Amélia se encontrava dentro de uma cabana e deitada em uma cama com os braços amarrados e a boca vedada com um pano.

—Socorro! —gritava abafado.

Diogo entra.

—Quietinha, xiu! quietinha. —senta-se ao lado dela na cama e ela assustada se afastava dele. —vamos nós ajudar, Amélia, facilite as coisas é melhor pra você. —retira o pano da boca dela.

—Socorro!

—Ninguém vai te ouvir.

—Por que está fazendo isso comigo, Diogo? Por que?

—Você pertence a mim, Amélia.

—Não! Quem você pensa que é pra…

—Sua tia vendeu você pra mim.

—O quê?

—Sim, isto que ouviu. Assim como ela me vendeu Suelen, ela me vendeu você e a partir de hoje terá que trabalhar pra mim.

—Não! Nunca!

—Vai sim, você não tem o que querer. —apertou o rosto dela.

—Jamais vou ser uma de suas gurias!

—Você vai querendo ou não querendo, Amélia. Além do mais que você me deve e muito.

—Te devo?

—Sim, me deve. Eu tive muita paciência, Amélia, muita. Como você acha que sua tia consegue o dinheiro para pagar o seu curso?

—Mentira! Você está mentindo, Diogo!

—Não é! Ou vai querer que eu arraste tua tia para cá para ela confirmar o que estou dizendo?

—Eu posso te pagar de outro jeito, mas não desse jeito sendo uma de suas gurias.

—Chega! —levanta-se. —Vai ser como eu quero e não brinque comigo, Amélia, sabe do que sou capaz. —mostra a arma no coldre amarrado na cintura. —Aceite que esse é seu destino, guria, já tive paciência demais com você. —desamarrou as mãos dela e a levantou bruscamente.

Amélia fica frente a frente de Diogo e o olha com desprezo.

—Pode vender o meu corpo, mas nunca será dono da minha mente e nem dos meus sentimentos.

—Deixe de besteira, guria. Se ajeite, jogue uma água neste rosto e vista aquela roupa que está dentro daquela sacola. —apontou para uma sacola que estava em cima de uma cadeira de madeira ao lado da mesa. — Você vai ver o quanto vai se dá bem sendo uma de minhas gurias.

—Nunca vou me acostumar, nunca vou aceitar!

—É melhor que se acostume, Amélia. —deu uma risada.

De repente Darlan entra.

—Então, essa é a famosa Amélia? —a olha de cima para baixo com desejo.

Amélia se sentia incomodada com o olhar de Darlan.

—É ela sim, seu Darlan, linda não é?

—Sim. —segura o queixo dela a fazendo olhar para ele. — o rosto é tão sedutor quanto o corpo. É tão bela, tão rude, uma típica pantaneira é essa negra. Valeu o preço que paguei por ela só de olhar.

—Vai só olhar, seu Darlan? —perguntou Diogo risonho.

—Não, é claro que não. —tocou no ombro dela que tensa se afasta. —Ei, tá assustada? —beija o ombro dela. —é um bichinho selvagem. —riu.

—Não quer esperar que ela se arrume melhor?

—Está bom assim, eu gosto de algo mais rústico.

—Eu vou embora. Divirta-se seu Darlan.

Darlan puxa Amélia e a beija. Noite adentro o casal teve relações naquela cabana e a jovem se encontrava em estado de choque, em silêncio e sentia-se suja por seu corpo ser invadido e vendido como moeda de troca ou como um objeto ou como um serviço qualquer. As lágrimas não caíam, porém dentro de sua alma a cada toque de Darlan em sua pele, ela se afundava em uma maré de sentimentos de medo, ódio, nojo e decepção por sua tia Roberta por ter a vendido para Diogo. 

Amanheceu e na cabana, Darlan terminava de se vestir e colocava a blusa olhando para um espelho enquanto Amélia estava sentada na cama enrolada em uma manta e com um olhar perdido.

—Você é muda, Amélia? —riu. — Não disse nenhuma palavra a noite toda.

Amélia olha para Darlan de costas.

