NOVA CHANCE PARA AMAR
Novela de Ramon Silva
Escrita Por:
Ramon Silva
Direção Geral:
Wellington Viana
PERSONAGENS DESTE CAPÍTULO
BEATRIZ
BELINHA
CAMILA
EDILEUSA
ELISA
GUSTAVINHO
JOSIAS
KLÉBER
LAURA
MARCELO
MARCOS
MOREIRA
RAMIRO
REGINA
RICK
RODRIGO
VIVIANE
PARTICIPAÇÃO ESPECIAL:
HOMEM, MÉDICO e PARAMÉDICOS.
CENA 01. PRAIA DA BARRA. ORLA. EXT. NOITE.
Continuação imediata da última cena do capítulo anterior. Rodrigo ainda ali deitado no chão com a mão no ferimento. CAM mostra um Homem (Figurante) atravessando a rua e se aproximando.
HOMEM — Aquele bandido feriu você?
Rodrigo meneia a cabeça que sim e tira a mão do ferimento.
HOMEM — Aguenta aí que eu vou ligar pro socorro.
O homem pega o cel. e começa a teclar o número. Close em Rodrigo com dor no local do ferimento. Instantes. Tensão.
CORTA PARA:
CENA 02. FÁBRICA. CASA REGINA. QUARTO CASAL. INT. NOITE.
Kléber ali sentado na cama. Regina entra.
REGINA — (Chama) Kléber?
KLÉBER — O que é, Regina?
REGINA — Por que você tá agindo desse jeito? Até parece que a menina é um problema!
KLÉBER — Você sabe muito bem que não é somente por causa da menina!
REGINA — Ah, não? Então por que você começou a agir tão estranhamente depois que soube que Belinha vai ficar aqui em casa a partir de hoje?
KLÉBER — Você quer mesmo que eu responda, Regina?
REGINA — Não! Nunca mais vamos falar disso!
KLÉBER — Ah, bem. Pensei que fosse necessário explanar aqui o motivo disso tudo! Você sabe que tá vivendo uma espécie de fantasia com essa menina aqui dentro de casa, né?
REGINA — Eu sei, Kléber! Eu sei que ela tem pai e mãe! Mas deixa eu curtir isso por um instante?
KLÉBER — Você é quem sabe, Regina! Não adianta falar mesmo! Você nunca ouve ninguém!
Kléber sai e Regina permanece ali pensativa. Instantes.
CORTA PARA:
CENA 03. PRAIA DA BARRA. ORLA. EXT. NOITE.
Ambulância ali estacionada. Dois paramédicos prestando os primeiros socorros a Rodrigo. Homem que ligou para a emergência ali acompanhando tudo.
HOMEM — Fica firme, cara. Eles vão te ajudar.
RODRIGO — (Com dificuldade de fala) Obriga… do.
HOMEM — De nada.
Os paramédicos levam Rodrigo na maca para a ambulância, que sai disparada. Instantes. Tensão.
CORTA PARA:
CENA 04. MANSÃO VIEIRA. COZINHA. INT. NOITE.
Rick sentado à mesa mexendo no cel. Viviane vem da cozinha.
VIVIANE — Só ficou você hoje?
RICK — Sim. Edileusa e Elisa já foram.
VIVIANE — Uma casa desse tamanho e só tem duas empregadas?
RICK — A outra está de férias.
VIVIANE — Ah, sim. Você viu se o Rodrigo passou por aqui?
RICK — Não. Ele até veio aqui, mas já faz um tempinho já. Estava atrás da Elisa.
VIVIANE — Atrás da empregada novata?
RICK — É.
VIVIANE — O que o Rodrigo tanto quer com essa mulher?
Viviane volta à sala.
RICK — (P/si, sorrir) Joguei a sementinha da intriga… Agora é só aguardar florescer.
CORTA PARA:
CENA 05. MANSÃO VIEIRA. SALA DE ESTAR. INT. NOITE.
Beatriz e Viviane ali.
VIVIANE — E a senhora ainda acha que eu não estou certa ao desconfiar!
BEATRIZ — Calma, Viviane! Desde que voltou da cozinha que não para de falar! O que exatamente você descobriu?
