Na pensão, dona Linda recebe uma carta. O entregador passa por Adalberto e Miguel chegando.

Dona Linda — Encontraram a moça?

Adalberto — Sim! Ela já foi medicada. Vai ficar no hospital em observação.

Miguel — O Luiz ainda continua muito mal. A febre não quer abaixar.

Adalberto — Vou tomar banho, descansar um pouco e depois voltar para o hospital.

Dona Linda ainda segurava a carta — Espere, meu sobrinho. É pra você, acabou de chegar, é do meu irmão.

Adalberto estranha — Meu pai? — pega o envelope, abre e percorre os olhos nas entrelinhas. — O ajudante da fazenda se demitiu, e meu pai me pede para arrumar outra pessoa. E para esse tipo de emprego não se pode contratar qualquer um, tem que ser alguém de punho forte.

Miguel rindo — Seu Moreira, futuro sogro do Luiz.

Adalberto também ri — Um caso de se pensar. Ele deve ter um punho bem forte, pra acertar o rosto do delegado.

Na UTI, Luiz continua se ver em outros lugares. Seu espírito viaja, voltando o tempo. Ele se vê em meio ao fogo, tentando apagar as chamas em uma loja. A enfermeira, ao lado, preparando um medicamento, coloca as mãos nele e rapidamente anda pelo corredor, e fala com Custódio, em um dos quartos, observando Estela ainda inconsciente.

Enfermeira — Doutor, o Luiz está piorando!

Rapidamente ela o acompanha. Depois de examiná-lo. — Não há mais nada que se pode fazer. Se aplicar mais uma dose de remédio ele vai morrer por overdose. Só tem uma coisa a fazer. Eu já volto. — rapidamente sai.

Ezequiel e Estela surgem através de uma luz violeta, e se colocam ao lado de Luiz.

Outros anjos aparecem e fazem um Círculo de luz. A sombra da morte se afasta.

Em um dos quartos Maria dorme. Conceição mede a temperatura dela.

Custódio chega — Como a Maria está?

Conceição — Ela se alimentou bem e conseguiu dormir depois que a mãe foi embora.

Em sonhos, num outro quarto, Maria vê Custódio se aproximar dela, e tapar sua boca com as mãos. Ela pula na cama, e se encolhe, vendo-o na sua frente.

Custódio — Tudo bem, Maria?

Maria sente alivio, vendo a enfermeira ali, e que tudo passou de um sonho. — O Luiz, Como ele está?

Custódio com tristeza — Sinto muito em lhe dizer, mas, acho que ele não vai aguentar. Não vai passar desta noite.

Maria se encolhe chorando.

Custódio — Você consegue ficar de pé? Vou levá-la até ele. Quem sabe acontece um milagre.

Maria, ainda em prantos — Eu quero ver ele. — Sente tonturas ao ficar de pé.

Custódio ajuda-a se sentar na cadeira de rodas e a enfermeira acompanha, levando o frasco de soro.

Luiz ainda se vê no meio do fogo, quando ouvi alguém lhe chamar repetitivamente.

Maria — Luiz? Luiz? Está me ouvindo?

Luiz geme com dificuldades e tenta abrir os olhos. Vê a porta e se arrasta, sai em um celeiro. Ele vê Margaret e de mãos dadas felizes correm por um corredor. Saem dentro da igreja. Ele coloca rosas brancas, enfeitando-a nos cabelos e se aproximam do altar. Segura a mão um do outro.

Maria pega a mão dele e se alegra, sentindo ele apertá-la. Como também se alegra Margaret, diante dele, no altar.

Maria — Estou aqui, meu amor. Estarei sempre perto de você. Nunca vamos nos separar. Sempre estaremos juntos, mesmo quando a morte… — e sorri, seca as lágrimas. — A morte nunca irá nos separar. Nosso amor será eterno. Se você me deixar, eu não terei outro amor. Jamais me casarei com outro. Você será para sempre o meu único e eterno amor.

Custódio, comovido pelas palavras de Maria se afasta.

Enfermeira também sai, deixando-os sozinhos.

Custódio na enfermaria, lembra-se de Raquel. Logo depois ele está no quarto, diante o corpo de Estela, estirado na cama. De pé, ao lado do corpo também está ela, que o vê chegar e lamentar com profunda tristeza. — Você estava certa. Eu devia ter procurado sua amiga. Por onde será que anda Raquel?

