O Diário de Lucca: Capítulo 26 – ENEM

O dia havia sido um dos melhores do nosso protagonista, havia conseguido comprar duas peças de roupas novas e no sebo ao lado da loja encontrou um box com uma novela favorita, em perfeito estado e totalmente lacrado, por apenas trinta e cinco reais. Tudo estava se encaminhando para um perfeito final de tarde quando Lucca pegou o caminho para a parada de ônibus e durante esse percurso foi parado por uma mulher. Devia estar na casa dos trinta anos, cabelo castanho bem claro e olhos claros para uma fonte de água, quando ela falava se podia notar um sotaque castelhano.

— Venha cá comigo. — disse a mulher após parar Lucca na rua, o puxou para um canto e olhou a palma da sua mão. — Você uma pessoa muito boa, mas passa por algumas dificuldades. Tem algum mal que te aflige, eu sinto, sei disso… — quando Lucca foi falar alguma coisa, a mulher disse primeiro: — Um mal de amor, qual é o nome do amor que lhe aflige, rapaz?

Então um silêncio preencheu a cabeça do jovem, somente um nome surgiu e sentiu vergonha daquilo, estava em um relacionamento com Samuel e ao perguntarem por quem ele sofria de amor, respondeu:

— Arthur, é o nome dele.

Após a mulher falar mais algumas coisas para Lucca, o rapaz pegou sua carteira para entregar dois reais a mulher, entretanto saiu primeiro a nota de cinquenta que em seguida foi retiradas das mãos do rapaz. Ela começou a benze a nota de cinquenta reais.

— Agora você diz que vai aceitar tudo que eu te disse aqui e vai receber as boas coisas que vão acontecer na sua vida.

— O quê? — perguntou Lucca confuso, sua cabeça estava rodando.

— Diga!

— Aceito.

Então, a cigana começou a rasgar a nota e foi como se estivesse rasgando a alma de Lucca. Ela continuou rasgando mais algumas enquanto falava e pedia para que Lucca jurar por tudo o que ela havia dito, mas agora falando em um espanhol muito enrolado.

— Moça… Nã-não… — disse Lucca tentou recuperar o seu dinheiro que agora estava rasgado, mas a mulher deu um passo para trás e foi embora.

— Cinquenta reais?! — disse Samuel em um tom alto, em seguida observou ao redor da parada de ônibus e deixou seu tom de voz normal. — Mas meu amor você foi muito ingênuo em acreditar nessa gente…

— Eu sei, eu não preciso de sermão agora. A minha cabeça ainda tá girando. Eu to mal comigo mesmo…

O roqueiro abraçou seu namorado e em seguida beijou sua cabeça.

— Vai ficar tudo bem. Você ainda tá com cabeça para estudar hoje?

— Não, tudo bem, vamos por a limpo sim as coisas do ENEM. Domingo que vem a gente tem simuladão do curso, né? Eu só preciso de um tempo e de café.

— Café eu tenho em casa. — sorriu o roqueiro.

Pousou a xícara de uma banda de rock sobre a mesa e sorriu para o namorado, sentou ao seu lado em seguida. Os cadernos e os polígrafos estavam sobre a mesa, estudavam as matérias de exatas que eram as que Lucca tinha mais dificuldade. Principalmente matemática e química.

— Pronto para voltar aos estudos? — perguntou Samuel quando já estava sentado ao lado do namorado.

— Não, não… Eu odeio matemática, eu odeio química. Por que eu tenho que saber de tudo isso? Eu vou estudar jornalismo e não estou me candidatando a uma vaga no MIT ou em Harvard, ah, sei lá…

— Mas você precisa para tirar uma nota boa e entrar de primeira no curso.

— Qual o problema se eu entrar na segunda chamada. Se eu soubesse da segunda chamada alguns anos atrás provavelmente agora estaria cursando letras. — disse Lucca.

— É, mas assim a gente não teria se conhecido.

— Muito bom esse argumento, mas… Mas eu ainda não vejo motivo para saber tanto de matemática e química assim para fazer um curso que praticamente é de humanas.

— Bom, você não precisa saber tanto, só um pouco para não bombar, então, vamos voltar aos estudos. — disse Samuel entregando um lápis a Lucca.

— Tudo bem…

Lucca pegou a caneta das mãos do namorado.

Pegou duas canetas azuis, duas canetas pretas e guardou no bolso da sua calça. Pegou um pote de e colocou algumas barrinhas de cereais, tirou da geladeira uma garrafa de água mineral sem gás e colocou na sacola de papel junto com o pote. Estava tudo pronto, enquanto o namorado prestaria o exame na universidade federal e os seus amigos em outras escolas estaduais, Lucca iria prestar o ENEM em uma universidade que se localizava bem no interior da sua cidade, o prédio ficava ao lado de uma BR e na entrada de um distrito.

Enviou uma mensagem desejando boas energias e que tudo desse certo para o seu namorado e também para os seus amigos, para sua sorte seu pai o levaria até a universidade particular onde iria fazer o exame de admissão nas federais do país. Estava nervoso, tinha um pouco de dinheiro e decidiu comprar um copo de energético natural para não ficar com sono durante a prova, já tinha realizado uma vez o exame e já sabia como tudo funciona, agora só tinha que focar nas perguntas e confiar nas suas horas de estudos ao lado de Samuel.

“Vai dar tudo certo, vai dar tudo certo! Vai dar tudo certo.” Dizia Lucca para si mesmo em sua mente.

Quando a prova começou, o seu primeiro plano estava correndo bem, primeiro lendo as perguntas com atenção e depois voltando para resolvê-las. Conforme o tempo foi passando esse plano inicial foi ficando de lado e já perto do final apenas lia as perguntas duas ou três vezes, respondia e seguia para a próxima. Olhou para o quadro onde a professora responsável por aquela sala marcava quanto tempo faltava de prova ainda e viu que restavam duas horas e meia, então, voltou a se concentrar. Aquele nem era o dia das exatas, no próximo domingo ficaria tudo mais difícil ainda. Terminou a prova, preencheu com cuidado o cartão resposta e em seguida chamou a professora que depois de checar tudo liberou Lucca.

Assim que deixou o prédio retirou seu celular do plástico, ligou e ligou para o seu pai avisando que já poderia busca-lo. Enquanto esperava pela sua carona que o levaria de volta para sua casa foi ver se haviam mensagens novas, Samuel ainda não estava online e a última vez que ficou foi no horário que os portões abriram. Era bem a cara do namorado ficar até o final da prova, sentou na sombra para esperar e ficou observando o céu amplo e azul que estava fazendo naquele dia.

No domingo seguinte de prova, como havia previsto, as coisas foram um pouco mais difíceis para Lucca, entretanto, mesmo assim, tentava compreender as perguntas que mais lhe deixavam tonto antes de dar uma resposta certa. Havia estudado aquelas matérias de exatas com o namorado só que nada que envolvia números fixava em sua mente era como um disléxico tentando ler sem a ajuda de uma educação especializada ou de um tutor. Será que existe uma versão da dislexia, porém relacionadas a números? Diferente da prova do domingo anterior essa Lucca tinha terminado mais cedo e não esperou dar o tempo de pegar o caderno, realmente queria sair dali o mais rápido possível.

E como no primeiro dia de prova Samuel somente apareceu após o horário encerrar.

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