O Diário de Lucca: Capítulo 10 – Não Era para eu Gostar de Você

Lucca queria, de alguma forma, não simpatizar com a namorada de Arthur e que também ela não fosse com a cara dele. Assim ficaria fácil para todo mundo se ignorar, mas todos sabemos que na maioria das vezes na vida as coisas não saem como em nossos pensamentos, pois, puro e simplesmente, a vida não é roteirizada como no cinema ou televisão. Está mais para um game de livres escolhas que interferem no final do seu personagem principal, mas mesmo assim todo mundo vai morrer no final.

Mas eles só se encontrariam no final de semana, primeiro, Lucca combinou de passar à tarde com Dario em seu quarto na casa do estudante na universidade federal.

Quando não sabia o que vestir, Lucca só sabia de uma coisa, uma camisa preta e uma calça ou bermuda jeans e tudo ficaria bem, foi exatamente o que ele fez para ir ao seu encontro com o seu novo amigo. Não estava se sentindo lindo, mas dava para o gasto, pegou um desodorante extra já que iria ter que pegar mais do que um ônibus até o campus da universidade federal da sua cidade, onde Dario vivia na casa do estudante.

Nunca tinha pegado o ônibus que ia para a universidade federal em toda sua vida, aquela seria a primeira vez e toda sua visão de vida mudaria quando entrasse no veículo. Lucca já achava a condução que pegava para voltar para a sua casa no sentido bairro-centro, agora ia descobrir uma nova forma de se sentir enlatado como uma sardinha dentro de um transporte público. Dois corpos não habitam o mesmo espaço? Bem, provavelmente nunca entraram em um ônibus que ia para a federal.

Surpreso ainda é muito pouco para descrever o que Lucca sentiu quando assistiu as pessoas entrarem na condução sem parar quando o motorista estacionou em frente a segunda parada, não paravam mais, parecia que toda a cidade havia resolvido ir para o campus naquela tarde, porém eram só os universitários indo para as suas aulas. Em um dos momentos da viagem, que levou mais ou menos quase uma hora e meia, mesmo a cidade sendo pequena, Lucca começou a imaginar como seria sua vida todos os dias quando entrasse para a federal.

Spoiler: viver dentro de ônibus não era a sua meta de vida.

Quando desceu, na parada perto dos prédios da casa do estudante, Lucca sentiu uma refrescante brisa bater contra o seu rosto e reanimar todo seu corpo novamente. Felizmente ou não, dependendo de sua forma de pensar, o campus era mais verde que toda a cidade de Santa Maria. Pegou seu telefone celular e enviou uma mensagem para Dario e em seguida uma resposta com as direções da sua localização foram enviadas para Lucca. Mesmo com medo de se perder naquela quase cidade cenográfica da Globo, o nosso protagonista seguiu as instruções de Dario e procurou pelo o prédio em que ele vivia.

Chegou a frente a um prédio cinza com várias janelas e imediatamente sorriu quando viu Dario sentado em frente dele, se aproximou caminhando rapidamente e assim que o outro também o viu, levantou e sorriu. Os dois se abraçaram.

— Vamos entrar? — perguntou Dario.

— Vamos. — respondeu Lucca sorrindo.

O quarto em que Dario vivia, dividido com outro rapaz, estava bem bagunçado, mas Lucca escolheu não ligar muito para isso porque, afinal, era um adolescente morando tecnicamente sozinho pela a primeira vez em sua vida.

— Seu colega de quarto não está? — Lucca perguntou assim que o novo amigo fechou a porta.

— Não, ele tá na aula agora.

— Ah sim. — sorriu Lucca.

Os dois sentaram no sofá, ficaram em silêncio até Dario decidir puxar assunto, perguntando:

— Planos para o final de semana?

— Vou conhecer a namorada do Arthur.

— Interessante.

— Coisas de amigos que são como irmãos. — respondeu Lucca rindo.

O silêncio voltou, mas dessa vez com um clima diferente pairando no ar. Dario, lentamente pousou sua mão sobre a perna de Lucca que engoliu a seco, nervoso, olhou para o novo amigo e sorriu tímido e em seguida Dario se aproximou mais, os olhares se encontraram e as respirações sincronizaram. Se beijaram, foi primeiro de Lucca com outro rapaz e se sentiu vivo pela a primeira vez em toda sua vida, um arrepio percorreu todo seu corpo e se instalou entre suas pernas, bem abaixo da cintura. O sabor dos lábios de Dario deixaram seu corpo acesso como a boca de um fogão e quando as mãos tocavam seu corpo o sentia vibrar.

