CENA 01. APARTAMENTO GIOCONDA. SALA. INT. DIA.

Continuação da última cena do capítulo anterior. Gioconda vem do corredor, e Helena entra pela porta, após esta ser atendida por Fábio.

GIOCONDA
Meu amor, quem está aí? (com raiva) Você? Como se atreve?

HELENA
Como vai, Gioconda?

GIOCONDA
Tudo ótimo, até você pisar na minha casa.

HELENA
Que pena. Pois pra mim está tudo bem. Afinal, vim colocar os pingos nos is em tudo aquilo que estava entalado na garganta desde que você… (a Fábio) Você me faz um favor de dar licença? O assunto aqui é entre nós.

GIOCONDA
E ainda tem o cinismo de dar ordens ao meu marido. Ele fica.

HELENA
Se prefere assim, vai ser ótimo, pois ele poderá conhecer a megera com quem se casou. Aposto que você nunca contou do seu passado pra ele.

FÁBIO
É aí que você se engana. Minha esposa sempre me contou sobre sua vida nos mínimos detalhes.

HELENA
E ainda assim se casou com isso aí? Foi o que imaginei desde a festa de ontem. Não passa de um canalha.

GIOCONDA (tom)
Eu não vou admitir que fale assim do meu marido. Ele não faz parte da nossa história. Ao contrário de você, que também está suja até o pescoço.

HELENA
Não ouse me comparar a você, sua… Não fui eu que saí com tudo que era homem na festa de aniversário e que apareceu grávida sem saber quem era o pai. E que ainda teve que sumir pro raio que a parta, pra ninguém desconfiar. E ainda vem se fazer de santa depois de tanto tempo, como se nada tivesse acontecido.

GIOCONDA
Fala de mim, mas você também desapareceu com ajuda da sua mãe, logo depois da minha festa.

HELENA
Porque fiquei mal falada por causa do seu comportamento, Gioconda! Meu pai não queria que eu me misturasse com você e com sua laia. Ainda mais depois do acidente do Bruno. Sabia que ele poderia estar morto desde aquela época? Não. Só pensa em você, como sempre foi.

GIOCONDA
Você sempre teve inveja de mim. Fala a verdade. Jamais aceitou que eu fosse mais bonita, mais desejada, mais inteligente e mais popular que você. Desde que era pequena.

HELENA
Você não sabe o que fala.

GIOCONDA
Só se casou com o Estêvão, porque eu não fiquei com ele. E agora ele te dá migalhas. Não é o que se dá pras porcas?

HELENA (dá um tapa em Gioconda e grita)
Ordinária! Vigarista! Quem você pensa que é pra me julgar?

FÁBIO (intervém)
Você vai sair da nossa casa agora mesmo! Passou dos limites, Helena.

HELENA
Ah, é? E quem vai me tirar? Você? (a Gioconda) Todos vão adorar saber do seu passado, queridinha. E também do seu presente. Nossa! Você caprichou ao se casar com esse cafajeste. Combinam. Passe muito mal, Gioconda. Com licença. (anda para a porta e vira-se novamente) Ah, me esqueci de uma coisinha. (anda até Fábio e lhe dá um tapa) Agora sim. (sai)

LENA (entra)
Mas que mulherzinha petulante!

GIOCONDA
E agora, meu amor? O que faço?

FÁBIO
Esfria a cabeça, querida. Não vai resolver nada agir de cabeça quente. (abraça Gioconda, que chora)

LENA
Mas que dá vontade de falar umas poucas e boas pra ela, dá sim.

FÁBIO
Alguma solução temos de encontrar pra resolvermos as pendências. Se ela não acabar com a gente primeiro.

CLOSE em Gioconda aos prantos.

CENA 02. HOSPITAL. ARQUIVO. INT. DIA.

