CENA 01. AQUAPAPER. SALA ARMANDO. INT. DIA.

Armando e Carly aos beijos quentes. Ele a aperta no bumbum, e ela acaricia o ombro dele. Soraya abre a porta.

SORAYA
Oi, amor! Mandou me chamar?

Armando e Carly interrompem o beijo, com o susto. Soraya chocada com o que vê. Jéssica entra em seguida.

ARMANDO
O que está fazendo aqui, Soraya?

SORAYA
Isto pergunto eu. Sabia que você era um cafajeste, um ordinário, mas não tanto. Mandou me chamar pra assistir a essa cena ridícula.

CARLY
Não dá no couro com o marido, tem quem dê.

SORAYA
Cala a boca, ou eu encho a tua cara de bofetada.

CARLY
Vem, que não tenho medo de você, perua!

ARMANDO
Sai daqui, Carly. Depois continuamos a nossa reunião. E você, Soraya, vai me explicar direitinho o que faz aqui, em vez de cuidar dos seus afazeres.

SORAYA
Manda me chamar urgente, e agora vem dar uma de sonso? Como você é cara de pau! Mas isso não vai ficar assim. Vou agora mesmo procurar um advogado pra agilizar nosso divórcio e contar tudo que sei sobre você pra imprensa.

ARMANDO (agarra Soraya pelo pescoço)
Faça isso, e será uma mulher morta.

SORAYA
Você está me machucando. Me solta!

ARMANDO (quando Jéssica se aproxima)
Não se atreva! E quanto a você, Soraya, fica pianinha ou já sabe o que te acontece.

Armando joga Soraya com violência ao chão. Ela chora.

SORAYA
Você me paga, miserável.

ARMANDO (grita)
Fora daqui! Fora!

Soraya se levanta com dificuldade e sai cambaleando. Jéssica tenta sair também, mas Armando a puxa pelo braço. Fecha a porta e joga a moça sentada no sofá.

JÉSSICA
Que isso!?

ARMANDO
Foi você, não foi? Sua ordinária de merda! (dá um forte tapa em Jéssica) Isso é pra aprender a não armar contra mim. Da próxima, vai fazer companhia pra Soraya debaixo da cova.

JÉSSICA
Você me trocou por aquela piranhinha.

ARMANDO
Bem merecido, por sinal. Não pensava que você fosse tão podre quanto as outras mulheres. No fundo, vocês são todas iguais. Bando de aranhas armadeiras, prontas pra soltar veneno nos homens. Fora da minha sala!

Ele arrasta Jéssica a força pra fora.

JÉSSICA
Isso não vai ficar assim, Armando!

Armando a joga no chão, volta pra dentro da sala e bate a porta com força. Se apoia com as duas mãos sobre a mesa. CLOSE na expressão de raiva.

CENA 02. AQUAPAPER. FRENTE. EXT. DIA.

Soraya se encosta em um canto, aos prantos. Pega o celular e faz uma ligação para alguém.

SORAYA
Alô? Sou eu, amiga… Peguei meu marido aos beijos com uma garota que tem idade pra ser filha dele… Sim, na empresa… Ele tentou me enforcar, acredita?… Tudo armado. Ele fez a secretária me chamar urgente, só pra ver o espetáculo. Maldito!…

Wilson aparece por trás e presta atenção na conversa de Soraya, sem que ela perceba.

CENA 03. APARTAMENTO GIOCONDA. SALA. INT. DIA.

Lena arruma a mesa para o almoço. Toca o interfone. Ela atende.

LENA
Oi… Quem?… Ah, sim. Pode mandar subir. Obrigada.

Ela volta para seus afazeres. Gioconda entra.

GIOCONDA
Quem é?

LENA
O genro do Estêvão veio pegar a pasta que ele esqueceu no sofá.

GIOCONDA
Ah, sim. Coloquei em cima da estante.

Toca a campainha. Lena abre a porta para Carlos Eduardo.

CARLOS EDUARDO
Com licença. Boa tarde, sou o genro do doutor Estêvão.

LENA
Por favor, entra. Vou pegar a maleta pra você.

GIOCONDA
Como vai? Prazer, sou Gioconda.

