NOVA CHANCE PARA AMAR

Novela de Ramon Silva

Escrita Por:

Ramon Silva

Direção Geral:

Wellington Viana

PERSONAGENS DESTE CAPÍTULO

AMANDA

BEATRIZ

BELINHA

CAMILA

DANIELA

EDILEUSA

ELISA

GABRIELA

GUILHERME

GUSTAVINHO

JOSIAS

KLÉBER

LAURA

MARCELO

MARCOS

MAURÍCIO

MOREIRA

NANDÃO

RAMIRO

REGINA

REINALDO

RICK

RODRIGO

SALINA

SEVERO

SÉRGIO

VIVIANE

PARTICIPAÇÃO ESPECIAL:

MARÍLIA, SECRETÁRIA e SEGURANÇA.

CENA 01. RIO DE JANEIRO. STOCK-SHOTS. EXT. AMANHECER.

Takes do nascer do sol. Orla de Ipanema, Arpoador. Instantes.

CORTA PARA:

CENA 02. PRÉDIO FABRISTILO. SALA RODRIGO. INT. DIA.

Rodrigo ali sentado mexendo no notebook. Ramiro e Marcelo entram.

RAMIRO            —    Rodrigo! Onde você dormiu, cara?

RODRIGO         —    Fui para um hotel. Não tinha mais clima de eu continuar naquela casa.

MARCELO        —    Viviane ficou preocupada com você.

RODRIGO         —    Preocupada? Depois do que ela fez naquele desfile, eu não quero mais nada com a Viviane!

MARCELO        —    Mas se você tá pensando que ela vai deixar isso assim, está enganado! Tô vendo a hora de ela bater aqui na empresa atrás de você.

RODRIGO         —    Deixa vim. É até bom que eu falo diretamente com ela sobre o divórcio.

RAMIRO            —    Bom, largando de mão a sua vida pessoal, vamos focar aqui na empresa.

RODRIGO         —    Estou fazendo as últimas correções naqueles relatórios.

RAMIRO            —    Então deixa isso pra lá. Hoje nós vamos conhecer a fábrica da empresa.

RODRIGO         —    Sério?

RAMIRO            —    Sim.

RODRIGO         —    Finalmente. Até para os relatórios você não deixa eu saber dos dados relacionados a produção.

RAMIRO            —    E hoje você vai ver o porquê disso!

MARCELO        —    Eu também vou, né, pai?

RAMIRO            —    Infelizmente não, meu filho.

MARCELO        —    Mas por quê?

RAMIRO            —    Digamos que você ainda não está pronto! Por outro lado, o Rodrigo provou que está apto a conhecer as instalações operacionais da empresa.

RODRIGO         —    E quando vamos, Ramiro?

RAMIRO            —    Daqui a pouco. Eu só preciso assinar alguns documentos com a secretária.

Ramiro sai da sala.

MARCELO        —    Chegou agora e já está na janelinha, né, Rodrigo!

RODRIGO         —    Se preocupa não, que eu vou tentar convencer ele a te levar.

Rodrigo sai. Marcelo permanece ali sério.

CORTA PARA:

CENA 03. MANSÃO VIEIRA. COZINHA. INT. DIA.

Edileusa ali sentada. Elisa vem do quartinho.

ELISA                —    Hoje pelo que eu vi naquela sala, o dia vai ser da faxina pesada!

EDILEUSA        —    É, mas mesmo sendo um dia de faxina pesada, você ainda tem o que fazer aqui na cozinha.

ELISA                —    Como assim?

EDILEUSA        —    O café dos funcionários.

ELISA                —    Que brincadeira é essa, Edileusa? Você que faz o café dos funcionários.

EDILEUSA        —    Não mais. Agora você é quem faz o café dos funcionários.

ELISA                —    Edileusa, você só pode ter enlouquecido! Você quer mesmo que todos desconfiem, né?

EDILEUSA        —    Fala menos e faz mais! A água já está fervendo.

Elisa encara Edileusa seriamente e vai passar o café, invocada. CAM mostra Edileusa por de trás de Elisa sorrindo debochada. Rick entra.

