODRIGO — Não, Elisa. Tô bem aqui.
ELISA — Se eu te deixar aqui, você vai ficar nesse sofá a noite toda em claro. Vem dormir.
Elisa puxa Rodrigo para o quarto.
CORTA PARA:
CENA 12. CASA ELISA. QUARTO ELISA. INT. NOITE.
Atenção Sonoplastia: Quando Um Grande Amor se Faz.
Rodrigo e Elisa entram e se sentam na cama. Elisa olha Rodrigo por um instante. Rodrigo a beija apaixonadamente e eles se deitam na cama e continuam no “maior amasso”. CORTE DESCONTÍNUO: Rodrigo e Elisa transam intensamente. Instantes. Romance hot.
CORTA PARA:
CENA 13. RIO DE JANEIRO. STOCK-SHOTS. AMANHECER.
Takes aéreos do nascer do sol, Cristo Redentor. Instantes.
CORTA PARA:
CENA 14. PRÉDIO FABRISTILO. FRENTE. EXT. DIA.
Carros da polícia civil estacionados. Muito movimento. Rodrigo se aproxima.
RODRIGO — O que tá acontecendo aqui?
Policiais saem com computadores, notebooks e um saco cheio de documentos. Rodrigo tenta entrar no prédio, mas é impedido por um policial.
POLICIAL C — Opa! Onde o senhor pensa que vai?
RODRIGO — Eu sou funcionário.
POLICIAL C — Lamento, mas ninguém pode entrar.
RODRIGO — Policial, eu preciso falar com a secretária.
POLICIAL C — Meu amigo, ninguém pode entrar neste prédio. Você como funcionário deve saber bem que essa empresa está sendo investigada por vários crimes!
Rodrigo fica sem saber o que fazer. Aflito, ele passa a mão no cabelo. Instantes.
CORTA PARA:
CENA 15. CLÍNICA. LABORATÓRIO. INT. DIA.
Gabriela e Guilherme a dormir debruçados sobre uma papelada e notebook. Gabriela acorda assustada.
GABRIELA — Ai, meu Deus! Que hora deve ser isso.
GUILHERME — (Sonolento) Sério que a gente apagou aqui mesmo no laboratório?
GABRIELA — (Olha no cel.) São quase nove da manhã.
GUILHERME — Bom, pelo menos conseguimos terminar o artigo para apresentar na Sociedade de Dermatologia.
GABRIELA — Eu tenho um compromisso as dez e meia no colégio da Dani, mas acho que dá tempo de dar uma passadinha no centro e resolver isso.
GUILHERME — Eu vou com você.
GABRIELA — Então vamos logo que hoje eu estou muito atarefada.
Gabriela e Guilherme pegam seus pertences, incluindo o notebook e saem apressados.
CORTA PARA:
CENA 16. CANARINHO. PRAÇA. EXT. DIA.
Gustavinho e Belinha brincam de pega-pega. Amanda sorrir ao ver que a filha está feliz.
AMANDA — (P/si) Como eu queria que você tivesse aqui, Camila. Liberdade, o que sempre quisemos.
Sérgio se aproxima.
SÉRGIO — Belinha parece estar se divertindo.
AMANDA — Está sim.
SÉRGIO — O que você tem, Amanda?
AMANDA — Ah, Sérgio! É inacreditável o que aconteceu com a Camila! Os policiais nem sabiam se ela era a vítima ou a opressora e saíram atirando!
SÉRGIO — (Abraça a amada) Eu sei que é difícil, Amanda. Também não tem como a gente julgar os policiais. Eles não sabiam quem era quem. Pelo que você me contou, a Camila ficou assustada e queria sair. Talvez eles a confundiram como uma das mandantes dos trabalhadores.
AMANDA — Independente disso eles estão errados! Não teriam nada que atirar e matar a minha amiga!
SÉRGIO — A gente vai passar por mais isso, Amanda.
AMANDA — Eu sei. Mas não é fácil.
SÉRGIO — Veja como a nossa filha está feliz! Ela finalmente pode ser uma criança como outra qualquer! Ela pode ser, livre, ela pode brincar e se divertir! Vida nova, meu amor.