VIVIANE — Aquele rapaz, motorista. Esqueci o nome do estrupício.
BEATRIZ — Rick.
VIVIANE — Isso. Rick me disse que Rodrigo foi perguntar da empregada novata.
Ramiro desce a escada.
RAMIRO — Que empregada novata?
BEATRIZ — Uma menina que eu contratei hoje.
RAMIRO — Ah… Contrata gente nova pra minha casa e não me avisa?
BEATRIZ — E por que eu avisaria? Você cuida dos negócios da família e eu coordeno esta casa.
RAMIRO — Mais gastos!
BEATRIZ — Com Viviane e Rodrigo chegando, Edileusa sozinha não daria conta.
RAMIRO — E a mosca morta daquela outra empregada?
BEATRIZ — Está de férias.
Fecha em Viviane pensativa, invocada. Instantes.
CORTA PARA:
CENA 06. CASA LAURA E SEVERO. COZINHA. INT. NOITE.
Elisa sentada à mesa. Laura pegando uma latinha de cerveja na cozinha e dá a Gustavinho.
LAURA — Entrega essa latinha pro chato do seu avô antes que eu perca a paciência, com ele me chamando toda hora.
GUSTAVINHO — Tá bom, vó.
Gustavinho vai para a sala.
ELISA — Gustavinho não deu trabalho pra senhora não, né, mãe?
LAURA — (Se senta a mesa) Que nada, Elisa. Meu neto é um doce de menino. Comportado até demais. Ainda quando ele tá jogando no celular ou vendo desenho.
ELISA — Verdade. Pelo menos assim eu trabalho mais aliviada de saber que ele não tá dando trabalho pra senhora.
LAURA — Que isso, minha filha? Se ele fosse essas crianças arteiras, eu dava um corretivo nele e tudo resolvido. Sou avô, tenho direito de corrigir quando necessário. (Lembra) Ah… Aproveitando que estamos só nós duas aqui, deixa eu te falar, filha. O Marcos teve aqui hoje.
ELISA — O que ele veio fazer aqui de novo?
LAURA — Disse que queria falar com você sobre os dias que ele quer ficar com o Gustavinho.
ELISA — Lá vem o Marcos de novo com essa história. Não me sinto nem um pouco confortável em deixar o Gustavinho com ele.
LAURA — Seu pai não pode nem imaginar que ele esteve aqui!
ELISA — Não pode mesmo, não. Depois do que aconteceu, papai tá odiando o Marcos. Quer dizer… Odiar ele sempre odiou, mas agora parece que tá pior!
Fecha em Laura que meneia a cabeça concordando. Instantes.
CORTA PARA:
CENA 07. HOSPITAL PÚBLICO. CORREDOR. INT. NOITE.
Corredor lotado de pacientes. Paramédicos entram apressados, com Rodrigo na maca. Um médico se aproxima.
PARAMÉDICO — Homem ferido por uma faca. Ao que indica o corte não foi profundo.
MÉDICO — OK. Levem-no para a enfermaria.
Os paramédicos seguem com Rodrigo. CAM registra o sofrimento dos pacientes ali no corredor. Instantes.
CORTA PARA:
CENA 08. HOSPITAL PÚBLICO. ENFERMARIA. INT. NOITE.
Rodrigo deitado com muita dor. Médico se aproxima.
MÉDICO — Não tem ficha nem nada. Qual o seu nome?
RODRIGO — (Com dificuldade de fala) Rodrigo Garcia Vieira.
MÉDICO — Muito bem, Rodrigo. Vamos analisar esse ferimento aí?
Rodrigo levanta a camisa e o doutor a analisar a ferida.
MÉDICO — Parece ter sido de raspão. Bom, vou mandar uma medicação para dor, logo depois de medicado, limparemos esta ferida para averiguação da profundidade do corte.
RODRIGO — Precisa de operação?
MÉDICO — Primeiro vamos fazer a análise do ferimento. Mas ao que tudo indica, não vai precisar de cirurgia.
O médico se afasta. Rodrigo aflito com a mão sobre a ferida. Instantes. Tensão.