RICK                  —    Bom dia, meninas!

EDILEUSA        —    Bom dia, Rick.

RICK                  —    Por que a Elisa está passando o café?

EDILEUSA        —    Ela disse que hoje estava com vontade de passar um cafezinho pra gente, não é mesmo, Elisa?

ELISA                —    (Nem olha para os dois) É.

CORTA PARA:

CENA 04. FÁBRICA FABRISTILO. CASA REGINA. SALA. INT. DIA.

Belinha, com o cabelo despenteado, ali sentada comendo pão e tomando café. Regina vem do quarto com sua bolsa.

REGINA             —    Belinha do céu! Mas que cabelo horrível é esse?!

BELINHA          —    Hoje eu não quis pentear.

REGINA             —    Mas como assim: “não quis”? Isso é relaxamento.

BELINHA          —    Ah, sei lá, Regina. Eu hoje não tô com vontade!

REGINA             —    Mas por quê?

BELINHA          —    Queria que meu cabelo fosse diferente, sabe?

REGINA             —    Sei. Até nisso você é sortuda, garota! Eu estou indo ao salão. Você quer vir comigo?

BELINHA          —    Se for só pra olhar eu não quero não.

REGINA             —    Não! Vamos dá uma repaginada nesse visual?

BELINHA          —    (Feliz) Claro! Eu queria tento que meu cabelo fosse mais lisinho.

REGINA             —    Hoje ele vai ficar do jeitinho que você quer, mas antes, vamos voltar ao quarto e pentear essa juba de leão.

As duas seguem para o quarto.

CORTA PARA:

CENA 05. CASA JOSIAS. SALA. INT. DIA.

Marcos vem da cozinha bebendo café, se senta no sofá.

Atenção Sonoplastia: cel. de Marcos começa a tocar.

MARCOS          —    (P/si, olha p/cel., sarcasmo) Mas que surpresa! (Ao cel.) Oi, mãe!

SALINA             —    (OFF) Marcos, meu filho! Como é que você sai de casa e me deixa só uma carta? Uma carta!

MARCOS          —    (Ao cel.) Mãe, eu preciso resolver algumas coisas aqui no bairro do Canarinho.

SALINA             —    (OFF) Marcos, você já arrumou problema com sua ex-mulher aí. Você tá querendo ser preso, é?!

MARCOS          —    (Ao cel.) Mãe, deixa eu resolver as coisas do meu jeito! Daqui a pouco eu estou de volta. É só uma questão de alguns dias.

SALINA             —    (OFF) Você não arrumando problemas por aí e trazendo pra cá, tá tudo bem!

MARCOS          —    (Ao cel.) Não se preocupe, mãe! Essa semana ainda eu volto praí.

Marcos fica ali sério. Instantes. Tensão.

CORTA PARA:

CENA 06. FÁBRICA FABRISTILO. PRODUÇÃO. INT. DIA.

Amanda e Camila trabalhando. Amanda desanimada.

CAMILA             —    Que foi, amiga?

AMANDA           —    Ah, sei lá. Eu tô meio desgostada de tudo, sabe? Estou farta desse lugar e não tem como sair.

CAMILA             —    Eu te entendo amiga. Mas tenha fé que nós ainda vamos sair desse lugar e ser livres.

Belinha entra na área de produção e se aproxima da mãe.

BELINHA          —    Mãe!

AMANDA               (Sorrir) Filha!

As duas se abraçam.

CAMILA             —    Só por esse sorrisão da Amanda fica claro que a Belinha é a única que traz um alento positivo!

BELINHA          —    Mãe, a senhora não vai acreditar!

AMANDA           —    Acreditar no que, filha?

BELINHA          —    A Regina me chamou para ir ao salão com ela. Ela falou que eu vou ficar linda e com outro estilo.

Amanda e Camila trocam olhares.

CAMILA             —    Só vão vocês duas?

BELINHA          —    É.

AMANDA           —    Essa mulher tá mesmo a fim de roubar a minha filha!