Sandro, Jô, o diretor e um auxiliar terminam de ver as fichas das pacientes. Etiqueta colada na gaveta: “Março de 1984”. O diretor coloca a pasta dentro da gaveta e fecha esta.

DIRETOR
Como imaginei. Só existem dois registros de bebês nascidos entre os dias 5 e 6, e são de crianças negras. Não se sabe se outros registros podem ter sido extraviados.


O bom é que ainda tem muitos hospitais para investigarmos.

SANDRO
Não vou perder as esperanças. Jamais. É claro que eu gostaria de achar minha ficha aqui… Mas é um dia atrás do outro. Não sei como agradecer pela ajuda que vocês me deram.

DIRETOR
Se precisarem de mais alguma informação, estamos a seu dispor.


Muito obrigada por tudo.

Sandro e Jô dão apertos de mão no diretor.

CENA 03. CASA HELENA. SALA. INT. DIA.

Estêvão desce as escadas, enquanto arruma a gravata. Assim que chega ao chão, vê Zilda sentada no sofá, preocupada. Aproxima-se dela.

ESTÊVÃO
Zilda?

ZILDA
Oi, meu genro. Estava aqui pensando na Helena. Estou muito agoniada com minha filha.

ESTÊVÃO
Vocês discutiram?

ZILDA
De certa maneira, sim. (pausa) Você soube que a Gioconda voltou, não soube?

ESTÊVÃO
Não. A Amanda falou que alguma conhecida da Helena tinha voltado, mas não disse quem era.

ZILDA
Pois é. Gioconda esteve na festa a que fomos ontem. Helena não gostou e foi tirar satisfações com ela.

ESTÊVÃO
A Helena enlouqueceu.

ZILDA
E nada segura minha filha. Ela vai tentar afastar a Gioconda daqui, custe o que custar. Falou até em morte.

ESTÊVÃO (assusta-se)
Morte? Ela nunca perdoou a mim, quanto mais a Gioconda. Mas agora ela foi longe demais.

ZILDA
E eu não sei o que fazer pra consertar essa situação.

Estêvão pensativo e Zilda mais angustiada.

CENA 04. JORNAL. REDAÇÃO. INT. DIA.

Raul de pé, próximo à estação de Vicky.

RAUL
Se o doutor Armando Alighieri aceitar o pedido para se candidatar ao governo do Rio, eu voto nele de olhos fechados.

VICKY
Fala isso perto da Jô, que ela te mata. Sabe que ela não gosta dele.

RAUL
Ela precisa parar com essas conversas de mulher prafrentex, da resistência, que vê defeito em tudo que é homem. Doutor Armando é o santo que o Rio tanto espera e que vai resolver os problemas de segurança do estado. (Jô entra sem ele ver) Com doutor Armando, não vai ter mais arrastão, assalto, nem nada desse mundo.


Eu nem vou responder, porque minha opinião não é bem vinda. Tenho convicções muito ruins sobre ele. Provar é questão de tempo.

RAUL
Talvez no dia em que nós dois estivermos sentados em forma de caveira.

VICKY (faz sinal da cruz)
Vira essa boca pra lá!


Enquanto esse dia não vem, aproveito para investigar um caso de criança abandonada. Babado forte.

RAUL
Mais uma criança remelenta procurando a mãe, que provavelmente foi limada da Terra por uma bala perdida.


Passou longe. Gelado! Trata-se de um maior abandonado que foi levado pra Goiás e que agora descobriu suas origens, depois de ser enxotado de cada por ninguém menos que Armando Alighieri. Isso, entre outras coisas que não convêm contar.

RAUL
E você vai ser a boa samaritana que vai ajudar esse pobre rapaz a desmascarar o, segundo você, empresário e bandido salafrário?

VICKY
Raul, você conhece a Jô. Ela não vai arredar o pé dessa história, até descobrir tintim por tintim.

CENA 05. ESCOLA DE MÚSICA. FRENTE. EXT. DIA.