Sérgio e Amanda ficam abraçadinhos a observar a filha. CAM mostra Belinha e Gustavinho brincando de pega-pega. Instantes.
CORTA PARA:
CENA 17. HOSPITAL. QUARTO. INT. DIA.
Severo recebe alta. Laura, Elisa e Maurício comemoram.
LAURA — Graças a Deus que você pode voltar pra casa! É chato? É. Mas é o meu chato de galocha.
ELISA — Muito feliz pela sua recuperação, pai.
SEVERO — Depois vamos conversar sobre aquilo.
LAURA — Aquilo o quê?
SEVERO — A Elisa sabe muito bem.
ELISA — Depois falamos sobre isso.
SEVERO — Foi tudo uma loucura, mas eu estou vivo!
MAURÍCIO — (Brinca) Até porque vaso ruim não quebra, né, Severão!
Todos sorriem.
SEVERO — (Sorrir) Esse vaso ruim aqui ainda vai dar muito trabalho pra vocês!
Maurício ajuda Severo a levantar da cama e todos deixam o quarto.
CORTA PARA:
CENA 18 PRÉDIO FABRISTILO. FRENTE. EXT. DIA.
Rodrigo inquieto andando de um lado para o outro.
RODRIGO — (P/si) Qual era mesmo o nome daquela secretária? (Chama) Seu porteiro?
PORTEIRO — Pois não, seu Rodrigo?
RODRIGO — Você sabe de alguma coisa sobre a secretária do Ramiro?
PORTEIRO — Da Kátia? Não sei muita coisa. Ela sempre passava rápido pela portaria.
RODRIGO — Você não saberia me dizer onde ela mora?
PORTEIRO — (Sarcasmo) Seu Rodrigo… Eu sou Porteiro, não o gestor de RH que sabe o endereço dos funcionários.
Porteiro se afasta. Rodrigo fica ali sem saber o que fazer. Instantes.
CORTA PARA:
CENA 19. BAR DO TIO JÔ. INT. DIA.
Jô ali sentado. Salina entra.
JOSIAS — Bom dia, freguesa!
SALINA — Bom dia. Desde que cheguei aqui no bairro que não pude deixar de perceber o seu bar.
JOSIAS — Jura? O meu bar passa tão despercebido quanto um cachorro de rua abandonado.
SALINA — Eu sou ex-sogra da Elisa, mãe do Marcos.
JOSIAS — Não brinca! O Marcos ficava muito aqui no meu bar.
SALINA — Eu sei. Ele chegou a comentar comigo sobre você em Angra. Sou Salina.
JOSIAS — (A cumprimenta) Prazer, Salina, sou Josias, ou tio Jô. Olha, meus pêsames pela sua perda.
SALINA — Obrigada! Não é fácil perder um filho assim. Ainda mais do jeito que o Marcos tava.
JOSIAS — Aceita um suco, uma água, um salgado?
SALINA — (Sorrir) Só água tá bom.
JOSIAS — Vou pegar pra você.
Josias vai para a cozinha.
SALINA — Que senhor simpático.
CORTA PARA:
CENA 20. RJ. CENTRO. PRÉDIO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE DERMATOLOGIA REGIONAL. FRENTE. EXT. DIA.
Carro de Gabriela se aproxima e estaciona em frente ao prédio. Gabriela e Guilherme saltam do carro. Gabriela com uma papelada de cerca de 30 páginas em mãos.
GUILHERME — Chegou a hora, Gabriela!
GABRIELA — Tô muito nervosa!
GUILHERME — Não fique. Vai dar tudo certo.
Guilherme estende a mão à Gabriela, que segura na mão dele e respira fundo. Os dois entram no prédio.
CORTA PARA:
CENA 21. RIO DE JANEIRO. AVENIDA. INT. DIA.
Ramiro dirigindo outro carro diferente. Seu cel. começa a tocar. Ele atende.
RAMIRO — (Ao cel.) Pode falar. Já não era sem tempo! Estou desde ontem zanzando pela cidade esperando notícias! Ah, ele foi localizado! Sabia que depois de tê-lo demitido, ele te procuraria. Obrigado! (Pausa) Seu pagamento? Assim que o trabalho estiver concluído.
