CENA 01. CAPELA. VELÓRIO SORAYA. INT. DIA.

Bruno e Gioconda conversam num canto, Wilson e Jéssica em outro. Rubens olha pra fora pela janela. Armando segue com o fingimento. Carlos Eduardo entra lentamente e se aproxima do caixão de Soraya. Se joga sobre ela e chora. Armando se torna irascível e levanta da cadeira.

ARMANDO
Como ousa aparecer aqui? Sai de cima da minha mulher!

WILSON (se aproxima de Carlos)
Vai embora, antes que sei pai fique furioso.

CARLOS EDUARDO
Era minha mãe, Wilson.

ARMANDO
Mãe cujo nome você sujou quando fugiu do compromisso com a sua família. Você nos envergonhou na frente de todos, e ainda se acha no direito de aparecer no velório dela. Fora daqui! Assassino!

WILSON
Você ouviu. Faz o que seu pai está mandando…

CARLOS EDUARDO
Ainda vai pagar muito caro pelo que faz comigo e com ela, doutor Armando.

ARMANDO
E ainda me ameaça. Seguranças!

GIOCONDA (se aproxima)
Parem com essa gritaria! Doutor Armando, por favor, deixa seu filho ficar um pouco, se despedir da Soraya. Depois, se não quiser a presença dele no enterro, ele vai embora sem ninguém ver.

WILSON
Gioconda está certa. Vamos evitar mais escândalos.

CARLOS EDUARDO
Obrigado, Gioconda.

ARMANDO
Então eu saio. Wilson, me avisa quando esse moleque for embora. Não merece ser chamado de meu filho. (sai)

CARLOS EDUARDO
Tudo isso porque não fiz as vontades dele.

GIOCONDA
Esquece isso, Carlos. Fica com sua mãe o quanto puder. Estou por perto. (a Wilson) Fica de olho no doutor Armando, tá? (Wilson se afasta) Que situação!

CENA 02. CAPELA. FRENTE. EXT. DIA.

O carro de Helena estacionado perto da entrada da capela. Ela está acompanhada de Zilda, Leila e Estêvão. Todos vestidos de preto. Eles são abordados por Raul, pouco antes de entrar.

RAUL
Dona Helena, com licença. Sou Raul Castro, diretor…

HELENA (corta)
Eu sei quem você é. Não estou a fim…

RAUL (corta)
Só umas palavrinhas sobre a morte de sua melhor amiga e grande dama Soraya Alighieri.

HELENA
Já disse que não dou entrevistas a jornalecos. (vê Armando sair com Wilson) Armando! (corre até ele)

ESTÊVÃO
Desculpa a minha esposa. Ela tem seu temperamento, não é?

RAUL
Como era a relação de vocês com dona Soraya?

ESTÊVÃO
Ela era amiga da Helena desde que eram meninas. Viviam uma na casa da outra, compartilhavam segredos. Era uma mulher alegre, jovial, divertida. Fútil, de certo modo.

ZILDA
Ela e Helena eram amigas inseparáveis.

CAM em Helena e Armando.

HELENA
Armando, vim aqui pra prestar meus pêsames. Você sabe que eu e Soraya…

ARMANDO
Pra mim não precisa fingir, Helena. Você nunca gostou da Soraya, e só continuava amiga dela, pra ter acesso ao meu poder. Pra mim, você só serve pro serviço sujo. Passar bem. (afasta-se)

HELENA
Então é assim que me agradece? Você não perde por esperar.

CENA 03. PENSÃO ZORAIDE. SALA. INT. DIA.

Noêmia e Alice continuam a conversa aos prantos.

ALICE
O que você fez foi muito grave. Jamais esperaria uma coisa dessa logo de você. Ajudar uma mãe a fugir com um bebê e depois a abandonar como se fosse um saco de lixo. Tudo o que mais condeno desde que me dou por gente.

NOÊMIA
Como disse, eu não tive escolha.

ALICE
Podia ter denunciado. Talvez até se livrasse da cadeia, dando os nomes das responsáveis.

NOÊMIA
Eu não podia! Era minha vida em jogo.