Sandro caminha pela calçada e bebe água na garrafa. Para em frente à escola. Olha a placa. Depois olha de um lado e do outro. Entra.

CENA 06. ESCOLA DE MÚSICA. CORREDOR / SALA MÚSICA. INT. DIA.

Sonoplastia: violino suave. Sandro entra no corredor e caminha lentamente, seguindo a música. Para em frente a uma das salas, visível através de um vidro. Olha para dentro. Aprecia a visão de Alice, que toca o instrumento na sala, concentrada nos movimentos e de costas para Sandro. CAM alterna entre o CLOSE no rosto apaixonado de Sandro e em Alice em PLANO MÉDIO. Sandro sorri. Fim da sonoplastia.

CENA 07. APARTAMENTO GIOCONDA. SALA. INT. DIA.

Gioconda muito nervosa, sentada no sofá. Fábio a seu lado. Lena entra no cômodo com uma xícara de chá.

LENA
Trouxe isso aqui pra deixar você mais calma.

GIOCONDA
Não quero.

FÁBIO
Vai te fazer bem, meu amor. Toma, nem que seja um gole.

GIOCONDA (pega a xícara)
Eu sabia que seria difícil, mas não tanto. Ela continua a mesma, ou talvez ficou até pior.

FÁBIO
Gioconda, para de ficar pensando na Helena. É isso que ela quer.

GIOCONDA
E consegue. O que eu fiz é muito grave, Fábio. E ela vai usar das minhas fraquezas até pisar em mim como a uma barata, a um rato.

LENA
É, você vai ter que ser forte. Se hoje ela te deu um tapa, não sei como ela vai reagir amanhã. Ela bateu no Fábio sem sequer conhecê-lo.

FÁBIO
Pra ela, eu sou o cafetão que… Desculpa, Gioconda. Não sei por que estou falando essas coisas.

GIOCONDA
Você não tem culpa de nada, Fábio. Não foi você que me engravidou e muito menos que me fez perder o filho que carregava no ventre. Com isso eu tirei de você o direito de ser pai. Não pude mais engravidar e… (chora) Se arrependimento matasse…

FÁBIO
Claro que eu ficaria muito feliz em ser pai. Mas você sempre veio em primeiro lugar. Não seria justo cobrar de você um filho, nas condições que você estava.

GIOCONDA
Você sabe que não é todo homem que pensa assim… E ela teve três filhos. Três! Não tive nenhum.

LENA
Três, sem contar o… Gioconda, você tem um marido maravilhoso que te aceita como é e que te ama. E ela? Casou com um homem que nunca a quis e sabe-se lá por que ainda está com ela. Helena não é feliz e tem inveja de você. Raiva, ódio, rancor. Não se diminua por causa dela.

FÁBIO
O que acha de a gente sair um pouco, arejar a cabeça?

GIOCONDA
Não estou com cabeça pra passeios. Vou deitar um pouco. (levanta-se)

FÁBIO (enquanto ela sai)
Gioconda, vem cá.

Fábio e Lena pensativos.

CENA 08. ESCOLA DE MÚSICA. CORREDOR / SALA MÚSICA. INT. DIA.

Sonoplastia: violino suave. Do corredor, Sandro continua observando a performance de Alice pelo vidro. CLOSES alternados entre os dois. Quinze segundos depois, ele solta um espirro. Fim da sonoplastia. Alice se assusta e vira-se para o vidro, mas Sandro sai rapidamente sem ser visto. Ela estranha. Troca de violino e volta a tocar. Sonoplastia: violino tenso.

CENA 09. ESCOLA DE MÚSICA. SALA BRUNO. INT. DIA.

A sonoplastia continua. Sandro bate à porta e entra. Bruno analisa um documento à mesa. Sandro dá um aperto de mão em Bruno e se senta à sua frente.

BRUNO
Você demorou. Como foi lá?

