—Que brincadeira é essa? —perguntou Darlan.
—Não é nenhuma brincadeira. Eu sou advogado da fazenda Dois Rios.
—Espera aí, você se formou em direito, fez a prova da ordem e não me disse? —perguntou o pai.
—Sim, eu não te disse porque nada que diz respeito a minha pessoa te interessa.
—Isso deve ser mentira! —gritou Darlan.
—Rafael você sabia disso o tempo todo e não me disse nada.
—Sabia desde que o guri Inácio prestou o vestibular para o curso de direito.
—Estou surpreso. —disse Anderson.
—Eu quero provas! Me prove que você é mesmo um advogado.
Inácio tira do bolso da calça a carteira de couro, a abre e retira a carteira da ordem e entrega ao Darlan.
—Veja você mesmo.
—Não é possível. —olhava para a carteira da ordem que segurava em uma das mãos. —deve ser alguma fraude. Essa carteira é falsa!
—Me dê isso. —o pai toma a carteira da ordem das mãos de Darlan. —Essa carteira não é falsa. O Inácio é sim um advogado. —olhou com orgulho para Inácio e o devolve a carteira. —a gente conversa depois sobre isso, Inácio.
Inácio pega a carteira da ordem e coloca novamente dentro da carteira de couro e a recoloca no bolso da calça.
—Grande coisa. Mesmo sendo um advogado continua sendo um bastardo. —falou Darlan olhando com desdém para o irmão.
—Darlan, por favor pare de provocar o Inácio.
—Bom, vamos voltar para o assunto que interessa a vocês. —disse Rafael.
—Já estou ciente do que se trata e por isso venho assegurar que toda a produção da Dois Rios que é o gado de corte não faça parte dessa doação e sim apenas as terras. —falou Inácio.
—Como assim? Os gados comem e vivem naquele espaço e também são do meu pai.
—Sim, eu recebo uma porcentagem do lucro da produção dessa fazenda, mas isso não tem nada a ver com a doação da parte das minhas terras. —falou Anderson.
—Não, eu não aceito.
—E o que você queria, guri? Parte dos gados? Você não sabe nem capinar um capim. —disse Rafael.
—O certo é você me compra a metade dos gados que pertencem ao meu pai.
—Não, Darlan, esse não foi o nosso combinado. Você quer as terras, você só terá as terras. —disse Anderson.
—Guri você é muito ambicioso e desrespeitoso quer impor algo como se seu pai tivesse falecido e já herdado as terras. Preste bem atenção nisso, hein, Anderson.
—Me compre os gados. —disse Darlan.
—Não, Darlan. Você só terá as terras ou isso ou nada mais.
—Tá, eu aceito somente as terras, mas vamos logo com isso.
—Está com muita pressa, não é Darlan? —o provocou Inácio.
—Não é da sua conta, bastardo.
—Fiz aqui uma declaração que o senhor Rafael Barreto está ciente da doação realizada por senhor Anderson Barreto para o senhor Darlan Barreto de sua parte nas terras da fazenda Dois Rios que são situadas as margens do rio Taquari e esta área compõem reserva ambiental como também faz divisa com as terras indígenas da tribo Toriba. Ficando o senhor Rafael Barreto e a fazenda Dois Rios isentos de qualquer manutenção, responsabilidade ou dano ambiental causado nesta área.
—O que isso quer dizer, pai? —perguntou o Darlan.
—A parte que me cabe dessas terras é constituído de reserva ambiental isso significa que você não pode construir naquela área e precisa mantê-la e preserva-la.
—Não, isso pode me prejudicar na construção do hotel fazenda.
—É pegar ou largar, Darlan, é você que está tão interessado nestas terras. —disse Inácio.
—Isso é uma injustiça. A divisão dessas terras está errada. E a parte que te cabe, tio Rafael, tem reserva ambiental também?
—Não, e você não pode questionar isso na justiça porque foram seus avós que deixaram o desejo dessa divisão em testamento e já se fez inventário há anos. Não tem como mudar. —respondeu Rafael.
—É um absurdo.
—Aqui estão as cópias da declaração, peço que os senhores a assinem e logo após serão registradas em cartório.
—Me dê logo essa porcaria. —puxa os papeis das mãos de Inácio. —eu quero essas terras o quanto antes. Eu estou perdendo tempo. Onde está a caneta? —disse Darlan.
—Aqui. —entregou-lhe Rafael uma caneta.
Anderson e Rafael se olham percebendo a ganancia de Darlan enquanto assinava os papeis.
—Aproveitando aqui está o contrato de doação das minhas terras, peço que vocês também leiam. —Anderson retira os papeis de dentro de uma pasta executiva e os entrega para Inácio e Rafael.