BELINHA          —    Mãe, eu já falei que a senhora e o pai são os verdadeiros. Eu nunca deixaria vocês!

Belinha abraça Amanda. Camila sorrir.

CORTA PARA:

CENA 07. RIO DE JANEIRO. ESTRADA. INT. DIA.

Ramiro ao volante e Rodrigo no carona.

RODRIGO         —    Ainda não acredito que você enganou o Marcelo para sairmos sem ele ver.

RAMIRO            —    O Marcelo ainda é um estagiário.

RODRIGO         —    Sim, um estagiário que mais tarde será o presidente da Fabristilo. Você não acha que faria bem pra ele conhecer como tudo é produzido?

RAMIRO            —    Acho! Mas o Marcelo ainda não está preparado para o que você verá.

RODRIGO         —    Mas como assim, Ramiro? Você tá me deixando preocupado. Do jeito que você fala, até parece que não tá me levando pra fábrica coisa nenhuma! (Brinca) Não tá armando pra me matar não, né?!

RAMIRO                (Sorrir) Claro que não, Rodrigo. O Marcelo é um estagiário. Quando ele se formar e estiver em definitivo na empresa aí sim ele virá até a fábrica.

RODRIGO         —    Como você quiser.

CORTA PARA:

CENA 08. FÁBRICA FABRISTILO. PÁTIO. EXT. DIA.

Moreira e Kléber ali no pátio. Regina sai da casa e Belinha sai da Fábrica. As duas se aproximam.

REGINA             —    Kléber e Moreira. Que bom que encontrei os dois por aqui. Eu preciso dar uma saída e vocês dois tem que ficar de olho nas coisas por aqui.

KLÉBER           —    Aconteceu alguma coisa?

REGINA             —    Não, Kléber. Eu sou mulher e tenho que me cuidar. Estou indo ao salão de beleza junto de Belinha.

KLÉBER           —    Regina, você tem mesmo certeza que é seguro tirar essa menina de dentro da fábrica?

REGINA             —    Claro que é. Belinha nunca faria nada!

Regina e Belinha se aproximam do carro e entram. O carro se afasta e sai pelo portão principal.

MOREIRA         —    É, Regina mudou muito, né, Kléber?

KLÉBER           —    E como mudou! Agora vamos Moreira. Vamos que agora é a hora do show!

CORTA RÁPIDO PARA:

CENA 09. FÁBRICA FABRISTILO. PRODUÇÃO. INT. DIA.

Kléber e Moreira diante de todos os trabalhadores. Incluindo Amanda, Camila e Sérgio.

KLÉBER           —    (Ao mega fone) Muito obrigado pela presença de todos os trabalhadores aqui. Bom, mandei todos se reunirem aqui, porque hoje nós vamos ter um dia diferente na fábrica.

Corta para Amada e Camila:

CAMILA             —    Do que esse louco tá falando?

AMANDA           —    Pior que eu não faço a mínima ideia.

CAM mostra Kléber da visão dos trabalhadores, o mesmo arremata.

KLÉBER           —    (Ao mega fone) Todos vocês estão sob os meus cuidados! Regina está temporariamente fora do comando da fábrica.

Corta para Amanda e Camila:

CAMILA             —    (Desesperada) Como é que é? Esse desgraçado que tá no comando agora?!

AMANDA           —    Calma, Camila! Calma.

CAMILA             —    Eu não posso.

CAM mostra Sérgio olhando as duas.

KLÉBER           —    (Ao mega fone) Bom, era só isso que eu tinha pra falar com vocês! (debocha) Agora saúdem o seu novo rei, trouxas! (dá gargalhadas)

Todos os trabalhadores sérios a olhar para Kléber.

MOREIRA         —    Kléber, eu acho melhor você parar de falar isso!

KLÉBER           —    Por quê?

MOREIRA         —    Olha como todos estão nos encarando. Daqui a pouco tem uma rebelião dentro dessa fábrica!