ALICE
E o que adiantou? Agora tá com a consciência pesada pro resto da vida. (pausa) A não ser…

NOÊMIA
A não ser o quê? Você não está pensando que eu vou entregar as vagabundas a essa altura do campeonato? Alice, essa é uma gente muito perigosa, podre de rica. Elas acabam comigo em dois segundos.

ALICE
Não vai, não. E tem mais: a gente vai procurar a Jô hoje mesmo. Ela vai ajudar a gente. Ou isso, venho morar aqui com meu namorado.

NOÊMIA
Você nem pense em fazer isso. Eu não quero você com aquele rapaz. Ele não é de confiança.

ALICE
A escolha é da senhora.

CENA 04. PENSÃO ZORAIDE. QUARTO SANDRO. INT. DIA.

Sandro fala com Jô ao celular, sentado na cama.

SANDRO
Não, a dona Gioconda me dispensou, então fiquei na pensão. Bruno foi ao velório com ela.

JÔ (VO, telefone, ciúmes)
Ah, foi? Faz tempo que não vejo ele… Tem alguém aí com você?

SANDRO
Não. Pode falar.

JÔ (VO, telefone)
Você não imagina o que acabei de descobrir sobre… você sabe.

SANDRO
Fala logo, que tô curioso.

JÔ (VO, telefone)
Você nem imagina quem trabalhavam no hospital quando você nasceu… Sérgio Werner e Noêmia.

SANDRO
Nunca ouvi falar nesse Sérgio, e só conheço uma Noêmia, que é a mãe da Alice.

JÔ (VO, telefone)
Exatamente! Sua querida sogra foi enfermeira no hospital entre 83 e 85. Ao que parece, passou pelos mais variados setores, desde o ambulatório até a emergência. Sérgio Werner era obstetra conhecido entre as socialites, mas escondia delas que trabalhava em um hospital público. Desapareceu misteriosamente em junho de 84.

SANDRO
O que vamos fazer com isso?

JÔ (VO, telefone)
Continuamos investigando. Tô pensando em trocar umas palavrinhas com a Noêmia, mas antes quero conversar com o Bruno. Ele conhece a Noêmia faz tempo, então pode nos ajudar.

SANDRO
Uma boa!

CENA 05. CAPELA. VELÓRIO SORAYA. INT. DIA.

Gioconda e Bruno sentados com Carlos Eduardo no sofá que está num canto.

CARLOS EDUARDO
Matei minha mãe! Eu sei que matei.

BRUNO
Não diga uma coisa dessa. Você não teve culpa. Era a hora dela.

GIOCONDA
Você tomou a decisão que achava que era a melhor. Sua mãe com certeza entendeu. (pausa) Tragédias acontecem quando menos esperamos.

Acompanhada de Zilda e Leila, Helena entra cheia de ódio e vê Gioconda.

HELENA
Eu não posso acreditar que você teve o cinismo de aparecer no velório da minha amiga.

GIOCONDA
Helena, pela amizade que tinha com a Soraya, se é que um dia já teve, fecha a boquinha e para de despejar veneno. Tá escorrendo pelos lados. E vê se me deixa em paz.

HELENA
Foi você que matou ela, não foi?

ZILDA
Helena, não começa!

CARLOS EDUARDO
Se não tem o que fazer que não seja desrespeitar as pessoas, então sai daqui. Não sei o que minha mãe viu em você. Aliás, fiz um bem enorme à Amanda ao saber a sogra que teria que aturar.

HELENA
Seu moleque! Você desonrou a Amanda!

CARLOS EDUARDO
Ela já nasceu desonrada. Pobre mulher que veio de um útero envenenado. Você não serve pra ser mãe!

Helena levanta a mão pra esbofetear Carlos, mas Gioconda segura a tempo.

GIOCONDA
Não ouse! A verdade dói, não é? Você envenena todo mundo que te cerca.

HELENA
Não me compare a você, vagabunda! Você é pior do que eu. Mas não vou perder meu tempo contando tudo o que deveria. Vamos pra casa, mãe!

ZILDA
Eu não vou. Vim me despedir da Soraya, e é o que vou fazer. Leila fica comigo.

