CENA 01. HOSPITAL. QUARTO FÁBIO. INT. NOITE.

Continuação da última cena do capítulo anterior. Fábio agoniza na cama, enquanto tem a conversa derradeira com Bruno.

FÁBIO
Eu já estou de partida. Por favor, promete. Casa… com…

BRUNO
Eu prometo!

FÁBIO
Que… bom!

Fábio vira a cabeça para o lado e morre. Som do aparelho apita ininterruptamente.

BRUNO (tenta acordar Fábio; chora)
Fábio, acorda! Acorda!

Dois enfermeiros entram apressadamente, para verificar o estado de Fábio. Afastam Bruno, que fica em desespero. Silêncio, por uns segundos.

ENFERMEIRO
Está morto. Sinto muito, senhor.

Bruno parece não acreditar. Sai de costas, sem falar.

CENA 02. HOSPITAL. CORREDOR. INT. NOITE.

CLOSE em Gioconda, chocada com o que acabara de ouvir.

GIOCONDA (sussurra)
Meu marido…

FÁBIO (chora)
Agora há pouco.

GIOCONDA (grita)
É mentira! Meu marido está vivo naquele quarto! Não vou aceitar uma brincadeira de mau gosto…

FÁBIO
Ele morreu, Gioconda! Morreu!

GIOCONDA (grita)
Não!!! Como pôde me abandonar assim, Fábio?

Bruno abraça e consola Gioconda, que chora compulsivamente. Sandro e Jô aparecem ao fundo, conversando com um médico. Eles se aproximam consternados. Sandro e Bruno se entreolham.

BRUNO
Ela já sabe.

SANDRO
Meu Deus!

GIOCONDA
Não fale esse nome! Deus é um covarde de me deixar sozinha.

BRUNO
Não diga isso, Gioconda. Fábio se foi para salvar você. E eu estarei sempre do seu lado, não se esqueça.

GIOCONDA (chora)
Meu marido, não!!!

MÉDICO
Se precisarem de alguma coisa, me procurem no consultório.

SANDRO
Muito obrigado, doutor.

CENA 03. CASA HELENA. SALA. INT. NOITE.

Leila desliga o celular, após uma ligação do hospital.

ZILDA
O que houve, Leila? Parece perturbada.

LEILA
O marido da Gioconda acabou de falecer.

ZILDA (chocada)
Que Deus o leve para um bom lugar.

Estêvão e Ângela vêm do corredor e notam a reação das demais.

LEILA
Pai, você vai passar no hospital? O marido da Gioconda…

ESTÊVÃO
Sim, filha. Já soube que ele foi hospitalizado. Ela precisa do meu apoio.

ZILDA
Ainda mais agora, que está viúva.

ESTÊVÃO
Viúva? Não me diga que…

LEILA
Agora há pouco. Bruno avisou ao Rubens, que acabou de me ligar.

ESTÊVÃO (ansioso)
Não contem nada à Helena. Não tenho hora pra voltar.

ZILDA
Manda notícias, meu genro.

ESTÊVÃO
Mando, sim. (sai com pressa)

ZILDA (após segundos de silêncio)
Temo pela reação da sua mãe.

LEILA
Eu também, vovó.

Zilda e Leila se abraçam.

CENA 04. HOSPITAL. CORREDOR. INT. NOITE.

Sandro e Jô conversam sobre Fábio, sentados no banco.

SANDRO
Não sei por quê, mas sinto como se perdesse meu pai pela segunda vez. Em pouco tempo de convivência, eu já o considerava uma grande pessoa.


Não tive o prazer de conhecê-lo.

SANDRO
Ver a Gioconda perder o homem que amava me faz sentir mais deprimido do que já estava.


Não é nada fácil perder alguém querido. Mas você também tem alguém para encontrar: seus pais.

SANDRO
Disso eu não abro mão. (pausa) Assim que o Fábio for enterrado, quero retomar as buscas.


Você sabe que pode contar comigo.

SANDRO
Você tem sido uma parceira e tanto. As coisas seriam bem mais difíceis, se eu tivesse que agir sozinho.

Estêvão entra apressado.

ESTÊVÃO
Que bom que te achei, Sandro. Você viu a Gioconda por aí?

SANDRO
Ficou muito abalada com a notícia, então ficou de repouso lá dentro. Bruno desceu pra lanchar.