KLÉBER           —    (P/Todos) Agora podem voltar a seus afazeres! Mas lembrem-se que eu estou de olho. Um deslize e… (passa o dedo no pescoço, ameaçador)

Sérgio vai passando frente a Moreira, que o cerca e arremata.

MOREIRA         —    Não pense que está passando despercebido! A sua hora de provar a lealdade está mais próxima do que nunca!

Sérgio se afasta.

Corta para Amanda e Camila:

CAMILA             —    O que será que aconteceu com a Regina?

AMANDA           —    Ela já deve ter saído para o salão e deixado esse louco do Kléber no comando.

CAMILA                 (Medo) Ai, meu Deus.

Kléber se aproxima.

KLÉBER           —    (P/Camila) E aí, delicia. Não pense que eu me esqueci dos nossos momentos que ainda não vivemos… Por enquanto!

Kléber se afasta.

CAMILA             —    Você ouviu isso, Amanda? Esse desgraçado me quer! Eu tenho nojo desse Kléber! Nojo!

AMANDA           —    Calma. Eu tô aqui com você.

Fecha em Camila aterrorizada. Instantes.

CORTA PARA:

CENA 10. CANARINHO. PONTO DE TÁXI. EXT. DIA.

Severo e Maurício ali.

SEVERO           —    O jantar foi um sucesso, Maurício. A Laura adorou tudo!

MAURÍCIO        —    Que bom, Severo. Um casal que já tá junto há, sei lá, quantas décadas, ficar brigados por causa de coisa boba não dá, né?

SEVERO           —    Não era coisa boba! Mas enterramos esse assunto.

MAURÍCIO        —    Fez bem.

Táxi de Nandão se aproxima e estaciona. Ele salta do táxi e se aproxima, andando de pernas abertas. Severo e Maurício sorriem ao ver aquilo.

SEVERO           —    Nandão, meu filho… O que aconteceu aí?

MAURÍCIO        —    Tá parecendo que tá assado!

NANDÃO           —    Pô, cara… Me aconteceu uma coisa terrível.

SEVERO           —    O quê?

NANDÃO           —    Ontem eu fui me encontrar com aquela mulher, que já esteve aqui no ponto.

SEVERO           —    Sei.

NANDÃO           —    A gente tava na boa, tudo muito bom, tudo muito bem… Quando ela me inventa de fazer uma posição até então desconhecida da humanidade, eu acho!

MAURÍCIO        —    Eu tenho até medo de perguntar. Mas que posição era essa?

NANDÃO           —    Ah, cara. Tinha um nome estranho lá. Assim diz ela que está inventando o próprio Kama Sutra. Moral da história. O testículo sumiu e até agora não voltou?

Severo e Maurício riem muito.

SEVERO           —    Como pode ter sumido?

NANDÃO           —    Sei lá! Só não tá aqui!

MAURÍCIO        —    (Debocha) Que noite, hein, cara… Teve que ficar esperando a bola descer!

Severo e Maurício riem muito. Nandão sério.

CORTA PARA:

CENA 11. MANSÃO VIEIRA. COZINHA. INT. DIA.

Edileusa ali sentada lixando as unhas das mãos. Elisa descascando legumes.

ELISA                —    Até quando você pretende ficar com isso, hein, Edileusa?

EDILEUSA        —    Até eu me cansar… (Irônica) Mas como você que está fazendo o meu trabalho, eu não vou me cansar nunca!

ELISA                —    Você não vai parar até alguém entrar por aquela porta e começar a desconfiar.

Beatriz vem da sala. Elisa larga a faca e os legumes rapidamente e Edileusa esconde a lixa.

BEATRIZ           —    Desconfiar de que ou de quem, Elisa?

Closes alternados em Elisa e Edileusa. Instantes.

CORTA PARA:

CENA 12. CASA JOSIAS. SALA. INT. DIA.

Marcos sentado, pensativo. Josias vem do quarto.

JOSIAS              —    Ouvi um telefone tocar.

MARCOS          —    Era o meu. Minha mãe me ligando.

JOSIAS              —    Ah, tá. Mas ela não sabe que você veio pra cá?