—É melhor desse jeito porque mulher quando fala demais só atrapalha e irrita. Como seria bom se todas fosse como você Amélia: silenciosa. —abotoava a blusa. —Vou ser generoso com você, vou te pagar há mais do que o Diogo cobrou, você vale muito mais. —aproxima-se dela, a beija e depois retira a carteira dentro do bolso da calça e tira um maço de dinheiro. —É um presentinho pra você. —jogou o maço de dinheiro em cima da mesa velha de madeira. —A gente vai se ver mais vezes, Amélia. —sorriu e saiu.

Após Darlan sair da cabana, Amélia desabou a chorar descontroladamente.

 

Inácio e Lino andavam pelos campos da fazenda Dois Rios em uma área queimada pelo fogo.

—Que tristeza. Dá uma pena do seu Rafael.

—Outras fazendas também foram queimadas pelo fogo e o que intriga é que ninguém sabe exatamente qual é a causa.

—É muito estranho. Uns dizem que é por causa da seca, outros falam que pode ser acidental e que talvez alguém pode ter jogado um cigarro no mato…

—Espero que as autoridades descubram o que causa essas queimadas o quanto antes, pois caso haja responsáveis e se for intencional essas pessoas sejam punidas.

—Alguns políticos deveriam levar mais a sério essas queimadas sendo elas intencionais ou não ou da vontade da própria natureza porque é muito bicho morrendo e dá um dó de ver.

—Concordo com você, Lino, porém, é como desde os tempos coloniais que neste país é preferível remediar do que prevenir. Quando se vai fazer algo e quando se faz já é tarde. Eu vou dá mais uma andada por aquelas bandas.

—Eu vou para o outro lado.

 

Nas terras de Darlan, dentro da cabana estava Amélia havia acabado de se vestir.

—Eu preciso fugir daqui o quanto antes. Onde será que estou? Que lugar é esse? —olha ao redor. —Tenho que fugir, tenho. —ela passa pela mesa e cospe em cima do dinheiro. —dinheiro tão imundo quanto o seu dono. —tenta abrir a porta e estava trancada. —Não, não pode ser. Tem que ter um jeito. —olha ao redor e ver uma claraboia no telhado. —Vai ser por aqui. —arrasta a mesa, sobe em cima e empurra o vidro da claraboia e sai agachada pelo telhado.

Amélia em cima do telhado ver um acampamento com várias barracas improvisadas e algumas cabanas sendo construídas e envolta a beira do rio homens trabalhavam e algumas máquinas e o que ocorria ali era o garimpo funcionando em alta escala em busca de ouro, pedras preciosas ou minérios. Ela ver de longe Diogo conversando com Maurício em frente a caminhonete, e resolve descer do telhado escalando em uma árvore ao lado.

Ao acabar de descer da árvore, Amélia se escondeu atrás de uma Kombi próximo onde estava Maurício e Diogo, ela escuta a conversa deles.

—Vamos ganhar muito dinheiro com esse garimpo. Não vejo a hora de ir lá nos States bancar o milionário.

—Não é tão fácil como parece ser, Diogo, desde que começou o garimpo nestas terras até esse momento nenhum sinal de ouro ou diamantes ou qualquer outra pedra. Acho que o patrão tá perdendo tempo e dinheiro.

—Você sabe que o interesse do seu Darlan é outro: a nascente de Riacho Paraíso.

Amélia demonstra surpresa.

—Pra mim não passa de uma lenda.

—Você viu e ouviu do próprio Nestor que esteve na nascente. Essa nascente existe e por mim a gente devia era invadir aquela aldeia e fazer aqueles malditos índios abrirem a boca e para dizer onde ela está.

—Quem decidi é seu Darlan, ele é o dono do garimpo. Eu sou um pouco desconfiado com índios.

—O que foi, Maurício? Tá com medinho? Afrouxou, foi?

—Tá me estranhando, Diogo? eu não tenho medo de nada. Só acho que devíamos ter mais cautela e não ir com tanta sede ao pote. Eu tenho família e filhos pra criar. Ei! Você aí, cuidado! —gritou e foi em direção ao um grupo de garimpeiros que mexiam em uma máquina.