ESTÊVÃO
Espero que corra tudo bem com ela, apesar de… Gioconda é uma pessoa muito querida desde jovens. Vocês nem imaginam o quanto. Quando Leila me contou, não pensei em outra coisa, a não ser consolar a Gioconda.

CENA 05. CASA HELENA. SALA JANTAR. INT. NOITE.

Helena, Zilda, Leila e Amanda jantam. A primeira nota a reação negativa das outras.

HELENA
Nossa! Como vocês estão pra baixo! Credo! Alto astral! Hoje minha pele está de puro pêssego.

LEILA
Não estamos com espírito pra comemorar nada, mamãe.

AMANDA
O marido da Gioconda está morto, mãe.

HELENA
Azar o dele. E que ela seja a próxima. Não gosto dessa gentalha.

ZILDA (tom)
Isso lá é jeito de falar, Helena. O seu ódio por ela já está passando dos limites. Será que não consegue respeitar nem a partida do pobre homem?

HELENA (tom ainda mais alto)
Pensar no sofrimento que ela me causou, você não faz. Não é, Zilda? Quer saber de uma coisa? Estou muito feliz, sim. E que a alma daquele cafajeste arda nas profundezas, como merece. (pausa) Aposto que o Estêvão correu igual a um cachorrinho atrás da vagabunda. Perdi minha fome.

Helena sai. Zilda tenta ir atrás, mas Amanda a segura pelo braço e a impede.

AMANDA
Não adianta, vovó. Agora a mamãe vai tentar chegar até o fim com essa vingança descabida.

LEILA
Concordo com a Amanda. Temos que pensar em algo pra impedir a mamãe de cumprir com as vontades.

ZILDA (senta-se novamente)
Não faço a menor ideia de como colocar a mãe de vocês de volta aos eixos, meninas.

CENA 06. AQUAPAPER. SALA ARMANDO. INT. NOITE.

Carly bate à porta e entra. Armando sentado à mesa.

CARLY
Ai, acho que é a sala errada. Me desculpa…

ARMANDO
Não! É aqui mesmo. Fecha a porta e senta aí no sofá. (Carly lhe obedece; ele também vai ao sofá) Você se chama Carly, não é mesmo?

CARLY
Como sabe?

ARMANDO (sedutor)
Acompanhei seu teste, esqueceu?

CARLY
Sim, é claro.

ARMANDO
Gostei muito da sua desenvoltura em frente às câmeras; do seu carisma; da sua beleza… Mas falta um único teste, para que seja aprovada com louvor.

CARLY (finge-se de sonsa)
Que teste seria esse?

ARMANDO (aproxima sua boca da de Carly)
Quer mesmo saber? Acho que vai gostar. O que acha de passar um tempo com um velho bonito e sedutor como eu?

CARLY
Passar a noite?

ARMANDO
Por favor, não encare como assédio. Só quero sua companhia.

CARLY
Não sou dessas mulheres chatas, cheias de mimimi. Comigo você pode tudo, bonitão.

Armando beija Carly com desejo. Envolve-a entre seus braços.

CENA 07. HOSPITAL. CORREDOR. INT. NOITE.

Estêvão e Bruno tentam consolar Gioconda. Sandro de pé, ao fundo.

BRUNO
Minha amiga, o que acha de dormir um pouco?

GIOCONDA
Quem é que consegue dormir, depois de uma tragédia como essa? Quase morri duas vezes em poucos dias. Na segunda, perco meu marido. Na próxima posso ser eu.

ESTÊVÃO
Não fale assim. Sandro está aqui para protegê-la.

BRUNO
E nós para te dar todo o apoio, como sempre fizemos… quando você estava no Brasil.

GIOCONDA
É tudo culpa minha, do meu passado.

ESTÊVÃO
Do que está falando? Você sempre foi uma ótima pessoa, cheia de qualidades, de virtudes.

GIOCONDA
Não é bem assim. Sua mulher nunca me perdoou.

ESTÊVÃO
Helena sempre teve inveja e rancor de você. Ela não é parâmetro pra nada. Pare de se culpar e aceite nosso afeto.

BRUNO
Isso mesmo.

CENA 08. AQUAPAPER. SALA ARMANDO. INT. NOITE.