MARCOS          —    Sabe. Ela só queria saber se eu cheguei bem.

JOSIAS              —    Hum… Mãe preocupada essa.

MARCOS          —    É sim.

JOSIAS              —    Bom, agora eu vou abrir o bar. Mais um dia se inicia.

MARCOS          —    Vai lá, Jô. Depois eu apareço lá pelo bar. Agora eu vou ficar um pouco em casa.

JOSIAS                  Tudo bem.

Josias sai e fecha a porta. Marcos vai para atrás do sofá, pega sua jaqueta, óculos e boné (os mesmos do capítulo anterior). Se veste, olha pela janela e sai arrematando.

MARCOS          —    (P/si) Aguarde que o papai tá chegando, filho.

CORTA PARA:

CENA 13. MANSÃO VIEIRA. COZINHA. INT. DIA.

Continuação imediata da cena 11.

EDILEUSA        —    Dona Beatriz? Eu pensei que a senhora não estava em casa.

BEATRIZ           —    Sim, eu estou, Edileusa. Agora Elisa, você pode me dizer o que vão desconfiar?

ELISA                —    Sabe o que é que é dona Beatriz…? É que/

EDILEUSA        —    (Corta) A Elisa tava me perguntando se podia passar por cima do serviço lá na sala. Veja se não é um absurdo?

BEATRIZ           —    Era isso mesmo, Elisa?

EDILEUSA        —    Claro que era.

BEATRIZ           —    Eu perguntei a Elisa!

EDILEUSA        —    Sim, senhora.

ELISA                —    Sim, dona Beatriz, era isso.

BEATRIZ           —    Pensei que você não era dessas, Elisa.

ELISA                —    É que hoje eu não estou passando bem.

BEATRIZ           —    Então trate de melhorar que aquela sala tem que ficar brilhando!

ELISA                —    Pode deixar.

Elisa vai para a área de serviço.

BEATRIZ           —    Edileusa, e a Viviane? Você a viu?

EDILEUSA        —    Ela veio aqui na cozinha e pediu para o Rick levar ela em algum lugar.

BEATRIZ           —    Que lugar, criatura?

EDILEUSA        —    Eu não sei, dona Beatriz.

BEATRIZ           —    Onde será que ela foi?

CORTA RÁPIDO PARA:

CENA 14. PRÉDIO FABRISTILO. RECEPÇÃO. INT. DIA.

Secretária ali concentrada no trabalho. Viviane entra.

VIVIANE            —    Secretária insignificante, você sabe se meu marido Rodrigo, está na sala dele?

SECRETÁRIA  —    Seu Rodrigo não está.

VIVIANE            —    Como assim? Onde ele foi?

SECRETÁRIA  —    Eu não sei.

VIVIANE            —    Mas como não sabe?! Fica o dia todo nessa ocupação insignificante e não serve para dar uma informação!

Marcelo sai da sala de Ramiro.

MARCELO        —    Viviane?

VIVIANE            —    Oi, Marcelo.

MARCELO        —    O que você tá fazendo por aqui?

VIVIANE            —    Eu vim conversar com o Rodrigo.

MARCELO        —    O Rodrigo não está. Ele saiu com meu pai. Eles foram até a fábrica da empresa.

CORTA PARA:

CENA 15. FÁBRICA FABRISTILO. PORTÃO. EXT. DIA.

CAM em plano geral. Um carro se aproxima e para frente a fábrica da empresa. Rodrigo e Ramiro descem o vidro do carro.

RODRIGO         —    (Surpreso) Nossa! Uma estrutura gigantesca!

RAMIRO            —    Isso porque você não viu lá dentro.

Um segurança se aproxima.

SEGURANÇA  —    Seu Ramiro. Seja muito bem-vindo.

RAMIRO            —    Obrigado. Agora abre o portão que eu quero entrar.

SEGURANÇA  —    Sim, senhor.

O segurança corre e abre o portão altíssimo da fábrica. O carro entra e o portão se fecha.

