Estava sem ter contato com o melhor amigo, talvez ex-melhor amigo, desde o dia que ficou sabendo dos verdadeiros sentimentos dele em relação a amizade. Um tempo depois ele tentou entrar em contato com Lucca, mas não obteve resposta, na verdade a mensagem foi visualizada, todavia não foi respondia. Arthur se formou no ensino médio por meio de um supletivo e em seguida foi chamado para servir na base aérea da cidade. Os primeiros meses foram os mais difíceis para ele porque ficou um bom tempo somente vivendo nos dormitórios da base para a fase de treinamento.
Aos poucos que ia se acostumando com o fato de estar servindo o país, Arthur também pensava se gostaria de seguir uma carreira militar. Já estava dentro do instituto, então, por que não ir em frente? Gostava dos seus colegas de trabalho, tinham uma vibe igual a dele. Começou trabalhando em serviços braçais mais pesados até que parou na cozinha e ficou nesse setor. Acompanhava de longe a vida de Lucca, já havia passado um longo tempo desde a última vez em que se falaram e se viram pessoalmente, somente tinha notícias dele pelo Facebook.
Uma certa noite, no meio do ano enquanto Arthur deixava a autoescola que estava frequentando depois de realizar mais um teste antes da prova final, durante sua caminhada até a rua onde pegaria o ônibus de volta para a sua casa acabou sendo assaltado. Aconteceu da seguinte maneira: três garotos, menores de idade, cercaram Arthur e estavam armados com canivetes pegaram a carteira e o celular, quando Arthur fez um movimento para tentar fugir um dos rapazes — provavelmente por um ato de puro reflexo — acabou perfurando o peitoral do militar. Assustados, os três deixaram a carteira e celular de Arthur cair e saíram correndo.
Arthur caminhando até o final da rua, onde tinha uma farmácia e quando entrou no estabelecimento com o peito perfurado e sangue em sua camisa, caiu no chão ao perder sua consciência. Acordou em uma unidade de pronto atendimento, uma enfermeira estava realizando o curativo em seu peitoral. Foi assim que ele conheceu Isabela, sua futura namorada. O médico explicou mais tarde que os ferimentos não haviam sido graves por sorte e que tudo estava bem. Uns dias mais tarde Arthur reencontrou Isabela por acaso em um shopping da cidade, os dois passaram a tarde conversando e descobrindo coisas em comum, aprendendo um sobre o outro e acabaram trocando os seus números de celulares.
Continuaram conversando online, mas parecia que as coisas não iam andar muito entre eles, porém estavam dispostos a insistir. Os dois. Acabaram se encontrando mais vezes, agora tudo já pensando. Foram assistir filmes, comer em restaurantes, em parques, chegaram até a viajar juntos. Arthur é um cara que teve muitas namoradas, ele sabia quando a relação parecia não ter como ir mais para frente, não ter um futuro e com aquela garota, com Isabela, tudo parecia diferente. Será que, ainda na casa dos vinte anos de idade — recém começando na verdade — ele teria encontrando aquela com quem um dia se casaria?
Quem sabe, somente os próximos acontecimentos poderão dar a certeza disso.
O final do ano estava próximo, alguns meses e já estariam em Dezembro. Em poucos dias iria acontecer uma das duas paradas LGBTQI+ da cidade de Santa Maria sendo que a maior recebia ajuda da prefeitura para acontecer e a segunda era realizada com doação e arrecadação de vendas que aconteciam na edição anterior. Arthur iria comparecer a segunda parada porque no dia em que a primeira iria acontecer estaria de serviço na base aérea, Isabela também compareceria. Lucca estaria nas duas.
Porém foi realmente na segunda parada em que os dois ex-melhores amigos se reencontraram. Lucca havia ido mais cedo com seus amigos, Leandro e Sabrina para pegarem a caminhada até a praça onde o evento se fincaria até o seu término previsto para as dez horas da noite e mais tarde Samuel daria as caras para passar mais um tempo ao lado do seu namorado.
Depois de sua namorada ir comprar duas latas de cerveja para eles que Arthur avistou Lucca sozinho no meio da multidão mexendo em seu celular, o achou tão solitário e pensou que seria muito legal da sua parte ir até o rapaz, quem sabe, com esse ato de amizade extraordinário eles voltariam a serem amigos. Só que Lucca não estava sozinho, os dois amigos estavam comprando bebidas também e Samuel já se encontrava na multidão o procurando.
— Oi… — disse o rapaz de olhos brilhantes se aproximando do gordo.
— Oi… — sussurrou Lucca surpreso ao ver Arthur. — O que faz aqui?
— To curtindo, com minha namorada. — respondeu sorrindo. — E você? Sozinho?
Lucca se segurou com todas suas forças para não demonstrar o que sentiu com a pergunta e com o tom também usado na voz.
— Não, não estou sozinho. — respondeu sorrindo.
— E tá com quem? — perguntou Arthur.
— Com dois amigos e esperando meu namorado.
— Ah… Seu namorado. Onde ele tá?
— Oi meu amor… — disse Samuel se aproximando de repente de Lucca e em seguida o beijando na boca, um beijo correspondido de uma forma para que as saudades fossem saradas ali mesmo naquele ato. Quando se afastou do outro, Samuel olhou para Arthur e perguntou a Lucca:
— E esse é?
— Um antigo amigo meu, Arthur. Arthur esse é meu namorado, Samuel. A gente se conheceu no pré-vestibular que eu cursei.
Samuel e Arthur se cumprimentam apertando a mão um do outro.
— Olha só que legal! A gente pode sair nós quatro. — sugeriu Arthur sorrindo.
— Nós quatro? — perguntou Lucca surpreso.
— Sim…
— Do que ele tá falando? — perguntou Samuel em um sussurro.
Isabela, de longe, avista seu namorado e enquanto se aproxima do mesmo ela fala:
— O que tá acontecendo por aqui? — entrega uma cerveja ao namorado.
— Aliás, essa é Isabela, minha namorada. Isabela esse é Lucca, um amigo meu… Esse é Samuel, o namorado dele e eu sugeri que nós quatro saíssemos juntos.
— Eu ADOREI essa ideia! — disse a enfermeira animada.
— Que ideia genial! — Lucca disse em um tom alto, tentando esconder o seu desconforto interno.