Ele desliga e foca no trânsito, sério. Instantes. Tensão.
CORTA PARA:
CENA 22. CASA LAURA E SEVERO. FRENTE. EXT. DIA.
Táxi de Maurício se aproxima e para. Laura, Elisa e Maurício saltam e ajudam Severo a saltar.
MAURÍCIO — Pera aí que a gente vai te ajudar, Severão!
SEVERO — Não precisa também ficar me tratando como um doente.
LAURA — Você está doente, Severo! Levou uma tesourada que quase te mata!
SEVERO — Laura, eu/
ELISA — (Corta, firme) Para com isso, pai! Não tá vendo que a gente só quer te ajudar.
SEVERO — Tudo bem.
LAURA — Só a Elisa mesmo pra calar o Severo.
Os quatro entram na casa. CAM mostra Salina e Josias, que se aproximam da porta do bar. Salina bebendo a garrafinha d’água.
SALINA — Que bom que o Severo está melhor, né?
JOSIAS — (sem graça) É.
SALINA — Vamos lá visitar ele, Jô.
JOSIAS — Salina, então, o Severo e eu temos a nossa desavença.
SALINA — Mas o que é isso, Jô?! Diante de doença tem que deixar isso pra lá.
JOSIAS — Não, quando uma rivalidade vem desde a primeira geração da família. Olha, eu agradeço o convite, mas vou ser obrigado a declinar!
SALINA — Tá bom então. Desculpa pelo inconveniente.
JOSIAS — Que nada.
Salina sai do bar, atravessa a rua e entra na casa de Laura e Severo.
JOSIAS — (P/si) Muito simpática essa mãe do finado Marcos. (Olha p/ céu, faz sinal da cruz) Que Deus o tenha.
CORTA PARA:
CENA 23. PETRÓPOLIS. XÁCARA. SALA. INT. DIA.
Beatriz e Viviane com malas prontas para irem embora.
BEATRIZ — Cadê o Ramiro, Viviane?
VIVIANE — E eu que vou saber, mãe?! Ele foi muito claro quando disse que poderíamos fugir se ele não chegasse até o meio dia.
BEATRIZ — Aí é que está o problema! Faltam meia hora para o meio dia!
VIVIANE — Acho que a gente deveria dar no pé, mãe.
BEATRIZ — Nada disso! Vamos esperar mais um pouco!
VIVIANE — Esperar pra ser presa? Nunca!
BEATRIZ — Vamos esperar até meio dia, se ele não aparecer, a gente vai.
VIVIANE — Vamos mesmo! Sou muito bela e Superiora, como aquela puxa saco da Edileusa falava, pra ser presa.
Fecha em Beatriz apreensiva a espera do irmão. Instantes.
CORTA PARA:
CENA 24. COLÉGIO PARTICULAR. AUDITÓRIO. INT. DIA.
Reinaldo ali na primeira fila da plateia, que por sua vez, está lotada de pais de alunos.
REINALDO — (P/si) Cadê você que não chega, hein, Gabriela?
A diretora sobe ao palco e fala ao microfone.
DIRETORA — Bom, a Gabriela está um pouco atrasada, mas ela já está chegando.
Gabriela e Guilherme chegam apressados. Gabriela dá a bolsa e todos os pertences a Guilherme, que se senta ao lado de Reinaldo e o cumprimenta.
DIRETORA — Aqui está ela. Recebam a dermatologista Gabriela Gonçalves.
Gabriela sobe ao palco.
GABRIELA — Bom dia a todos! Bom, primeiramente eu gostaria de me desculpar por quase uma hora de atrasado. Mas tive que resolver algumas questões antes de vir pra cá. Acredito eu que quando convocou essa reunião com os pais, a diretora deve ter dito o motivo para tal. Pois bem, eu sou mãe da Daniela.
