Anderson se levanta nervoso do sofá enquanto Fernanda olha surpresa para Verônica, uma jovem de vinte e poucos anos, pele branca, estatura mediana, esbelta, cabelos castanhos, lisos na altura dos ombros. Ela usava uma blusa verde de seda e uma jaqueta jeans por cima, calças jeans e botas de cano longo na altura do joelho.
— Verônica o que está fazendo aqui? — perguntou o advogado.
— Eu vim atrás de você igual uma idiota porque estava morrendo de saudades e quando chego nesta fazenda te pego aos beijos com essa rameira pantaneira!
Fernanda se levanta furiosa do sofá.
— Me respeita porque senão eu calo a sua boca, grã-fina metida a besta!
Anderson fica entre as duas.
— Fernanda, por favor!
— Ah! Então é Fernanda o nome da sua amante, dessa perdida que você me trai, Anderson!
— Eu vou calar a sua boca! — partiu para cima de Verônica e Anderson a segura pela cintura.
— Não faça isso, Fernanda!
— Me solta, Anderson! Quem ela pensa que é pra ficar me insultando?
— Eu sou a noiva! A noiva do Anderson e mãe do filho dele.
— Verônica, me deixa explicar… — solta a ribeirinha e se aproxima dela.
— Não precisa, eu não quero explicações nenhuma. Eu vi você me traindo com está mulherzinha.
— Pois fique você sabendo, grã-fina, que eu também sou mãe de um filho dele.
— Fernanda! — gritou o Anderson.
— O quê? Eu não estou acreditando! Você tem um filho com ela? Responda, Anderson!
— A gente precisa conversar, Verônica.
— Já chega! Acabou! O nosso noivado acabou, eu nunca mais quero ver você de novo, Anderson, e pode esquecer o nosso filho! — saiu.
— Verônica! Espera, Verônica!
Fernanda segura o braço de Anderson.
— Não, Anderson, não vá, eu te amo… — o rouba um beijo.
— Saia da minha frente, Fernanda!
Anderson saiu e Fernanda fica ao lado da escada e sentida por ver que ele a deixou e foi atrás da noiva.
— Anderson, não vá, não percebe que sou eu que te amo?
Jacinta aparece no topo da escada.
— Fernanda, o Inácio acordou e está chorando. Eu já vi que ele está limpo e acredito que esteja com fome.
A ribeirinha olha para porta da sala onde Anderson havia acabado de sair, olha para Jacinta e decidiu ir atender as necessidades do filho ao invés de ir atrás de Anderson. Ela subiu as escadas com um semblante triste, segurando o choro com todas as suas forças e até a governanta desconfiou que algo havia acontecido.

Verônica andava apressadamente em direção ao carro que se encontrava de baixo da sombra de uma árvore enquanto Anderson a seguia. Da janela do primeiro andar do casarão estava Fernanda com o bebê nos braços e olhando discretamente para o casal.
— Verônica, espera! Me deixe explicar!
— Eu não quero nenhuma explicação. O que eu vi e ouvir já foram o suficiente. — abre a porta do carro e ele imediatamente a fecha.
— Não, você não pode ir sem antes me ouvir.
— O que você vai me dizer? Qual a mentira que vai inventar? Poxa! Anderson, eu estava na capital esperando por você, acreditando que me amava e vejo que soube bem me enganar esse tempo todo e tanto que tem um filho com outra.
— Aquela ribeirinha não significa nada para mim. Foi só uma aventura, algo sem importância. Um homem tem suas necessidades e neste fim de mundo afastado de tudo e de você, meu amor, é difícil de se controlar, entenda.
— Para de ser ridículo, Anderson! Isso não justifica, você me traiu com aquela rameira pantaneira e teve um bicho com ela. E agora, hein? Acha que vou aceitar que todo mundo fique comentando e zombando de mim por ser enganada por você? Não, Anderson, eu não vou aceitar!
— Esqueça ela, ninguém vai saber dela e nem do bebê. Ele é um bastardo e não vou o registrar. O único filho que reconheço com meu é o que vai nascer de você.
