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programa criado e dirigido por WELLYNGTON VIANNA
apresentação de MARCELO DELPKIN
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Olá, querido(a) leitor(a)! O Observatório está no ar com a análise de uma nova obra aqui da Cyber. Hoje também está de volta o quadro EncicloCyber. Fique ligado(a), que o programa começa agora. Vamos em frente!
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Desde que a Cyber nasceu para o mundo, em fevereiro de 2017, os vampiros têm lugar cativo na casa. Provas disso são A Dama Negra, 00:00 e a atual novela das 20h, Ilha dos Vampiros. É sobre a novela de Isa Miranda Pedro Félix, autor da emocionante Entrelinhas (2018), que vou comentar hoje. E lá vamos nós!
Na última sexta-feira (15), foi exibido o capítulo 9. Na trama, uma cientista decide fazer experiências com vampiros em uma ilha, após assistir aos filmes da saga Crepúsculo. Mas o projeto sai dos trilhos, e a população sofre com ataques dos estranhos seres. Enquanto isso, a inescrupulosa Fernanda apronta mil maldades contra o marido, Marcelo, em nome da ambição.
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Esse misterioso homem esconde alguma coisa. O que será? Mistééééééério!
Atenção, autor, para pequenos detalhes como a vírgula no vocativo.
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Algumas considerações sobre a cena acima. As sequências, do jeito que estão escritas, dão uma sensação de atropelamento. Compare a versão adaptada por mim com a do autor. O que você acha, leitor(a)?
Lyris coloca um cartão de memória na TV e começa a reproduzir o vídeo em que Fernanda e Eric se beijam e roubam o cofre. Marcelo assiste inconformado. Fernanda tenta disfarçar o nervosismo. Tomado pela raiva, Marcelo se vira para ela e lhe dá um tapa. Ela cai no chão. Instantes de silêncio.
Close em Fernanda, que põe a mão no rosto.
Viu a diferença? Quando escreve, o autor tem a cena perfeitamente encaixada e desenvolvida na cabeça, mas os leitores ainda não. Por isso é importante detalhar cada ação, cada detalhe, numa cena essencial como essa. Outra dica: no cabeçalho, colocaria a palavra ILHA antes da informação sobre a MANSÃO. É que a mansão faz parte da ilha, e não o contrário. Sobre a cena em si, adorei ver a vilã desmascarada por Lyris e Marcelo. Teve o que mereceu. Sequências assim sempre dão certo. Muito bom!
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Sempre que leio “a ilha da Doutora Júlia” (linha verde), vem à mente a personagem da Ítala Nandi em Caminhos do Coração (rsrs). Não sei se a novela serviu mesmo de inspiração, mas vale a lembrança. Já no traço vermelho, acontece um grave atentado à língua portuguesa. Pronomes oblíquos fora de lugar machucam mais que os “tecos” do Avelino de Gato Preto (rsrs). A fala do policial não fica bem na forma culta literária nem no jeito de falar coloquialmente. O meio termo usado na frase não pegou bem. Seguem sugestões:
Deixaram na recepção e me mandaram entregar pra você. (coloquial, ok)
Deixaram na recepção e mandaram-me entregá-lo. (formal e literário)
Por se tratar da representação de uma fala, o jeito coloquial e “errado” é permitido num roteiro. Fica até mais natural do que a segunda sugestão. A escolha depende muito do perfil do personagem.
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Ariana não gostou nada de saber que Gólia ficou grávida do Eric e resolveu tomar uma atitude extrema. Assim termina o curto capítulo da noite, em clima de terror.
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A história promete aventuras de montão, a partir da premissa dos vampiros e da vilã. Exatamente o que apareceu de sobra no capítulo analisado. Ilha dos Vampiros ficará ainda mais valorizada se as descrições das cenas, principalmente daquelas mais relevantes e emocionantes, trouxerem as ideias mais encadeadas entre si, passo a passo. Aí a novela vai estourar a boca do balão e se tornar um dos maiores sucessos da Cyber TV. Vai que é tua, Pedro Félix!