CORTA PARA:
CENA 09. FÁBRICA. CASA REGINA. SALA. INT. NOITE.
Belinha na janela a olhar. Regina vem do quarto.
REGINA — Preocupada com seus pais?
BELINHA — Um pouco. Nunca fiquei tanto tempo longe deles.
REGINA — Relaxa, Belinha. Amanhã você vai vê-los.
BELINHA — Mas eles não sabem onde eu tô. Minha mãe deve tá preocupada.
REGINA — Se preocupa não que depois eu ligo pro Moreira e peço a ele pra avisá-los. Pode ser assim?
BELINHA — Pode, né!
REGINA — (Sorrir) Por isso que gosto de você, Belinha! É firme quando tem que responder e não manda recado. Agora, vamos conhecer o seu quarto?
BELINHA — Vamos, ué!
As duas vão para o quarto.
CORTA PARA:
CENA 10. BAR DO TIO JÔ. INT. NOITE.
Jô e Marcos ali sentados à mesa.
JOSIAS — Você acha mesmo que isso vai funcionar, Marcos?
MARCOS — Claro que vai, Jô. Você tá por fora. Andei dando uma pesquisada pra deixar esse bar um “boteco de sucesso”.
JOSIAS — Mas como funcionaria isso?
MARCOS — Ôh, Jô. É assim: você deve primeiro pesquisar a tenência atual.
JOSIAS — Tendência? Mas o que é isso, Marcos?
MARCOS — Vai ser mais difícil do que eu imaginava. Você deve saber o que os clientes querem e o que eles procuram.
JOSIAS — O que os clientes procuram num bar, Marcos? Encher a cara!
MARCOS — Aí é que você se engana, Jô. Os botecos hoje em dia não sobrevivem só de cachaça. Um dos pontos que mais atrai os clientes é o cardápio. Isso que tem no bar tá ultrapassado. Quanto tempo esse cardápio não é alterado?
JOSIAS — Ah… Desde 2005.
MARCOS — (Surpreso) Como é que é? Esse cardápio tem quinze anos? Então é pelo cardápio que devemos começar
Eles continuam a conversar fora de áudio. Instantes.
CORTA PARA:
CENA 11. FÁBRICA. CASA REGINA. QUARTO. INT. NOITE.
Quarto rosa. Muitos brinquedos. Regina e Belinha entram.
BELINHA — (Impressionada) Nossa!
REGINA — Gostou?
BELINHA — Sim, é lindo o quarto. Você tem filha, Regina?
REGINA — Não.
BELINHA — Então porque esse quarto todo cor de rosa?
REGINA — Nada não, Belinha. (Abre o guarda roupas lotado) Olha a variedade de roupas que você tem agora, Belinha.
BELINHA — (Pega uma blusa) Igual uma que eu sempre quis. Mas meus pais nunca puderam comprar pra mim.
REGINA — Pois é. E agora ela é sua.
Fecha em Belinha toda boba com a blusa. Instantes.
CORTA PARA:
CENA 12. RIO DE JANEIRO. STOCK-SHOTS. EXT. AMANHECER.
Takes do amanhecer na cidade maravilhosa. CAM aérea sobrevoa orla de Ipanema, Cristo Redentor, Pão de Açúcar. Instantes.
CORTA PARA:
CENA 13. HOSPITAL PÚBLICO. FRENTE. EXT./ INT. MANHÃ.
Movimentação de ambulâncias e pessoas ali. CAM mostra o carro da família Vieira se aproximando, pelo porte do carro, pessoas não param de olhar. Corta para dentro do carro:
VIVIANE — Tem certeza que é aqui mesmo?
BEATRIZ — A menina disse hospital público. Você que é pobre e depende do SUS, Rick. É esse hospital aqui mesmo?
RICK — Sim, dona Beatriz. Esse é o único.
VIVIANE — Por que olham tanto pra gente?
BEATRIZ — Povo pobre que nunca viu um carro desse nível antes.
VIVIANE — Tô até com medo de sair do carro e ser assaltada.
RICK — Se quiser eu posso entrar e trazer o seu Rodrigo.
VIVIANE — Você faria isso, Rick? Não quero descer no meio desses pobres.