HELENA
Já que é assim… (sai com ódio)

LEILA
Gente, desculpa a minha mãe. Ela…

GIOCONDA
A minha presença não lhe agrada. Sei que tudo isso é porque voltei.

ZILDA
Leila, o que acha de passar um tempo com o Rubens? Ele está ali atrás te olhando. Aproveita, que sua mãe foi embora.

LEILA
É o que vou fazer. Com licença. (troca sorrisos com Rubens e vai até ele)

CENA 06. LANCHONETE. INT. DIA.

Jô e Germano fazem um lanche e falam sobre Noêmia e Alice.


O Sandro me falou da discussão das duas. Isso só aumenta as minhas suspeitas de… Ah, esquece!

GERMANO
Suspeitas?


Não comenta com ninguém, tá? Principalmente com a Carly. (olha para os dois lados) A Noêmia pode ser uma importante testemunha de algo que tô investigando.

GERMANO
Como assim?


Não posso falar muito, mas tem a ver com o nascimento do Sandro.

JORNALISTA (VO, televisão, Jô presta atenção)
O famoso empresário Armando Alighieri chora a morte trágica da mulher, Soraya Alighieri. Ela tinha 55 anos e deixa um filho.

Armando aparece na TV, fingindo luto. Jô fica passada com o que vê. Ela volta a conversar com o companheiro de lanche.


Por que todo bandido é assim, hein?! Safado! Aposto que foi ele que mandou matar a Soraya, depois que ela me contou as barbaridades.

GERMANO
Também não duvido. Ainda depois que a Carly quase deixou escapar dia desse que ele estava a fim de trocar de mulher.


Bem a cara dele. É, pelo menos pra isso a Carly serve. Pode ser uma boa isca pras minhas investigações.

GERMANO
Mas toma cuidado, porque ele é perigoso.


Eu sei o que tô fazendo. Nossa! A coxinha tá divina!

CENA 07. CAPELA. CORREDOR. INT. DIA.

Rubens e Leila se encostam à janela e se beijam.

RUBENS
Já tava sentindo falta, sabia?

LEILA
Eu também. Mamãe tá impossível. Não tira mais os olhos de mim. Se ela não saísse depois de discutir com o Carlos…

RUBENS
É, eu vi. Mas não vamos falar disso. Vamos dar uma passada aí embaixo, comer alguma coisa.

LEILA
É o que mais quero.

Eles andam abraçados pelo corredor e se viram para descer as escadas. Estêvão os vê juntos, mas segue para a capela de Soraya.

CENA 08. RIO DE JANEIRO. EXT. NOITE.

Música: Glory Of Love – Peter Cetera. Anoitece. Imagens do trânsito intenso de carros e de pedestres de algumas das principais ruas da Zona Sul do Rio de Janeiro, nos bairros Copacabana, Ipanema, Leme, Leblon, Flamengo, Botafogo e Gávea, nesta ordem. A música para.

CENA 09. JORNAL. REDAÇÃO. INT. NOITE.

Sonoplastia: suspense. Jô pesquisa informações pelo notebook. Faz anotações num bloco de papel. Aparece na tela uma imagem de Armando e um político num aperto de mãos, junto do texto na manchete “Deputado federal aparece morto após acordo com empresário Armando Alighieri”.


Quem te viu, quem te vê, doutor Armando?

Ela procura mais dados em outros sites. Lê atentamente uma manchete cujo texto é “Após desaparecer por um ano e meio, filha de empresário carioca falido se casa com famoso playboy gaúcho”. Surge uma foto de Soraya e Armando jovens. Jô continua lendo a reportagem.


Quer dizer que ela, Helena sumiu do mapa antes de se casar com ele? Que interessante! Vamos ver que história é essa.

Ela continua a pesquisa. A sonoplastia para.

CENA 10. APARTAMENTO GIOCONDA. SALA. INT. NOITE.

Gioconda e Bruno entram. Lena os espera.

LENA
Vocês demoraram. Como foi lá?

GIOCONDA
Triste, como todo enterro. Lembrei do Fábio várias vezes, ao ver o sofrimento daquele pobre marido.