Estela sorri — Em breve você será recompensado por corrigir o seu erro com Maria e Luiz. Por acreditar que o amor entre eles é a fonte de esperança para a felicidade.

Custódio — Perdoe-me por não ter se interessado pela sua vida. — segura a mão dela — Você é minha irmã. Tenho certeza disso. Sou o irmão que você procurava e estávamos tão perto um do outro.

Estela — Assim deveria acontecer. Eu o perdoo, por tudo eu o perdoo. Minha história não termina aqui.

Naquele instante, Adalberto entra chamando a atenção de Custódio e Estela.

Custódio — O que faz aqui esta hora?

Adalberto? — Maria, onde está? Estive no quarto a ela não está lá.

Custódio estranha: — O doutor veio no hospital a essa hora da madrugada só para saber da Maria?

Adalberto disfarça: — O Luiz, como ele está?

Custódio sorri — Hum! Então, o doutor se lembra que ele e a Maria são namorados? Há, desculpa, agora entendi. Caso o Luiz morrer o doutor vai consolar a Maria.

Adalberto — Ele estava muito mal quando sai daqui.

Custódio — Creio que agora ele está bem melhor. Maria está com ele. O Geraldo apareceu, faz poucas horas, e me pediu para que levasse Maria para junto do Luiz. Disse que não teria paz, caso o filho viesse falecer, sem a certeza de que ele aceitou a união dos dois. Como Dudu também me pediu o mesmo, quando esteve aqui no anoitecer, e, eu vendo o Luiz piorar a cada minuto, acabei concordando em levar a Maria para perto dele.

Da vidraça, os dois observam Maria e Luiz dormindo tranquilos. Ele ainda respira através do aparelho, e ela deitada, ocupando um pequeno espaço da cama, ao lado dele.

O dia amanhece. Dudu dirigindo para o carro numa esquina para virar. Ele vê Raquel e lembra-se dela, na companhia de Beto no casamento de Custódio e também ela saindo do quarto, quando ele foi atrás de Custódio. Parando o carro ele fala com Francine. — Espere um segundo, eu já volto. — e rapidamente atravessa a rua, seguindo Raquel, a pé.

Robson (3 anos). — Quero ir com o papai.

Francine, que seguia Dudu com o olhar. — Papai já vem, vamos esperar.

Robson começa a chora. Dudu para um pouco distante, quando Raquel para em uma banca de flores, falando com o comerciante.

Francine dentro do carro percebe quando Raquel segue a rua e Dudu atrás. Ela pega na mão do filho que ainda chora. — Não precisa chorar, vamos atrás do seu pai. — e também segue Dudu, que para novamente, quando Raquel entra no restaurante.

Ele olha através da vidraça para ver se via Raquel, e dá sinal com os dedos, chamando o garçom que o reconhece e vai até ele, do lado de fora.

Francine vê o garçom cumprimentando Dudu, com alegria — Como vai, senhor Dudu? E hoje o senhor veio muito cedo.

Dudu — Está tudo bem! Eu só quero lhe pergunta uma coisa. Aquela senhora que acabou de entrar, você a conhece?

Garçom — Sim! É a dona Raquel. Ela é dona do restaurante.

Francine segura o filho que ameaça correr onde está Dudu — Não, venha, vamos esperar o papai no carro, ele já está voltando — e volta o caminho.

Dudu com o garçom — Giza, então é filha dela?

Garçom — Sim, senhor! Eu não sabia que o senhor conhecia dona Raquel.

Dudu — Eu também não sabia que ela era dona do restaurante. Já estive aqui tantas vezes e não tinha visto ela ainda.

Garçom um pouco constrangido — Nem sempre dona Raquel permanece no horário de movimento.

Dudu — Obrigado, pela atenção. Foi bom saber que Raquel se casou com outro.

Garçom — Ela é viúva faz cinco anos.

Dudu surpreso — Viúva a cinco anos? Você só pode estar brincando.

Garçom — É o que diz dona Raquel. Bom, ela sempre leva flores no cemitério no tumulo do marido.

Dudu — Como se chamava o esposo dela?

