— Anderson, se acalme, deixe que a Fernanda se explique…
— Não se meta, Jacinta! O que faz aqui, Fernanda?
— Anderson, a minha casa pegou fogo, eu não tenho nenhum lugar para ficar com o menino e juro que não quero arranjar problemas.
Anderson olha para o bebê nos braços da ribeirinha.
— Eu não quero você aqui! Não quero você na minha fazenda!
Logo, Luana entra na sala. Fernanda e Jacinta ficam assustadas com a irritação de Anderson.
— Cunhado, por favor, não ver que a Fernanda está amamentando o bebê? Se acalme, por favor.
— Onde está o Rafael?
— Ele está lá no escritório.
— O Rafael vai ter que me explicar porque deixou essa ribeirinha entrar nesta fazenda. — caminhava em direção ao escritório. — Rafael! Rafael!
— Eu não devia ter vindo para cá, eu não devia. Eu tô com medo do Anderson fazer alguma coisa comigo e com meu filho.
Luana se senta ao lado de Fernanda.
— Não se preocupe, o Anderson não fará nada com você porque não vamos permitir.
Jacinta olhava preocupada para Luana.

No escritório, Anderson invade e ver Rafael sentado à mesa lendo alguns papeis.
— Rafael! — se aproxima e bate as mãos com força em cima da mesa. — O que aquela ribeirinha está fazendo aqui?
— Quem pensa que é para vim falar comigo aos gritos? Sou seu irmão mais velho, me respeite, guri!
Anderson se afasta e tenta controlar sua raiva.
— É verdade que pegou fogo na casa dela?
— Sim, é verdade. Ela veio de noite com o menino nos braços e com a roupa do couro. A ribeirinha estava desesperada, veio te procurar e te pedir ajuda.
— Rafael, eu te disse que se essa estória chegar aos ouvidos da Verônica e da família dela, eu…
— Você vai vender sua parte destas terras, por mim, faça o que você quiser, Anderson. Eu só não podia ser tão miserável ao ponto de deixar sozinhos uma mãe e um filho recém-nascido no pantanal. Você deveria pensar no seu filho invés de ser tão egoísta.
— Eu tenho que resolver isso.
— Seja responsável pelo menos dessa vez. Registre e assuma o seu filho isto já seria um bom começo.
— Se a Verônica ligar para fazenda não diga nada a ela sobre a ribeirinha e o gurizinho do mato. Não abra essa sua boca, Rafael.
— Anderson, por mim pouco me importa o que você faz da sua vida. Pode ter certeza que cedo ou tarde a Verônica vai saber que você tem um filho com a ribeirinha. Você está se enganando.
— A Verônica não pode saber, não pode!
— O que aconteceu de você ter vindo hoje? Você falou que só voltaria da cidade daqui há alguns dias.
— Eu tive que voltar e pegar algumas papeladas que havia me esquecido.
— É, está tão preocupado em como esconder o teu caso com a ribeirinha para tua noiva que está esquecendo onde bota as suas coisas. — deu uma gargalhada.
— Não ria das minhas desgraças, Rafael!
— Eu não tenho pena de você, sabe porquê? Porque você procurou isso, Anderson, falta de aviso não foi.
— Chega, Rafael! Chega! Eu vou resolver esse problema. Você não se atreva a falar sobre isto para Verônica! — saiu.
— Eu hein, só tem duas mulheres quem pode. Esse arrumou sarna pra se coçar.
Anderson entrou na sala e viu Jacinta em frente a escada.
— Onde está a Fernanda?
— Ela subiu, está lá no quarto.
— Qual?
— O terceiro a direita.
Ele subia as escadas e Jacinta faz um sinal da cruz.
No quarto, Fernanda estava à frente do berço onde se encontrava o bebê e Anderson entra.
— Precisamos conversar.
— Eu não devia ter vindo pra cá, vou pegar as minhas coisas e vou embora.
— Para onde você vai, Fernanda?
— Não te interessa.
— Sim, me interessa. Fernanda, você não tem para aonde ir com esse guri. Sabe que precisa de mim tanto que esse foi o lugar que procurou ajuda.
— Eu prefiro viver no meio do pantanal com o meu filho do que precisar de você.
— Que você não se atreva a levar esse menino com você e morar no mato porque sou capaz de tomar ele de você, não seja uma irresponsável.
— Olha quem está me julgando? Você pouco se importa com o seu filho. O filho é meu, ele vai comigo para onde eu for.
— Fernanda, não me faça perder a paciência. Se você levar ele para morar no mato iguais animais, eu juro que tiro ele de você e fico com a guarda. Eu sei muito bem como fazer.
— Você não seria capaz de tirar um filho de uma mãe.