Em uma cabine dentro de uma chalana que estava navegando pelo rio, estava Maurício deitado na cama apenas de calça jeans, um chapéu branco de couro sob a cabeça e fumando um cigarro enquanto Suelen estava à frente de um espelho e colocando batom.
—Diogo me disse que você era sua melhor guria e tenho que concordar. —levanta-se, segue em direção a ela e abraça por trás e a beija o ombro.
—E seu patrão? Já chegou em Corumbá? —vira-se de frente para ele.
—Já.
—Será um prazer conhece-lo.
—Lamento guria, o Diogo já reservou uma outra guria.
—Quem?
—Um tal de Amélia.
—O quê?
—Isso, você a conhece?
—Sim, é minha prima. Eu tenho que ir.
Maurício tirou um maço de dinheiro de dentro da carteira e entregou a Suelen que contas as notas.
—Quando nós veremos de novo, Maurício?
—Não sei, estou curioso em também conhecer a Amélia, quero saber se ela vale o tanto que vale. —riu. —Tchauzinho, Suelen.
Suelen irritada pegou a bolsa em cima da cama, saiu da cabine, andou pelo corredor, seguiu em direção a borda da chalana, desceu pela escada e entrou em um barco.
Voltando para o escritório na fazenda Dois Rios, estava Anderson terminando de assinar o contrato de doação de suas terras para Darlan.
—Pronto. Aqui está. —entrega o contrato nas mãos do filho caçula.
—Excelente. Vamos imediatamente ao cartório registra esse momento histórico. —levantou-se com ar vitorioso olhando o papel em suas mãos.
—Vamos. E vocês vão com a gente? —pergunto Anderson olhando para Inácio e Rafael.
—Vão na frente porque neste momento não posso tenho que resolver um grande problema na fazenda. O gado não está conseguindo fazer a travessia e nem se alimentar direito por causa da seca. —respondeu Rafael.
—Faz quase um mês que não chove no pantanal. —falou Inácio.
—É uma pena, eu sei o quanto isso prejudica a produção da fazenda. —disse Anderson.
—Os peões estão se esforçando o máximo para não prejudicar o gado. Fazem anos que não tem uma seca como essa.
—Me lembro de uma seca que morreu muito gado na fazenda, os nossos pais eram vivos.
—É, eu vou arrumar um jeito para resolver esse problema que não é só meu, como também de todos os fazendeiros do pantanal. Mais tarde irei com Inácio no cartório o que me interessa é registrar essa declaração.
—Vamos pai, não quero perder mais tempo. —disse Darlan.
—Vamos.
Darlan e Anderson saem do escritório.
—Como ele teve coragem de dá aquelas terras ao Darlan.
—Seu pai mais uma vez agindo por impulso pra se divorciar o mais rápido possível da Verônica. —sentou-se à mesa e arrumava alguns papeis.
—Será que não percebe que o Darlan vai acabar com aquelas terras? Ele não sabe como cuidar de uma terra no pantanal.
—É lamentável, mas esse é um problema dele. O que importa pra mim é que os gados não foram no meio dessa loucura. Oh bichinho ambicioso e interesseiro esse Darlan.
—Eu gostei de ver a cara dele de surpresa e do meu pai também quando souberam que eu sou o advogado da fazenda.
—Pois é, por essa eles não esperavam.
Na comunidade ribeirinha estava Amélia caminhando pelo cais e passando em frente algumas casas até que fica frente a frente ao Diogo.
—Amélia, finalmente te encontrei.
—Me deixa quieta. —saiu.
—Vem cá, vem cá. —a puxou pelo braço.
—O que é, Diogo? Me esquece! Me deixa em paz! —o empurra.
—Não! Eu quero você pra mim. —tenta beija-la.
Amélia o empurra.
—Não! Eu não vou me vender pra você, não vou fazer o que a Suelen fez.
—Está perdendo muito se negando a ser uma das minhas gurias.
—Eu prefiro morrer de fome do que ser sua e me tornar uma de suas gurias como você diz.
—Não seja orgulhosa. Eu gosto de você, Amélia, você terá o lugar especial, é só aceitar ser minha…
—Nunca, entendeu? nunca.
—Prefere perder o seu tempo com aqueles livros do que curtindo a vida, vivendo do bom e do melhor e ganhando muito dinheiro.
—Ninguém vai me impedir de lutar pelos meus sonhos. O único caminho honesto que tenho para chegar onde eu quero chegar é estudando algo que ao seu lado jamais realizarei. —saiu.