— O meu maior erro foi ter me envolvido com você que não passa de um cafajeste e o pior é que carrego comigo um filho teu. Eu não quero criar essa criança sozinha, não quero!
— Você já disse aos seus pais sobre a gravidez?
— Ainda não. — começa a chorar. — Que ódio de você, Anderson!
— Calma, essa agitação toda faz mal ao bebê. — segura o rosto dela. — nós dois vamos falar com seus pais sobre a gravidez. Eu te amo, Verônica e amo o nosso filho e não vamos permitir que uma bobagem dessa impeça da gente viver o nosso amor.
— Não é bobagem, você me traiu e tem um filho com aquela rameira pantaneira. O que ela está fazendo nestas terras? Com certeza o Rafael e a Luana estão encobertando vocês dois.
— O Rafael e a Luana não tem nada a ver com meu caso com a ribeirinha. Ela veio me procurar e insistir que eu ficasse porque não vou mais voltar.
— Como?
— Eu não volto mais para Corumbá. Só vim para cá resolver alguns assuntos de trabalho e vou ficar definitivamente em Campo Grande com você e nosso filho.
— Eu não quero meu filho perto do bicho do pantanal que você tem com aquela mulher.
— Não se preocupe porque nosso filho jamais saberá do guri do mato que tenho com a ribeirinha.
— Como você se rebaixou a esse nível de se deitar com uma ribeirinha, Anderson? É inacreditável.
— Me perdoa, tá? Quem eu amo é você e sei o quanto você me ama. Nosso amor é mais forte que todas essas coisas.
— O que eu faço com você, Anderson?
— Me beija. — a beija. — saudades do teu beijo.
Da janela, Fernanda ver Anderson e Verônica se beijando.
— Anderson, não pense que um beijo vai me fazer esquecer o que fez.
— Eu sei. — sorriu. — Vamos terminar essa conversa em outro lugar.
O casal troca olhares, entra no carro e segue pela estrada. Fernanda continua na janela com o menino nos braços e com uma expressão ressentida, pois ela já deduzia que apesar de a noiva descobrir a traição de Anderson com ela e a existência do filho dos dois isto não foi o suficiente para que desfizesse o noivado. A ribeirinha ainda tinha dentro de si uma esperança com o pai do seu filho.
Verônica e Anderson estão no banco de trás do carro que se encontrava estacionado na beira do rio. O casal se beijava.
— Não sei porque não consigo ficar tanto tempo brigada com você, Anderson. —com os braços envoltos do pescoço dele.
— Porque você me ama, Verônica, me ama. — a beija.
— Me promete que não vai mais voltar para esta maldita cidade e nem procurar aquela rameira pantaneira? Me promete?
— Prometo. Já te disse que não vou mais voltar para Corumbá e somente preciso terminar de resolver algumas questões minhas de trabalho.
— Então, voltamos juntos para Campo Grande. Vou passar esses dias na fazenda com você, meu amor. — o beija.
Anderson lembra que Fernanda e o bebê estão hospedados na fazenda e toma um impulso se afastando.
— Não! Na fazenda não!
— Por que não, amor?
— Porque…porque a fazenda é um lugar muito perigoso para uma grávida ficar, lá entra muito bicho cobra, onças, jacarés…
— Onde vou ficar?
— Você pode ficar comigo nesta noite no meu apartamento na cidade e amanhã você volta para capital.
— O quê? Como assim você quer que eu volte amanhã? Por acaso quer ficar mais dias com a sua amante? É isso, Anderson?
— Não, Verônica, entenda que eu não vou ter tempo para ficar cuidando de você e do nosso filho, meu amor. Vou ficar em Corumbá uns dois dias e depois volto para Campo Grande, conversamos com seus pais sobre a gravidez e marcamos a data do casamento.
— Eu não quero ficar naquele apartamento sem você e neste fim de mundo não tem nada para fazer e nada interessante. Acho esse lugar tão entediante e cafona.
— Volta para casa, hum? — sorri e a beija.
