Arthur enviou uma mensagem de texto para o seu amigo enquanto o mesmo, em seu quarto, dormia. A mensagem foi lida horas depois de Lucca acordar, pois assim que abriu seus olhos a primeira coisa que fez foi correr para o banheiro e depois tomar uma xícara de café. Seus pais já haviam retornado de seus empregos e isso fez com que o adolescente questionasse por quanto tempo havia dormido. Quando voltou para o seu quarto, com sua xícara de café preto em mãos, notou seu celular jogado sobre a cama e o pegou para checar as últimas notificações.
O mundo deve ter ficado muito agitado enquanto ele dormia, a tela do smartphone estava lotada de notificações. Twitter, Facebook, Tumblr, WhatsApp, YouTube e entre outros portais e redes sociais. Lucca suspirou e sentou na beirada de sua cama, começou a peneirar as notificações para ver quais eram importantes e quais não, pelo que ele entendeu olhando por cima foi a morte de alguma atriz muito famosa e que já se encontrava muito doente, enfim, ela havia encontrado descanso nos braços da morte.
Mesmo ficando um pouco constrangido por não saber quem era aquela atriz, Lucca tuitou uma foto dela com uma mensagem de luto. Bem, pelo menos as pessoas não pensariam que ele vivia preso em uma caverna.
Quando abriu o WhtasApp foi diretamente para o chat de Arthur, onde o melhor amigo fez um convite para uma festa que aconteceria na próxima sexta-feira, a última de Lucca antes do início das aulas. Porém, aquele convite parecia mais como uma intimação de comparecimento do que um simples e amigável convite.
— Mas ir a uma festa antes do começo das aulas, do começo do ensino médio, não era uma das coisas que você queria fazer durante as férias? E não fez porque ficou trancado em casa assistindo séries, escrevendo fanfics e, muitas vezes, chorando? — o adolescente perguntou para si mesmo em um tom fraco de voz.
Lucca suspirou antes de responder a si mesmo, então disse:
— Sim, eu queria isso. Só que às vezes a gente diz as coisas da boca para fora, quando, por exemplo, eu digo que vou fazer dieta. É da boca para fora. Para agradar a mim mesmo, mas eu sei bem lá no fundo que é uma baita mentira.
Olhou para a tela do celular, tinha que responder a mensagem antes que Arthur percebesse que ela foi visualizada.
— Uma festa não vai te matar. Quem sabe isso não é o início de uma aventura pessoal para você, como em um livro juvenil ou como em uma fanfic. Esse segundo é mais difícil de acontecer, a gente sabe, mas vai que né…
Começou a digitar sua resposta que foi apagada várias vezes, então, depois de reescrever muitas e muitas vezes ele decidiu ser simplista e direto. Respondeu a mensagem do melhor amigo com a seguinte frase: “Okay, eu vou sim nessa festa. Obrigado por me convidar”.
Mandou dois emojis de sorrisos fofos. Nem deu tempo de largar o aparelho sobre a cama novamente e a resposta de Arthur já havia chegado.
— Ah não… — sussurrou Lucca ao saber que o seu melhor amigo tinha a ideia de apresentá-lo a um de seus amigos.
Logo começou a digitar uma resposta:
“não precisa me apresentar a ninguém, estou bem”
Arthur enviou:
“ah que isso, vcs não vão casar no primeiro dia que se conhecerem”
“você e Dario vão se dar muito bem, vai ver”
“ele é um cara muito legal”
Arthur estava sendo um bom amigo no final das contas, certo? Então o que tinha a ser perdido, somente conheceria uma pessoa e que nada mais e nada menos seria um novo amigo em potencial. Também existia a possibilidade de ser o começo do seu enredo de fanfic na vida real. Agora o seu futuro hipotético parecia não ser tão bom quanto os sonhos que tinha com os olhos abertos. Conhecer um cara novo, que mal poderia ter aquilo?
“tudo bem então, vamos conhecer esse Dario” o nosso protagonista escreveu, ainda sem certeza de nada.
Lucca enviou sua mensagem, em seguida seu olhar ficou fixo na parede enquanto sua mente ansiosa calculava as infinitas possibilidades e mudanças que aquela noite futura poderia causar em sua pequena existência, talvez na existência de todos ao seu redor… Que se resumia em poucas pessoas, mas…
[…]
— Vamos logo. Eu quero chegar ao supermercado antes que ele feche, Lucca. — dizia a mãe impaciente enquanto esperava o filho calçar o tênis.
Naquela terça-feira, a mãe chegou mais cedo do trabalho e chamou o filho para o supermercado ela aproveitaria para comprar o estoque do mês antes que as promoções acabaçassem ou que as mercadorias fossem todas levadas. Não iriam a nenhum supermercado famoso multinacional que está no Brasil e ao mesmo tempo em todo mundo, comprar nesses lugares somente no natal o, então, para a ceia de final de ano. Subiram a rua, passaram a pracinha onde, no dia anterior, Lucca e Arthur conversarem. Dobraram na rua à esquerda e chegaram a uma das unidades da rede local da cidade.
