CENA 01. JORNAL. REDAÇÃO. INT. DIA.

Redação em polvorosa. Jornalistas e repórteres muito agitados com o que assistem pela internet. Raul sai da redação e se aproxima dos demais.

RAUL
Posso saber que confusão é essa?

VICKY
Veja você mesmo. Briga de Gioconda e Helena ao vivo pra quem quiser ver.

JORNALISTA 2
Milhões de acessos em meia hora.

REPÓRTER
Viralizou. O que vai sair de meme daqui…

RAUL (olha para a tela)
Mas essa não é a Jô?

VICKY
Quem você acha que armou tudo isso?

RAUL
Não pode ser.

VICKY
Sobrou até pro teu amado e idolatrado Armandão.

RAUL
O quê? (pausa) A Jô vai me pagar caro por essa traquinagem. (sai apressado)

CENA 02. HOSPITAL. CONSULTÓRIO. INT. DIA.

Estêvão e Ana assistem à briga pelo notebook do médico. Leila chora abraçada a Rubens.

LEILA
Ela matou meus avós e agiu como se nada tivesse acontecido.

RUBENS
Sua mãe nunca teve a cabeça no lugar. Só que agora os podres foram revelados. Mais dia, menos dia, vai ter que pagar por eles.

LEILA
Eu sei que ela nunca foi a melhor pessoa do mundo, mas daí a matar?

ANA
E ainda se acha no direito de julgar as outras pessoas.

ESTÊVÃO
Esse sempre foi o maior defeito da Helena: se achar acima do bem e do mal; se achar maior do que todos. Quando a Gioconda apareceu lá na escola, ainda menina, a Helena perdeu o trono e ficou possessa. Já não era a garota mais popular da escola, a mais obedecida por seus colegas.

LEILA
E tem ódio até hoje de quem se coloca contra ela.

ANA
Ou a favor da Gioconda.

RUBENS
O que é praticamente a mesma coisa.

CENA 03. BOATE NOÊMIA. SALÃO. INT. DIA.

Gioconda continua batendo em Helena no chão. Ivan consegue tirá-la de cima da rival. Helena está com vários hematomas no rosto. Jô, Zoraide, Alice e Mercedes também presentes.

IVAN
O que está fazendo? Larga ela.

GIOCONDA
Me solta, que eu vou acabar com ela.

DELEGADA (entra com Bruno e dois policiais)
O que tá acontecendo aqui?

HELENA (se levanta)
Até que enfim! Essa vadia tentou me matar!

GIOCONDA
Tentei mesmo! Me solta, Ivan!

DELEGADA
Helena, você está presa por homicídio múltiplo, ameaça de morte e racismo. (aos policiais) Podem prendê-la.

HELENA
Não me encostem a mão! (ela é algemada) Vocês vão me pagar! Um por um!


Já vai tarde, megera!

GIOCONDA
Espero que nunca mais apareça na minha frente.

Os policiais saem com Helena. Ivan solta Gioconda, que se aproxima de Bruno. A delegada fala para Gioconda e Noêmia.

DELEGADA
As senhoras também vão ter que prestar esclarecimentos.

NOÊMIA
Como é que é? Ela mata todo mundo, e eu também posso ser incriminada?

ZORAIDE
É só trabalho de rotina, amiga.

NOÊMIA
Acho bom. Ou processo as duas irresponsáveis e a jornalista por danos morais.


Tô morrendo de medo!

CENA 04. DELEGACIA. CELA ARMANDO. INT. DIA.

Raul entra com um policial e é encaminhado até a cela de Armando. Este se levanta da cama e vai até a grade.

RAUL
Doutor Armando, tenho um assunto pra tratar com você.

ARMANDO
Fala.

RAUL
Minha funcionária, a Jocasta, te comprometeu mais uma vez.

ARMANDO
Você ainda não se livrou dela? O que foi agora?

RAUL
Ela armou um plano pra desmascarar a Helena e a Gioconda, por uma coisa que elas fizeram no passado. E o seu nome rolou no meio. Parece que você vai ser incriminado por mais algumas mortes. Fora as novas provas da morte da Soraya.

ARMANDO (grita)
Maldita!

RAUL
Ela está a fim de desmontar todo o esquema.

ARMANDO
Acaba com ela. Demite. Bota pra correr. Se precisar, mata e joga numa vala qualquer. Mas você tem que calar a boca dessa mulherzinha.

RAUL
Já vou direto pra fazer isso.

