Olá, leitor(a)! Tudo bom? Hoje, no Observatório da Escrita, temos uma nova resenha destilando o veneno de um universitário riquinho e insuportável — a Camila de Laços de Família é um anjo perto dele — e um pouco sobre pontuação de diálogos em narrativas. Vamos lá?

 


Quando uma pessoa escreve os diálogos dos personagens em narrativas, é comum que ela coloque as falas após travessões ou entre aspas, não é verdade? Além dessa regra, você sabia que existem outras práticas para pontuar adequadamente os diálogos? Pois vamos ver, em duas partes, que mecanismos são esses que deixam nosso texto mais harmônico, conforme com os padrões brasileiros e/ou internacionais.

Hoje é dia de organizarmos os diálogos seguidos pelos verbos dicendi e sentiendi. Verbos o quê?

A palavra latina dicendi vem de dizer. Estamos falando de verbos que indicam ato oral: falar, dizer, perguntar, retrucar, responder, exclamar, contar (como em contar histórias), arguir, argumentar etc. Sentiendi são os verbos que vêm de sentimentos, de estados de espírito e de reações psicológicas: lamentar, sorrir, gemer, suspirar, irritar-se, urrar etc.

 

1) Diálogo em discurso direto:

É a exposição direta da fala do personagem. Exemplos:

Quem comeu o pedaço de bolo que Marta guardou para Tiffany? — perguntou Marta.

Quem está lendo a novela do Luiz Lisboa, Um Sonho Intenso?” — indagou um fã da Cyber TV.

Observe que a fala direta de Marta foi representada entre os dois travessões e que o verbo de elocução foi perguntou, que é um ato de fala (verbo dicendi).

 

2) Diálogo em discurso indireto:

É aquele que insere o verbo dicendi para sinalizar a fala de forma indireta. Exemplo:

Camila Oliveira explicou à repórter que fará uma nova turnê com a banda Órbita Três.

A fala em discurso indireto não faz uso de aspas e travessões. Estes até podem aparecer, mas com outras funções.

 

3) Diálogo em quebra de parágrafo com (ou sem) inserção de descrições no meio:

Neste caso, é comum haver quebra de parágrafos no decorrer de uma fala extensa e que precisa ser “interrompida” por alguma descrição. Observe o exemplo abaixo, retirado deste site:

 

REGRAS ESPECIAIS PARA O DISCURSO DIRETO

1) O personagem que fala pode ser representado por um substantivo ou um pronome. Este pode vir antes ou depois do verbo dicendi, mas aquele deve vir sempre depois. O verbo também pode não apresentar sujeito. Observe algumas possibilidades:

Que flores lindas! — sorriu ela.
— Você sabe escrever roteiros naquele aplicativo? — perguntou Cláudia.
— Que dia é hoje? — estranhei.
(as construções acima estão corretas)


— O que acharam do filme? — Guilherme questionou.
(incorreto: substantivo não pode vir na frente do verbo dicendi/sentiendi)

 

2) Hífen, traço médio e travessão são coisas diferentes. O hífen junta palavras e é o menor dos traços; o traço médio costuma ser usado para delimitar falas, mas o travessão é considerado o sinal padrão para tal demarcação.

Como a inserção de travessões pode ser difícil em alguns editores de texto e em sistemas de computadores, tablets e celulares, uma dica é colocar hifens nas falas e, já na fase de revisão, substituí-los por travessões.

Hífen: –
Traço médio: –
Travessão: —

 

3) Quando o verbo de elocução é do tipo dicendi e a fala termina com ponto, este deve ser eliminado. Assim:

Escritores esperam apreensivos pelos resultados do Infinity Awards — comentou Zih.

Onde está o ponto final que deveria estar na fala? O verbo comeu! Viu? Outro exemplo, agora com a elocução no meio da fala:

Fiquei muito feliz quando soube que Excelsior seria produzida — disse Débora Costa —, já que veio do meu trabalho.

