Fazia mais ou menos cinco meses desde a última vez que conversou com Arthur.
Agora:
Lucca se preparava para o ENEM que aconteceria em novembro. Sua prima indicou um projeto da universidade federal que era basicamente um curso pré-vestibular grátis com estudantes da instituição atuando como professores. Uma mão de via dupla, os universitários mostravam como seria quando os outros estivessem na federal e ao mesmo tempo ganhavam experiência lecionando. Lucca achou a ideia uma mão na roda e na companhia de sua prima, na garupa da sua moto, foi se inscrever para as aulas. Esperava ser escolhido. A ficha de inscrição chamou bastante sua atenção, bem inclusiva e parecia que se o inscrito fizesse parte de algum grupo de militância seria uma ajuda para ser aceito naquele projeto. Eles também estavam preocupados em darem espaço para transexuais. Naquele momento Lucca percebeu que iria adorar aquele lugar.
Mais cedo quando Lucca havia acabado de chegar ao prédio em que funciona esse projeto da universidade e também onde outros cursos acontecem.
Uma rápida curiosidade: o prédio onde funciona esse vários cursos da universidade federal no passado já foi um hospital, o prédio ainda guarda alguns resquícios disso como, por exemplo: o necrotério que fica no porão que só pode ser acessado pela a funerária que se localiza ao lado da construção que hoje pertence a universidade.
Assim que o adolescente e sua prima entraram no elevador escutaram uma voz pedindo para que segurassem a porta e rapidamente Lucca o fez.
Se tratava de um rapaz, magro, alto e afeminado.
— Obrigado. — disse o rapaz sorrindo. Levou sua mão até o nosso protagonista. — Me chamo Leandro. Leandro de Jesus.
— Lucca. — sorriu enquanto apertava a mão do outro. A prima somente ficou observando.
— Vão se inscrever no Práxis?
— Só ele. — disse a garota mais velha. — Eu já sou universitária. — soltou uma risada amigável.
— Ai que ótimo. — disse Leandro. Olhou para o mais baixo, ainda sorrindo quase como um flerta, entretanto Lucca pensou que ele poderia ser assim com todos. — Espero que você seja aceito para sermos colegas.
Em seguida a porta do elevador abriu e os quatro deixaram o pequeno espaço. Lucca se encontrava surpreso porque nunca tinha recebido algo quase tão direto como aquilo, de um modo diferente fez bem a sua autoestima.
…
“o resultado dos escolhidos vai sair uma semana antes do começo das aulas” dizia a mensagem enviada por Lucca para seu grupo de amigos nascido via o antigo RPG do seriado musical da FOX.
Os outros amigos, depois de alguns minutos, enviaram mensagens desejando boa sorte ao rapaz.
“você vai conseguir e entrar na federal dessa vez s2” enviou uma das melhores amigos de Lucca dentro desse grupo, ela havia interpretado a personagem irmã da personagem do nosso protagonista durante o RPG de chat.
As primeiras semanas para Lucca no curso preparatório foram um pouco solitárias só que acabou fazendo amizade com mais facilidade do que no ensino médio. As pessoas eram mais agradáveis, mais diversificadas do que em sua escola e geravam o seu interesse de conhecê-las. Conheceu pessoas que nunca teria a oportunidade de se tornar amigo se não tivesse se inscrito naquele curso. De todas as pessoas com quem fez amizade, sem pensar duas vezes o laço afetivo amigável se estreitou mais com Sabrina, uma escorpiana como nosso protagonista e que mesmo sendo do mesmo signo que ele parecia complementar um ao outro.
— Ele ficou seis meses sem falar comigo, mas ou menos isso. — dizia Lucca enquanto contava para a sua nova amiga sobre seus traumas do passado. — Ele apareceu para terminar comigo oficialmente, mas já estava com uma garota. Vida que segue né.
— Nossa que escroto da parte dele.
— Pois é.
— E com aquele seu amigo… Arthur, né? Que ele conhece o Leandro também. — questionou Sabrina.
— Ah, com Arthur é um pouco mais complicado. Eu sempre gostei dele, acho que sempre vou gostar dele… Sempre vou ser apaixonado, mas agora tenho que conter isso porque depois que eu finalmente disse que sou apaixonado por ele… Arthur, bem… Arthur meio que deixou claro que a gente nunca vai namorar…
— Você é virgem? — a garota perguntou.
— Não. — Lucca respondeu rindo. — Minha primeira vez foi com Arthur mesmo e por isso que eu acho que tenho esse sentimento com ele.
— Felizmente eu não sou de me apaixonar, mas entendo isso daí que você sente.
— Hmmm… Mas você diz que não é de se apaixonar agora, tem tempo para tudo e até mesmo para paixão.
— Quê? Não, acho que isso não vai acontecer.
