Olá, leitor(a) do Observatório da Escrita! Preparado(a) pra mais um programa que abre a noite de domingo? Vamos lá! Hoje tem dicas de ortografia e de roteiro. O escritor Marcelo Maia marca presença no quadro Cyber Indica. E tem resenha de mais um conto da série 00:00.

 



Hoje vou falar de algumas construções polêmicas na língua portuguesa.

1) Como se chama aquele alimento saboroso que pode ter várias formas e sabores: bolacha ou biscoito?

Aceita um biscoitinho, Ana Júlia?
Hum! Prefiro uma bolacha com sabor de sangue.

As duas coisas! Bolacha e biscoito são sinônimos. Segundo o site Só Português, a palavra biscoito surgiu primeiro, por volta do século XII, a partir da expressão francesa bis coctus (cozida duas vezes). Já a outra forma surgiu da junção da palavra bolo com o sufixo acha, que tem sentido diminutivo. Então, brasileiros, só nos resta torcer pela forma mais falada em nossa região e aceitar que ambas são corretas e equivalentes.

 

2) Kadu está a fim de Matheus. A fim ou afim?

A fim: esta forma separada indica finalidade ou objetivo.
Afim: a forma junta é um adjetivo e significa “semelhante”, “em comum”.

Heloísa estava a fim de vingar-se de Felipe e Liandra.
Heloísa e Ivan têm um pensamento afim: o da vingança.

 

3) “Preciso agradecer pelo bem que eles me fizeram”, diz a mocinha.

Obrigado é uma palavra que sofre flexão de gênero e número. Portanto:

Edgar disse: “Obrigado!”.
Ana Branca disse: “Obrigada!”.
Carla e Camila diziam: “Muito obrigadas!”.

 

4) Carol já comprou presunto, lombo canadense e mortadela. Agora ela quer um pouco de mussarela. Ou seria um pouco de muçarela?

De acordo com o Vocabulário Oficial da Língua Portuguesa (VOLP), publicado pela Academia Brasileira de Letras, a forma correta é muçarela. O motivo se deve à forma original italiana mozzarella, que é a forma diminutiva de mozza (leite de vaca ou de búfala talhado). Na tradução para o português, o Z duplo se transforma em Ç. Embora seja a mais popular, a forma mussarela não é correta.

E assim Carol preparou uma receita muito especial com muçarela.

 

5) Alice quis preparar um jantar especial para o Walter. Passou na padaria e pediu oitocentas gramas de filé mignon. Isto está correto?

Não, não está correto. Observe:

A grama = relativo a mato ou capim que fica no chão.
O grama = unidade de medida de massa.

Ela comprou oitocentos gramas de filé mignon.
Um gato preto dorme tranquilamente na grama.

No próximo programa, vou falar sobre alguns usos dos verbos TER e HAVER. Fique agora com as novas dicas de roteiro.

 


Quando você escreve ou lê um roteiro, é interessante conhecer alguns termos técnicos muito úteis para os textos dessa modalidade. Observe cinco deles:

1) CAM = este é óbvio. Trata-se da câmera.

CAM mostra um homem de chapéu e sobretudo. Ele está de costas e observa atentamente a movimentação na praça.

 

2) CÂMERA SUBJETIVA = indica que a câmera mostra a cena como se fosse o olhar de determinado personagem, representando seu ponto de vista. Foi utilizada na novela Velho Chico para “interpretar” Santo, após a morte do ator Domingos Montagner.

CÂMERA SUBJETIVA segue o olhar de Lucas. Ele se senta na cadeira. Faz o login no notebook. Dispara o toque de uma chamada de vídeo. Lucas atende. Surge a imagem de Kadu na tela.

 

3) CORTA PARA = passagem de uma cena para outra. O nome corte tem origem nos primórdios do cinema, quando as películas de cada cena eram literalmente cortadas e coladas uma à outra, até formar o rolo completo do filme. Existem as variações CORTES DESCONTÍNUOS e CORTE RÁPIDO, com ideias semelhantes ao do corte comum.

Liandra entra sorrateira pelo corredor. Anda até as escadas e sobe. Sai de cena. Lubyanka entra pela porta de entrada. Para perto do sofá e olha para todos os lados. Também segue para as escadas e sai de cena. CORTA PARA. [próxima cena]

 

4) FLASHBACK = não, não estou falando da próxima novela da Cyber TV (risos). Em roteiro, este termo indica uma cena que revela o passado, podendo este ser uma lembrança ou uma revelação. Pode ser a retomada de uma cena já exibida em outro capítulo ou uma cena nova sobre acontecimentos passados.

FLASHBACK:

Giane entra rapidamente no carro. Dá de cara com Avelino, sentado no banco do carona. Antes que ele tente falar algo, ela o beija com paixão. Sonoplastia: música sensual de suspense.

FIM DE FLASHBACK.

 

5) FREEZE ou CONGELA = efeito muito famoso nos fins de capítulos das novelas. Trata-se basicamente de paralisar a imagem.

Ying acerta uma bofetada em Brenda, derrubando-a no chão. Esta põe a mão no rosto, revoltada. FREEZE.

Aos poucos, em semanas não seguidas, trarei outros termos conhecidos do mundo dos roteiros. Entre eles a família DOLLY (não é o refrigerante, ok? 😀 )

Nota: os personagens citados pertencem a diversas obras exibidas na Cyber TV e são citados aqui como forma de homenagem ao ótimo trabalho de seus autores.