Falas terminadas com outros sinais de pontuação, como a de interrogação, a de exclamação e as reticências, ficam inalteradas; isto é, os pontos não caem.

 

4) Aspas podem ser utilizadas para separar diálogos enormes em pedaços, assim facilitando a leitura. Observe:

 

Na próxima semana, veremos a pontuação dos diálogos com outros verbos, chamados comuns.

 


Na última semana, a MegaOD (canal da Megapro) lançou sua mais nova novela: Caros Amigos Ricos, de Vítor Abou. Vamos aos destaques do primeiro capítulo:

Assim que acorda, a jovem Duda ouve uma discussão que acontece fora do quarto. Os pais da moça, Regina e Moisés, chegam à conclusão de que não terão dinheiro suficiente para pagar as contas do mês. Duda se oferece para trabalhar e ajudar nas despesas da casa, mas o conformado Moisés não aceita. A consciente Regina pensa como a filha. Em seguida, ela e Fabrício enfrentam a realidade do ônibus lotados a caminho da faculdade.

No outro polo da história, surge o rico e arrogante Fabrício. Já apronta na primeira aula da faculdade. Duda não consegue chegar a tempo para apresentar o trabalho com seu grupo, e os colegas sugerem que o segundo grupo, o de Fabrício, faça-o antes; mas o rapaz se recusa e lança frases com preconceito social: “(…) até no ensino superior pobre não tem educação e compromisso.”, com a cumplicidade de Tati. Mas Duda chega, e sua equipe se sai muito bem.

Selma, colega de grupo, vende bolos de pote para ajudar nos rendimentos. Sofre preconceito de Fabrício por ser negra, pobre e de meia idade: “E aí, poteira? Já conseguiu o dinheiro da passagem pra voltar pra casa?”. Duda não se importa em ser chamada de “formiguinha” por ele, mas Selma, Benjamin e Bernardo tentam convencê-la a não aceitar ofensas desse tipo.

Depois da aula, Duda apresenta a ONG do pai a Bernardo. Moisés fornece ajuda a moradores de rua. No fim do capítulo, Meire e Isabel organizam e anunciam os finalistas do concurso publicitário para uma campanha de cosméticos: Fabrício e Bernardo. O primeiro é patrão do segundo e faz questão de esfregar na cara deste que é “apenas um garçom”. Fim.

Como de costume nas obras da casa, Caros Amigos Ricos aborda temas sociais contemporâneos, com destaque, desta vez, para as diferenças entre classes sociais e os preconceitos escancarados pelos vilões do núcleo de Fabrício. Este, aliás, já merece configurar como um dos personagens mais insuportáveis e odiosos de 2020. Racista, mesquinho, assediador moral… Neste primeiro capítulo, o personagem com melhor acabamento — até um pouquinho exagerado (risos). Duda e seus pais também trazem uma discussão realista e bem elaborada da parte do autor. Sinalizo como negativa, na verdade mais como uma hipérbole, o fato de quase todas as cenas trazerem discussões sociais, sem um “descanso” — não necessidade uma cena de humor (que também poderia soar forçada), mas um simples bate-papo, uma cena de beijo, qualquer “pausa” entre um tema e outro.

Quanto ao roteiro, nota-se uma estrutura simplificada, leve, de fácil leitura, que utiliza comandos técnicos na medida certa, sem poluição visual nem preciosismos. Falas e descrições fluidas e instigantes. Bom uso da língua portuguesa. Excelente gancho com o vilão Fabrício. Vale a pena ler os próximos capítulos. Parabéns ao autor pela ideia e pela condução da obra!

Leia o capítulo completo aqui.

 

Na próxima semana, a segunda parte do especial de pontuação de diálogos e uma resenha sobre a estreia da novela Pedra de Tropeço.

 


O Observatório da Escrita volta na próxima semana. Não perca! Até lá!

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