— Não duvide disso.
— Não! Você não pode tirar o meu filho de mim!
— Então, não dificulte as coisas, Nanda. Eu vou pensar no que vou fazer com você e o guri. Como foi esse incêndio?
— Os bombeiros acham que o incêndio pode ter começando com uma panela que um vizinho deixou no fogo. Todas as casas da comunidade foram destruídas. Me doeu ver a minha casinha no chão.
— Aquele lugar é muito perigoso para alguém morar e as estruturas daquelas casas não têm segurança nenhuma. Vocês como estão? Se machucaram?
— Estamos bem. Foi um livramento que quando o incêndio começou eu estava voltando para casa com o Inácio, eu o levei para o posto de saúde.
— Inácio. — olhou para o berço.
— Sim, Inácio assim como se chamava o meu pai.
Anderson se aproxima do berço.
— O que vai fazer?
— Ora, não posso pegar o meu filho? É meu filho, não é?
Fernanda olha desconfiada para Anderson que tirava o menino de dentro do berço e o segurava em seus braços.
— Esse guri do mato é pesado. — riu. — Quando nasceu?
— Naquele dia que você foi lá me dizer que vai se casar com sua noiva e que ela espera um filho teu. Acho que a raiva que sentir de você foi tanta que acabei parindo esse guri pela noitinha.
— Ele nasceu com os olhos azuis como os meus que eram iguais aos olhos de minha mãe.
Ele não queria demonstrar que seu filho Inácio o lembrava fisicamente como também o fato dos olhos dele lembrarem de sua falecida mãe e estava emocionado, mas não queria assumir permanecendo uma postura rígida.
— O médico disse que está tudo bem com ele. Nosso guri nasceu forte. Esse é o seu pai, meu amor. — fala com o bebê.
Anderson olha para o bebê e não queria se deixar levar pelo amor que sabia que existia por seu filho.
— Eu tenho que ir. — entrega o guri para os braços de Fernanda.
— Para onde você vai?
— Preciso pensar no que vou fazer com você e esse guri do mato. — saiu.
Na beira do rio Paraguai que corta a fazenda, Rafael se prepara para pescar até que Anderson aparece.
— Espera, Rafael!
— O que foi dessa vez, Anderson?
— Eu não gosto de sentimentalismo barato e nem sou nostálgico, é que aquelas conversas que tínhamos com nosso pai quando pescava no rio me faz falta.
— Também sinto falta dessas prosas. Nosso pai era um homem simples, não teve tanto estudo e tinha muita sabedoria.
— Então, vamos prosear? — deu uma risada breve.
— Vamos, Vem cá e suba no barco.
Na cidade em frente a porta da casa da tia, estava Tânia conversando com seu noivo Expedito, um peão de boiada que trabalha na fazenda Dois Rios, filho do Zeca, tinha uns vinte anos, estatura média, corpo robusto, cabelos negros, ondulados e barba, pele parda e usava roupas tradicionais de pantaneiro.
— Eu me sinto tão triste por perder no incêndio todas as minhas economias que juntei para o nosso casamento.
— Não se preocupe, Tânia, o que importa é que você está bem. A gente vai casar com que temos.
— Me preocupa também como eu vou voltar a trabalhar? O fogo acabou com as redes e as varas de pescar. Eu e meus irmãos estamos dando muitas despesas para nossa tia. Não sabemos como vamos sair dessa situação.
— Eu posso pedir um trabalho para você lá na fazenda Dois Rios.
— Trabalho lá? Não sei se isso vai dar certo.
— Por que não?
— Eu sou a melhor amiga da Fernanda e seremos comadres. Eu a chamei para ser uma das madrinhas do nosso casamento.
— O que isso tem a ver?
— Se esqueceu que a Fernanda tem um filho com o Anderson?
— Ah! Entendi. Tá o maior comentário da peãozada sobre essa estória. Ela está lá na fazenda com o guri.
— Eles estão bem?
— Sim, o seu Rafael e dona Luana receberam eles bem, aliás os patrões são boa gente. Qual teu receio de trabalhar lá, mulher?
— Se por acaso a noiva do Anderson descobrir que sou amiga da Fernanda, ela pode me falar um monte de desaforo e me expulsar da fazenda.
— Acho bem difícil aquela grã-fina aparecer por lá. Eu vou falar com Jacinta quem sabe ela arruma um emprego pra você, tá carecendo, né? A necessidade fala mais alto do que essas bobeiras.
— É verdade, tô precisando de um trabalho não só para ajudar em casa como também porque não quero ficar dependendo de você.
— Mas a obrigação é minha, tu vais ser minha mulher.
— Eu quero ter o meu trabalho e sempre trabalhei, Expedito.