BRUNO
Nem tão pobre assim. Jô me contou várias das armações que ele pratica por aí.

GIOCONDA
Mesmo assim. Ninguém merece perder a esposa de forma tão brutal.

LENA
Concordo com a Gioconda. Não podemos nos levar pelos pensamentos de vingança nesses momentos de dor. E o filho dela, como estava?

BRUNO
Arrasado, como era de se esperar.

GIOCONDA
Aconteceu tudo junto. Largou a noiva no altar, perdeu a mãe, colocou na cabeça que me ama…

LENA
Peço a Deus que ele consiga se recuperar.

SANDRO (vem do corredor)
Boa noite, dona Gioconda! Boa noite, Bruno!

GIOCONDA
Chegou há muito tempo?

SANDRO
Não. Há uns vinte minutos. Estava lanchando com a Lena até ainda há pouco.

GIOCONDA
Que bom! Vou precisar de você daqui a pouco.

BRUNO
Vai sair de novo?

GIOCONDA
Vou ao cinema pra ver se distraio a cabeça.

BRUNO
Posso ir com você.

GIOCONDA
Prefiro ir sozinha. Ou melhor, com Sandro. Preciso colocar os pensamentos em ordem. Não que você me atrapalhe. De jeito nenhum. Mas você sabe como é…

CENA 11. PENSÃO ZORAIDE. SALA. INT. NOITE.

Zoraide recebe Raul e o convida para entrar. Ela fecha a porta e se senta com ele no sofá.

ZORAIDE
Você por aqui, Raul? Que surpresa boa! Pena que a Jô não voltou ainda.

RAUL
Eu sei. Ela ficou na redação pra investigar um caso antigo de criança abandonada. Na verdade, vim ver você.

ZORAIDE
Como?!

RAUL
Você é uma mulher formidável, divertida, bonita, atraente…

ZORAIDE
Assim eu fico toda envergonhada. Não ouço elogios de um homem desde… Você é muito galanteador.

RAUL
Sou com quem merece. (pausa) A propósito, você soube o que aconteceu com a mulher do Armando Alighieri?

ZORAIDE
Como não? Só se fala nisso aqui na pensão.

RAUL
Pobre homem. Tão honesto, paternal, e perde a mulher brutalmente. Queria ter um irmão como ele.

VICKY (entra)
Deixa a Jô ouvir isso, deixa.

RAUL
Dona Victória, não sabia que a senhorita agora ficava ouvindo conversa alheia.

VICKY
Fazer o quê? Sou jornalista, né? Das mais eficientes, não é, chefinho? Zô, cuidado com a lábia dele, que mulher nenhuma escapa.

ZORAIDE
Pode deixar, Vicky, que eu sou vacinada.

Vicky sai. Raul e Zoraide continuam conversando aos risos.

CENA 12. CASA HELENA. SALA JANTAR. INT. NOITE.

Helena, Amanda, Régis e Zilda jantam. Ângela de pé num canto.

HELENA
E Leila que não voltou até agora?

AMANDA
Ela foi pra casa de uma amiga. A faculdade adiantou uma prova pra segunda, e ela teve que estudar.

HELENA
Espero que seja só isso mesmo. Ah, se ela estiver mentindo…

ZILDA
Pare de implicar com sua filha, Helena. Ela sabe muito bem o que está fazendo.

HELENA
Acho bom! Amanhã mesmo vou começar a acertar os detalhes do casamento de vocês três. Exijo meus filhos casados até o meio do ano.

AMANDA
Perdi a fome! Vou subir, porque a comida fica indigesta com a mamãe despejando besteiras. (se levanta e sai)

HELENA
Volta aqui, Amanda!

ZILDA
Você não aprende, Helena.

HELENA
Só quero o melhor pros meus filhos. Não vou admitir que aquele moleque me diga que eu não sirvo pra ser mãe.

JAIRO (entra)
Com licença. Dona Zilda, a Leila ligou da casa do Rubens e…

HELENA (se levanta violentamente e grita)
Rubens?

Zilda fica atônita com a revelação do motorista.


Efeito de fim de capítulo: imagem congela em Helena; FADE TO BLACK. Sonoplastia: vento.

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