Garçom — Roberto Lacerda.

Dudu sorri — Preciso trazer uma pessoa aqui para conhecer essa história. Só me diz uma coisa? Aquele dia em que estive aqui com o meu irmão Custódio, e a garçonete levou a menina embora, a dona Raquel estava no restaurante?

Garçom — Sim, senhor!

Dudu — Roberto Lacerda era meu irmão. Desde a morte dele, não tivemos notícias de Raquel. Ela viu quando eu cheguei com o meu irmão, e por isso levou Giza embora. — sorri — Estou feliz em saber que tenho uma sobrinha. E meu irmão Custódio precisa saber disso. Meu pai também vai adorar saber que tem uma neta.

Garçom — Dona Raquel é uma pessoa tão boa, não entendi o motivo dela esconder a existência da menina.

Dudu — Giza não é filha do meu irmão, não do Roberto, eles não eram casados. Sua patroa não mentiu a respeito da morte dele. E, bom, você me ajudaria se eu trouxer meu irmão Custódio novamente aqui? Garanto que será bem gratificado. E ela não precisa saber de nada.

Francine, no carro, fala com o filho chorando: — O papai não vai ficar lá pra sempre, ele já deve estar voltando. — sorri — Olha ele aí? Não falei.

Dudu entra no carro e fala com ela — Vou deixar você e Robson na casa da sua mãe e vou voltar. Vou almoçar com o Custódio.

Francine — Quem é aquela mulher que você seguiu até aquele restaurante? E foi bem recebido pelo garçom que o conhece.

Dudu — Você me seguiu?

Francine — Graças a um garotinho que começou a chorar querendo ir atrás do pai.

Dudu ri, enquanto coloca o carro em movimento — Qualquer dia vou ficar sem o calcanhar, os dois!

Francine séria — Estou falando sério Dudu, quem é aquela mulher?

Dudu — Calma! Não precisa ficar brava, já vou explicar.

Francine — Quero mesmo uma explicação bem convincente.

Robson — Pai, onde o senhor foi?

Dudu — Chii! Vou ter que dar explicações a você também. Bom, eu fui atrás de uma mulher muito bonita e a sua mãe está se mordendo de ciúmes. — e ri olhando Francine que esta seria.

Custódio, na sala, atende um paciente. Dudu entra. — Oi mano. Está muito ocupado?

Custódio — Mais ou menos!

Dudu sorrindo — Já vai sair para almoçar?

Custódio — Não agora. Daqui a pouco.

Dudu — Vou visitar o Luiz enquanto isso. — e sai.

Luiz, na cama, tinha o pé enfaixado. — Já estou quase pronto para outro.

Dudu bate com a mão fechada, na madeira. — Isola! Você está fazendo muita falta no escritório.

Luiz — Vou receber alta amanhã.

Dudu — Está bem mesmo, para ir pra casa?

Luiz — Ainda estou sentindo um pouco de falta de ar.

Dudu brinca — Cadê a Maria?

Luiz ri — Foi visitar o seu Moreira na cadeia. Eu ainda não acredito que ele teve coragem de bater no delegado por causa da Maria.

Dudu — Como disse o meu pai outro dia. Já vi pai proteger filho, mas o Moreira passa dos limites.

Naquele instante, Maria, Moreira, Dora, Mirtes e Geraldo chegam.

Dudu – Olha só, a família completa.

Enquanto se cumprimentam.

Maria — O delegado liberou o meu pai.

Moreira — Estou envergonhado. Bom, eu mereci passar uns dias na cadeia. O único problema, o delegado vai me prender de novo se me encontrar pela cidade.

Dudu — Como assim, Moreira?

Moreira — O delegado me deu um mês de prazo pra sumir de São Paulo, caso contrário, se me vê na rua, me coloca na cadeia de novo. Ele disse que essa será a minha sentença.

Luiz o olha espantado — E para onde o senhor está pensando em ir?

Maria — Eu já falei com o meu pai, Luiz, que não vou sair de perto de você. Se for preciso vamos morar desde já na pensão.

Luiz suspira aliviado — Que bom ouvir isso, estou até respirando melhor.

Custódio chega e fala com Dudu. — Quer ir agora, vamos? Mas não posso demorar.

