Olá, leitor(a/e)!

Hoje o Observatório da Escrita está em clima de romance internacional. Não, não vou comentar sobre uma das antigas novelas da Gloria Magadan nem sobre novelas mexicanas, mas de uma trama “made in China (do Brasil)”. Tem também um dos programas mais polêmicos e da história do Mundo Virtual. Dizem que havia até “lembidas” no ar. Ficou curioso(a/e)? Vem comigo!

 


 

 

 

Na semana retrasada, o Programa do Zoh foi a vencedora da enquete e aqui ganha uma resenha. Ideia de Rennan Lopes (Debaixo dos Panos), foi dirigido por ele, Lucas Luciano e Vítor Abou (Leitura Pop, Caros Amigos Ricos). A atração rende polêmicas até hoje — estreou em 2017 —, a começar pelos nomes dos personagens que apresentavam, baseados em personalidades reais do Mundo Virtual, como Lucas Lubichano (Lucas Luciano), Zoh (Zih, do blog de Cristina Ravela) e Ratena Hendrade (de Tena Andrade), além da Dona Lembidinha — de onde terá surgido esse nome? Melhor deixar quieto, pois a curiosidade pode matar gatos, tigres e leões (rsrsrs). A dinâmica do Programa do Zoh era basicamente comentar e, por vezes, satirizar o que acontecia no Mundo Virtual… às vezes até demais, segundo leitores. Também havia resenhas, como as do quadro CritiZoh.De todo modo, resolvi conferir duas edições do programa. Vamos aos destaques.

A edição 03 começa com uma resenha da série O Hospedeiro. Apontam-se os acertos e as falhas do roteiro, como a desnecessária literarização das descrições, os problemas gramaticais e aos furos na história. Tudo isso com algum tom de graça a partir de memes e GIFs. No quadro seguinte, Lembidinha entrevista João Paulo Ritter. Em seguida, Lucas Lubichano analisa a relação entre as abordagens sociais e a adequação ao tempo em que as tramas da TV e do MV se passavam. No Voando com a Borboleta, alguns diálogos descontraídos e até um tanto politicamente incorretos nos quais os participantes soltam o verbo e até trocam farpas e xingamentos, como no trecho a seguir:

 

Algo parecido ocorre no Debate do Zoh, mais “formal” que o bloco anterior — mas não menos escandalosa. Everton Brito foi o convidado da vez. Quase no fim da conversa, citaram Cristina Ravela:

 

Não é novidade, para os autores do MV, uma rixa entre a loira do blog e a turma do Megapro, e aí está mais uma prova. A propósito: o debate da edição 04 é quase todo dedicado a espinafrar com a imagem da carioca. Para saber mais, clique aqui.

Na edição 05, do início de 2018, a obra a ganhar resenha foi Por Amor, de Marcelo Maia, na então Cyber Séries — hoje Widcyber. Novamente apontaram-se os erros. Uma delas, muito bem citada, está na frase “Valeu muito a penas ter sair nessas férias.”, escrita por Maia e que ficou sem o menor sentido. Outras inadequações gramaticais dos capítulos 00 e 01 da novela também ganharam as páginas do CritiZoh. No papo com a Dona Lembidinha, os apresentadores comemoraram o então novo programa da Mulher Gato e desabafaram sobre as condições do MV na época:

 

Lucas Lubichano defendeu a inserção de mais suspense na dramaturgia “real” e na “virtual”. Depois, Weslley Vitoritti foi o convidado do Debate do Zoh e comentou sobre a Hannah, protagonista de outro programa do Megapro.

 

Divido o Programa do Zoh em duas essências opostas. Na primeira, a parte das análises bem elaboradas das tramas escritas para as mais diversas webemissoras e das tendências da contação de histórias na atualidade. Os quadros mesclam espontaneidade, um toque de ironia e bastante objetividade. Esse é o lado celestial. Por outro lado, a face escura e um tanto assustadora para os leitores mais alheios aos acontecimentos dos bastidores do MV. Nos debates, tanto os reais quanto os roteirizados, apresentadores trocam xingamentos, palavrões e palavras obscenas, além de críticas ácidas, quando não falas contra rivais em tom de repúdio. Sabe-se que há, de alguns anos para cá, uma rivalidade pesada entre os integrantes do Megapro/OnTV e a “Turma da Zih”, e ela é exposta em algumas edições do Zoh. Para quem gosta de babado e tititi, uma ótima pedida; outros consideram desnecessária a exposição e acreditam que o programa apenas incendeia os conflitos em vez de resolvê-los. Tire suas conclusões, leitor(a/e).