RICK — Claro.
BEATRIZ — Então vai lá e traga o Rodrigo. E tranca o carro quando sair, não quero ser sequestrada nesse âmbito abominável.
Corta para fora do carro: Rick salta, trava as portas e entra no hospital.
CORTA PARA:
CENA 14. CANARINHO. PRAÇA. EXT. MANHÃ.
Elisa ali sentada.
ELISA — (P/si) Cadê a Edileusa que até agora nada? Depois ainda age como se eu fosse à atrazilda.
Marcos se aproxima.
MARCOS — Elisa?
ELISA — O que é isso? Você tá me perseguindo, Marcos?
MARCOS — Não, Elisa, claro que não! Eu só quero conversar com você sobre aquele assunto. Não sei se sua mãe te falou, mas/
ELISA — (Corta) Sim, ela disse que você teve a cara de pau de bater lá de novo. Marcos, às vezes eu acho que você tem problema! Meu pai já disse não querer você lá.
MARCOS — Eu sei! Mas acontece que vocês não tem o poder de me proibir de ver o meu filho. E eu faço questão de passar uns dias com ele!
ELISA — Marcos, olha a hora da manhã que estamos falando sobre isso! Eu estou indo trabalhar!
MARCOS — Tudo bem, Elisa. Já que você quer assim, depois não reclame quando eu entrar na justiça e querer o meu direito de ver o meu filho!
ELISA — Sabia! Sabia que tinha a intenção de me atingir por de trás disso tudo!
MARCOS — Não, Elisa! Não tem segunda intenção nenhuma! Mas já que você tá agindo assim, eu também vou dar um de maluco e entrar com uma ação contra você!
Marcos se afasta, deixando Elisa ali pensativa. Instantes.
CORTA PARA:
CENA 15. HOSPITAL PÚBLICO. ENFERMARIA. INT. MANHÃ.
Rodrigo ali deitado. Rick se aproxima.
RICK — Seu Rodrigo, como o senhor está?
RODRIGO — Tô bem, Rick. Viviane não veio?
RICK — Veio sim. Ela e dona Beatriz ficaram com medo de sair do carro então eu vim.
RODRIGO — Bem a cara delas mesmo fazer isso.
RICK — O senhor já está de alta?
RODRIGO — Deixa essa formalidade de lado, rapaz… Só Rodrigo tá bom. Mas sim, eu já estou de alta.
RICK — Desculpa, seu Rodrigo. Ops…! Rodrigo.
RODRIGO — Me ajuda a levantar aqui.
Rick ajuda Rodrigo a levantar e eles deixam a enfermaria.
RICK — De vagar, Rodrigo. Não precisa ter pressa
CAM mostra mais alguns pacientes enfermos ali.
CORTA PARA:
CENA 16. MANSÃO VIEIRA. QUARTO MARCELO. INT. MANHÃ.
Marcelo com seu violão cantarolando a música All Star.
MARCELO — (Cantarolando) Se o homem já pisou na lua
Como ainda não tenho o seu endereço?
O tom que eu canto as minhas músicas pra tua voz
Parece exato
Estranho é gostar tanto do seu all star azul…
Ramiro entra sem bater.
RAMIRO — A essa hora da manhã e você acha mesmo que sou obrigado a ouvir isso?
MARCELO — Poxa, pai. O senhor é tão cansativo às vezes. Já conversamos sobre isso. Eu não vou deixar de tocar minha música por tua causa.
RAMIRO — Sua música não, né? Pelo que ouço aí você tá mais pra esses cantores que fazem sucesso com a música dos outros.
MARCELO — Isso se chama cover.
RAMIRO — Não interessa! Agora largue isso e vamos descer que hoje o dia tá cheio de reuniões na empresa!
Ramiro sai do quarto. Marcelo coloca o violão ao lado, bufa e sai do quarto.
CORTA PARA:
CENA 17. MANSÃO VIEIRA. SALA DE JANTAR. INT. MANHÃ.
Mesa farta. Ramiro sentado à mesa tomando café. Marcelo desce a escada e se senta a mesa.