— Uau. — sussurrou Lucca sorrindo.

— Gostou? — perguntou Dario rindo.

— Sim, sim. Quer dizer, foi a primeira vez que beijei um garoto, então… — revelou Lucca ficando vermelho.

— Então, quer dizer… Vo-você ainda é virgem?

— Sim. — respondeu Lucca em um sussurro, ficando sem graça com aquele questionamento e ainda mais com a sua resposta.

— Desculpa, eu não queria te deixar sem jeito.

— Tudo bem.

— Quer fazer alguma coisa agora? — perguntou Dario.

— Tipo?

— Ah não sei… Voltar a me beijar, talvez? — perguntou o novo amigo rindo.

— Por mim tudo bem. — Lucca respondeu rindo também.

Dario segurou a nuca de Lucca, em seguida levou os seus lábios de encontro aos deles, em resposta ao beijo o mais jovem segurou a camisa do universitário com força, continuaram com aquele beijo deixando mais intenso e assim Dario acabou ficando por cima de Lucca, esfregando seu corpo contra o dele enquanto continuavam com os beijos, mas não passaram disso, Lucca ainda não estava preparado para a próxima fase.

Depois dos beijos, ficaram sentados conversando, de mãos nadas. Eram poucos os momentos em que Lucca se sentia a vontade com outra pessoa, geralmente eram quando ele estava com Arthur, mas raramente com a sua família. Agora ele estava se sentindo muito mais que a vontade com Dario, era quase como uma liberdade.

— (…) mas eu prefiro muito mais Digimon do que Pokémon, qual o problema disso? — perguntou Lucca rindo.

— Nenhum, mas é aquilo né, Pokémon é sobre animais reais e Digimon é aquela malucagem toda de um cão virando um gato e depois virando uma anja. — respondeu Dario também rindo. — Prefiro Pokémon, é mais natureza.

— Se eu quiser ver natureza eu vou acampar, eu prefiro Digiomon porque o anime é melhor, quer dizer ele tem uma história e não é como um mundo paralelo que o protagonista tem dez anos quase vinte anos.

— Tudo bem, agora você lançou um ponto legal de ser discutido, mas os jogos de Pokémon pisam nos do de Digimon.

— Isso sim. — concordou Lucca. — Mas eu to falando da série animada e não dos games.

— Agora eu estou falando dos jogos. — disse Dario rindo.

— Tudo bem então. Que horas são agora mesmo?

— Quatro e meia.

Respondeu o universitário e em seguida Lucca levantou do sofá em um pulo.

— Ai meu Deus, eu tenho que ir para casa, era para eu voltar antes da minha mãe voltar do trabalho, mas pelo jeito vou chegar depois dela. — parou de falar e olhou para Dario, sorriu e disse: — A tarde foi muito boa, obrigado por ter me convidado.

— Não precisa me agradecer. — sorriu o mais velho, em seguida levantou do sofá e ficou de frente para o mais novo. — Adorei ter você aqui comigo.

Mais um beijo e assim, com o coração pulando de felicidade e um sorriso de orelha a orelha, Lucca foi levado até a parada do campus onde pegou o ônibus rapidamente, foi um bom dia já que o de amanhã prometeria uma onda de ciúmes em relação a namorada de Arthur.

Você que está lendo, deve estar se perguntando se Lucca não se sente culpado em, tecnicamente, estar com Dario e ao mesmo tempo ter ciúmes de Arthur com a namorada, pois bem, é meio complicado porque quando ele está com o universitário é um mundo completamente paralelo ao quando ele volta para a sua realidade cotidiana. Ela gosta dos dois ao mesmo tempo? Sim, mas se tivesse que escolher entre Dario e Arthur, escolheria o velho primeiro melhor amigo.

Antes de conhecer pessoalmente a namorada de Arthur, Lucca resolveu dar uma pesquisada sobre a garota em suas redes sociais, todas que encontrou que pertenciam a ela: Twitter, Facebook, Instagram, Tumblr, Orkut… Sim, Orkut, na época em que estamos no começo dessa história ainda existia essa extinta rede social da qual todos os velhos da internet sentem saudades.

Aos poucos Lucca percebeu que se a tal de Letícia não fosse namorada de Arthur e a conhecesse por acaso em algum evento para os fãs de anime na cidade, eles seriam bons amigos.