 


O convidado de hoje é Marcelo Maia, autor de Dois Destinos, no ar em Vale a Pena Ler de Novo, e de Ninho de Cobras, a próxima novela das 20h. Vamos ver o que preparou pra gente?

Livro: Eles Não Usam Black-tie.
Autor: Gianfrancesco Guarnieri.
Comentários: O livro é perfeito, conta no passado o que muitos vivem no presente. Maria e Tião, terão um filho, de início para Tião, foi a maior alegria, até lembrar que por não ser casado com sua amada, a criança seria um bastardo. Sendo assim começaram os preparativos para casar. Pois uma criança sem pai há tempos atrás não era bem visto pela sociedade. Já o pai de Tião, um senhor socialista que luta pelos direitos de todos os trabalhadores do morro, grita pelos seus direitos e dos demais. No fim o casal que muito se amam… Claro que eu não irei dar spoiler, terão que ser essa maravilhosa obra.

 

É isso aí, leitor(a)! Um verdadeiro clássico da literatura nacional do século XX que já ganhou os palcos e até a tela do cinema. O filme, aliás, é protagonizado pelo próprio autor da obra, que também teve uma grande carreira na atuação. E agora é hora da resenha da semana. Vamos lá!

 


Na última quinta-feira (29) foi exibido A Reunião, de J.C. Gray, na série 00:00. O conto narra a história de Julia, uma jovem e excêntrica estudante de ensino médio que sofre com o bullying e com o desprezo dos colegas “populares” e maldosos, no caso a racista Clarissa, a stalker Vanessa e o esportista Jorge. Julia prefere a companhia dos nerds. Até que chega o dia da formatura. Apesar de não querer participar da festa, ela acaba aceitando e capricha no visual. O mais especial dos pentagramas que coleciona em uma saboneteira é o item de destaque entre os acessórios. Na festa, ela tem que lidar com a falsidade e a inveja dos três vilões, enquanto é pedida para dançar por Rodrigo, um dos nerds. Por volta da meia-noite, é assassinada e enterrada no terreno do lado de fora por Cassandra e seus cúmplices.

Anos depois, Rodrigo está noivo de Vanessa, mas jamais se esqueceu de Julia, dada como desaparecida. É quando os “ex-populares” recebem um estranho convite para uma reunião da turma de 2004 exatamente no local da festa. Lá, o espírito de Julia reaparece disposto a vingar-se de cada um. A partir daí, tudo se caminha para um final imprevisível que envolve mortes e libertações.

J.C. escreve de uma forma que a história prende do começo ao fim. O texto é muito fluido e divertido de se ler. Por isso, dá um gostinho de quero mais quando ele termina. É impossível não torcer para que Julia consiga dar o castigo merecido a Clarissa, Vanessa e Jorge. Para o leitor que gosta de muito sangue, é uma ótima pedida. Vamos aos trechos de destaque:

 

As vírgulas destacadas no trecho acima são desnecessárias. O motivo é que não devemos usá-las para separar o sujeito do predicado, mesmo que o sujeito contenha muitas palavras ou até orações. Sim, nossa língua por vezes parece meio esquisita e sem sentido, mas é assim mesmo.

 

Quem disse que contos não podem dar dicas práticas? Quem tiver uma medalha velha (ou uma colher, um garfo, qualquer coisa desse tipo) faz o teste em casa e me fala depois se deu certo. Gostei!

 

Pobre garota! Já sofria com os colegas e ainda tinha que lidar com a intolerância da mãe. Imagina a reação da mulher ao descobrir as condições da morte da filha e depois o aparecimento de seu espírito no trecho final. O texto não mostrou, mas a imaginação ferve nessas horas.

 

Confesso que ri nessa parte. Pena que a garota não fica muito tempo com o vestido vomitado e nem é vista assim no salão.

 

E assim Julia foi morta e enterrada pelos vilões. Eles só não contavam que o homem que os seguiu fosse tomar a alma de Julia para si. Prato cheio para o que viria alguns anos depois. No último parágrafo deste trecho, nota-se a falta da vírgula (colocada por mim em azul) para separar o vocativo (chamamento).

 

E o clímax se aproxima com muito bom gosto. Nesse momento o leitor não desgruda mais da história, de tão curioso que fica. Adoro!

 

A perturbadora e merecida morte de Jorge. E isto é só o começo! Aliás, a morte de Vanessa ocorre nesse mesmo nível de terror. Pensa num caco de vidro perfurando lentamente sua barriga.

 

Se você gosta de um final tragicamente romântico (ou romanticamente trágica, fica a seu critério), que tal um mocinho entregar sua própria vida para libertar a alma da amada?

 

Melhor final, impossível. De garota popular, metida e arrogante, Clarissa agora passava a assassina e louca. Jamais esperaria algo assim, antes de ler o conto.

Enfim, leitor(a), gostei muito de A Reunião. Como disse antes, J.C. Gray amarrou a trama de um modo que as letras se transformam facilmente em imagens na nossa mente. Parabéns, J.C.!

A resenha da próxima semana é de uma novela já finalizada aqui da Cyber TV. Não perca!

 


E o Observatório de hoje fica por aqui. Até o próximo domingo! Abraços!

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