CENA 05. BOATE NOÊMIA. SALÃO. INT. DIA.

Gioconda tenta se aproximar de Mercedes.

GIOCONDA
Precisamos conversar.

MERCEDES
Sobre o quê? Ah, é sobre o Sandro? Você pode tentar me dar todos os motivos do mundo pra ter largado ele na primeira casa que achou ou até numa lixeira. Mas não aceito desculpas. Nada justifica uma mãe abandonar um filho. Nem bicho abandona os filhotes. Pra mim, você nunca foi mãe. Com licença, que isso aqui já está me dando nojo. (se afasta para sair)

GIOCONDA
Mercedes!

BRUNO
Deixa ela, Gioconda.


Bruno, larga ela. Quase perdeu a vida duas vezes por causa dela e continua se esfregando como um cachorrinho?

BRUNO
Ela precisa de mim. Se não quer entender, o problema é seu.


Já que é assim, então fica com ela. Só não vem chorar no meu colo quando ela te chutar outra vez. (também sai)

NOÊMIA
A Jô tá coberta de razão.

ALICE (corta)
Mãe, não bota mais lenha na fogueira.

NOÊMIA
Boto! Boto, sim! Porque foi por causa dessa aí que fiquei com peso na consciência por mais de trinta anos. Tomara que sofra muito com seu filho, Gioconda.

ZORAIDE
Isso lá é coisa que se fale, Noêmia?

ALICE
Deixa, Zoraide. Quando ela pega ranço, sai de baixo. Vou voltar pra escola e botar ordem lá. Deixei os professores sozinhos.

ZORAIDE
Vou com você.

NOÊMIA
E eu vou lá pra dentro. (a Bruno e Gioconda) Espero que vocês dois evacuem logo meu estabelecimento.

Alice e Zoraide saem da boate, enquanto Noêmia vai para o escritório pelo corredor. Bruno abraça Gioconda.

CENA 06. BOATE ZORAIDE. FRENTE. EXT. DIA.

Alice e Zoraide saem pela porta e caminham pelo corredor. Sandro está parado ao lado de um poste. Alice o vê e se aproxima dele.

ALICE
Ah, você tava aí? Feliz pelo que fez?

SANDRO
Quer saber? Fiquei feliz, sim. Elas mereceram uma lição.

ALICE
Como você pôde ser tão mau? Até minha mãe você atropelou com seu ódio.

SANDRO
A sua mãe participou do crime que fizeram contra mim. É mais do que justo ela pagar. Agora, se prefere tapar os olhos e ficar do lado dela, não posso fazer nada. No fundo vocês são iguais.

Alice levanta a mão pra bater em Sandro, mas ele segura. Zoraide se assusta.

ALICE
Você tá me machucando!

SANDRO

É bom mesmo!

ZORAIDE
Solta ela, Sandro. Vocês não podem brigar por causa delas.

SANDRO
Já brigamos, e agora não quero mais ver a Alice na minha frente.

Sandro solta o braço de Alice e entra na boate. Alice chora e abraça Zoraide.

ALICE
Você ouviu, Zoraide? Ele não me quer mais.

ZORAIDE
Ele está com rancor, e não é pra menos. Ele se sentiu enganado e maltratado por muita gente. Até mesmo por sua mãe. Dá tempo ao tempo, que ele vai pensar melhor e ver que a vingança não compensa, meu amor.

ALICE
Mas ele era tão bom. De repente…

ZORAIDE
De repente descobriu que a Gioconda é a mãe dele, e sua vida saiu de novo dos eixos. Você precisa ser forte e paciente. Ele vai voltar pra você, quando menos esperar.

ALICE
Acho que não. Não quero mais. Ele me magoou muito, Zoraide.

ZORAIDE
Eu sei. Mas não faz nada sem pensar. Promete, amiga?

ALICE
Por você, prometo.

Zoraide abraça Alice novamente e sorri.

CENA 07. BOATE NOÊMIA. SALÃO. INT. DIA.

Bruno consola Gioconda. Sandro entra.

BRUNO
Sandro, onde estava?

SANDRO
Aí fora. Fiquei esperando acabar o show. Três máscaras caíram direitinho.

GIOCONDA
Do que está falando?

SANDRO
Eu e a Jô arrumamos um jeito de juntar vocês três pra um acerto de contas.

BRUNO
A Helena foi presa, e a sua mãe…

SANDRO
Minha mãe morreu de cama lá na fazenda. A outra me jogou no mundo e fugiu com um homem rico. É o que a gente mais vê por aí.

