CENA 01. CASA BRUNO. SALA. INT. NOITE.

CLOSE de Gioconda na tela da TV, pelo qual o evento é transmitido. Bruno chora de ódio e de raiva. Segundos depois, CLOSE no sorriso sarcástico de Armando na tela. Bruno tem acesso de raiva e joga um livro sobre a TV, que cai no chão. Bruno chora copiosamente. O telefone toca várias vezes. Bruno pega o aparelho e lança ao chão. Deita no sofá.

CENA 02. AQUAPAPER. SALÃO. INT. NOITE.

Muitos flashes. Os convidados aplaudem Armando como se fosse um deus. Gioconda finge sorrisos. Jornalistas se aproximam para entrevistá-los. De longe, Jô conversa com Sandro.


Ele pode até achar que vai ganhar o povo com seu discurso hipócrita, mas ele vai ser desmascarado antes das eleições, se depender de mim.

SANDRO
Não vejo a hora.

RAUL (se aproxima)
Jô, o que está esperando? Exijo que faça uma entrevista com doutor Armando pra edição de amanhã.


Ah, exige?

RAUL (tom)
Agora!


Vou fazer contra a minha vontade. Deus um dia há de me perdoar por agir contra que aprendi sobre ética. (se afasta)

SANDRO
Isso é maneira…

RAUL (corta, tom)
Não se meta onde não é chamado! Saia daqui, antes que eu chame a polícia! Seu moleque!

Raul olha Sandro atravessado. Este se afasta até a porta de saída. Jô se aproxima de Armando e Gioconda, muito a contragosto.


Com licença. Doutor Armando, gostaria de umas palavras suas e de Gioconda. Caso seja eleito, o que vai priorizar no seu governo?

ARMANDO
Primeiramente, desejo acabar com todas as mazelas do nosso país. Implementar uma política de equilíbrio da economia e de reinserção das classes mais populares no mercado. Colocar o alimento nas casas das famílias. Também desejo fazer uma integração mais consistente das minorias. Como? As mulheres passarão a receber o mesmo salário dos homens, quando exercerem o mesmo cargo. Os homossexuais, os negros, os indígenas e os carentes terão mais oportunidades sociais, como o regime de cotas nas faculdades e uma divisão mais justa de terras. É nessa parte que entrará a força de Gioconda. Ninguém melhor que uma mulher para trabalhar com as políticas sociais ao meu lado…

CENA 03. CASA HELENA. SALA TV. INT. NOITE.

Helena assiste à TV no sofá. Ângela de pé a seu lado.

HELENA
Tudo balela. Agora sim o povo vai ter o que merece. Fome, doenças, miséria. Vai morrer tudo, e só ficará a elite, a gente que presta.

ÂNGELA
Dona Helena, isso lá é coisa que se diga.

HELENA
Cala a boca, empregada! Não pedi a sua opinião.

ZILDA (entra)
Ângela, você pode dar uma saidinha, por favor? Quero ter uma conversa a sós com minha filha.

ÂNGELA
A senhora pedindo com educação, eu faço com muito gosto. Com licença, dona Zilda.

ZILDA (enquanto Ângela sai)
Obrigada!

HELENA
Não vê que eu tô vendo a televisão?

ZILDA
Pra quem não estava interessada na festa por causa da noiva dele, você está bem entretida. (desliga a TV)

HELENA
Eu estava assistindo!

ZILDA
Agora você vai ter que me ouvir. Não tenho gostado do seu comportamento com Jairo.

HELENA
Você lá é quem pra se intrometer na minha vida? Sou adulta, desimpedida e não te devo mais satisfação há muito tempo. Ando com quem quiser e na hora em que eu quiser.

ZILDA
Não, na cara dos seus filhos!

HELENA
Eles também já são crescidos o suficiente pra entender que sou eu que comando a minha vida. E também a de todos nessa casa. Portanto…

ZILDA (tom, corta)
Portanto aja como uma mulher adulta e como uma mãe que respeita os filhos que têm. Será que você não entende que eles são o seu maior bem?

HELENA
Ser mãe não quer dizer nada. Botei os três pra fora da minha barriga, criei e agora foda-se. Cada um que viva a sua vida como bem quer. Principalmente aquela putinha que está sendo explorada pelo próprio pai no apartamento dele.