Música: The Search Is Over – Survivor. Carlos Eduardo olha para a loura apaixonadamente. Distrai-se. Gioconda o vê com carinho. CLOSES alternados por cinco segundos. Lena se aproxima dele e o chama.

LENA
Aqui está. (ele desperta) A maleta.

CARLOS EDUARDO
Me desculpe. Fiquei distraído. (pega o objeto) Obrigado, moça. Se me dão licença…

GIOCONDA
Toda.

CARLOS EDUARDO (sem tirar os olhos de Gioconda)
Boa tarde.

GIOCONDA
Até mais!

Carlos Eduardo sai. Lena fecha a porta e se aproxima da outra.

LENA
Algo me diz que esse rapaz ficou caidinho por você.

GIOCONDA
Bobagem, Lena! Sou apenas uma mulher bonita que ele vê de perto pela primeira vez.

LENA
Sei não, Gioconda. Sei não.

CENA 04. CASA HELENA. SALA. INT. DIA.

Helena e Soraya conversam, sentadas no sofá. Ângela serve chá para ambas e sai.

HELENA
Você não está imaginando coisas? Armando jamais faria isso com uma mulher. Ainda mais com você.

SORAYA
Não só faria, como fez. Por pouco eu não morri enforcada por causa daquela piranha da propaganda.

HELENA
A Carly? Ela tem um ar tão angelical.

SORAYA
Só na TV. Ela é pior que um vulcão.

HELENA
Você está com inveja da juventude dela. O que é normal, já que você já passou dos cinquenta. Deveria encarar o fato com maturidade, querida. Seu marido só quer se divertir, e ela é perfeita pra isso. Ao contrário de nós mulheres, os hormônios deles ficam acesos por toda a vida. Eles precisam de moças novas para deixá-los acesos sempre que precisam.

Zilda aparece por trás de um vaso de plantas e escuta a conversa.

SORAYA
Você está justificando as atitudes machistas do Armando? Não posso acreditar…

HELENA
Não ponha palavras na minha boca. Seu marido é um homem poderoso e precisa da compreensão da família.

SORAYA
Você fala, como se respeitasse o seu marido.

HELENA
O Estêvão é um fraco! Não tenho como concordar com a falta de pulso dele. Meu caso é bem diferente do seu. Eu tomei o poder por necessidade. (pausa) Não ouse se voltar contra seu marido.

SORAYA
Pensei que tivesse uma amiga. Mas vejo que você é um monstro como ele. Já vi que perdi meu tempo vindo aqui.

HELENA (tom)
Não seja ridícula! O mundo não gira em torno do seu umbigo, Soraya!

ZILDA (intervém)
Soraya, que bom que você veio! Queria conversar com você sobre o casamento da minha neta com seu filho. Você se importa, Helena?

HELENA (ironia)
Não, mamãe. Pode levar. Vai me fazer muito bem. E você, Soraya, não faça nada sem me consultar. Ou vai se haver comigo e com seu marido.

Helena se afasta, sobe as escadas e sai de cena. Zilda senta onde Helena estava e pega nas mãos de Soraya.

CENA 05. APARTAMENTO GIOCONDA. SALA. INT. DIA.

Sandro entra.

GIOCONDA
Que bom que veio, Sandro. Ia precisar mesmo de você. Quero passar no túmulo do meu marido, mas não posso ir sozinha.

SANDRO
Desculpa a minha demora. Estou de prontidão pra quando quiser.

GIOCONDA
Não tem por que se desculpar. Vou me trocar, e já vamos.

Ela sai. Sandro anda até a mesinha de canto. Repara numa foto de Gioconda e Fábio mais jovens, tirada em frente à Torre de Pisa.

CENA 06. HOSPITAL. CORREDOR. INT. DIA.

Estêvão e Amanda conversam sentados num banco.

AMANDA
Está chegando o dia da minha morte.

ESTÊVÃO
Não fala assim, filha. Talvez você até encontre a liberdade quando se casar com Carlos Eduardo e for com ele pra nova casa.

AMANDA
Nova casa, uma ova. O Armando exige que a gente vá morar na mansão. Já imagino mamãe e Soraya enchendo meus ouvidos com o manual de conduta de uma mulher de sociedade recém-casada e com exigências para engravidar logo de um menino. Machistas do jeito que elas são.