GIOCONDA
Eu sei que você tá revoltado comigo, e com todo direito. Mas eu queria explicar minhas razões.

SANDRO
Não me interessam seus motivos. Só passei pra ver o resultado do estrago que fiz. Bruno, não fica muito perto dela. (sai da boate)

GIOCONDA (chora)
Meu Deus! Meu filho me odeia!

BRUNO
Não, ele só tá revoltado. Logo vai passar, e vocês vão se entender.

GIOCONDA
Ele quis se vingar de mim, Bruno. Eu sou uma pessoa tão ruim assim?

Lena entra afobada com sacos de supermercado. Coloca-os no chão e se aproxima de Bruno e Gioconda.

LENA
Até que enfim! Não pude acreditar quando colocaram a conversa de vocês na internet.

BRUNO
Pois é. O Sandro armou o encontro e a Jô colocou no tube.

LENA
E agora só se fala nisso na televisão. Um jornalista me ligou querendo saber da intimidade de vocês desde sempre.

GIOCONDA
E ainda isso? Vão dissecar a gente até o fim como urubus.

CENA 08. HOSPITAL. CONSULTÓRIO. INT. DIA.

Estêvão e Leila falam em seus celulares. Rubens e Ana assistem em um canto.

ESTÊVÃO
Nada a declarar.

LEILA
(ao mesmo tempo) Não insiste, que não vou falar nada. (desliga; a Ana e Rubens) Vou deixar no modo avião. Os jornalistas não param de ligar, querendo saber de tudo da mamãe, da Gioconda…

ESTÊVÃO
Não tenho nada pra dizer. (desliga)

RUBENS
Já desliguei o meu, então ninguém vai me perturbar.

ESTÊVÃO
Rubens, vou precisar que vá comigo lá na delegacia. Fala o que ela e a Kika fizeram. Só vou dar uma ligada pra Amanda, pra ver como ela está.

ANA
Isso se os jornalistas deixarem, né?

Amanda e Régis entram no consultório. Ela abraça Estêvão.

LEILA
Como conseguiram chegar?

RÉGIS
A rua tá lotada, mas a gente cortou por dentro e conseguiu entrar pelos fundos.

AMANDA (chora)
Não consigo acreditar que a mãe seja capaz de tanta coisa ruim.

RÉGIS
E por inveja.

ESTÊVÃO
A mãe de vocês nunca teve amor de verdade. Não sabia o que era isso. Então queria se impor pela força. Mas aí veio a Gioconda e… Também fui culpado pelas coisas que ela fez. Se eu não tivesse me apaixonado pela Gioconda e cedido logo aos apelos da mãe de vocês…

LEILA
Isso não é justo. Você não tem que se culpar por causa dela. Cada um sabe o que faz, e ela vai ter que arcar com as consequências.

RUBENS
A Amanda tá abalada. Vamos parar de falar assim.

RÉGIS
É, o Rubens tem razão. Vou pedir pra Flávia dar uma examinada nela.

ANA
Isso, é o melhor. Vou com vocês.

Régis e Ana levam Amanda pra fora.

ESTÊVÃO
Vamos, Rubens?

LEILA
Quero ir com vocês.

Estêvão, Leila e Rubens também deixam a sala.

CENA 09. PENSÃO ZORAIDE. SALA JANTAR. INT. DIA.

Mercedes e Germano conversam sentados à mesa, enquanto lancham sanduíches.

MERCEDES
Eu não me conformo!

GERMANO
É a mãe dele, Mercedes. É natural que ela queira retomar sua vida e recuperar o amor do filho.

MERCEDES
Mas ela nunca se preocupou com ele.

GERMANO
Será que não? A gente não pode julgar o que se passa na cabeça das pessoas. E se ela foi forçada a abandonar o Sandro e se arrependeu depois?

MERCEDES
Mesmo assim, eu não aceito. Mãe é mãe. Só as mulheres são capazes de entender o que é ser mãe. Algumas, não todas. O que vi hoje foram mulheres totalmente despreparadas. A Gioconda, a maluca da Helena, a Noêmia…

GERMANO

Noêmia, não. Ela criou muito bem a Alice, e eu sou testemunha.

MERCEDES
Tanto que ela coloca a menina contra o Sandro, por pura implicância. É daquele tipo de mulher que acha que todo mundo é vendido e vitimista como ela. Não confia nem na própria sombra, nem na Alice, nem em ninguém. A Zoraide me contou algumas brigas que teve com a Noêmia por causa disso.