CORTA PARA:

CENA 16. FÁBRICA FABRISTILO. PÁTIO. EXT. DIA.

Carro para. Ramiro e Rodrigo saltam.

RODRIGO         —    Ramiro, por que a fábrica tem que ser tão longe de tudo? Pra chegar aqui é por uma estrada de terra cercada de matagal de ambos os lados da estrada.

RAMIRO            —    É por motivo de segurança, Rodrigo.

RODRIGO         —    Mas como pode ser mais seguro um fim de mundo desses?

RAMIRO            —    Olhe ao seu redor. Cada metro quadrado dessa fábrica é vigiado por câmeras de segurança e pelos próprios seguranças.

Rodrigo olha os vários seguranças espalhados em locais estratégicos e meneia a cabeça positivamente.

CORTA PARA:

CENA 17. COLÉGIO INFANTIL. FRENTE. EXT. DIA.

Muita movimentação de pais e alunos. Laura se aproxima do portão.

MOÇA                —    Gustavinho, olha quem veio te buscar hoje!

Gustavinho vem correndo e abraça a vó.

LAURA              —    Oi, meu neto. Todo suado. (P/moça) Tava aprontando ele, né?

MOÇA                —    (Sarcasmo) Imagina. Esse sapeca do Gustavinho é um amor.

LAURA              —    (Sorrir) Brigado, querida!

MOÇA                —    Tchau. Vão com Deus.

Laura e Gustavinho seguem se afastando.

GUSTAVINHO —    Por que o vô Severo não veio me buscar?

LAURA              —    Não gostou de eu ter vindo?

GUSTAVINHO —    Não é isso, vó. É que quando o vô Severo vem, eu não preciso andar porque ele vem de carro.

LAURA              —    Vai andar, sim! Exercitar faz bem pra saúde!

CAM mostra atrás de um carro, um homem escondido. Ele está de boné, jaqueta, óculos escuros, é Marcos, que fica ali a observar. Instantes. Tensão.

CORTA PARA:

CENA 18. CLÍNICA. CONSULTÓRIO. INT. DIA.

Gabriela ali mexendo no cel. Guilherme entra.

GUILHERME    —    Olá.

GABRIELA       —    Oi, meu amor. Gui olha, eu quero conversar com você sobre o Reinaldo ter voltado.

GUILHERME    —    Deixa isso pra lá, Gabriela. A menos que você queira reatar com ele, eu não vejo problema de ele ter voltado.

GABRIELA       —    Reinaldo é passado! Mas eu não que a presença dele estrague o que nós temos.

GUILHERME    —    Não vai estragar! E outra, eu acho que ele voltou na hora certa. A presença dele pode fazer bem pra Dani.

GABRIELA       —    É, até que você tem razão.

GUILHERME    —    (Coloca o caderninho sobre a mesa) Então, eu andei dando uma analisada nos seus materiais de pesquisa, e eu acho que devemos começar de onde você parou quinze anos atrás!

GABRIELA       —    Como?

GUILHERME    —    Voltando ao bairro do Canarinho Amarelo!

CORTA PARA:

CENA 19. APART GABRIELA. SALA. INT. DIA.

Reinaldo vem da cozinha comendo um sanduíche e se senta no sofá. Marília vem do quarto.

MARÍLIA            —    Eu desisto! Não tem nada nem ninguém que convença a Dani a sair daquele quarto.

REINALDO       —    Tô preocupado com a Dani se isolando desse jeito.

MARÍLIA            —    Por que o senhor e a dona Gabriela não chamam aquele profissional que trabalha conversando com as pessoas?

REINALDO       —    Psicólogo?

MARÍLIA            —    É. Pode fazer bem pra ela.

REINALDO       —    Talvez. Vou lá falar com ela.

CORTA PARA:

CENA 20. APART GABRIELA. QUARTO DANIELA. INT. DIA.

Atenção Sonoplastia: Instrumental – Tristeza.