Durante as falas de Gabriela, entram algumas imagens de pacientes portadores da ictiose lamelar e vulgar, no telão ao fundo dela
GABRIELA — Como todos as senhoras e senhores podem ver, a ictiose, doença que a Dani possui, tem uma característica que é descamativa e hereditária. Não é uma doença contagiosa. Portanto, não há motivo para que olhem para um portador da Ictiose com nojo e achar que se encostar, pegou a doença. Não é bem assim. Eu como mãe, fico muito machucada de saber que minha filha não pode mais conviver com os outros. Não que a doença seja contagiosa, mas pelo julgamento, pelos olhares tortos. A Dani só tem 10 anos. Ela não sabe ainda lidar bem com essas questões. As vezes até nós, adultos sofremos com alguma coisa do nosso cotidiano. Agora parem e pensem numa menina de 10 anos sendo alvo de todos os cometários e olhares tortos dentro do colégio. Difícil não é? A Diretora quando marcou esta reunião eu confesso que fiquei cismada. Quero que todos os pais aqui presentes, saibam que minha intenção ao subir neste palco não é julgar se vocês são péssimos pais ou que não sabem criar os seus filhos. Não é isso! Estou aqui para compartilhar com vocês essas informações. Estou aqui porque minha filha tem direito de ser feliz, livre independentemente da doença que ela possui. Nós como sociedade, temos que respeitar as diferenças sejam elas quais forem! (Emocionada) Só isso que peço!
Os pais da plateia aplaudem Gabriela de pé. Diretora sobe ao palco e abraça Gabriela, que ainda está muito emocionada. Reinaldo e Guilherme assobiam para ela e se abraçam felizes. Instantes.
CORTA PARA:
CENA 25. RUA DE TERRA. EXT. DIA.
Atenção Sonoplastia: Instrumental – Tensão.
CAM mostra Ramiro escondido no mato. Mesmo carro que Kléber matou Marcelo se aproxima e para. Kléber salta do carro e fica a olhar para o lugar deserto. Ramiro sai do mato com a arma em punho.
RAMIRO — Levanta a mão! Levanta a mão!
KLÉBER — (Ergue as mãos) Ora, ora, ora… A esta altura do campeonato, imaginei que os Vieira estariam longe do país.
RAMIRO — Não antes de resolver o que temos pendente!
KLÉBER — E o que temos pendente? Pelo que eu saiba você me demitiu e eu obedeci.
RAMIRO — Não seja leviano, Kléber! Você matou o meu filho!
KLÉBER — Será que foi eu mesmo, Ramiro? Um homem que nem você deve ter muitos inimigos.
RAMIRO — Não brica comigo, Kléber! Eu sei que foi você!
KLÉBER — Tá, e se foi eu. Você vai fazer o quê?
RAMIRO — Este lugar já não responde a sua pergunta? (Atira na perna de Kléber)
KLÉBER — (Rola pelo chão) Ai, minha perna! Minha perna! Desgraçado!
Ramiro se agacha e coloca a arma apontada para a testa de Kléber.
RAMIRO — Você matou o meu filho! Por quê? Achou que era eu no carro?
KLÉBER — Eu não vim até aqui pra ficar de conversinha fiada! Se vai me matar, aperta logo a porra desse gatilho! Vai! Me mata!
Fecha em Ramiro com ódios nos olhos. Instantes. Suspense. Tensão.
CORTA PARA:
CENA 26. CASA ELISA. SALA. INT. DIA.
Rodrigo ali com Elisa.
RODRIGO — Não conseguir encontrar a tal secretária, Elisa.
ELISA — E agora, Rodrigo? Ela é a única que pode te dar esse Pen drive.
RODRIGO — A única coisa que eu descobrir com o porteiro do prédio é que o nome dela é Kátia.
Alguém bate na porta. Elisa vai atender. Os mesmos policiais da cena 07, entram com um mandado.
POLICIAL 1 — Estamos procurando o senhor Rodrigo.
ELISA — Rodrigo, é pra você.
RODRIGO — Pois não?
POLICIAL 2 — (Algemando-o) Você está preso!
RODRIGO — Quê?! Mas por quê?
ELISA — Com certeza é algum engano.
POLICIAL 1 — Não é nenhum engano não, senhora. Rodrigo Garcia Vieira está sendo acusado de realizar contratos fraudulentos com empresas estrangeiras!
Closes alternados em Rodrigo e Elisa estáticos com a notícia recebida. Instantes. Suspense. Tensão.
CORTA PARA:
FIM DO QUADRAGÉSIMO PRIMEIRO CAPÍTULO