SANDRO
Nada ainda. Combinei de ir com a Jô ao outro hospital mais tarde pra tentar achar minha ficha.

BRUNO
Vai ser uma enorme peregrinação, mas torço pra dar tudo certo.

SANDRO
Tomara. E você? Conseguiu alguma coisa?

BRUNO
Consegui, sim. Conversei com uma noviça que faz aulas aqui. Ela me passou o telefone das irmãs do orfanato onde ela presta trabalho voluntário. Pode ser que haja algum documento seu em algum orfanato.

SANDRO
Não acredito muito. Fui abandonado na porta de uma casa e não num orfanato.

BRUNO
Mas não custa tentar. Vai que você passou por um orfanato antes de deixarem você com seu pai? Não seria impossível alguém se passar por sua mãe a redigir a tal mensagem. Aliás, você está com ela aí? Queria dar uma lida.

SANDRO
Não. Deixei na pensão. Prefiro que ninguém tenha acesso, para não atrapalhar as buscas. A Jô só leu porque invadiu meu quarto. Mas já mandei ela não passar pra ninguém.

BRUNO
Se prefere assim…

CENA 10. MANSÃO ARMANDO. SALA. INT. DIA.

Amanda lê uma revista sentada no sofá. Soraya entra pela porta.

SORAYA
Oi, Amandinha! Lendo revista? Espero que esteja preparando os últimos detalhes do casamento.

AMANDA
Oi, Soraya! Não, não estou procurando coisas pro meu casamento com seu filho, porque nós dois achamos que está cedo demais.

SORAYA
Cedo demais, uma ova! Já passou da hora de realizarmos este evento tão grandioso e tão importante para as duas famílias. Só assim pra saber se você é digna e confiável de ser uma futura herdeira da fortuna dos Alighieri.

AMANDA (gargalha)
Como é que é? Na frente do seu marido e do seu filho eu não falo. Mas aqui é um lugar bem oportuno pra jogar nessa sua carinha linda que eu não me vendo pra casamento arranjado por puro capricho de dondocas como você, que não deixam seus filhos viverem em paz e grudam neles como carrapatos.

SORAYA
Grudo mesmo! Quando você for mãe, vai fazer a mesma coisa. Ou vai me dizer que sua mãe não se dedica a vocês mais do que a tudo na vida?

AMANDA
De maneira doentia como você, não. Agora, se me dá licença, tenho mais o que fazer. Fica com sua revista. (entrega-a) Aproveita pra achar algo pra rejuvenescimento facial. Que tal formol? Você tá toda caída. Fui! (sai)

SORAYA
Não pensa que vai ficar assim não… norinha! (joga a revista no chão e fala sozinha) Ah, sabe de uma coisa? Preciso de um shopping. Isso sim vai me reanimar do jeito que gosto.

Pega a bolsa em cima da mesinha e sai.

CENA 11. PRÉDIO GIOCONDA. FRENTE. EXT. NOITE.

Música: Flash – Stéphanie. Anoitece. Imagem da fachada do prédio.

CENA 12. APARTAMENTO GIOCONDA. QUARTO. INT. NOITE.

Gioconda termina de se arrumar. Lena entra.

GIOCONDA
Lena, eu vou dar uma saída e volto tarde. Não consigo respirar o ar que aquela mulher contaminou.

LENA
Faz bem. Assim areja a cabeça e vê coisas diferentes.

GIOCONDA
E o Fábio?

LENA
Saiu para fotografar no Jardim Botânico e já deve estar chegando.

GIOCONDA
Se ele chegar, prepara alguma coisa pra ele jantar e depois fica liberada. A gente se vê amanhã, Lena.

LENA
Se alguém te perturbar, não hesite em me ligar.

GIOCONDA
Você é uma amiga e tanto. (beija-a no rosto) Tchau, Lena.

Gioconda pega a bolsa e sai. Lena se olha no espelho e ajeita o cabelo.