Armando e Carly transam. Ele está de pé, vestido e com a calça um pouco rebaixada devido ao zíper aberto. Ele apoia a moça entre si e a parede. Beijam-se; sussurram. Carly chupa o pescoço do homem, que em seguida entra em orgasmo e geme. Segundos depois, eles se separam. Ofegante, Armando fecha a calça e se recompõe, enquanto Carly abaixa o vestido e sorri sapeca.

CARLY
Gostou?

ARMANDO
Aprovada com louvor. Aguarde o resultado da seleção. Meus assessores entrarão em contato. (suspense) Parabéns!

Eles se beijam novamente. Depois ela sai. CLOSE na expressão de safado em Armando.

CENA 09. RIO DE JANEIRO. EXT. DIA.

Música: Doctor Beat – Gloria Estefan & Miami Sound Machine. Dia seguinte. Imagens da movimentação de pessoas e de carros nas praias de Copacabana, Ipanema e Leblon.

CENA 10. CAPELA. VELÓRIO FÁBIO. INT. DIA.

A música para. Fábio deitado no caixão, que está no centro do salão. Gioconda e Bruno sentados á frente. Ela chora nos ombros dele. Sandro de pé, por trás deles. Jô e Vicky conversam em outro canto, enquanto o fotógrafo faz imagens do morto.

GIOCONDA (irritada)
O que significa isso? Sensacionalismo? Não quero que tirem fotos dele.


Desculpa, Gioconda. (ao fotógrafo) Tira umas fotos da fachada, tá bom?

GIOCONDA (vai até o caixão; chora)
Por quê você tinha que partir?

BRUNO
Chegou a hora dele, Gioconda. Temos que aceitar.

GIOCONDA
Eu nunca vou aceitar! Nenhum homem me tratou tão bem, com tanto romantismo e cuidado, quanto Fábio. (beija a boca do morto)

VICKY
Imagino o quanto esteja sofrendo…

GIOCONDA
(corta) Não, não sabe. Não imagina como é a dor de te arrancarem o coração em vida. (chora e abraça Fábio)

CENA 11. MANSÃO ARMANDO. SALA JANTAR. INT. DIA.

Soraya e Helena tomam café da manhã.

SORAYA
Morreu?

HELENA
E eu adorei fazer aquela maldita sofrer pelo menos um pouco pelo que me fez a vida toda.

SORAYA
Pelo que conheço de você, deve ter tido até festa.

HELENA
Só uma noitada com o motorista no quarto dele. Tive que ser discreta. Minhas filhas e minha mãe ficaram naquele clima de velório.

SORAYA
Sobre o Estêvão, não precisa nem dizer.

HELENA
Saiu correndo atrás da vagabunda. Passou a noite toda no hospital e no IML. Que nojo!

SORAYA
Você não se conforma até hoje de ele preferir a Gioconda a você, não é?

HELENA
O que você acha? Mas eu já sei como mudar isto. Mato a vadia e…

SORAYA (corta)
…ele te odeia pra sempre. O que acha de um passeio pelo shopping? Tem uma bolsinha nova e super na moda que quero comprar.

HELENA
Vou com você. Mas não sem antes participarmos de um programa melhor.

SORAYA
Não vai me dizer que…? Não! Você só pode estar louca, Heleninha.

HELENA
Louca por vingança. Vamos fazer uma visitinha ao morto.

CENA 12. LANCHONETE. INT. DIA.

Leila e Rubens conversam, sentados a uma das mesas. Lancham sanduíches.

RUBENS
Bruno me falou que a Gioconda ficou inconsolável. Deve estar sendo difícil pra ele.

LEILA
Você quer dizer pra ela, não?

RUBENS
Não. Disse pra ele mesmo. Ele é apaixonado por ela desde que se dá por gente. Não deve estar suportando vê-la se despedir de outro homem, e ter que ser forte para consolá-la.

LEILA
Bem que já tinha percebido uma queda dele por ela, mas achava que fosse só uma bobagem da minha cabeça. Então o negócio é sério?

RUBENS
De mais de trinta anos de história.

LEILA
Que coisa louca!

RUBENS
Você vai ao enterro comigo?

LEILA
Não, acho que não. Não quero dar motivos pra minha mãe disparar suas pérolas contra mim durante dias e dias. Já basta o papai estar com a Gioconda.

RUBENS
Sua mãe implica mesmo com a Gioconda.