Os dois riram e continuaram conversando até a primeira aula do curso começar. Duas almas haviam se encontrando e uma grande amizade nasceu ali, naquele momento, naqueles dias Lucca não pensava muito nessa teoria, porém mais tarde acreditaria que algumas pessoas estavam destinadas a se encontrarem durante a eternidade da existência.
…
A vida para Lucca estava andando em uma linha reta, estava feliz. Mais feliz do que quando namorou Dario ou da época em que estava preso no ensino médio. Estava realmente feliz porque ao seu lado estavam pessoas que o entendiam, um lugar com um clima agradável e acolhedor. Mas Lucca e alguns dos seus novos amigos não estavam querendo assistir algumas aulas e, então, acabavam cabulando muitas delas para fazerem outras coisas. Conversavam na sala para os alunos, conversavam na cozinha do andar do curso ou em frente ao prédio. Ainda tinham os dias em que todos estavam com dinheiro sobrando e matavam aula, as que não eram dos seus professores preferidos para irem beber e conversar na praça.
Quando o clima estava muito chuvoso e a vontade de matar aula para beber e continuar jogando papo fora era maior do que tudo, eles só tinham uma opção. No horário que o pré-vestibular estava funcionando os andares acima do quinto andar sempre estavam vazios e escuros. Um ótimo lugar para se esconderem e beber enquanto falavam em tons baixos para que ninguém os descobrissem.
Descendo a rua onde o prédio do curso se localizava, o antigo hospital particular, existia uma distribuidora de bebidas onde os amigos sempre compravam as seguintes bebidas: vodka, refrigerante ou uma vodka de sabor, gelo e copos. Ficavam bebendo até dar a hora do final das aulas para irem embora. Às vezes alguns outros colegas chegavam quando as aulas terminavam e ficavam conversando até mais tarde, até mais ou menos onze da noite.
— E eu tive uma oportunidade de trair ele, mas não fiz! — dizia Lucca um pouco bêbado com um copo em suas mãos. — Foi quando fui passar as férias na antiga chácara da minha falecida avó. Um garoto que eu gostei muito estava por lá também, naquelas bandas… E a gente teve um momento onde eu poderia ter beijado aquela boca. Não fiz! Porque eu estava namorando o Dario, porém ele me traiu, não é…
— Acho que já deu, não? — Sabrina tirou o copo das mãos do rapaz.
— Não, eu to ótimo. — disse Lucca tentando não rir. — Eu to perfeitamente bem.
— Não, Lucca. Você não está bem. — disse a amiga rindo. — Vamos, eu vou te ajudar ir até a parada.
— E quem vai te ajudar você ir até a tua parada de ônibus? É longe da minha…
— Eu ajudo. — disse uma garota do grupo de amigos. — Eu moro descendo a rua perto da parada da Sabrina. Vai ficar tudo bem.
Lucca levanta suas mãos para cima, se entregando a elas.
Aos poucos que chegava perto de sua casa Lucca ganhava a consciência que teria de fingir sobriedade quando adentrasse a sua casa porque sua mãe lhe estaria esperando e não poderia transparecer que estava bebendo. Então, tratou logo de começar a ensaiar sua atuação como uma pessoa que não estava bêbedo e quando entrou a sua casa sorriu para mãe que perguntou como havia sido o curso. Respondeu que difícil e seguiu para seu quarto rapidamente.
Encarou o teto jogado em sua cama, sem pensamentos somente com tudo girando ao seu redor. Recebeu uma mensagem, pegou o celular e leu a notificação:
“chegou bem?” era de Sabrina.
“sim, um pouco tonto”
“você?” Lucca enviou a resposta.
“acabei de chegar”
Recebeu outra mensagem, dessa vez de Arthur. Já tinha um tempo da última vez que eles conversaram. Se ajeitou na cama, sentando na mesma o observando o texto pela barra de notificação, foi um simples “Oi” que bastava para desestabilizar seu emocional. Desligou a tela do celular e deixou o aparelho afastado da sua cama, desligou as luzes do quarto e voltou a deitar na cama.
Precisava esquecer que se encontrava apaixonado pelo seu melhor amigo.
Ainda não se sentia pronto para voltar a conversar com o rapaz de grandes olhos brilhante e toda a vez que pensava nele se perdia. Pensava nas vezes em que beijou sua boca, nos momentos que seus olhos se encontravam quando faziam sexo. De como enxergava beleza nele mesmo que algumas pessoas diziam ao contrário e até o próprio Arthur.
A mesma reação o seu corpo emitia quando o talvez “ex-melhor amigo” surgia em sua mente. Arrepio nostálgico. Sentia muita falta de conversar com ele, sentir seu cheiro e ouvir sua voz, porém primeiro precisava arrancar essa paixão que persistia em ficar e deixar somente o laço de amizade entre os dois.
Precisava esquecer Arthur. Parecia impossível, entretanto, era uma necessidade.