CENA 13. PENSÃO ZORAIDE. FRENTE. EXT. NOITE.

Sandro e Jô chegam da rua e param em frente ao estabelecimento.

SANDRO
Não vejo a hora de descobrir quem eu sou de verdade. De onde vim.


Sei como deve estar ansioso, pegando fogo por dentro.

SANDRO
Não, não sabe. Não queira descobrir, de uma hora pra outra, que sua vida toda foi uma mentira deslavada e que seu passado… virou pó. Não desejo pra ninguém. Nem pro meu pior inimigo.


Pro meu, desejo sim. Eu ia adorar ver o Armando Alighieri descobrir que não era filho legítimo e que não tinha direito à fortuna que possui.

SANDRO
Jô, isso é coisa muito séria pra se brincar. É como se uma pessoa não tivesse direito à identidade, à esperança, à felicidade, e fosse condenada a viver um vazio opressor pro resto da vida. Por mais que tente seguir, a gente fica sem referência de como continuar e de para onde ir. É como uma história sem começo. Só com fim. Fim trágico.


Queria muito continuar esse papo com você, mas estou morta de fome e vou encher a barriga com alguma coisa. Vem comigo?

SANDRO
Não. Estou sem fome. Vou dar uma volta.


Tá bom. Depois a gente se fala.

SANDRO
Bom apetite!

Jô entra na pensão. Sandro anda pela calçada. Atravessa a rua. De longe, na mesma calçada, surge Alice. Ela está tão distraída quanto ele. Até que eles se esbarram, derrubando os livros dela no chão. Eles se abaixam para pegar os objetos.

SANDRO
Me desculpa, estava distr…

Música: With You All The Way – New Edition. Ambos trocam olhares apaixonados. Distraem-se novamente por uns segundos, até que ele desperta e termina de pegar os livros dela.

SANDRO (entrega-os)
Aqui estão seus livros.

ALICE (enquanto ambos se levantam)
Obrigada. Não era necessário.

SANDRO
Sou um rude mesmo. Desculpa de novo o mau jeito. Ando igual a uma moto desgovernada.

ALICE
Eu também estava toda distraída, pensando bobagens. Você é aquele rapaz, amigo do Bruno, não? Sandro?

SANDRO (sorri)
Você lembrou meu nome. Isso mesmo. E você é Alice?

ALICE (também sorri)
Acertou! Agora eu preciso ir. Tenho que deixar estes livros com o Germano na pensão.

SANDRO
Quer que eu leve?

ALICE
Me ajudaria, se não fosse outra coisa. Minha mãe mandou um recado pra Zoraide. Se quiser me acompanhar…

SANDRO
Será um prazer.

Sandro pega novamente os livros para carregar para Alice. Eles andam juntos e conversam em FADE. Afastam-se da câmera, e em seguida surge Carly de olho neles.

CARLY
Mas esse Sandro é um gato mesmo! (suspira) Pena que foi se interessar logo pela songamonga da Alice.

CENA 14. PENSÃO ZORAIDE. SALA. INT. NOITE.

A música para. Alice e Sandro entram. Zoraide vem do corredor para recebê-los.

ZORAIDE
Mas que coisa boa ver vocês dois juntos!

ALICE
Vim deixar os livros com o Germano e deixar um recado da minha mãe.

SANDRO
Vou deixar aqui na mesinha e saio de novo. Até já.

ALICE
Obrigada, Sandro.

SANDRO
Disponha. (sai)

ZORAIDE
Esse rapaz é de ouro. (pausa) Acho que ele até faria um bom par com você. Olha que vocês combinam muito.

ALICE
Não, Zoraide. Mal conheço o Sandro.

ZORAIDE
Pra essas coisas não precisa conhecer. Química, a gente sente de longe. E ele é bem melhor que seu último namorado.

ALICE
Nem me lembra.

CENA 15. CASA HELENA. CORREDOR. INT. NOITE.