Dani deitada, enrolada na coberta. Ela se olhando num espelho pequeno de bolsa, seu rosto está com a pele bem ressecada e com pequenas fissuras. Ela em negação meneia a cabeça. Instantes. Reinaldo entra, ainda com o sanduíche em mãos.

REINALDO       —    Filha… Marília disse que você não quer sair desse quarto.

DANIELA          —    Sair do quatro pra que, pai?

REINALDO       —    Você precisa ir ao banheiro, precisa comer alguma coisa…

DANIELA          —    Tô sem fome.

REINALDO       —    Nada disso, Dani. Se você ficar sem comer, aí mesmo que vai adoecer.

DANIELA          —    Eu prefiro adoecer e ficar nesse quarto, do que ter que sair!

REINALDO       —    (Senta na cama e faz cafuné na filha) Eu sei que é difícil. Afinal, ainda passo por isso. Mas olha como eu estou.

DANIELA          —    O que o senhor tem?

REINALDO       —    Eu também tenho ictiose.

DANIELA          —    Mas como? Não parece!

REINALDO       —    No inverno que a coisa fica feia mesmo. As baixas temperaturas fazem com que a nossa pele resseque mais rápido. Filha, isso não vai te matar. É claro que o seu modo de vida vai ser diferente, mas só isso!

DANIELA          —    Como assim, pai?

REINALDO       —    Você não pode pegar sol por muito tempo…

DANIELA          —    Praia nem pensar, né?

Reinaldo meneia a cabeça que não.

DANIELA          —    Afe! Eu adoro praia!

CORTA PARA:

CENA 21. FÁBRICA FABRISTILO. CORREDOR. INT. DIA.

Kléber, Moreira e Sérgio ali.

KLÉBER           —    Chegou a hora tão aguardada! O seu momento de provar que é um dos nossos chegou!

MOREIRA         —    Vamos ver se ele vai ter coragem.

SÉRGIO             —    O que eu vou ter que fazer?

KLÉBER           —    (Brinca) Arriar as calças e dançar Cha Cha Cha!

SÉRGIO             —    Como é que é?

KLÉBER           —    Tô zoando, cara! O que você vai ter que fazer é o seguinte: dê um jeito de atrair a gostosa da Camila para o quartinho!

SÉRGIO             —    Quê?!

KLÉBER           —    A gostosa da Camila no quartinho! Quero ter meus momentos de prazer com ela. E dessa vez, ela não escapa!

MOREIRA         —    Isso aí! Depois eu também quero fazer esse experimento!

SÉRGIO             —    Eu… Eu não posso fazer isso.

KLÉBER           —    Como é que é?

SÉRGIO             —    Eu não posso deixar que vocês façam uma coisa absurda dessas com a Camila!

MOREIRA         —    Olha o cara, Kléber! Fazendo a gente perder tempo com ele!

SÉRGIO             —    Me peça qualquer outra coisa, cara. Mas isso não!

Kléber se aproxima de Sérgio e o segura pelo pescoço.

KLÉBER           —    Você tá achando que isso aqui é um jogo? Você não pode simplesmente chegar agora e dizer que não vai fazer!

SÉRGIO             —    Por favor, Kléber! Me deixa fora disso!

KLÉBER           —    (Ameaçador) Ou você faz, ou vai dá ruim pro teu lado! Game over!

SÉRGIO             —    Não posso.

Kléber o joga contra a parede.

MOREIRA         —    Perde tempo com esse cara não, Kléber! Acaba logo com isso!

KLÉBER           —    Segura ele Moreira!

Moreira por de trás de Sérgio, segura seus braços. Kléber começa a espancar Sérgio, que não esboça qualquer reação. CAM IMAGEM TURVA, ao fundo identificamos claramente a violência. Em SLOW MOTION, nitidez volta gradativamente. CAM se aproxima de Sérgio com o rosto sangrando, olhando para a luz do corredor. CAM subjetiva entra. Sérgio continua a ser espancado por um instante, até que desmaia. TELA PRETA. Instantes. Tensão.

CORTA PARA:

CENA 22. FÁBRICA FABRISTILO. PRODUÇÃO. INT. DIA.