Dudu se despede de todos. Do lado de fora, já entrando no carro — Vamos no restaurante que almoçamos segunda feira e você gostou.

Custódio — Por que tem que ser lá? Tem restaurantes ótimos aqui perto.

Dudu brincando — Você é meu convidando. Posso escolher o lugar?

Custódio — Não está mais aqui quem falou.

Chegando na entrada do restaurante, Dudu faz sinal ao garçom que servia uma das mesas.

Dudu fala com Custódio, e o garçom chegando. — Vai se acomodando, eu volto num instante.

Garçom recebe Custódio — Como vai, doutor? E tem a gentileza de me acompanha, o senhor Dudu já reservou a mesa.

Raquel empalidece vendo Custódio acompanhar o garçom e disfarçadamente entra na porta, saindo na cozinha. Fala com a cozinheira — Vou dar uma saída. Você cuidada de tudo como sempre, eu volto mais tarde.

Garçom fala com Custódio, sentado ao redor da mesa — Com licença, vou pegar a bebida.

Raquel, muito tensa, sai pela porta do fundo e dá de frente com Dudu — Como a senhora vai, dona Raquel?

Outro garçom se aproxima de Custódio que olhava o cardápio. — Como vai, doutor Custódio?

Custódio — Bem, obrigado!

Garçom — O doutor não me conhece. Nem deve se lembrar de mim. Eu estive na santa casa, outro dia, com a minha mãe, que não estava nada bem, e um simples remédio que o doutor receitou foi uma beleza para ela, que já vinha sofrendo faz tempo. Tanto, que assim que eu vi o doutor chegando, não pensei em outra coisa, não ser agradecê-lo, em nome da minha mãe, ela não esquece o doutor um minuto. Pra ela agora é Deus no céu e o doutor na terra.

Custódio — Fico feliz com isso! — olha ao redor. — Não tinha uma garotinha aqui? Quando estive outra vez, ela me entregou uma flor. Lembrei-me dela por causa do nome Giza.

Garçom alegre — Dona Raquel não traz mais a filha para o restaurante desde segunda feira.

Custódio amarela — Dona Raquel?

Garçom — Sim! Dona Raquel é dona do restaurante. Giza é filha dela.

Custódio muito tenso — Como é a sua patroa?

Do lado de fora, Dudu fala com Raquel — Então, é por isso que eu nunca a vejo no restaurante?

Raquel tensa — Olha, senhor Dudu eu… — e se cala, sem conseguir prosseguir a conversa.

Dudu — A senhora tem ideia do que faz? Porque eu já estou sabendo que a senhora diz para todos que é viúva do meu irmão Roberto, e na verdade sabemos que não é.

Raquel — Eu teria casado com o Beto se não tivesse acontecido com ele o que aconteceu.

Dudu — E quanto ao meu irmão Custódio? A senhora soube o que aconteceu com ele, não soube?

Raquel — Se o doutor quisesse, ele já teria me encontrado. Não estou escondida.

Dudu — A senhora acabou de fugir dele que está sentado lá dentro do seu restaurante.

Lá dentro, o primeiro garçom chega — A sua bebida, doutor!

Custódio levanta — Diz para o meu irmão Dudu que fui embora.

Garçom — Espere, doutor?

Custódio volta, coloca uma nota na mesa — Pela bebida. — aponta os dois garçons — Dividem o troco.

Garçom tenta segurà-lo — Não doutor, é que o seu irmão Dudu…

Custódio é gentil — Eu falo com ele depois. — e sai rápido.

Dudu fala com Raquel — Se não fugiu mesmo dele, então vá lá dentro e conversa com ele.

Raquel indignada — Espere aí? Você não pode me exigir issso? Eu simplesmente não quero me encontrar com ele.

Custódio, sai do restaurante vê Dudu falar Raquel. Para longe, sem ouvir a conversa.

Dudu — A senhora não tem ideia de como será importante o meu irmão saber que tem uma filha. Giza é filha dele não é? Qual a razão da senhora dar esse nome a menina?

