Quando abriu seus olhos, percebeu que tudo não passou de mais um sonho.
Estavam se tornando cada vez mais comuns, particularmente Lucca não gostava deles e preferia quando sonhava que estava no mundo dos monstros digitais ou sendo perseguido por algum assassino em série como, por exemplo, o do filme “Pânico”. Porém aquela foi mais uma noite em que sonhou com seu melhor amigo, Arthur, por quem também era secretamente apaixonado. Quando sonhava com o amigo sempre acordava mal por perceber que tudo o que viveu durante o tempo em que se encontrava adormecido não passou daquilo mesmo, um fruto das produções hollywoodianas do seu subconsciente que parecia gostar de brincar com seus próprios sentimentos.
Pegou o smartphone que estava do outro lado da cama, não era nem oito horas da manhã, outra coisa que não gostava, mas acontecia sempre era acordar cedo durante as férias. Levantou da cama com zero vontade e foi para o banheiro da casa que ficava no final do corredor, deu uma rápida olhada em seu reflexo para dar aquela baixada na autoestima.
Lucca não é um rapaz fora do comum, podemos dizer que a sua beleza é até comum, está um pouco mais gordinho do que deveria e também tem um tempo que não corta seus cabelos. Aliás, a coloração dos seus fios é diferenciada, pelo menos o rapaz pensa assim Quando consegue observá-los mais de perto percebe tons der castanhos variados entre os diferentes fios, uns mais claros e outros mais escuros.
Depois de lavar o rosto e escovar os dentes, fazer as outras coisas que fazia em uma típica manhã ele se dirigiu para a sala de estar que dividia espaço com a cozinha.
A construção da casa era simples, um andar só, mas tinha espaço o suficiente para os atuais moradores. Claro que uns tempos atrás a casa já foi mais movimentada quando as irmãs mais velhas do jovem viviam ali.
— Bom dia. — disse Julieta ao filho, uma mulher de baixa estatura e de cabelos curtos.
— Bom dia. — Lucca respondeu enquanto pegava o pão francês da sacola do supermercado.
— Dormiu bem? — a mãe continuou com um sorriso em sua face.
— Sim. — o filho respondeu rapidamente também com um sorriso.
Ficaram em silêncio por alguns segundos, a televisão estava fazendo fundo sonoro para aquela cena, Lucca não tinha tanta intimidade com seus pais, às vezes, sentia falta disso e outras vezes achava que era até uma coisa boa, mas de qualquer forma esse tipo de relação entre seus dois progenitores faziam com que seu medo de sair do armário aumentasse em dobro, triplo até cinco vezes.
.— Tuas aulas começam quando? — o pai perguntou de repente.
Mário é um homem com uma carranca séria demais que em muitas ocasiões causa muito medo em seu filho, mas todas suas atitudes pareciam vir de uma criação antiga. O adolescente gostaria de ser mais próximo do seu pai para entender todas sua motivações.
— Semana que vem, meu primeiro ano no ensino médio. — soltou uma risada nervosa.
— Nervoso? — Mário pergunta a Lucca.
— Ah, talvez só um pouco.
O silêncio voltou à mesa do café da manhã, mas não era um silêncio normal, parecia que aquelas pessoas não conheciam o filho o suficiente para saberem como iniciarem um assunto com ele.
Alguns minutos mais tarde os pais de Lucca se preparavam para irem trabalhar. A mãe é empregada doméstica na casa de imigrantes árabes que possuem uma rede de lojas de roupas na pequena cidade e o patriarca trabalhava como caminhoneiro para uma empresa de supermercados. Assim que seus pais se despediram para mais um dia de trabalho, o adolescente foi rapidamente lavar a louça e enquanto fazia começou a pensar no que faria naquela última semana antes das aulas começarem.
Como ainda era segunda-feira havia muito tempo para que ele fizesse tudo que gostaria de ter feito durante aquele tempo que ficou em casa, trancado no quarto lendo fanfics, assistindo animes e série, jogando videogame e etc. No entanto, quando terminou com a louça sentou no sofá e ligou a televisão no canal de desenhos, passando a maior parte da manhã assistindo a programação e compartilhando várias coisas na sua linha do tempo em seu perfil do Facebook.
Suspirou de tédio quando cansou de rir de vários memes que encontrou durante o tempo que perdeu na tela do celular, voltou a sentir um vazio dentro de si. Aos poucos se perdendo em seus pensamentos, a imagem de Arthur surgiu lentamente e logo o sonho que teve naquela madrugada retornou não tão nítido, mas Lucca conseguia lembrar-se das coisas que fez com seu melhor amigo em seu sonho, não somente coisas pervertidas. Fechou os olhos e por alguns instantes sentiu seu cheiro, seu toque e a sua respiração perto do pescoço.
As coisas começaram a esquentar dentro de sua cueca. Sentiu o corpo pesar sobre o seu, mas não era sexo que queria, não naquele momento, não quando um imenso vazio ameaçava tomar conta do seu peito. Sentiu um abraço quente, quando abriu os olhos e viu que estava sozinho em sua casa o seu peito pesou e sentiu as lágrimas, não iria chorar, já tinha feito muito aquilo nos dois últimos anos. Não só pelo o que estava sentindo por Arthur, mas por outros motivos… Vários motivos.
O barulho de uma notificação chamou sua atenção para o aparelho celular. Pegou o smartphone que estava do outro lado do sofá e viu que se tratava de uma mensagem de Arthur, queria conversar sobre algo importante.