— Está bem, eu volto amanhã. Se eu souber que você andou por aí com aquela ribeirinha não terá perdão de novo.
— Te amo, não sabe? — a beija. — Te amo.
— Agora me leva para o seu apartamento porque estou muito cansada da viagem.
— Eu levo, mas você não vai descansar tão cedo.
— Por quê? — sorriu.
— Porque eu vou amar você. Estou com saudades. — a beija.
Um grupo de Colhereiros sobrevoavam o rio e pareciam dançar em direção ao horizonte e anunciando o amanhecer no pantanal. Na estação ferroviária, Verônica se despedia de Anderson porque viajará de trem com destino à Campo Grande. O trem do pantanal era um serviço de transporte que ligava à cidade de Bauru, São Paulo até Corumbá no Mato Grosso do Sul e se tornou um importante símbolo da cultura pantaneira que hoje, século XXI, encontra-se desativado, entretanto, no início desta estória ainda se encontrava em atividade.
— Nem entrei no trem e já estou morrendo de saudades. — o beija.
— Também estou com saudades. Quero mais noites maravilhosas como a que tivermos ontem.
— Terá muitas noites de amor se aprender a se comportar. — piscou o olho para ele e sorriu.
— Me tornarei a você um servo fiel, será a dona dos meus pensamentos e da minha vida. Sou todo teu.
Verônica dá uma risada irônica.
— Por que não foi assim antes? Talvez não teria nascido daquela rameira pantaneira um filho teu, um bicho asqueroso igual esses do pantanal.
— Verônica, outra vez falando da ribeirinha? — demonstra desconforto.
— Está bem, não vou falar mais dela. Quero dizer é que se você tivesse sido um amante devotado logo do início do nosso namoro talvez não teria pulado a cerca.
— Vamos deixar o passado, sim? — incomodado. — Para mim o que interessa é você e nosso filho. — acarinhou a barriga dela.
Logo, o trem se aproxima.
— É o trem. Vou indo, meu amor. — o beija.
— Te amo, Verônica, se cuida.
— A gente vai ficar te esperando. — tocou na barriga.
— Em breve estaremos juntos, os três.
Anderson ajuda Verônica a subir no trem. Ela se senta na cadeira, ele no lado de fora se aproxima da janela e a beija.
— Te amo.
— Amo vocês. — a beija.
O casal dá as mãos enquanto o trem começa a andar e se soltam. Ela acena para ele, e ele acena de volta para ela. Quem via aquele casal tão apaixonado jamais poderia desconfiar que no dia anterior a mulher havia descobrido a traição do amado com outra e que daquela relação “clandestina” havia nascido uma criança.
Engana-se quem pensa que Verônica “perdoou” a traição do noivo devido a uma noite de amor movida pelo desejo e, ao mesmo tempo, como uma forma desesperada dele de tentar amenizar e convencê-la a não desfazer o noivado. Não foi somente por isso, ela guardava a raiva e a decepção de sido traída, óbvio, entretanto ela tinha seus interesses em se casar com Anderson. O primeiro porque ela não queria levar o título de mãe solteira, levar aquela gravidez sozinha e ser tornar chacota de suas amizades fúteis, afinal, ela é uma Gouveia e filha de um desembargador, e a high society que adora se exuberar e estampar as colunas sociais não admitem essa “mancha”, tudo isto uma baita hipocrisia porque ela não é a primeira e a última mulher engravidar sem está devidamente casada.
Não pense que essa tal alta cúpula se importa com os fundamentos religiosos do que seja um bom casamento que não tem nada a ver com o espetáculo de extravagâncias recheadas de demonstrações de amor exageradas e vazias, do luxo sem limites desde os preparativos do noivado, da cerimônia à festa de casamento, da lua de mel até uma vida matrimonial de aparências. Se por acaso aquele conto de fadas não der certo, e se cansarem daquele show business, se dispõem a entrar em uma exaustiva batalha judicial chamada divorcio que geralmente estende-se por anos cheias de acusações, escândalos, reviravoltas e o incansáveis questionamentos sobre as decisões com quem fica os bens do que é só de um, do que é somente do outro, o que pertence aos dois e das guardas dos filhos por acaso sejam menores de idade. Claro, não podia deixar de falar que tudo isso sob a procuração dos homens e mulheres de terno: os advogados dos grandes escritórios de advocacia. É minha querida leitora ou meu querido leitor depois de toda está explanação cheguei à conclusão de que os ricos também choram , mas será que também amam?