Raquel abaixa os olhos, pensativa. Custódio se afasta, seguindo outra direção. Raquel confirma — Sim! Giza é filha do doutor. Esse é o motivo eu não querer aparecer na frente dele. Como já falei, se o doutor quisesse eu fazendo parte da vida dele já teria me procurado, então como eu poderia chegar a ele e dizer olha doutor estou aqui, na sua frente, com dois filhos que precisam de um pai. Não vamos esquecer o lugar onde me conheceram. Será que o doutor acreditaria em mim que os filhos seria dele?

Dudu — Espera aí? A senhora está dizendo filhos?

Raquel — Sim! Giza não veio sozinha. Ela tem um irmão.

Dudu alegre — Gêmeos? A senhora teve gêmeos? Meu Deus, isso é a prova deque pode mesmo existir um parentesco entre Custódio e minha família. Ele não vai acreditar quando souber disso! E, ele já deve estar preocupado por eu não aparecer. — aponta Raquel — Não continue negando esse direito ao meu irmão. Se ele é mesmo pai dos filhos da senhora, vá lá dentro e conta a verdade a ele. Custódio tem o direito de saber. A senhora não pode continuar escondendo dele esse direito.

Raquel — Se eu quisesse esconder do seu irmão a existência dos filhos, não estaria morando ao lado da casa dele. Eu fiz questão de ficar perto do doutor, assim, todas as vezes que os filhos precisarem de ajuda, ele, como médico poderá cuidar dos filhos. Isso eu jamais pensei em negar, tanto para o doutor quanto para os filhos. E você está certo. O tempo passa rápido demais e daqui a pouco Giza e Roberto vão descobrir que fazem parte de uma família e vão querer saber quem é o pai, e eu não quero mentir para os meus filhos, dizendo que o pai está morto, onde na verdade não está. Eu venho pensando nisso faz um tempo, e não sabia como fazer, e já que aconteceu, do senhor descobrir a verdade, não tem porque eu continuar me mantendo a distância do doutor. O senhor pode ir, assim que eu conseguir coragem, me aproximo para falar com os dois.

Dudu — Posso mesmo confiar na senhora! Que vai mesmo falar com o meu irmão?

Raquel sorri — Está vendo como tenho razão de não me aproximar do doutor! Quem garante que até mesmo ele não venha duvidar das minhas palavras, quando souber dos filhos.

Dudu faz um gesto com as mãos — Desculpa? Acho que fui estúpido. Com licença — e se afasta.

Raquel o acompanha com o olhar. Suspira fundo, e volta a entrar pela porta dos fundos. Ela aparece dentro de restaurante, onde Dudu fala com o garçom. — O que aconteceu que ele foi embora?

Garçom 2 — A culpa foi minha! Fui agradecer ao doutor por atender a minha mãe tão bem outro dia, ter acertado com o médio e ele perguntou da Giza?

Raquel se aproxima ouvindo a conversa. O garçom vendo-a continua — Acabei falando da dona Raquel. Eu não sabia que o doutor a conhecia, e ele acabou indo embora, eu não sei porque. Desculpa, dona Raquel. Espero não perder o emprego por causa disso. Preciso desse trabalho.

Raquel — Você merece um presente. Fez eu ver que estou certa, no que imagino que poderá acontecer.

Garçom — Como assim? Não entendi o que a senhora disse.

Raquel — Vamos esquecer o assunto? — aponta a mesa, falando com Dudu — Espero que pelo menos o senhor não deixe de almoçar. Faço cortesia da casa se não se importar.

Custódio, no hospital, enquanto lava a mão na pia se olha no espelho. Ele lembra-se da menina lhe entregando uma rosa e depois, de longe Dudu falando com Raquel.

Ela, sentada na mesa de frente a Dudu, explica, enquanto almoçam. — Como Roberto não voltou, e por eu perder o meu pai, achei que não seria certo eu continuar morando com duas crianças, num lugar tão distante, e voltei para São Paulo com a minha mãe.

Dudu — Estou totalmente envergonhado e sem jeito. Achei que Custódio ficaria feliz em revê-la. Não sei o que dizer. — Sorri — Eu gostaria de conhecer os meus sobrinhos. A Giza eu já vi algumas vezes aqui, mas o Roberto.

Raquel — Ele é mais apegado com a avó. Cuido mais da Giza e a minha mãe do Roberto. Bom, é só dizer quando quer ir.

Dudu — Agora.