— Por mim tudo bem. O que eu quero é que você esteja feliz, se trabalhar te faz feliz, então, fico feliz também. — sorriu.
— É por isso que te amo, Expedito. — deu um beijo nele.
— Hoje à noite vou pedir tua mão em casamento para o seu pai, de hoje não passa.
Entardeceu no pantanal e no rio estavam Rafael, em pé com a vara de pescar, e Anderson, sentado ao lado, dentro do barco.
— Estou confuso, Rafael.
— A verdade apesar de as vezes ser dura é o melhor caminho.
— Não posso dizer a Verônica sobre a ribeirinha e o guri do mato.
— Essa mentira não vai durar muito tempo. Não se esconde um filho assim para vida toda, o menino vai crescer e se tornar um homem.
— Você pensa que é fácil, porém não é. Se a Verônica e a família dela souber vão acabar com a minha carreira e são capazes até mesmo de me proibir de ver o meu filho com ela.
— Anderson, não exagere. Você não cometeu nada tão grave assim, infelizmente, você não é o primeiro e nem o último homem que foi infiel e teve filhos com mulheres diferentes.
— Eu estou perdido se eu pudesse voltar no tempo.
— Agora é tarde. Eu te avisei que tomasse juízo e você não quis me escutar.
— É algo mais forte do que eu, Rafael, você não entende.
— Me responda uma pergunta, Anderson: qual das duas você ama de verdade? É a Fernanda ou a Verônica?
— Quem eu amo é a Fernanda. O que sinto por ela é algo que nunca sentir antes. Eu tento ser duro, não me deixar me envolver, porém, ela me desarmar e não consigo ser cruel como gostaria de ser.
— Cruel?
— Queria deixa-la sem sentir nenhum sentimento de pena ou remoço.
— Isso pelo menos demonstrar que existe algum pouco de juízo em você.
— Eu quero ela para mim se eu pudesse a levar comigo.
— Por que não desfaz desse teu noivado com Verônica e se casa com a ribeirinha?
— Não vou jogar fora a oportunidade de crescer na minha carreira e meu tempo que gastei com Verônica.
— Se acha tão incapaz que precisa se casar com Verônica para crescer na sua carreira?
— Você sabe que não é bem assim que as coisas funcionam.
— O que você decidiu?
— Eu vou tirar essa ribeirinha e o guri do mato dessa fazenda, vou os coloca em uma casa e dá um dinheiro, uma pensão. Não por qual razão vou fazer isso.
— Você sabe e não quer admitir que o seu filho mexeu com você.
— Você está completamente enganado, Rafael. Faço por Fernanda, só desse jeito que vou ter ela sobre meu domínio, a ribeirinha vai estar nas minhas mãos.
— E seu filho Inácio? Não se importa com ele mesmo?
— Nenhum pouco, Rafael.
— E o futuro dele? Os estudos? Vai deixar ele neste pantanal enquanto o teu filho com a Verônica terá o bom e do melhor na capital?
— Não espere muito do futuro daquele guri do mato, daquele bicho matoso. Ele não terá capacidade para estudar e ser alguma coisa que preste nesta vida. Ele será como muitos peões daqui ignorantes que nada conhece além do pantanal.
— Não teme que Inácio quando crescer pode se revoltar contra você?
— Ele terá que me agradecer, se ajoelhar aos meus pés, me tratar muito bem por eu colocar a mãe e ele dentro de uma casa e dá uma pensão ao contrário de ter deixado viver no mato e disputar comida com os jacarés. — deu uma gargalhada.
Rafael olha com reprovação para o irmão. Duas horas depois, Anderson entra no casarão da fazenda e encontra Fernanda sentada no sofá conversando com Luana. Ele se aproxima das duas.
— Luana, me deixe a sós com a Fernanda.
Luana olha desconfiada para Anderson e sai.
— Onde estava?
— Com Rafael no rio. — se sentou ao lado dela. — Cadê o guri do mato?
— O guri está lá no quarto com Jacinta. Por que chama Inácio desse jeito?
— É uma forma de falar. Ele foi feito no mato e nasceu no mato. — deu uma risada. — Sinto saudades das vezes que a gente fazia amor nesse pantanal adentro…
— Não quero me lembrar desses momentos.
— Tá, arrependida? Fernanda você me ama. Nós nos amamos. — tenta beija-la, ela se afasta.
— Não me ama, Anderson.
— Te amo.
— Como você mesmo disse: não ama ninguém.
— Eu disse isso porque estava nervoso. Falei da boca pra fora. Eu te amo, Fernanda. É você que eu amo. — a surpreende com um beijo.
Verônica entra na sala e ver Anderson e Fernanda se beijando.
— Anderson! — gritou Verônica.

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