Se ficou curioso(a/e) para conhecer mais, entre no site do Megapro assim que terminar a manutenção por lá. O Programa do Zoh segue no catálogo do canal. Aproveite para conhecer outros títulos, como o Raça e o Miau.

 


 

 

Autora de sucessos como A Dama Negra e Saber Amar — o último dos contos da antologia homônima —, Isa Miranda está de volta com Lembranças de Nós Dois. A série conta a história de um romance entre dois rapazes, segundo ela baseada numa história real. A trama é o carro-chefe de continuações como WangXian, também apresentada na Widcyber. Aliás, ambas dão o que falar não só por aqui como também no Wattpad, onde romances LGBT como esses têm se tornado febre com o passar dos anos.

Lembranças de Nós Dois já passou dos quinze episódios, mas vou focar no primeiro. Este se inicia com um discurso sobre o amor. O amor que não é parte ou função do cérebro, mas do sangue: “É sangue correndo dentro de vocês, gritando para fazer a sua vontade…”. Intenso o prólogo, não? Viva a poesia! Primeiro ponto positivo para Isa.

O protagonista, Xian, sofria e se lamentava com a partida do amado Wang para junto de sua mãe da China para o Brasil. Após entrar no avião, Wang tem um mau pressentimento. Dito e feito: uma pane no Boeing interrompe o futuro de dois jovens. Xian fica inconsolável e só tem o apoio da amiga Yanli, com quem relembra os anos de laços fortes de amizade e depois de amor com Wang, interrompidos com a separação dos pais deste. A mulher não teve direito a nenhuma parte dos bens do ex-marido e precisou trabalhar para sustentar a si mesma e ao filho, até encontrar uma oportunidade no país da onça-pintada.

13 anos depois. Xian é o vice-presidente da montadora de automóveis da família. Cria sozinho a filha MianMian, após ter sido abandonado pela mulher. Enquanto se prepara para uma reunião no Rio de Janeiro, aprecia a beleza da praia do Leblon e das mulheres cariocas, em uma conversa com Cheng. Já no prédio da filial da empresa, eles aguardam a vinda de Han. Xian só não espera que ele seja tão idêntico ao finado Wang. Sabendo que o corpo do rapaz nunca fora encontrado, então… será que Han e Wang são a mesma pessoa? Fim do episódio.

 

Como disse acima, o prólogo apresenta doses cavalares de poesia, no bom sentido, e anuncia um casal de tirar o fôlego de tanta química. A cena da despedida de Xian e Wang também se mostra carregada de emoção, de sensações, e a autora explora muito bem tais características. Os leitores conseguem sentir a mesma coisa que os protagonistas. Cada personagem tem suas reações desenvolvidas passo a passo. Então o tempo passa, e Isa opta por cenas mais objetivas e racionais para modelar a versão adulta do Xian, sem perder o controle das expectativas de quem lê. Até que se atinge o clímax no trecho final, com o encontro de Xian e Han como um gancho perfeito para acompanhar os próximos episódios e escrito sem firulas nem malabarismos. A simplicidade, quando bem aplicada, gera reviravoltas incríveis.

O texto vem escrito em narrativa (literário) e com um vocabulário de uso corrente e fácil. Pouco se apresentam elementos muito específicos da cultura e da linguagem chinesa que precisem de muitas explicações e contextualizações. A série é, antes de tudo, um drama amoroso que visa a causar ternura e alimentar sonhos. O episódio é bem curto e direto; conta o que deve ser contado de início. São poucos personagens, e estes contam apenas o necessário.

Notam-se palavras que acabaram escapando na hora da revisão e também algumas inadequações gramaticais. Por exemplo, em “(…) universidade de Pequim e não residia com eles.” — a letra em vermelho está ausente no original. — e em “São belezas brasileiras, não têm tem como não reparar.”. Neste, o verbo deve estar no singular, pois tem o sentido de existência, de “haver”. Outro caso, desta vez com o uso da crase: “O homem a à frente deles os cumprimentou em mandarim (…)”. No mais, as descrições bem elaboradas e divididas compensam os problemas e deixam redondinha a história que Isa apresenta.

Gostou da série? Aproveite para acompanhar os episódios de Lembranças de Nós Dois, às segundas e quintas à noite.

 


O Observatório volta no próximo domingo, com uma resenha da série WangXian. Tenha uma ótima semana! Um abraço!

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