Rodrigo e Ramiro entram na área de produção.

RAMIRO            —    É aqui, Rodrigo. Onde tudo é feito graças a esses maravilhosos colaboradores.

RODRIGO         —    Bem grande mesmo. Coordenar uma equipe desse tamanho não deve ser nada fácil.

RAMIRO            —    É, mas nós temos a melhor gestora da Fabristilo cuidando disso. Regina está conosco desde que a Fabristilo era uma microempresa.

RODRIGO         —    Mal posso esperar para conhecer essa Regina.

Rodrigo percebe algumas pessoas que parecem não estar bem. Outras suando muito e visivelmente cansadas.

RODRIGO         —    Tem alguma coisa de errado aqui, Ramiro.

RAMIRO            —    Como assim?

RODRIGO         —    Os trabalhadores parecem não estar bem. Dá pra ver pela cara deles que não estão bem.

RAMIRO            —    Deve ser o cansaço! Eles trabalham duro para bater a meta.

RODRIGO         —    Espero que trabalhem duro, mas com respeito as devidas pausas e folgas!

RAMIRO            —    Venha comigo até o escritório da Regina.

Ramiro e Rodrigo sobem a escada.

AMANDA           —    Parece que ele não gostou do que viu.

CAMILA             —    Não mesmo. Ele parecia chocado com tudo isso aqui.

AMANDA           —    Espero que não seja mais um que ache essa vida normal.

CAMILA             —    Do jeito que ele agiu, quem sabe não é a nossa salvação?

AMANDA           —    Eu não sonharia tão alto… Mas mantenha viva a esperança.

CORTA PARA:

CENA 23. FÁBRICA FABRISTILO. ESCRITÓRIO REGINA. INT. DIA.

Ramiro e Rodrigo ali.

RAMIRO            —    Rodrigo, o que você acabou de ver ali embaixo é o fruto do trabalho deles. Na verdade, esses trabalhadores são invisíveis.

RODRIGO         —    Não aos meus olhos!

RAMIRO            —    Como é que é?!

RODRIGO         —    Como você pode ficar tranquilo no prédio da empresa, situado na Barra da Tijuca, com esses trabalhadores se matando de trabalhar? (Cai a ficha) Por isso a distância de tudo e de todos! Se isolaram nesse fim de mundo porque seria mais fácil!

RAMIRO            —    Escuta aqui, Rodrigo. Há mais indivíduos envolvidos nisso do que você pode imaginar! Escuta o conselho que eu vou te dar. Ir contra esse sistema agora, é como dá um tiro no próprio pé.

RODRIGO         —    Você tá me ameaçando, Ramiro?

RAMIRO            —    Se você quiser ir contra aos interesses da Fabristilo, convenhamos que eu teria que tomar uma atitude!

Fecha em Rodrigo, que encara Ramiro seriamente. Instantes. Tensão.

CORTA PARA:

CENA 24. FÁBRICA FABRISTILO. CORREDOR. INT. DIA.

Atenção Sonoplastia: instrumental – Tensão.

CAM se aproxima de Sérgio desmaiado ali no chão, com seu rosto ensanguentado, uma pequena poça de sangue próximo a ele. Sobe a narração de Rodrigo.

RODRIGO         —    (OFF, Narrando) As condições desumanas as quais esses trabalhadores, que dizer… Escravos são sujeitados diariamente. Em pleno século XXI, como o ser humano pode ainda ser tão frio, maldoso e calculista ao ponto de tirar a alegria de viver dessas pessoas? Parece que os três séculos, os 300 anos de escravidão não foram o suficiente para tomarmos medidas drásticas contra esta prática tão desumana e cruel. E de certa forma, nos tornarmos uma humanidade mais empática, adotando medidas para evitar que em pleno 2020, muitas pessoas ainda sejam sujeitadas a esta vida…

Sérgio tenta abrir os olhos e cospe sangue. Instantes. Suspense. Tensão.

CORTA PARA:

FIM DO TRIGÉSIMO TERCEIRO CAPÍTULO

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