Diogo sai em direção a cabana onde estava Amélia que sai correndo pela mata. Ao entrar na cabana, Diogo não a encontra.

—Onde está aquela maldita? —olha para a claraboia aberta. —Infeliz! Vou te caçar, Amélia! —saiu furioso.

 

Inácio parou em frente a recente cerca construída que divide as terras da Dois Rios com as terras de Darlan. Quando de repente Amélia corre em direção a cerca.

—Socorro! Socorro!

Amélia estava descalça e com os joelhos e braços machucados devido algumas quedas que sofreu na fuga.  Inácio a ver e lembra de que aquela moça é a mesma que viu dançando na praça há algumas semanas atrás.

—Calma, moça. —toca no ombro dela.

—Não toque em mim! Não toque! —chorando e pendurada na cerca e olhava para atrás.

—Tudo bem, você precisa se acalmar e me contar o que aconteceu.

—Estou fugindo do Diogo! Me tire daqui por tudo que é mais sagrado! Eu te imploro.

—Tá, eu vou te levar para o casarão da fazenda.

—Eu preciso me esconder, não quero que ninguém me veja.

—Não se preocupe. Vem comigo. —ele dá a mão a ela.

Amélia olha desconfiada para Inácio e dá a mão a ele e juntos saem correndo.

 

Décio estava à mesa do escritório e ligava para Verônica que naquele momento se encontrava passeando no shopping.

—Alô, Verônica?

—O que quer, Décio?

—Perguntar se já decidiu se vai aceitar assinar o divórcio de uma forma amigável? Seu advogado ainda não entrou em contato comigo.

—Divórcio? Talvez nem precise e me torne viúva.

—O que tá dizendo?

—Não tá sabendo? O Anderson sofreu um acidente em Corumbá e está entre a vida e a morte.

—Não sabia. É por causa disso que estou tentando falar com ele e não consigo.

—Pois é, enquanto ele decide se vive ou não vive, eu tenho mais o que fazer e não quero ser incomodada por um advogadozinho de porta de cadeia como você. —desligou.

—E agora?

Rebeca, advogada e sócia de Décio, negra, alta, olhos castanhos, cabelos pretos crespos estilo black power, com idade de quarenta anos usava uma blusa de seda branca e uma calça preta social, salto fino preto e joias.

—O que houve, Décio? —com uma pasta de documentos nas mãos.

—Acabei de saber que o Anderson sofreu um acidente e está mal no hospital.

—Qual Anderson?

—O juiz que foi sócio desse escritório.

 —Sei quem é. Lamento muito pelo ocorrido. E como foi esse acidente? —sentou-se à frente.

—Não sei. O que sei é que foi em Corumbá. E eu vou lá.

—Vocês sempre foram muito amigos.

—Sim, amigos. Interessante como são as amizades, não é? É raro ver um amizade que um não tenha pisado na bola com o outro.

—Concordo com você e principalmente hoje em dia que as pessoas se tornaram cada vez mais volúveis, artificiais e rasas além da conta. Quem tem uma amizade verdadeira e sincera tem sorte na vida.

—Eu vou para Corumbá, e acho que pela hora… —olha para o relógio no punho. —chego na cidade a noite se pegar um jatinho. —levantou-se.

—Boa recuperação para o seu amigo, Décio.

—Obrigado, doutora.

 

Em um quarto no casarão da fazenda Dois Rios, estavam Inácio e Tânia em pé enquanto Amélia se encontrava sentada na cama e acuada.

—Ela deve ter passado por algum trauma, coitadinha.

—Só me disse que estava fugindo de um tal de Diogo.

—Mocinha, você está segura nesta fazenda. Eu me chamo Tânia, trabalho no casarão. Qual é o seu nome?

Amélia assustada olhava para os dois.

—Amélia.

—A gente quer te ajuda, Amélia, eu posso… —ele se aproxima e ela recua. —Tudo bem. Eu não vou te machucar.

—Não quero você perto de mim. Nem você e homem nenhum.

—Você deixa eu me aproximar de você e cuidar dessas feridas estão feias e podem infeccionar?

Amélia balança a cabeça aceitando.

—É melhor eu sair. Qualquer coisa que precisar estou na sala, Tânia. —saiu.