— Ai garota, assim não dá. Era para eu estar te odiando, na Malhação da minha vida era para você ser a antagonista e eu a mocinha que fica com o garoto no final. — Lucca suspirou enquanto desabafava consigo mesmo em seu quarto de frente para o seu notebook. Ele sabia que a vida não funcionava como uma novela adolescente, mas mesmo assim desejava no fundo do seu peito não gostar daquela garota, o que já havia sido vencido porque ela é exatamente o tipo de amiga que gostaria de fazer. — Eu não posso odiar alguém que ainda nem conheci, nem ela sendo namorada do garoto que eu gosto… Porque ele é hetero e o meu amigo. Você não pode ser assim Lucca… Não pode.

Assim Lucca decidiu ficar de mente aberta para conhecer a namorada do seu melhor amigo, deixaria seus sentimentos por ele de lado e daria uma chance a garota, afinal ela não tem culpa, ninguém sabe da sua paixão por Arthur e ninguém saberia por anos até decidir tirar isso de dentro dele. Ainda, Lucca estava conhecendo e gostando de conhecer e ficar com Dario, não poderia ser egoísta a esse ponto se não quem acabaria sendo a vilã da Malhação da sua vida seria ele mesmo.

Sorriu e abraçou a garota, tentou sorrir, mas ele nunca fazia isso com frequência em todas as situações e então decidiu não forçar. Lucca se odiou ainda mais quando começou a achar Letícia uma garota bonita, ela tinha grandes olhos escuros e ao mesmo tempo brilhantes e um tom de castanho em seu cabelo que puxava para uma cor mais avelã. Enquanto os dois estavam conversando sentados na cama de Arthur, o rapaz assistia anime na tela do seu notebook.

— Arthur me disse que você também gosta de ler yaoi. — disse Letícia.

— Sim. — Lucca respondeu tentando ser o mais natural que conseguiria ser. — Gosto de ler, assistir… Gosto, gosto muito de yaoi. — soltou uma risada no final, mas sua mente denunciou que ela soou forçada e rapidamente bateu uma vergonha em seus pensamentos.

— Você escreve fanfics? — a garota perguntou curiosa.

— Bem… Eu tento né, não é nada que eu me orgulhe ou uma coisa Machado de Assis, mas estamos aí.

— Ah eu quero ler! — ela pegou o seu celular do bolso. — Você posta onde? Spirit? Nyah? Wattpad?

— Nyah… Eu posto no site da Nyah. — sorriu Lucca.

— E qual o nome?

— Você realmente quer ler essa m-merda que eu escrevo? — perguntou sem jeito.

— Claro que eu quero. — respondeu Letícia. — Eu ainda posso te dar umas dicas depois de ler, se você não acha que está bom eu posso te ajudar a arrumar.

— Ela é muito boa nisso. — respondeu Arthur sem tirar seus olhos da tela.

Lucca voltou a sorrir sem jeito, naquele momento ele gostaria de morrer como sempre quando sentia sua intimidade invadida. É diferente quando as pessoas leem suas fanfics sem saberem quem as escreveu, quando uma pessoa está ao seu lado lendo suas histórias isso o deixava nervoso e, às vezes, constrangido. Assim que deu o seu nickname no site de publicação de fanfic para Letícia ela procurou o seu perfil e não demorou a entrar em uma das histórias.

A namorada do seu melhor amigo lia os capítulos com toda atenção, Lucca ficou apreensivo durante todo o processo porque a garota quase não piscava os olhos? Aquela arqueada de sobrancelha significava que tinha gostava de alguma cena ou que havia odiado? E a mordida de lábio, será que poderia significar alguma coisa? Lucca começava a achar que suas habilidades de ler as expressões das pessoas não eram exatamente confiáveis. Ela desligou a tela do celular e em seguida olhou para Lucca, antes de começar a falar tentou esboçar alguma reação que não foi bem exposta.

— Eu adorei, assim… É uma fanfic né. — soltou uma risada amigável. — A premissa toda da história principal é simples, mas não quer dizer que seja ruim, eu gosto do seu desenvolvimento, mas…

Então assim começou uma longa conversa sobre escrita entre Letícia e Lucca. A garota havia muitas dicas e ajuda para dar ao autor e por sua vez o fanfiqueiro queria muito ouvir o que as pessoas tinham a dizer sobre suas histórias e como ajuda-lo a melhorá-las e a garota de cabelos avelã tinha muito o que falar. As dicas de Letícia iluminaram a mente do jovem escritor fazendo com que os seus erros e as soluções ficassem mais claras durante todo o processo. Ela também contribuiu com algumas ideias para fortalecer os enredos e contribuir com o desenvolvimento dos personagens da fanfic.