Julieta pegou um carrinho e entrou no estabelecimento com o filho. Eles tinham uma lista de compras muito rígidas para seguir e desviar daquilo somente se sobrasse algum dinheiro no final. Arroz, feijão, tomate, cebola, alho, produtos de limpeza e higiene pessoal, alguns legumes em promoção foram os itens principais que foram adquiridos em porções contadas para durar o mês todo. Então, a mãe e o filho se dirigiram para o açougue do supermercado, Julieta disse a Lucca a quantia necessária de carne que ele deveria pegar e depois saiu para a padaria.
Lucca pegou o quilo quase certo de carne que sua mãe pediu rapidamente colocou o saco transparente no carrinho e se encaminhou para a padaria do mercado, felizmente chegou bem no momento em que Julieta pegava o saco de pão francês, a mulher soltou sobre a carne assim que Lucca estacionou ao seu lado e em seguida pediu queijo e presunto, os colocando ao lado dos pães. Os dois saíram daquele setor do supermercado e foram em direção aos caixas, mas acabaram pegando o corredor dos biscoitos recheados. Lucca observou direito os preços e viu que algumas marcas estavam em promoção, não fazia aquilo desde criança, mas a Trakinas estava em promoção…
— Mãe, eu acho que podemos levar um ou três pacotes de bolacha recheada, não? A Trakinas está em promoção, olha só. — apontou em direção a prateleira de biscoitos.
— Dá próxima vez a gente compra, tudo bem? — respondeu Julieta.
Lucca parou, colocou a mão na cintura e disse:
— A senhora sabe que eu não tenho cinco anos, né? Se fossem os teus Nesfit em promoção, iria levar no máximo dez pacotinhos.
Julieta olhou o filho dos pés a cabeça — será que ela ainda tinha dúvidas da sexualidade dele? —, depois deu uma observada no movimento ao redor dos dois. Suspirou e tentou continuar a conversação em um tom calmo.
— Eu só não te jogo minha chinela porque o mercado está cheio. Pode pegar três pacotes de Trakinas e cinco de Nesfit, não quero mais ouvir reclamação.
— Obrigado mãe! — o adolescente agradeceu sorrindo.
Animado, Lucca pegou os pacotes de biscoitos recheados e os integrais, colocou no carrinho, então os dois voltaram a seguir o caminho até as operadoras de caixas.
Quando chegaram ao caixa a fila estava relativamente grande, então, de repente, Julieta se lembrou de uma coisa importante que havia esquecido. Depois de uma hora dela e do filho caminhando pelo o supermercado, ela lembrou de algo que deveria ter pegado assim que entrou no estabelecimento.
— Lucca de Deus! Me esqueci de pegar o pacote de papel higiênico! — disse a mulher. — Fica aqui na fila guardando lugar, eu vou lá pegar o papel e já volto.
O garoto sabia que não ia ser tão rápido assim, nunca era.
— Deixa que vou eu e a senhora fica aqui.
— Não guri, vou eu e você fica aqui.
Julieta saiu mais rápido que conseguia, o que o adolescente poderia fazer naquele momento era esperar que sua mãe chegasse a tempo e ele não precisasse ficar cedendo lugar a torto e a direito como um idiota.
Foi exatamente isso que aconteceu. Julieta demorou em buscar somente o pacote de papel higiênico que esqueceu, a fila estava ficando cada vez menor e logo mais chegaria a sua vez de ser atendido. Quando a última pessoa a sua frente terminou de ser atendida pela moça do caixa, Lucca olhou para os lados em uma procura pela sua progenitora e nada dela. Quando se preparou para ceder o seu lugar para a moça que estava atrás dele, viu Julieta se aproximando com passos largos, ela não podia correr por causa dos joelhos.
Suspirou em alívio.
Depois de pagarem as compras, saíram do supermercado segurando as sacolas amarelas, clássico daquela rede local. Quando viraram a esquina, Lucca lembrou que deveria avisar sua mãe sobre a festa em que foi convidado para ir por Arthur. Se tivesse sorte a mulher iria dizer que ele não poderia ir e assim se livraria de algo que estava se obrigando a comparecer.
— Mãe, sexta-feira vou a uma festa com o Arthur. Acho que a festa vai acontecer na antiga estação ferroviária.
O adolescente ficou esperando a resposta da mãe, esperando muito ser negativa.
— Uma festa?
— Sim. — respondeu Lucca.
— Tudo bem. Você vai com o Arthur, pode ir.
— O quê? Mãe, na antiga estação rodoviária, na GARE… Provavelmente vão ter pessoas fumando maconha, quem sabe outras drogas. Sabe… Ainda quer que eu vá?
— Pode ir. — disse Julieta confusa. — Você quer ir não? Precisa sair um pouco de casa, fica muito dentro do teu quarto e mexendo no computador. Precisa fazer novos amigos, pegar um pouco de ar puro. Vai te fazer bem. Eu confio que ao lado do Arthur você não vai fazer besteira.
— Tudo bem. — disse Lucca por fim.
Infelizmente sua única tentativa de se livrar da festa não havia dado certo, então teria que comparecer sem desculpas adicionais.