A novela é exibida às segundas, quartas e sextas. Não vale perder as emoções de Ilha dos Vampiros, leitor(a)!
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Você assiste à novela Éramos Seis, da Globo? Você sabe que ela surgiu de um livro muito famoso da escritora Maria José Dupré, não? Ele foi lançado em 1943 e, desde então, é um conhecido retrato de São Paulo e de seu povo. Um dos relançamentos mais famosos é o da Coleção Vaga-Lume da Editora Ática.
A saga familiar de Eleonora, a protagonista e narradora Lola, já rendeu inúmeras representações, entre elas cinco (!) versões em telenovelas. Gessy Fonseca, Cleyde Yáconis, Nicette Bruno, Irene Ravache e Glória Pires eternizaram a personagem como uma das mais amadas da história da TV. Capítulos das versões de 1977, 1994 e 2019 pipocam por toda a internet, para quem quiser assisti-los.
Assim como Éramos Seis, inúmeras outras novelas surgiram de obras literárias. Destaco algumas:
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A Escrava Isaura: as duas versões (1976 e 2004) estão entre as novelas mais repetidas da TV. Escrita por Bernardo Guimarães na literatura; adaptada por Gilberto Braga e depois por Tiago Santiago na TV.
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O Julgamento: se ninguém hoje ousaria adaptar uma obra do russo Fiódor Dostoiévski para a telinha, Os Irmãos Karamazov rendeu essa novela em 1976, na Tupi.
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Tieta e Gabriela: as morenas esfuziantes nasceram no mundo da imaginação do baiano Jorge Amado, antes de ganharem as telinhas em 1989 e em 1975, respectivamente. Amado também inspirou outras novelas, como Porto dos Milagres e Terras do Sem Fim.
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Apocalipse: a Record tem se servido de inúmeras histórias da Bíblia Cristã, como a saga do anticristo exibida em 2017.
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Os Dez Mandamentos: também retirado da Bíblia, é considerado um dos maiores fenômenos da história da teledramaturgia da Record.
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O Homem Proibido: publicada nos anos 1950 por Nelson Rodrigues, sob o pseudônimo de Suzana Flag, a novela foi motivo de polêmica com a Censura vigente em 1982. Para aumentar o tititi, o ator principal era David Cardoso, figura presente em filmes de pornochanchada. Mas tudo se acalmou quando o novelista Teixeira Filho transformou a novela num simples e inofensivo folhetim.
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Salomé: Patrícia Pillar deu vida à moderníssima personagem dos anos 1930, retirada de uma obra de Menotti del Picchia. A novela é de 1991.
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Fera Ferida: foi inspirada em diversas obras do pré-modernista Lima Barreto.
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Sinhá Moça: Benedito Ruy Barbosa escreveu duas versões da história de Maria Dezonne Pacheco Fernandes lançada em 1950. Lucélia Santos e Débora Falabella interpretaram a personagem-título na TV.
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Essas Mulheres: Marcílio Moraes se inspirou em três histórias de José de Alencar para criar esta linda novela de 2005 – Diva, Lucíola e Senhora. Esta última já havia gerado outras duas novelas: O Preço de um Homem (1971) e Senhora (1975), versão mais conhecida e protagonizada por Norma Blum.
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As Três Marias: Glória Pires, Maitê Proença e Nádia Lippi representaram as famosas personagens criadas por Rachel de Queiroz. Apesar de o livro ter sido lançado em 1939, a novela se passava na atualidade em que foi produzida, ou seja, em 1980.
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Ciranda de Pedra: Teixeira Filho fez a primeira adaptação do livro de Lygia Fagundes Telles em 1981. Quase 30 anos depois, foi a vez de Alcides Nogueira repetir a dose. A primeira versão usou um tom mais trágico e silencioso, sem deixar a beleza de lado; a segunda apelou para um clima mais ameno e nostálgico.
Conhece outra novela que tenha sido adaptada de livro? Deixe sua mensagem no campo de comentários, no fim do programa. Espero sua participação.
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Bem, é isso. O Observatório fica por aqui, mas daqui a pouco tem o Backstage. Aguardo você!