ESTÊVÃO
Sei como se sente, sendo obrigada a fazer o que não quer. Você sabe que só casei com sua mãe, por armação dela.

AMANDA
Por que mamãe gosta tanto de fazer as pessoas sofrerem?

ESTÊVÃO
Ela acha que todos nós somos culpados pela desgraça que a vida dela se tornou.

AMANDA
Tudo porque a Gioconda tinha e ainda tem mais admiradores que ela. Sei que mamãe foi muito mimada pelo vovô, mas isso já é demais. Ela já causou a morte de uma pessoa, e quer matar mais gente.

Carlos Eduardo entra com a maleta de Estêvão. Aproxima-se dos outros dois.

ESTÊVÃO
Não tenho como agradecer, Carlos Eduardo. Não vivo sem minha maleta. Me distraí na casa da Gioconda, e deu no que deu.

CARLOS EDUARDO
Motivos não faltam. Ela é mesmo uma boa pessoa. (suspira)

ESTÊVÃO
Eu sempre disse.

AMANDA
E é isso que mamãe não suporta nela.

CENA 07. CASA HELENA. QUARTO HELENA. INT. DIA.

Helena fala ao celular com Armando.

HELENA
Ela veio falar aquelas abobrinhas de empoderamento, pra variar.

ARMANDO (VO, telefone)
Fala, fala, mas não passa de uma inútil que depende totalmente do marido. Se eu jogar a Soraya na sarjeta, como ela vai se virar? Eu continuo intacto, e ela acaba de vez. Nenhum homem vai querer uma biscate que caiu da alta sociedade para o lixo, não acha?

HELENA
Com certeza. Ela está disposta a te entregar pra imprensa. Fica de olho.

ARMANDO (VO, telefone)
Ela berrou pra quem quisesse ouvir aqui na Aquapaper.

HELENA
Não podemos ter escândalos no casamento dos nossos filhos. Mas precisamos fazer alguma coisa drástica contra a Soraya, antes que ela… você sabe.

ARMANDO (VO, telefone)
A vontade que tenho é de matar a desgraçada de uma vez.

HELENA
Foi exatamente nisso que pensei. Acabamos com ela e executamos nosso plano contra a Gioconda. Matamos duas cobras com uma paulada só.

CENA 08. CEMITÉRIO. EXT. ANOITECER.

Gioconda se ajoelha e abraça a lápide de Fábio. Sandro de pé, por trás dela.

GIOCONDA
Você também perdeu alguém muito importante na sua vida, Sandro.

SANDRO
Sim. Meu pai. Não era meu pai biológico, mas foi quem me criou a vida toda; quem me deu toda a educação pra viver nesse mundão. No final, descobri que fui traído e enganado por ele, mas não consigo odiá-lo.

GIOCONDA
Como assim, foi traído e enganado?

SANDRO
Ele me escondeu que fui abandonado na porta da casa dele por uma irresponsável que nem sequer deixou o nome. Não sei quem é minha mãe, nem meu pai de verdade.

GIOCONDA
Fábio me contou essa história por alto. Sinto muito. Fábio jamais me traiu como seu pai fez com você, mas acho que nós dois estamos com o mesmo vazio por dentro.

SANDRO
Meu vazio maior ainda pode ser preenchido.

GIOCONDA
Como assim?

SANDRO
Vim só pra descobrir quem são meus pais. E aí teremos um acerto de contas que está marcado desde que vim ao mundo. São 35 anos para serem postos à mesa.

Gioconda se assusta e chora.

GIOCONDA (VO)
Será que a minha irresponsabilidade teve uma consequência tão grave assim? Esse rapaz pode ser meu filho.

SANDRO
Vou parar de falar, porque a senhora já está se emocionando.

GIOCONDA
Foram lembranças de Fábio que vieram à minha cabeça.

CENA 09. MANSÃO ARMANDO. QUARTO ARMANDO. INT. NOITE.

Sonoplastia: suspense. Soraya fala ao celular com uma amiga.

SORAYA
Jocasta Mendes? A jornalista?… Acho que sei quem é… Investigando meu marido… Corrupção?… Você tem o número dela?… Claro que quero falar com ela. O mais rápido possível… Tenho meus motivos… Tá, manda então pelo zap… Beijão… Tchau!

Desliga o celular e o põe na mesinha de cabeceira. A sonoplastia para.