O carro para quase de frente a casa de Custódio. Dudu desce do carro. — Não consigo acreditar que a senhora está morando ao lado da casa do meu irmão à tanto tempo. Depois do que aconteceu com a minha cunhada e com o Roberto, Custódio se fechou para o mundo. Ele vive dentro daquele hospital vinte quatro horas, não sei como consegue. Acredito ser um lugar onde não para, com pessoas saindo e entrando todos os minutos, assim, Custódio não tem tempo de pensar. No fundo, meu irmão escolheu a profissão certa, sem descanso, sem intervalo. A senhora se escondeu dele aqui, porque se quiser se esconder do doutor é vir para a casa dele, ou, se tornar vizinho, como a senhora fez.

Raquel — Vamos entrar?

Na sala. Enquanto as crianças brincam ao redor da mesa no centro da sala, mãe de Raquel dá de comer a Giza. Beto também come, oferecido pela empregada.

Laura estranha. — O que está fazendo a essa hora em casa? — olha Edu — Quem é?

Raquel — Ela é minha mãe! Ajuda a baba cuidar das crianças e os deveres da casa. — pega Giza que se aproxima — Essa você já conhece.

Dudu fixa o menino, como se visse o irmão. Coloca, a mão no alto da cabeça dele — E você é o Roberto. Tem uma pessoa que vai adorar conhecê-lo.

Laura — Quem é ele, Raquel? Você ainda não me disse.

Raquel — O Eduardo é irmão do Roberto e do doutor Custódio.

Laura se alegra — Então, até que enfim você decidiu fazer o que venho lhe pedindo faz tanto tempo. — olha Dudu — Eu nunca concordei com a atitude da Raquel de esconder a verdade para o doutor e a família dele. Desde a primeira vez que eu vi o doutor na santa casa, achei que Raquel devia procurá-lo e dizer a verdade. Ela simplesmente pensa que o destino se encarregará disso. Que um dia a vida vai colocar pai e filhos frente a frente, sem que ela tome a iniciativa para isso, quando resolveu comprar essa casa ao lado da casa do doutor. Pagou quase o dobro do valor, para o outro proprietário vender a casa.

Raquel desapontada — Mãe, por favor, o senhor Dudu não precisa saber de todos os detalhes. Não quero que ele pense que montei o restaurante próximo a fábrica, pensando em me aproximar um pouco mais. — e se refere a Dudu — Foi coincidência! Montei o restaurante lá sem saber, tanto que eu me surpreendi, na primeira vez que você chegou com um cliente para almoçar, e acabei fugindo para que não me visse, na hora eu o reconheci.

Dudu — Foi coincidência também, hoje, eu ver a senhora passar na rua, na frente do meu carro, e eu também a reconheci, tanto que acabei seguindo, e fiquei surpreso, descobrindo que era proprietária do restaurante. Confesso que estou mais surpreso ainda pela reação do meu irmão, dele agir como agiu, fugindo como fugiu. Então, me pergunto como vai ser a reação dele quando souber que a senhora tem dois filhos dele? Porque eu e ele já conversamos a respeito disso, uma vez, e não passa pela cabeça dele, a senhora ter engravidado. Ele me disse com clareza, que a senhora colocaria o filho nos braços dele se isso tivesse acontecido. Bom, por outro lado a senhora vez isso. Veio morar ao lado da casa dele. E digo mais. O Custódio ainda mantém essa casa porque foi construída pelo pai. Caso contrário, acredito que já teria vendido, se não fosse pela memória do pai.

Raquel desapontada — O senhor viu com os próprios olhos o que aconteceu hoje, e decide por você mesmo, se deve dizer ou não ao seu irmão a respeito dos filhos.

Dudu observa as crianças — Nem parece que são gêmeos. A Giza é tão pequena perto do irmão.

Raquel — A Giza sempre foi difícil para alimentá-la. É boazinha, quietinha, e para comer é uma luta constante, enquanto o Roberto ele é bravo, um furacão e devorador, se deixar ele come a parte dele e o dela também, tanto que é quase o dobro do tamanho dela.

Dudu — Por que deu esses nomes a eles? Roberto e Giza.

Raquel — Roberto, porque foi através do seu irmão Roberto que conheci o doutor, e Giza por ela ter me separado dele.