Helena fala ao celular de forma suspeita.

HELENA
Não tira os olhos da Gioconda. Quero saber todos os passos dela… Tenho meus motivos, e eles são muito fortes… Quando puder, já sabe o que fazer… Não, não mata. É só um susto bem grande… Tá…

ZILDA (OS)
Helena, você já chegou?

HELENA
Tenho que desligar. (desliga; Zilda entra; Helena se irrita) Cheguei faz tempo. Vê se larga do meu pé.

ZILDA
Nem vou comentar seu comportamento. A comida já está na mesa. Não demora.

HELENA
Já vou… mamãe.

Zilda sai para um lado, e depois Helena para o outro.

CENA 16. PENSÃO ZORAIDE. SALA JANTAR. INT. NOITE.

Zoraide, Jô, Vicky e Germano jantam. Carly entra provocativa.

ZORAIDE
Até que enfim, Carlita! Demorou, hein!?

CARLY
Vou fazer o quê? O teste demorou. Mas acho que vou ser aprovada.

VICKY
Você fala isso todo dia, e até hoje só passa naquele teste… Psicotécnico, não. Como chama, Jô? Ah, teste do sofá!

CARLY
Você morre de inveja da minha beleza e do meu carisma. No fundo você é xoxa e sem graça igual à filha da Noêmia. Aliás, não sei o que o Sandro, todo lindão e gostosão, viu nela.


Precisa mesmo responder?

ZORAIDE
Então quer dizer que você ficou espionando o que os dois faziam na rua? Isso é muito feio. Não acha, não? Anda logo, senta, que a comida vai acabar. Olha essa torta maravilhosa de fígado de boi.

VICKY
Humm, tá uma delícia.

CARLY
Fígado? Que nojo!


Se não quiser, eu divido seu pedaço com a Vicky. (ri)

CARLY
Acho bom. Vocês são gosmentas mesmo. Vou ficar com aquele ovo cozido. Não é grande coisa, dá gases, mas é melhor do que… (fala com nojo) fígado!

ZORAIDE
Você é muito fresca, isso sim.

CARLY
Sou mesmo. Fui criada pra ter luxo e requinte.


Então fica no seu mundinho, que a gente aproveita mais o que a vida tem a oferecer.

Jô e Vicky dividem o pedaço de torta e se servem. CLOSE em Carly com cara de nojo. CLOSE na expressão de reprovação de Zoraide.

CENA 17. RUA. INT. NOITE.

Sonoplastia: dramática. Gioconda anda distraída e desesperada pela calçada.

HELENA (VO)
Não ouse me comparar a você, sua… Não fui eu que saí com tudo que era homem na festa de aniversário e que apareceu grávida sem saber quem era o pai. E que ainda teve que sumir pro raio que a parta, pra ninguém desconfiar. E ainda vem se fazer de santa depois de tanto tempo, como se nada tivesse acontecido.

GIOCONDA (VO)
Fala de mim, mas você também desapareceu com ajuda da sua mãe, logo depois da minha festa… Você sempre teve inveja de mim. Fala a verdade. Jamais aceitou que eu fosse mais bonita, mais desejada, mais inteligente e mais popular que você. Desde que era pequena. (pausa) Você não tem culpa de nada, Fábio. Não foi você que me engravidou e muito menos que me fez perder o filho que carregava no ventre. Com isso eu tirei de você o direito de ser pai. Não pude mais engravidar e… (chora) Se arrependimento matasse…

Gioconda para e fica encostada em um poste. Chora. Sonoplastia: suspense. Um homem mal encarado e todo vestido de preto a aborda. Põe uma faca perto do pescoço dela.

BANDIDO
Quietinha aí, madame! Ou eu mato!

Gioconda encara-o, muito assustada.

Efeito de fim de capítulo: imagem congela; FADE TO BLACK. Sonoplastia: vento.

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