RAMIRO — Ah, bem. Achei que seria obrigado a voltar lá e te tirar a força daquele quarto.
MARCELO — Também não exagere. Se o senhor já havia falado, pra que usar da força?
RAMIRO — Você tá muito irônico pro meu gosto!
Edileusa vem da cozinha com uma garra de suco.
EDILEUSA — Bom dia, seu Ramiro. Bom dia, Marcelo.
MARCELO — Bom dia, Edi.
EDILEUSA — Ah, seu Ramiro. Já ia me esquecendo. Dona Beatriz pediu para avisar o senhor que ela e Viviane foram com o motorista buscar o seu Rodrigo no hospital.
MARCELO — (Não entende) Hospital? O que aconteceu?
RAMIRO — Se você ficasse menos naquele quarto com aquele violão você saberia! Rodrigo sofreu um assalto e bandido deu uma facada nele!
MARCELO — (Aflito) Meu Deus!
RAMIRO — Cadê a menina nova, Edileusa? Quero ter uma conversa com ela.
EDILEUSA — Elisa ainda não chegou.
RAMIRO — (Indignado) Como ainda não chegou?! Já são quase nove da manhã! Que absurdo!
Fecha em Edileusa, com um sorrisinho de deboche. Instantes.
CORTA PARA:
CENA 18. CANARINHO. PRAÇA. EXT. MANHÃ.
Elisa ali aflita a espera de Edileusa. CAM mostra Laura e Gustavinho saindo de casa e caminhando em direção à praça
GUSTAVINHO — (Aponta) Aquela lá não é a minha mãe?
LAURA — (Olha) É a Elisa mesmo, Gustavinho. O que será que aconteceu pra ela ainda está por aqui?
Eles se aproximam de Elisa.
ELISA — Já tá na hora do Gustavinho ir pro colégio?
LAURA — Já. Hoje porque ele pega nove da manhã. O que você ainda tá fazendo aqui Elisa?
ELISA — Esperando a Edileusa.
LAURA — Há essa hora ela já deve ter ido faz tempo.
ELISA — Tentei ligar pra ela umas quatro vezes e nada de chamar!
LAURA — Minha filha, é melhor você pegar o ônibus e deixar a Edileusa pra lá.
ELISA — Mas mãe, eu só fui pra lá de táxi até agora. Nem sei que condução passa perto do condomínio.
LAURA — Então liga pro seu pai. Ele ficou tomando café. Pede ele pra te levar o mais rápido possível!
Elisa pega o cel. e começa a teclar. Instantes.
CORTA PARA:
CENA 19. RIO DE JANEIRO. AVENIDA. INT. MANHÃ.
Carro da família vieira. Rick ao volante, Rodrigo no carona e Viviane e Beatriz no banco de trás.
VIVIANE — Inacreditável que alguém sai para dar uma caminhada na orla e é esfaqueado.
BEATRIZ — Pois é, minha filha. Isso é pra você ver a crise na segurança pública, que principalmente o estado do Rio de Janeiro está atravessando.
VIVIANE — Lastimável! Como que tá, meu amor? Tá doendo muito?
RODRIGO — Não. Agora eu estou bem. Mas na hora doeu muito.
BEATRIZ — Facada não é brincadeira não, meu genro.
VIVIANE — Mas como esse assalto aconteceu, Rodrigo?
RODRIGO — Estava sentado num daqueles bancos, quando fui abordado pelo bandido que exigiu meu celular, eu dei, mas ele queria mais e eu disse que não tinha. Foi quando ele me deu a facada e roubou minha certeira.
BEATRIZ — Rodrigo nesse caso é melhor entregar tudo, meu genro! Olha o risco que você correu!
VIVIANE — Olha, seu eu soubesse que logo nos primeiros dias de Rio de Janeiro, meu marido seria esfaqueado, não teria insistido tanto para voltarmos a esse inferno de Brasil!
CORTA PARA:
CENA 20. CAFETERIA. INT. MANHÃ
Kléber e Camila sentados a uma mesa a conversar.
KLÉBER — Fiquei muito surpreso e contente quando você me ligou.
CAMILA — Pois é, Cristian. Eu pensei, pensei, pensei muito.