GERMANO
Você não acha que está sendo muito negativa em relação a elas? Sei que quer proteger o Sandro, mas…

MERCEDES (corta)
Não tem nada a ver com o Sandro. Até porque sou segura de que fui muito mais mãe dele do que a que o colocou no mundo. Só acho muito cinismo descontar ou esconder os problemas pessoais nos filhos. Isso não é comportamento de uma mãe. Não é!

GERMANO
Tá bom. Não vamos discutir. (pausa) O que acha de ir comigo no barzinho da Pérola hoje? Vou tocar pros fregueses.

MERCEDES
Agora, sim, um bom programa. Preciso de alguma coisa boa depois da baixaria lá na boate.

GERMANO
Às oito?

MERCEDES
Te encontro lá.

Germano beija Mercedes. Ela fica surpresa, mas logo corresponde. Zoraide e Alice aparecem na porta e vibram com a novidade a que presenciam.

CENA 10. DELEGACIA. CELA ARMANDO. INT. DIA.

Carly entra com um policial e vai até Armando, que a espera na grade. Eles trocam um selinho.

CARLY
Já tava sentindo falta, gatão.

ARMANDO (ao policial)
Está olhando o quê? Deixa a gente namorar em paz.

CARLY
Ele veio te levar pra um lugar mais reservado. Assim a gente fica mais à vontade.

ARMANDO
Hum! Uma visita íntima! Até que enfim.

O policial abre a cela e leva Armando. Ambos são seguidos por Carly.

CENA 11. DELEGACIA. SOLITÁRIA. INT. DIA.

Armando e Carly são colocados na solitária. O policial sai e fecha a porta.

ARMANDO
Uma solitária? Não tinha nada melhor?

CARLY
Sempre tive fantasia de transar numa dessa.

Sonoplastia: sensual. Antes que ele fale alguma coisa, ela o beija com volúpia. Carly deita Armando no chão e fica por cima dele. Beija-o novamente. A sonoplastia para.

CENA 12. DELEGACIA. CELA. SEÇÃO FEMININA. INT. DIA.

Dois policiais levam Helena à força para a seção das selas. A delegada está com eles. Helena grita escandalosamente. As outras duas presas, que estão em outra cela, fazem balbúrdia.

HELENA
Quando eu sair, se preparem, que eu vou matar todos vocês!

DELEGADA
Esperneia mesmo! Se depender de mim, você só sai daqui pra ir pro manicômio.

HELENA
Isso é o que veremos, vadia!

DELEGADA
Desacato à autoridade também é crime, sabia?

Helena cospe na cara da delegada. Os policiais a jogam dentro da cela e trancam a grade.

MULHER PRESA 1
A dondoca tá revoltadinha, gente!

MULHER PRESA 2 (seduz)
Tá a fim de um carinho gostoso, madame?

HELENA
Vê se eu tenho cara de gostar de sapatão?

DELEGADA
Silêncio! Ou mando todas pra solitária. (às presas) Não vão querer ficar com uma assassina em série, né?

A delegada e os policiais saem. Helena e as outras presas se encaram.

CENA 13. JORNAL. REDAÇÃO. INT. DIA.

Jô entra e se junta a Vicky, que digita uma reportagem no notebook.


O que tá fazendo?

VICKY
A prisão da dondoca. Em menos de duas horas, a ficha criminal dela ficou do tamanho de um rolo de papel higiênico. Apareceu um BO de 1999 no qual um casal denuncia a madame de ter atropelado os dois, e ainda de ter feito injúria racial. Ah, se fosse comigo, eu baixava a Gioconda e terminava de quebrar a cara daquela esquelética.


Não vale a pena sujar as mãos com aquilo lá. Atrai coisa ruim. (elas fazem sinal da cruz) E o Raul?

VICKY
Revoltado.


Aposto que é porque elas meteram o nome do Armando no meio.

RAUL (vem do corredor)
Exatamente. Jocasta, você está demitida!

Efeito de fim de capítulo: imagem congela; FADE TO BLACK. Sonoplastia: vento.

A Widcyber está devidamente autorizada pelo autor(a) para publicar este conteúdo. Não copie ou distribua conteúdos originais sem obter os direitos, plágio é crime.

Pesquisa de satisfação: Nos ajude a entender como estamos nos saindo por aqui.

Leia mais Histórias

>
Rolar para o topo