ZILDA
Helena, às vezes acho que você poderia voltar à razão, mas vejo que sempre me engano. Você é vazia, amarga, invejosa e cruel. Só olha pro próprio umbigo. Assim vai acabar sozinha, doente e até morta, como bem deseja às pessoas. (liga a TV) Fica aí com seu comparsa. (anda até a porta e se vira novamente) Ah, só mais uma coisa: não ouse tocar um dedo nos meus netos. Ou eu mesma vou dar uma lição que merece há muito tempo.

HELENA (tom)
Tá me ameaçando, velha?

ZILDA
Entenda como quiser. (sai)

HELENA (grita)
Maldita!

CENA 04. SALÃO NOÊMIA. ESCRITÓRIO. INT. NOITE.

Noêmia, Zoraide e Alice assistem ao evento de Armando e Gioconda na TV.

NOÊMIA
Tiraram a novela pra passar isso? Logo agora que tá boa? (pausa) Esses dois me dão nojo.

ALICE
É, ele se candidatou a presidente.

ZORAIDE
Meu voto ele não leva. Não vou com a cara dele. Tem cara de bandido.

NOÊMIA
E ela não fica atrás. Se isso aí for a nossa primeira-dama, vai ser o auge do mau gosto.

ALICE
O Bruno deve estar arrasado.

NOÊMIA
Ele devia agradecer, isso sim.

ZORAIDE
Credo, amiga! Até parece que torce contra ele.

NOÊMIA
Não tenho nada contra ele. Tá, não gosto da minha filha trabalhando com o Bruno. Mas o meu problema maior é com a vagabunda aí.

ZORAIDE
Já o Raul deve estar adorando ficar perto do ídolo.

NOÊMIA
É, ele correu daqui quando soube da festinha. Aff, sabem de uma coisa? Vou voltar pra fora e ver como tá o movimento. (sai)

CENA 05. AQUAPAPER. SALÃO. INT. NOITE.

Armando abraça Gioconda e é fotografado assim. Raul se aproxima dele.

RAUL
Doutor Armando! É um enorme prazer participar de um evento tão importante de alguém tão estimado como o senhor. O senhor mora no meu coração há muitos anos, quando seu pai fundou a Aquapaper. Lamento a perda da Soraya, mas lhe parabenizo por se juntar a uma grande dama como a Gioconda.

GIOCONDA
Obrigada!

ARMANDO
Você sempre tão prestativo em manter meu nome em alta, Raul. Não tenho como retribuí-lo por tamanha admiração por mim.

RAUL
Sendo o grande homem que é já me deixa muito orgulhoso. Eu e minha equipe já garantimos nosso voto no senhor.

ARMANDO
Faço questão da sua presença como meu anunciante. Fale com o Wilson assim que encontrá-lo, e marque uma reunião comigo. Seu jornal vai ser parte importante da nossa conquista. Agora, se me dá licença, vou atender aos outros convidados. (pausa) A propósito, sua jornalista Jocasta é muito eficiente.

RAUL
Selecionada por mim com critério apuradíssimo.

Armando se afasta. Raul envaidecido. Jô vai até ele.


Se vendendo de novo pra ele? Da próxima vez, não coloca meu nome no meio. Eu não suporto falsidade. Não combina com meu jornalismo. (se vira de costas)

RAUL
Aonde pensa que vai?


Me juntar ao Sandro. Eu já soube da sua grosseria com ele. (sai pela porta)

CENA 06. APARTAMENTO ANA. SALA. INT. NOITE.

Ana fala com Leila pelo tablet.

LEILA
A Branca te falou alguma coisa?

ANA (tela)
Falou sim. Parece que a sua mãe conseguiu comprar a juíza substituta também.

LEILA
Não acredito que ela se suje tanto dessa maneira.

ANA (tela)
Mas apareceu uma outra esperança. A Branca tem uma irmã que também é advogada, a Amanda.

LEILA
Mesmo nome da minha irmã?

ANA (tela)
Isso mesmo. Parece que ela sabe de um segredinho dessa juíza e vai pressionar amanhã. Essa é a nossa chance.

LEILA
Ai, tomara! Não vejo a hora de ver meu amado solto e livre das acusações da minha mãe.

ANA (tela)
Sim. Essa Amanda já está com as imagens da câmera e disse que é indiscutível que a Kika deu em cima do Rubens.

CENA 07. AQUAPAPER. PÁTIO. EXT. NOITE.

Armando conversa animadamente com dois políticos. Sandro o observa de longe. Wilson vem de um canto, na externa, e cochicha algo a Armando. Este afirma com a cabeça. Wilson entra no salão. Sandro desconfiado.

SANDRO (VO)
Aposto que ele aprontou mais alguma. E a secretária sumiu do nada. Aí tem.