LEILA
Ela implica com tudo. Até com nossa amizade, acredita? Diz que você é um conquistador barato.

RUBENS
É, você me contou na outra vez.

CENA 13. CAPELA. VELÓRIO FÁBIO. INT. DIA.

Bruno abraça Gioconda, novamente sentados em cadeiras. Estêvão conversa com Lena em um canto. Sandro, Jô, Vicky e Raul também estão no local.

LENA (chora)
Fábio era uma pessoa maravilhosa, doutor Estêvão. Estou inconformada.

ESTÊVÃO
Qualquer um ficaria.

LENA
Ele tratava a Gioconda da melhor forma como uma mulher merece. Aceitou toda a sua história de vida, todas as atitudes do passado, como se nada lhe importasse mais do que o fato de amá-la. Que mulher não sonharia com um homem assim? E agora ele está morto.

PLANO GERAL. Os presentes lamentam a morte de Fábio. Em seguida, Helena entra e deixa todos chocados. Soraya entra em seguida.

GIOCONDA
O que veio fazer aqui? Ver a minha desgraça?

HELENA
Tenho que admitir que burra você não é.

ESTÊVÃO
Que prazer é esse que te faz pisotear naqueles que estão de luto?

HELENA
O prazer que uma mulher tem em flagrar o próprio marido saindo de casa para ciscar num galinheiro. (dá um tapa nele)

BRUNO (tom)
Não vou admitir este tipo de baixaria no velório!

HELENA (gargalha)
Como é que é? Quem você pensa que é pra admitir alguma coisa? Não passa de um covarde que nunca teve a coragem de se declarar pra mulher que ama. Um fraco! Um banana!

VICKY (cochicha com o fotógrafo)
Não perde um detalhe do barraco.

ESTÊVÃO
Soraya, faz o favor de tirar essa louca daqui.

HELENA
(grita) Não se atreva! (anda até o caixão) Olhando bem, nem depois de morto este ser encardido deixa de ter cara de safado. Combinava bem com a meretriz aí da frente. (puxa o morto pelas lapelas do paletó e o sacode várias vezes, enquanto grita) Que homem nojento! Safado! Igual ao meu marido!

GIOCONDA
Larga meu marido, Helena!

BRUNO
Calma, Gioconda!

GIOCONDA
Ela está desonrando o corpo dele, Bruno!

ESTÊVÃO
Já chega, Helena!

HELENA
Que vá direto pro inferno, cadáver maldito!

Ela dá um soco no rosto do morto. Depois empurra o caixão, derrubando Fábio ao chão. Gioconda se levanta furiosa, mas também leva um tapa de Helena e também cai.

HELENA
Pronto! Já dei meu recado. Vamos, Soraya!

Ambas saem juntas. Todos chocados com a cena. Bruno e Sandro colocam o morto no lugar. Lena consola Gioconda e a coloca de volta na cadeira. A italiana chora. Fotografias continuam sendo tiradas da cena. Rubens entra e se aproxima de Bruno.


Me falaram que essa mulher era louca, mas não que era tanto. Se fosse com meu marido, eu quebrava a Helena na porrada.

VICKY
Nisso tenho que concordar com você, amiga.

CENA 14. PRAÇA. EXT. DIA.

Amanda e Carlos Eduardo passeiam e conversam.

CARLOS EDUARDO
O papai não parava de falar no nosso casamento.

AMANDA
Minha mãe até parou, mas foi porque o assunto passou a ser a tal da Gioconda.

CARLOS EDUARDO
Gioconda?

AMANDA
Sim, o maior desafeto dela.

Toca um sinal de notificação no celular de Amanda. Ela pega o aparelho e lê a mensagem. Aparece um link na tela; Amanda clica e vê fotos de Helena no velório.

CARLOS EDUARDO
O que foi, Amanda?

AMANDA
Mamãe surtou de vez.

CENA 15. CEMITÉRIO. EXT. DIA.

Sonoplastia: dramática. Gioconda e Lena choram. Bruno Rubens, Ana, Estêvão, Jô, Sandro, Vicky e Raul também estão presentes. O caixão de Fábio é colocado no túmulo, que logo é tampado. Gioconda e Lena se abraçam. Bruno reprime seus sentimentos, assim como Estêvão.

Efeito de fim de capítulo: imagem congela; FADE TO BLACK. Sonoplastia: vento.

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