Tânia se senta ao lado de Amélia que a olha desconfiada.

—Eu vou passar esse unguento nessas suas feridas. —pegava uma tigela de barro com unguento dentro.

 

 

Alguns minutos depois, Tânia sai do quarto, segue em direção a sala e encontra Inácio.

—Ela não abriu a boca. Não disse nada, coitadinha.

—Assim fica difícil da gente poder ajuda-la.

—E o que vamos fazer com ela? Seu Rafael e dona Luana precisam saber que essa moça está na fazenda.

—Eu vou avisar os tios, porém enquanto isso peço que não fale a ninguém sobre a Amélia pode ser que esse Diogo apareça na fazenda atrás dela ou esteja nas redondezas.

—Pode contar comigo, Inácio, eu não vou contar sobre essa moça a ninguém até os patrões souberem por você.

 

De tarde, Anahí acabava de chegar em seu quarto no casarão deixando a porta aberta e Darlan aproveita, entra e abraça por trás.

—Meu amor, que saudade de você minha índia.

—Onde você estava esse tempo todo, Darlan? —virou-se de frente pra ele.

—Hum, que bom saber… —a beija. —que sente minha falta. —a beija.

—Você não foi mais ao hospital. O tio Anderson acordou e fica perguntando por você.

—Já falei com ele pelo celular ontem à noite. Estou muito focado no projeto do hotel fazenda que quando vou perceber o dia já se passou.

—É seu pai, Darlan, que está internado no hospital. Não custava nada ir fazer uma visita.

—Você está certa, minha índia. Eu prometo que amanhã pela manhã vou fazer uma visita ao pai no hospital.

—Não precisa me fazer promessas, é sua obrigação como filho.

—Anahí, você fala como se eu não estivesse nenhum pouco me importando com meu pai e não é verdade.

—Desculpa, Darlan, eu estou muito cansada e com muitas preocupações. Desde que sair do plantão fui a aldeia saber como estava o meu povo após as queimadas. O que vi foi um verdadeiro cenário de destruição e quando chego na fazenda vejo que o fogo também aqui chegou e meus pais preocupados com a morte dos gados e as áreas queimadas. O fogo chegou a invadi as suas terras?

—Não que eu saiba. Anahí, meu amor você está muito estressada. —a abraça e a beija. —precisa relaxar e eu posso te dá um momento inesquecível para nós dois.

—Darlan, eu não acho que esse seja o momento…

—Quando será? —afasta-se. —Anahí, você foge de mim toda vez que quero te amar, que quero fazer minha. O que há? Está brincando comigo? Começo a achar que você não me ama.

—Por favor, Darlan, entenda que eu não estou com cabeça pra isso, eu não quero.

—Tem que querer! —a beijou.

—Não! Saia daqui, Darlan, me deixe sozinha.

—Anahí, me desculpa, é que você também não ajuda…

—Fora! Nem você e nem ninguém vai me forçar a fazer o que não quero. Você não é meu dono, Darlan, você não manda em mim.

—Um homem quando não encontra o que quer procura outras oportunidades.

—Faça o que quiser. Eu prefiro seguir o meu caminho sozinha.

—Meu amor, não vamos brigar, tá? Estamos com os ânimos a flor da pele. Depois a gente conversa com calma e quem sabe finalmente possamos ter nosso momento de amor juntos?—tenta beija-la, mas Anahí se afasta. —Tenho toda paciência do mundo até que seja totalmente minha. —saiu.

Anahí se encontrava surpreendida com a verdadeira face de Darlan,pois já não era mais ele aquele moço da capital disposto a descobrir o passado de seu pai, e que se viu apaixonado por ela. A índia se questionava sobre a frieza e a falta de interesse de Darlan sobre o estado de saúde do pai, como também o que ela representava para ele que não passava de um tipo de propriedade, coisa ou objeto para servi-lo de seus desejos sexuais. Decepcionada ela estava por ter acreditado que o amor havia encontrado entretanto tinha que admitir que os conselhos dos pais sobre o namoro estavam certos e mais ainda a opinião de Inácio sobre o irmão.

 

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