— Eu acho com as suas dicas a história vai ficar melhor mesmo. — sorriu Lucca quando a conversa acabou.

— Ah eu só achei que ficaria melhor assim, mas não precisa seguir arrisca tudo que eu pedi, sabe… Faça como se sentir melhor e como vai se encaixar melhor em seu enredo. — sorriu Letícia ao terminar de falar.

— Vamos jogar um pouco de videogame? — perguntou Arthur assim que a conversação do seu amigo e de sua namorada chegou ao fim, rapidamente os dois encararam o garoto de cabelos negros e olhos brilhantes.

Lucca sentou em frente ao seu notebook e respirou fundo, começaria um capítulo novo de sua fanfic, porém a conversa com Letícia brotou rapidamente em sua cabeça, várias dicas de escrita e de como ajudar os leitores no entendimento, desenvolvimento dos personagens e etc. A sua cabeça começou a doer com a força que essas informações surgiram e tentou recuperar sua concentração na hora da escrita. Só que a atenção da sua mente foi completamente para outro tema, ele ter gostado da namorada de Arthur.

Vamos voltar nesse assunto? — pensou Lucca largando de mão a escrita por enquanto.

— Ela é uma garota legal, você gostou dela e tiveram uma ótima conversa e também gosta de yaoi, é boa no TEKKEN como você… Forçar uma rivalidade com ela só porque namora com o Arthur seria muito infantilidade… — dizia Lucca falando consigo mesmo em seu quarto. — Eu tenho o Dario, certo? Acho que sim, eu tenho ele… Então é melhor eu enterrar isso que sinto pelo Arthur e seguir em frente, nunca vou ter nada com ele além da nossa amizade.

Encarou a página em branco do word já formatada e deu inicio ao novo capítulo da sua fanfica, com as dicas que Letícia deu aquele seria o melhor de todos os capítulos.

— Ela é legal? — perguntou Dario à Lucca.

Os dois estavam reunidos em uma pequena lanchonete no centro da cidade, sobre a mesa uma garrafa de Coca-Cola de dois litros, dois copos com gelo e uma cesta com pequenas coxinhas de galinhas. O local um pouco movimentado por causa do clima e das nuvens cinza que pairavam sobre a cidadezinha naqueles últimos dias.

— Oi? — perguntou Lucca meio perdido. O outro rapaz rio e em seguida voltou a perguntar:

— Eu perguntei o que você achou da Letícia, a namorada do Arthur. — explicou Dario.

— Sim, sim… Ela é legal. Me deu dicas para melhorar a fanfic que eu escrevo, felizmente isso ajudou muito minha escrita e agora a fic bombom. — o nosso protagonista sorriu.

— Lucca… Eu posso conversar uma coisa séria com você? — perguntou Dario, parecia ser um assunto pesado.

— Sim…

— Eu estou gostando muito de passar tempo com você, sabe, a gente se dá tão bem, temos tantos assuntos em comum.

— Eu também gosto de passar tempo com você, eu to saindo mais e a gente joga um bom papo e tempo fora…

Dario engoliu a seco. Continuou:

— Não é só jogar papo fora, para mim é muito mais… Além disso.

— Eu não falei de uma maneira negativa. — explicou Lucca sem jeito.

— Quer namorar comigo? — perguntou Dario pegando o nosso protagonista completamente de surpresa, mas o questionador estava ansioso por uma resposta e não esperou que Lucca respondesse. — Por favor, não me deixe falando sozinho.

— Eu aceito, claro. — Respondeu Lucca sorrindo.

Os dois se inclinaram na mesa e beijaram, mas dessa vez havia um gosto e uma emoção diferente. Para Lucca era como se tudo se encaixasse naquele momento. O seu coração batia de forma frenética que poderia resgar o peito. Para Dario também havia um sabor diferente aquele beijo, ele gostava muito de Lucca e o rapaz ter aceitado o seu pedido de namoro poderia se equiparar a uma vitória e a sua liberdade que só existia quando ele estava em Santa Maria e não na cidade em que nasceu ao lado da sua família.

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