CENA 10. MANSÃO ARMANDO. SALA JANTAR. INT. NOITE.

Ela entra e vê Amanda e Carlos Eduardo sentados. Faz companhia a eles.

AMANDA
Você está bem, Soraya? Parece pálida.

SORAYA
Só estou um pouco indisposta. Depois eu ponho pepino nos olhos, e fico renovada.

CARLOS EDUARDO
Não parece, mãe. O papai aprontou de novo?

SORAYA
Não consigo esconder nada de você, não é? (pausa) O que vou falar não sai daqui. Ouviu bem, Amanda.

AMANDA
Eu não sou de contar as coisas pra mamãe. Fique sossegada.

SORAYA
Peguei seu pai aos beijos com uma piriguete na sala dele. Ele mandou a Jéssica me chamar, pra assistir àquela cena patética. Depois ele tentou me enforcar e me jogou no chão como uma cachorra de rua.

CARLOS EDUARDO
Papai não faria isso. Você não está exagerando?

SORAYA
Claro que não, Carlos Eduardo! Jéssica me ligou hoje cedo, dizendo que ele queria que eu corresse para um compromisso na empresa.

AMANDA
Sei não. Essa história tá muito mal contada.

SORAYA
Você não se atreva a dizer que eu tô inventando…

AMANDA
Eu tô dizendo que pode ser armação da Jéssica pra balançar o casamento de vocês. Mulher, sim, faz esse tipo de armação. Sem falar que ela sempre teve uma fixação pelo Armando. Deve ter sido rejeitada por ele, e aproveitou um deslize pra…

SORAYA
Peraí! Ele vive viajando com ela pra tudo que é canto. Mas é claro!!! Eles têm um caso! Apareceu a garota nova, e ela quis se vingar.

AMANDA
Bem isso mesmo.

CARLOS EDUARDO
Continuo não acreditando nessa hipótese. Papai é um homem muito sério. Tem suas paqueras, sai com garotas de programa, mas daí a andar com as funcionárias?

SORAYA
Depois do que tive que ouvir dele hoje, espero qualquer coisa do seu pai.

ARMANDO (entra)
Boa noite, meu filho. Já ouvindo as baboseiras da sua mãe?

CARLOS EDUARDO
Só estávamos te esperando. Já ia pedir à Vera pra servir o jantar.

ARMANDO (senta-se)
Soraya, o que está esperando?

Ela o olha com raiva. Sai em direção à cozinha.

CENA 11. FACULDADE. FRENTE. EXT. NOITE.

Régis e Leila saem do local.

RÉGIS
Amanda me falou que o papai esqueceu a maleta dele na casa da Gioconda, e que o Carlos Eduardo foi buscar.

LEILA
Xiii! Se mamãe descobre que o Carlos está envolvido nisso, acho que ela manda matar a Gioconda de novo.

RÉGIS
Ela não sabe o risco que está sofrendo com esses ataques. Se for descoberta, pode ser presa.

LEILA
Ela causou a morte de uma pessoa. Fora o resto.

Eles se aproximam da garagem. Rubens buzina de dentro do carro. Leila vê e se despede de Régis, que entra em outro carro. Rubens põe a cabeça pra fora do carro, pela janela, e dá um selinho em Leila.

RUBENS
Vim te buscar pra gente comer alguma coisa.

LEILA
Chegou na hora certa, porque tô morta de fome. As aulas acabaram comigo.

Ela dá a volta e entra no carro, que logo parte.

CENA 12. CASA HELENA. SALA JANTAR. INT. NOITE.

Helena, Estêvão e Zilda jantam.

HELENA
Acham que não sei que a Leila está de caso com um conquistador barato? Mas a alegria deles vai acabar já, já.

ZILDA
O Rubens é um bom homem e tem feito muito bem à Leila.

HELENA
Esse tipo não me engana, mamãe. A cara de cafajeste lateja como ferrão de abelha em boca de cachorro. (a Estêvão) E você? Não vai falar nada? Ou quer que eu pergunte como foi a sua visita e a de Carlos Eduardo na casa da meretriz?

Sonoplastia: suspense. Estêvão encara Helena.

Efeito de fim de capítulo: imagem congela em Estêvão; FADE TO BLACK. Sonoplastia: vento.

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