—Um dia você será minha, Amélia. Um dia vai perder esse seu orgulho e cair nos braços do Diogo aqui. —abriu os braços e deu uma risada.
Entardeceu e na capital Campo Grande, em um prédio localizado em um bairro nobre se encontrava Décio na sala de seu apartamento e bebendo um taça de vinho e sentado no barzinho. Ele relembra do passado em uma das noites que havia se encontrado com Verônica em seu apartamento, flashes de um momento íntimo onde o casal se relacionava na cama do quarto dele.
—Te amo, Décio. —dizia Verônica em baixo dele entre lençóis roxos de cetim.
—Não vejo a hora de você desmascarar o Anderson e ficarmos juntos. —a beija.
—Em breve. —sorriu.
Décio parou e olhou fixamente nos olhos de Verônica.
—O que foi? Por que tá me encarando assim? —ela o perguntou.
—Não sei se posso confiar em você.
—Por que?
—Não sei se está comigo porque gosta ou porque se sente carente.
—Eu gosto de você, Décio. —o beija. — se não gostasse não estaria se encontrando com você neste apartamento quase todas as noites. Só tenha um pouco mais de paciência que vou flagrar o Anderson com aquela mulherzinha e aí finalmente podemos ficar juntos e viver o nosso amor.
—Quanto tempo que você e o Anderson não ficam juntos?
—Faz tempo talvez uns três meses e quando o procuro sempre arruma uma desculpa e já descobrir o porquê. Mas por que está me perguntando isso, Décio?
—Isso significa que você é mais minha do que dele.
—Pra você ver que você é melhor do que o Anderson.
Décio volta ao presente onde se encontra sentado no bar do seu apartamento tomando uma taça de vinho e retorna ao passado ao relembrar um dia que se encontrava na sala de seu apartamento sentado no sofá aos beijos com Verônica quando de repente ela o afasta.
—Não estou me sentindo bem, deve ter sido alguma coisa que comi.
—O que sente?
—Uns enjoos. Acho que vou vomitar. —de repente ela coloca a mão na boca e sai correndo em direção ao corredor.
—Verônica! —ele a segue.
O flashback de Décio se encerra com ele tomando um gole da taça de vinho.
—Esse filho é meu.
Na fazenda Dois Rios, Darlan e Anderson entram na sala.
—Finalmente essas terras são minhas! —disse Darlan segurando o contrato nas mãos com ar de vitória.
—São suas e saiba cuidar bem delas. Eu vou procurar o Rafael. —saiu.
Tânia entra na sala e ver Darlan.
—Ah, não.
—Coisinha, me traz uma dose porque quero comemorar.
—Comemorar o quê?
—Está vendo isso aqui? —mostra o contrato. —as terras do meu pai agora são minhas.
—Não é possível.
—É sim possível, coisinha. Vai logo me serve uma dose deixe de preguiça. Vai! —senta-se no sofá e coloca os pés sob o centro de vidro.
Tânia sai furiosa até que Inácio entra na sala.
—Olha só que eu encontro por aqui o bastardo.
—Você não vai conseguir me irritar, Darlan.
Darlan se levanta do sofá e encara Inácio.
—Eu quero mais do que te irritar, eu quero te humilhar. Eu sinto um prazer de te ver humilhado, de te chamar de bastardo, você é um ser desprezível, insignificante, viveu a vida toda neste mato como um bicho, uma vergonha, ignorado.
—Pode me insultar o quanto quiser, Darlan, só mostra o quanto você é um playboyzinho imaturo, um guri mimado, suas palavras não me afetam.
—Presta bem atenção: você nunca será um Barreto! Essas terras são minhas. —mostrou o contrato para ele. —minhas e você nunca as terão, nunca. —deu uma risada. —Bastardo miserável.
—Não quero nada que venha do teu pai. Sou o que sou sem ele nem ao menos saber. Não preciso de nada que venha dos Barretos.
—Olha só como o bastardo é orgulhoso. Me diz como é se sentir inferior? Como é ser o filho renegado, me fala? Como se sente, hein? Como é ser filho de uma mulherzinha qualquer? Filho de uma vadia!
Inácio dá um soco no rosto de Darlan.
—Cala a boca! Respeite a minha mãe!
Darlan devolve um soco no rosto de Inácio.
—Maldito bastardo!
Inácio e Darlan começam a brigar um dando soco no outro até que Tânia e Jacinta aparecem.
—Meu Deus! —gritou Jacinta.
—Parem! Parem os dois! —gritou Tânia.
—Eu vou chamar o Rafael e você procure dona Luana, Tânia.
Tânia e Jacinta saem apressadas da sala enquanto Inácio e Darlan continuavam a brigar.