Jô surge em cena e acha Sandro.


Até que enfim! Te procurei por toda parte.

SANDRO (cochicha)
Você viu a secretária do Armando por aí?


Faz tempo que não. A última vez foi quando subi atrás dela e da Gioconda.

SANDRO
Pois é. Ela não voltou. Agora o outro secretário falou algo estranho pro Armando e entrou como se nada tivesse acontecido.


Tá desconfiado de alguma coisa?

SANDRO
Alguma eles aprontaram. Só não sei o que é.


Ah, mas a gente descobre. Nem que eu tenha que passar por cima do meu patrão puxa-saco.

SANDRO
Ele tá cego de amores pelo Armando.


Sempre foi assim. Não quero estar aqui pra ver o tombo que vai levar.

CENA 08. CASA BRUNO. FRENTE. EXT. DIA.

Música: Lick Me Up – Kiss. No dia seguinte. Imagem da fachada da casa. Há um casal passeando com um cachorro na calçada.

CENA 09. CASA BRUNO. SALA. INT. DIA.

Música em fade. Casa silenciosa. Rubens, Leila e Ana entram felizes.

RUBENS
Achei que fosse apodrecer na cadeia.

LEILA
Mamãe tentou, mas a justiça foi mais forte.

ANA
Ué, gente? Olha isso. Parece que teve um terremoto. A televisão e o telefone no chão.

RUBENS
Que estranho! O Bruno deve ter andado no escuro e derrubado as coisas, sei lá. Deixa eu ver se ele está dormindo.

LEILA
A gente fica aqui.

ANA
Vou fazer um cafezinho.

Rubens se afasta pelo corredor. Leila e Ana vão até a cozinha.

CENA 10. CASA BRUNO. QUARTO BRUNO. INT. DIA.

Rubens entra e vê Bruno deitado de barriga pra baixo na cama. Tenta acordá-lo.

RUBENS
Bruno! Acorda, Bruno! Já cheguei.

Sonoplastia: suspense. Rubens vê que o outro não reage. Dá a volta pela cama e vê um vidro vazio no chão. Se desespera e corre pra fora.

RUBENS (grita)
Ana, vem aqui! Ana!

Instantes depois ela entra com Leila.

ANA
O que houve?

RUBENS
Olha isso, Ana! No chão. Leila, chama uma ambulância!

ANA (chocada)
Ele tentou se…

LEILA (ao mesmo tempo)
Vou ligar.

Leila pega o celular e telefona de um canto. Rubens tenta reanimar Bruno em vão. Ana ora, apreensiva.

CENA 11. CASA NOÊMIA. SALA JANTAR. INT. DIA.

A sonoplastia continua. CLOSE em Alice ao celular.

ALICE (chocada)
O quê?

NOÊMIA
Que houve, filha?

ALICE
Tô correndo pra aí. Me espera. (desliga) Mãe, o Bruno tentou se matar. Vou pro hospital. Tchau.

NOÊMIA
Filha, você nem tomou café… (Alice sai) Deus proteja esse rapaz. É por isso que digo que a Gioconda nunca prestou.

Noêmia senta na cadeira e toma o café da manhã.

CENA 12. HOSPITAL. EMERGÊNCIA. ENTRADA. INT. DIA.

A sonoplastia continua. CAM de frente para a entrada, por dentro. Uma ambulância para em frente. Enfermeiros abrem a porta traseira e retiram Bruno, inconsciente e deitado na maca. Ana desce do mesmo lugar e acompanha o amigo. Quando os enfermeiros entram com Bruno por uma porta lateral, um deles impede Ana de segui-los. Ela está aflita.

ENFERMEIRO
Por favor, senhora, espere aqui.

Rubens e Leila entram correndo e alcançam Ana. A sonoplastia para.

LEILA
Pra onde ele foi?

ANA
Lá pra dentro. Não pude entrar.

RUBENS
Então vamos esperar todos juntos até que nos deem notícias.

LEILA
Ele vai se recuperar.

ANA
Com fé em Deus! (chora) Por que ele deu na telha de se matar? Por quê?

LEILA (abraça Ana)
A Gioconda… Ele a ama, não? Provavelmente não suportou mais uma vez ela ter escolhido outro.

RUBENS
Mas ela nunca soube que ele a amava tanto. Pelo menos, acho que não.

ANA
Sabia, sim. Toda mulher sabe dessas coisas. Mas ela não dá o valor que ele merece.

LEILA
O importante agora é ele se salvar.

ANA
É o que mais quero.