Então, essa explicação sobre a maioria dos matrimônios da alta elite, sem querer generalizar dizendo que essa seja a postura única dos mais abastados e que não é, pois, tudo nesta vida há exceções, o segundo motivo de extrema importância para Verônica, é não querer perder os ares da festa, do glamour, aquela grã-fina já tinha espalhado para toda a alta sociedade seu noivado e esfregado na cara das suas amigas invejosas a expectativa do casamento do ano e que ficará pouco tempo estando solteira. O estado civil de solteira ainda é para algumas mulheres e homens também, neste caso eles não querem admitir na maioria das vezes o quanto os preocupam ficarem tanto tempo solteiros, o sinônimo de fracasso ou que algo está dando ou deu errado com essas pessoas porque ainda não foram escolhidas por alguém para casar. O que essas pessoas acreditam que é de fato um casamento, o que esperam? Cada pessoa tem a sua própria visão do que seja um casamento, talvez não seja apenas o casamento e que sim por esse medo de ficar “pra titia” esteja internamente ligado a solidão e o amor-próprio porque se não se ama e não se conhece se torna insuportável está na maior parte do tempo consigo mesmo, ou melhor dizendo, sozinho. É reconhecível pensar que a solidão não é nada fácil de lidar para qualquer ser humano até mesmo para os mais otimistas, então, o que resta para poder viver melhor é cada um saber lidar com sua própria solidão. Outros sabem viver com leveza e com sabedoria deixando que a vida corra como riacho enquanto outros tentam preencher vazios inventados por coisas artificiais como: relacionamentos autodestrutivos, bens materiais, fama, dinheiro, viagens, títulos, sonhos, enfim, são tudo meramente vaidade . Sejam os sábios ou os vaidosos, todos tem a mesma sina que é a busca de encontrar o seu paraíso que a maioria o chamam de felicidade.
Para Verônica aquele casamento será talvez o maior evento social que ela já realizou, o lugar onde estará em um pedestal, os holofotes estarão sobre ela a noiva, adorada, paparicada por quem interessa satisfazer seus caprichos desde os profissionais que trabalharão nesta empreitada matrimonial até seus pais emocionados porque vão casar a única filha e seus “amigos”, gente que somente quer aparecer, se exibir e que se submetem ao sacrifício de aguentar as chatices dela. Anderson, seu noivo, o restará a figura segundaria e quase um coadjuvante no meio de todo aquele espetáculo e também ela o ver como um troféu, uma cara conquista, se casará com um advogado que apesar de recém-formado e com pouca experiência tem um futuro promissor e por ser um Barreto, porque o sobrenome de uma família agropecuarista pesa. A beleza do noivo é algo há mais aos seus atributos, no qual ele sabe abusar do seu belo par de olhos azuis, um “gato engravatado” e impulsivo, bom de lábia que usa de suas armas para conquistar mulheres vulneráveis a qualquer figura fajuta de bom moço.
De tarde, Anderson retornou a fazenda, entra no casarão e encontra Fernanda.
— Estava esse tempo todo com a grã-fina, não foi?
— Sim, estava com Verônica.
— Ainda tem coragem de falar isso na minha cara? Você não tem vergonha.
— Adianta eu mentir?
— Depois vem dizer que me ama. Você não presta, Anderson!
— Fernanda, por favor, não vamos discutir agora. Pegue o guri do mato, as suas coisas e vamos.
— Pra onde?
— Vocês não podem continuar na fazenda, não são problemas do Rafael e da Luana. Vou deixar vocês em uma casa.
— Como assim? Que casa é essa, Anderson?
— No caminho eu explico. Se apresse porque não tenho muito tempo.

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