KLÉBER — E chegou a alguma conclusão?
CAMILA — Sim. Eu aceito.
KLÉBER — Que bom! Você não sabe o quanto eu fico feliz em ouvir isso.
CAMILA — É, mas tem um, porém.
KLÉBER — Pode falar.
CAMILA — Depois eu quero trazer minha família de Curitiba para o Rio. Seria possível?
KLÉBER — Depois que você estiver famosa nas passarelas do mundo todo, tudo será possível!
CAMILA — Eu nunca me imaginei como modelo.
KLÉBER — Mas não fique pensando nisso. Se pensar demais acaba dando pra trás e declinando da chance de ser famosa.
CAMILA — E quando começamos?
KLÉBER — Agora mesmo se você puder.
CAMILA — Posso sim.
KLÉBER — Então vamos. Eu ainda tenho que passar num lugar antes, mas não tem problema você vir comigo.
Os dois saem da cafeteria. CAM mostra um Garçom olhando desconfiado. Instantes. Tensão.
CORTA PARA:
CENA 21. RUA DESERTA. EXT. DIA.
Um ônibus ali estacionado. Moreira colocando vários homens de todas as idades para dentro do ônibus.
MOREIRA — Vamos lá, rapaziada! Rumo agora ao emprego dos sonhos!
A rapaziada vibra, não sabendo o que lhes aguarda mais tarde. CAM mostra o carro de Kléber se aproximando.
MOREIRA — (P/si) O que o Kléber tá fazendo por aqui?
Ele se aproxima do carro e fica na janela do carona.
MOREIRA — O que você tá fazendo aqui, Kléber?
CAMILA — Kléber?
KLÉBER — Meu nome e Kléber Cristian Souza. (P/Moreira) Passei aqui pra ver como estão as coisas.
MOREIRA — Então pode ir despreocupado, meu caro. Aqui está tudo sobre controle.
KLÉBER — Beleza.
MOREIRA — Quem é ela?
KLÉBER — Camila. A nova modelo da empresa.
Kléber dá uma piscadinha a Moreira.
MOREIRA — (Entende) Ah, sim.
KLÉBER — Agora deixa eu ir lá.
Kléber dá a partida e o carro se afasta.
MOREIRA — (P/si) Filho da mãe arrumou uma novinha!
Moreira volta para perto do ônibus.
CORTA PARA:
CENA 22. FÁBRICA FABRISTILO. FRENTE. EXT. DIA.
Carro de Kléber se aproximando.
CAMILA — Que lugar é esse?
KLÉBER — Aqui é o lugar aonde você viverá os anos mais felizes da sua vida.
CAMILA — Como assim?
KLÉBER — Você vai ver.
Os seguranças abrem o portão e o carro entra.
CORTA PARA:
CENA 23. FÁBRICA FABRISTILO. PÁTIO. EXT. DIA.
Regina e Belinha descendo a escada da casa de Rê. Carro de Kléber para. Ele e Camila saltam.
KLÉBER — Aqui, Regina. A Camila que eu tinha te falado.
REGINA — Ah, sim. Como vai garota?
CAMILA — Bem.
REGINA — Belinha, pode ir ficar com seus pais um pouco.
BELINHA — Tá bom.
Belinha corre para dentro da fábrica.
REGINA — O que o Kléber disse que você faria exatamente, garota?
CAMILA — Bom, ele me chamou para ser a modelo da empresa.
REGINA — Kléber, eu já falei pra você parar de ficar enganando as pessoas!
CAMILA — (Não entende) Como assim?
KLÉBER — (Saca a arma e aponta para ela) Me desculpa.
REGINA — Você não vai ser modelo nenhuma! Até devo admitir que realmente beleza você tem. Mas o que interessa aqui é produção! Você é a nossa mais nova aquisição para trabalhar na produção. Produção em massa! De 16 até 20 horas por dia de jornada de trabalho!
Fecha em Camila aterrorizada, ainda tentando entender. Regina dá altas e malignas gargalhadas. Instantes. Suspense. Tensão.
CORTA PARA:
FIM DO DÉCIMO QUINTO CAPÍTULO