Estêvão passa pela porta interna e se surpreende com a presença dos três.

ESTEVÃO
Filha, o que faz aqui a essa hora?

ANA
O Bruno. Ele tentou se… (chora)

LEILA
Acabar com a própria vida.

ESTÊVÃO
Meu Deus! Chegaram há muito tempo? (vê Rubens) Nossa! Você sai da cadeia, e agora ele… Vou ver como estão as coisas lá. Já trago notícias.

LEILA
Obrigada, pai. (beija-o no rosto)

Estêvão entra pela mesma porta de onde saíra. Leila, Rubens e Ana apreensivos.

CENA 13. APARTAMENTO GIOCONDA. SALA. INT. DIA.

Gioconda conversa com Lena. Ambas estão sentadas no sofá.

GIOCONDA
Me senti a pior das prostitutas. Mais uma vez. Aquele homem asqueroso me exibia como um troféu. Como um peixe que ele acabou de pescar. Como um animal que ele caçou sem dó nem piedade.

LENA
É a única maneira que ele conhece de tratar as mulheres. (pausa) O filho dele apareceu?

GIOCONDA
Nossa, sabe que eu nem parei pra pensar até agora no Carlos Eduardo? Não, ele não apareceu. Aliás, não tenho mais ouvido falar nele.

LENA
Deve estar arrasado. (o telefone toca; ela atende) Alô?

LEILA (VO, telefone)
Alô? Lena? É a Leila. A Gioconda está?

LENA
Vou ver se ela está. Só um instantinho. (a Gioconda) É a Leila. Passo pra você?

GIOCONDA
Sim. Me passa. Deve ser alguma coisa sobre o Estêvão. (pega o fone) Alô?

LEILA (VO, telefone)
Alô, Gioconda! Que bom que consegui te achar. Aconteceu uma tragédia.

GIOCONDA
O que houve? Está tão nervosa.

LEILA (VO, telefone)
Corre pra cá. O Bruno tentou se matar.

GIOCONDA (apavorada)
O quê?

CENA 14. HOSPITAL. PRONTO ATENDIMENTO. INT. DIA.

O médico e os enfermeiros realizam lavagem estomacal em Bruno. Imagens em CORTES descontínuos. Sons agudos do medidor de batimentos cardíacos.

CORTA. Procedimento concluído. O médico conversa com uma enfermeira, enquanto os outros se preparam para levar Bruno ao quarto.

MÉDICO
Essa foi por pouco. Mais alguns minutos, e tínhamos perdido o paciente.

ENFERMEIRA
De pensar que isso acontece todos os dias. Provavelmente sofreu alguma desilusão. Pobre homem!

CENA 15. APARTAMENTO GIOCONDA. SALA. INT. DIA.

Gioconda vem pelo corredor, apressada. Apoia a bolsa no ombro.

GIOCONDA
Se alguém me ligar, anota recado.

LENA
Deixa comigo. O que deu no Bruno pra atentar contra a própria vida?

GIOCONDA
Não sei. Mas eu não posso ficar de braços cruzados. Volto assim que puder. Se o Sandro aparecer, pede pra ele me encontrar no hospital.

LENA
Tá bem.

Gioconda sai. Lena ora apreensiva.

CENA 16. PRÉDIO GIOCONDA. CORREDOR. INT. DIA.

Gioconda chama o elevador. Espera. Quando a porta abre, ela toma um susto ao ver Armando.

GIOCONDA
Armando?

ARMANDO
Estava de saída?

CLOSES alternados entre ambos.

CENA 17. PENSÃO ZORAIDE. QUARTO SANDRO. INT. DIA.

Sandro termina de se arrumar. Batidas à porta. Jô entra e fecha a porta. Ela segura um envelope.

SANDRO
Isso é o… dossiê?


Todas as provas que temos contra Armando Alighieri.

CENA 18. CASA HELENA. SALA. INT. DIA.

Zilda arruma alguns vasos de plantas do cômodo. Ângela se aproxima.

ZILDA
Que bom, Ângela! Queria mesmo a sua ajuda. Sabe se minha filha está em casa?

ÂNGELA
Não. Ela saiu com o Jairo e deve demorar. Mas tem uma pessoa esperando pela senhora.

ZILDA
Uma pessoa? Quem?

Um homem grisalho e alto entra pela porta.

IVAN
Eu, Zilda.

ZILDA (surpresa)
Ivan?

CLOSES alternados entre Zilda e Ivan.

Efeito de fim de capítulo: imagem congela; FADE TO BLACK. Sonoplastia: vento.

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