No hospital. Custódio separando alguns medicamentos fala seriamente com Dudu. — Você sabia que ela era dona daquele restaurante?

Dudu apoiado na mesinha, fala calmamente — Não, eu não sabia até…

Custódio bravo, toma a frente — Deixa de ser mentiroso, Dudu! Eu vi vocês dos conversando do lado de fora do restaurante.

Dudu — Até hoje de manhã eu não sabia. Descobri por acaso!

Custódio — E veio correndo me buscar para quê? Se eu a quisesse fazendo parte da minha vida eu já teria procurado por ela há muito tempo, você não acha? E pelo que percebi Raquel está muito bem. Ela é mãe de uma linda garotinha, lembro-me da menina, que deve ter dois anos na marra. Isso mostra que Raquel deve ter se casado, encontrado outra pessoa. Enquanto eu ainda continuo preso a morte da minha mulher, foi nisso que você pensou?

Dudu desapontado — Claro que não. Não é nada disso!

Enfermeira aparece na porta — Com licença? Doutor o paciente do quarto 15 está novamente com vômito e muita dor abdominal.

Custódio — Já estou indo ver ele. — vira para Dudu — Tenho que trabalhar, tem paciente me esperando. E eu não quero falar daquela mulher com você. Ela foi apenas uma que passou na minha vida, como também passou a minha mulher. As duas são apenas lembranças do meu passado. E não sei qual foi a sua intenção e nem quero saber! Desculpa falar assim! Mas é a pura verdade. Agora preciso ir, tem um paciente passando mal esperando. A gente se vê qualquer hora. — e sai.

Dudu pensativo, ainda permanece ali por alguns segundos.

Em casa ele fala com Francine — Eu não entendo meu irmão! Juro que eu gostaria de entender a cabeça dele.

Francine — Eu acho que o doutor ficou com ciúmes.

Dudu — Acreditando Raquel estar casada com outro? Ele me disse isso. Só que a verdade é uma só! Ele quem se esconde. Parece que sabe. Que sente a presença dela próximo a ele. Vai ver é isso! A alma dele, o espírito sente a presença de Raquel, esperando ele, ao lado da casa onde ele não consegue ficar. Ele foge da casa dele, como o diabo foge da cruz. Porque foi exatamente isso que aconteceu. Custódio fugiu quando soube que Raquel era dona daquele restaurante e provavelmente nunca mais vai passar na frente daquele lugar. — ri — Eu quero estar perto, para ver qual a reação do Custódio, quando descobrir que Raquel mora ao lado da casa dele.

Francine — Vidas passadas. Você mesmo já me falou isso uma vez. Que o seu irmão está passando por algo que faz parte de outra vida passada. Se isso é verdade, o espírito dele foge de algo que talvez não queira viver novamente a mesma vida, e foge por medo.

Dudu — Talvez seja mesmo isso, medo que o Custódio tem. Ele confessou, no dia em que a mulher dele foi internada no hospital, que ele não conseguiu lutar contra o desejo de ver Raquel. De ter ela nos braços, fazer amor com ela, e ele ainda está lutando contra esse desejo. E quanto ao Beto, ele inventou aquela brincadeira, colocando Raquel na vida do Custódio. E quando Beto soube da morte da Giza ele chorou nos meus braços e prometeu que ajudaria Custódio. Que iria colocar Raquel novamente na vida do Custódio e acabou morrendo sem antes fazer isso! — dá pausa, pensativo e acrescenta — Será que o Beto tinha que nascer novamente como filho do Custódio? Quando olhei aquele menino eu senti a presença do meu irmão nele. Beto está vivo dentro daquele menino. Eu até me lembrei do meu pai na hora. A minha vontade era pegar o meu pai e levar ele para conhecer o neto. Meu pai tinha que estar viajando justo hoje.

Francine ri — Dudu, calma. Raquel não vai fugir com as crianças. Quando o seu pai voltar de Santos, você leva ele para conhecer o menino. E quanto ao seu irmão Custódio? Você não vai dizer a ele que tem um filho? Quero dizer filhos?

Dudu — Ele simplesmente me pediu para não falar da Raquel com ele, mas vou dizer, assim que tiver oportunidade.

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